terça-feira, 25 de junho de 2013

É nos grandes momentos que se vê a desgraça de insanos homens




Não devemos, não podemos consentir que esta República fique um cortejo de mortos
(O Povo Angolano não está mais interessado em Guerra) mas alguns dos seus dirigentes estão.
Só quem é despido de inteligência tem a pretensão de resolver tudo pela força.
Ai do país que apoiar a ignorância, nem os cacos sobrarão, e a poeira do tempo dele não se lembrará, se apagará.
Que país é este sempre onde diariamente as forças policiais carregam sobre as populações indefesas. Será que os cidadãos são todos delinquentes, demónios, e os governantes uns santos?
Para eles o petróleo da bênção, para nós população, repressão.
Estou a pensar no seguinte: a UNITA disse que fazia manifestação nacional em Maio, não o fez. A UNITA disse, presidente Samakuva, que é o garante da estabilidade em Angola. Então mas isto é estabilidade? Partem-se casas, os cidadãos amontoam-se em campos de concentração, morre-se à fome, as pessoas desaparecem, jovens que fazem manifestações pacíficas são torturados. Os assaltos nas ruas são constantes, a jovem criminalidade, pode-se dizer, tomou o Poder. Os estrangeiros invadem Angola, segundo o SME há um milhão - costumo sempre duplicar os números, ou acrescentar-lhe um zero porque sei como as coisas funcionam, melhor, não funcionam – de estrangeiros ilegais, não há empregos, mas os estrangeiros têm sempre empregos, zungueiras são mortas tiro, a corrupção é um vírus sem cura, já é outro mausoléu do nosso guia imortal, a energia eléctrica e a água estão aonde? A justiça não funciona, claro que funciona para os petrolíferos, os bancos sem sistema, sem dinheiro, etc, etc,.
Até agora, a UNITA não fez nenhuma manifestação contra a miséria actual. Seguindo esta linha a UNITA não promove nenhuma estabilidade, mas sim, instabilidade. A UNITA assegura que os clarividentes continuem impunes e manobra-nos servindo de retaguarda segura os interesses dos cleptómanos, corruptos e da inexpugnável governação? A grande questão é: a UNITA garante a nossa segurança ou a nossa insegurança?
Otelo Saraiva de Carvalho, ideólogo do 25 de Abril de 1974 em Portugal: eu se quisesse seria o Fidel de Castro da Europa. Isaías Samakuva: querem que eu lidere a primavera angolana.
Não há nenhum plano para empregar jovens, excepto o emprego de crianças usadas como mão-de-obra escrava, salários de miséria, pelos chineses. Também não existem planos para nada, excepto a divisão do bolo petrolífero pelos únicos libertadores da pátria, e nós sem ela, também é deles. E quem ousar refilar a parte que lhe cabe da fazenda petrolífera, é taxado de ilegal, preso, torturado, desaparecido. Nós, população (?) há muito que estamos ilegais, nem sequer existimos. Portugueses roubam-nos os empregos, chineses escravizam crianças. É isto o tal homem novo.
Como é possível, os portugueses que edificaram um Portugal novo, de tanga, na penúria, na fuga desenfreada para outros países, no continuado sonho antigo de que a emigração é a chave do futuro, que votaram em mais um louco clarividente que nasceu pela vontade de Deus para governar e salvar Portugal, e não consegue resolver uma coisa muito simples, o emprego, nenhum consegue, é por isso que são loucos. Pois, e de abalada para Angola, chegam já em cortejos, abarrotados de sonhos coloniais, de senhores feudais apoiantes da corrupção dos nossos nacionais. E desembarcados trazem novos modelos de direcção e de gestão, e nada funciona, excepto o caos que deixaram, que implantaram em Portugal. Mas os modelos de gestão e direcção que rebentam, apodrecem um país, também se aplicam aqui? Mas isso não é desestabilização? Incitação à violência gratuita? Tumultos? Pois quem afunda um país, naturalmente outro afunda, Angola. Não podemos consentir que em Angola nasça outro Portugal com estes portugueses que chegam descalços, e que logo depois se calçam, e nos engolem na desgraça.
Quando o escravo é chicoteado e depois se levanta com orgulho cheio de pó, do chão do seu senhor, alguns portugueses dizem: «Este escravo é chauvinista.» Os chicotes regressarão, com força nos seus amos baterão!
A constante falta de energia eléctrica é o mais perigoso incentivo à criminalidade a todos os níveis. Portanto, quem é que incentiva a criminalidade?
Pelo incessante barulho de sirenes, pode-se dizer que este país está permanentemente assolado por catástrofes?
Este recanto de escombros goza de uma selvajaria tal, que até se age como se não existisse povo. O mais bizarro é que na prática já não existe povo angolano. Em Angola três classes rapinam, a saber: uma classe de estrangeiros que nos governa. Outra classe de estrangeiros, a que diz que os mwangolés são preguiçosos. Uma última classe, a religiosa dos abutres, que aprova as outras duas. Não se necessita de nenhum discurso para se ver que o povo não existe, é mais um dos inúmeros projectos adiados. Quando os libertadores libertaram o petróleo para eles, esqueceram-se do povo, e nunca mais se lembraram dele. De vez em quando lembram-se dele, quando lhes partem as casas para alimentar a República da Podridão dos Negócios, e Angola está em posse de tal gente, para que ao se apoderarem dos bens alheios -  agora crianças, mais uma especialidade do terror – ao partirem as casas também partem as mulheres e as crianças, ao colo ou não, grávidas também, como convém para impor o jogo sem regras do terror. O chicote está outra vez o senhor dos escravos.
A vida é a arte de nos defendermos dos vigaristas, dos bandidos, dos corruptos e dos ditadores.
E para se manter no poder, o exército do senhor sacrifica as populações aos estrangeiros.
A arte dos ditadores é o transformar derrotas em vitórias.
A religião é o acontecimento mais diabólico que o ser humano inventou.
Quanta mais miséria, mais violência.
Quem não gosta de plantas, odeia, mata pessoas.
ÚLTIMA HORA
O DOR – Departamento de Orientação Revolucionária, intima a VOA, o Facebook, angola24horas, Rafael Marques de Morais, Folha 8, Google, Barack Obama, e os angolanos em geral para prestarem declarações sob os abusos da liberdade de informação. Todo o cidadão é e deve sentir-se necessariamente um soldado da desinformação. A nossa visão - não, não é missão, isso era antes, temos que nos adaptar aos tempos - é encarcerar os jornalistas que teimosamente se opõem à nossa desinformação revolucionária, e que será por vontade própria trincheira firme da desinformação. E alguns polícias - onde isto está a chegar - e militantes da UNITA tombarão em qualquer esquina, mas a revolução seguirá o seu caminho. E com a ajuda e apoio dos tradicionais amigos de longa data, Angola edificará o socialismo científico e a democracia popular. E do seu pó nascerá o homem novo muito esