Neste mar imenso, profundo, com pessoas
rasas, pequenas/ superficiais com meios poderosos imensos e profundos/ lançam
dejectos intensos nos mares lamacentos e infecundos.
Enquanto o chapéu de palha que esconde
a cabeça do sol quente e teimoso/ avista-se a carroça com as rodas de madeira
no caminho cheio de pedras chiando.
O homem sentado quase adormecido
chicoteia o cavalo que indiferente arrasta tudo isto seguindo no indiferente
caminho/ perdido na escuridão, na solidão sonolenta da minha alma.
Descobriram-me nas Montanhas da Lua/ no
monte Quilimanjaro, no Lago Vitória, Tanganica e a minha tanga/ antes deles,
passei lá as férias com as minhas amigas/ agora sinto medo do mar estão
tubarões nos seus altares dos holocaustos/ nos pedestais, multidões de
condenados e esfomeados sofrem os horrores dos ditadores democratas sem
democracia noite e dia/ margens adormecidas despertadas pelo mar sem sono/ alto
o luar querendo iludir o mar/ perto a
aragem da noite revela as sombras dos mangais na vegetação marginal/ depois de
uma angustiante e longa ausência fito-me para longe dos tormentos por momentos
Indecisa, perdida, que o amor não vê/ corremos loucos uns contra os outros
desviamos o encontro dos nossos olhos/ não conseguimos abraçarmo-nos durante um
momento e prometemos que seríamos escravos dos novos senhores.
Canso-me tanto destes príncipes e
princesas tão distantes e tão próximos sempre com a mesma estrela embandeirada,
enganadora Tudo tão próximo, tão distante.
Com petróleo e diamantes em excesso
preparo a fuga/ o regresso do insucesso, da ecuménica economia/ quando roubam…
é aos milhões. O FMI apoia, lembra que a actual, mundial democracia é
demoníaca. Grande invento, esse da democracia para nos continuarem a escravizar
subtilmente.
Para as praias da braça das barcas da
ignomínia/ mais regresso forçado para os colonizadores, que me esperam além dos
Açores/ perdida nas marés negras petrolíferas sem diamantes/ Das forças, forcas
policiais, militares e políticas do desespero das crónicas epidemias mortais.
Corria no dia afogado pela chuva,
vagueava para não molhar o cabelo/ para
não surgir com a minha feminilidade desfeita/ como é belo amar o meu cabelo
molhado.
Quando a guerra começou… começou há
milénios/ começou com os homens e acabará com eles/ não é significativo pensar
que as guerras acabarão porque os homens ainda não acabaram/ mas é
significativo pensar que o amor acabará com as guerras.
Esqueci que sou africana, sou uma
fulana, mendiga mundana/ salvei um branco da morte, estava pronto para imolar/
pus o meu corpo à sua frente, depois cantou-me uma canção para me desprezar/ e
muitos segredos se perderam na Ocidental civilização, arderam/ voltei à
escravidão, sem livros na mão/ é o corpo deles que governa, domina o mundo.
Não usam a mente/ não sou produtora,
sou caçadora predadora/ dialogo sem
pensar/ a farra da minha mente é uma imensa discoteca barulhenta, ferrugenta.
Nos prédios que herdamos dos colonos,
revivem/ vivem na gótica imaginação fluorescente do passado/ ando sempre a
procurar e encontro-me sempre no mesmo lugar/ não consigo sair, porque não
tenho dinheiro para nada adquirir.
Vivo na dimensão do ar, enquanto me
deixam respirar/ e na panela de lata importada não encontro nada para me
alimentar/ sem ensino não consigo escolar/ não desisto da desgraça enquanto
existir a miséria. Estou na penitência, na negra existência do zénite/ não há
ninguém que se disponha a lutar e só pensar que existe sempre alguém iluminado/
existirá sempre alguém que nos mostra o despertador. Existirá sempre um Velho
Mundo
O Novo Mundo, já ancestral descoberto
Com o desejo de acabar, alienar a nossa raça cumpriu-se Em breve passaremos a
armazém zoológico extinto A filme de dinossauros e pterodáctilos Assim foi com
os Índios americanos com todos Uma exterminação democraticamente eleita porque
imperfeita O ouro negro é muito valioso. Eu dourada de negro não Fizeram com
que os meus feitiços perdessem o poder, um feitiço atómico destronou-me
Sou bela como flora fora E que se
decrete para sempre As mulheres belas, a beleza delas será para sempre Plantada
no jardim Universal no regadio da aurora polar
Apesar de tudo a suave brisa marítima
paira sob o meu semblante E por vezes as montanhas me parecem humanas Quem
diria que nas grandes viagens parecemos mais humanos Quem diria que os seres
humanos perdem-se na aventura Quem diria que dos intermináveis diálogos nos
tornamos desumanos, selvagens, doces e amargos Quem diria que não podemos
sobreviver sem insónias Quem diria que do encorpado final vinhateiro ficaria
uma doce recordação
O apogeu, o fausto do Velho Mundo
contendia Não entendia a recente civilização, nova do Novo Mundo A época
medieval destruiu os resquícios das antigas civilizações, e o homem aprendeu
fortemente a cultivar o instinto mortal De rasgar, destruir os povos que viviam
em harmonia com a Natureza A gritaria assustava a vida dos mares, dos rios, das
montanhas, das florestas: «Onde está o ouro!?.. Onde está o ouro!?» A inocência
do húmus na terra guardava-o
Os milhares de cadáveres humanos que
não atribuíam valor ao metal da discórdia foram martirizados e abandonados na
terra virgem, insatisfeita. A Natureza iniciou a revolta gigantesca que
perdura, perdurará, até apagar a tocha do incandescente humano. Não mates para
não seres morto!
A meio da manhã serviste-me cacusso que
ainda vivia, assado na delícia agitada do carvão em brasa Olhámo-nos
profundamente, muito para além das nossas almas Oh!.. como depois foste tão
delicioso Quando recebi os teus lábios e espoliei a morada do teu coração
As guerras trabalham a tempo inteiro de
manhã… de dia e à noite Foi num desses períodos que perdi para sempre o gosto
de amar A guerra dos falsos libertadores Assassinaram o teu amor no Dondo
Ainda resguardei tempo para te ver,
enquanto vivias nos relâmpagos da trovoada canhoneada Difundiam as divisões
militares da divisão da Nação Depois impediram-me de voltar de te olhar pela
última vez Sei que deixaste de existir para sempre numa catacumbal cratera Numa
abertura de terra chamada meu amor de Ndalatando
Os nossos gladiadores espadeiravam-se E
chamavam-se de movimentos de libertação Andavam na busca do Santo Graal
finalmente encontraram-no Escondido no petróleo, no brilho dos diamantes e nas
especiais especiarias Das esmeraldas dos nossos corpos preciosas mercadorias
que vendiam e revendiam no ciclo vaivém infernal das carnais naus Não se
importavam com a exportação corporal do meu belo corpo, atraente e sensual tão
natural, carnudo de polpa mangal Quem inventou o ser humano deixou-o com vários
curto-circuitos
A escrava nunca esquece a pessoa amada
é o amar como uma escrava Sem nunca esperar um sorriso e confiar na espera
eterna de um carinho Um beijo nas ondas do meu corpo sem olhar para os teus
olhos Conservando o sofrimento das lágrimas quando obediente sigo os teus
passos sempre unidos no meu íntimo areal O meu destino é a posta-restante Oiço
as vozes celestiais do meu canto perdido nos florestais encantos A minha
simplicidade e humildade continuam comoventes Ser ou não ser, eis a questão?! Puro e ledo engano Ter ou não ter
eis a imperfeição! do meu Taj Mahal debaixo de cada árvore um templo sem reino,
expatriada
O tempo do templo deste outro
colonialismo é uma teia e nela continuo enredada Sim! O tempo é um templo, o
meu relógio parou já não sei o que são horas Porque demoras Liberdade?!.. Cativa
da Santíssima Trindade
Como pode uma escrava ser libertada, na
liberdade iletrada
Aos que faleceram com as guerras e
levaram guardaram escondem os seus silêncios nas sepulturas Fiz muitas
promessas no cume do Quilimanjaro olhei para muito longe e confundi-me Cercada
pela savana perdida de verde apenas restava o halo das ditaduras como um astro
sem brilho Muito longe, muito longe das promessas que me fizeram Que tudo seria
maravilhoso Mas tudo continua muito longe do alto do monte Das promessas teimosas
não acontecidas Vejo vultos e imagens sem corpo que não sonhei. Continuo muito
longe do teatral perto
Viajo muito na recém opulência das
negreiras cavernas das naus Ouvia o comovente embalar salgado da água agitada
agora estou na escuridão da terra até ela me voltam a espoliar no regresso da
expiação dos crimes da governação
Não construímos, destruímos nações
Prometemos, ficamos, africamos, daí não passamos Gloriosamente apreciamos o
extinguir da chama Libertadora, opressora que ateámos, e não sabemos mais não
podemos controlá-la Apreciamos a luxúria do automóvel brilhante do fato e
gravata ocidental. Fazemos muitos internos discursos e a Nação avança com
ténues palavras perdidas No vento desolador, nos incomensuráveis desígnios
pessoais do chefe africano Povo é uma só pessoa. Povo, objecto de uso, de
âmbito pessoal.
Desconhecidos pelos colonizadores que
hoje subtilmente são nossos grandes amigos Nos anos da espera que são sempre
muitos que Deus deseja primeiro e nós esperamos Ele promete Ramos balsâmicos do
eucaliptal na cafreal terra outrora mapeada Da amizade não retribuída é difícil
voltar atrás Como são difíceis e complicados estes dias Nos mercados compra-se,
vende-se miséria Para viver e sofrer, edifico a minha prostituição a vida
fácil, da difícil existência. Corpos nus, no relento ambiental. Tudo o que é
matéria tem limites
Tempestades ventosas
Obrigam-me a fazer muitos filhos, na
esperança inglória que algum chegue a presidente, ou ministro Não consigo
reverter a minha mente colonizada perdida. Perdi a minha identidade cultural
Sorrio a minha angústia na companhia feérica dos esgotos Até as praias me
roubaram, a África privatizaram
Estes descolonizadores começaram e
ainda não se acabaram
No início continuam a ensinar-nos que o
mundo é muito bonito Tudo cheio de flores. E que é tão lindo amar no mundo Que
merecemos ser felizes e que para isso devemos Ser sinceros como a água pura
apenas quando a bebemos e saciamos a sede
Imagem: Aléxia Gamito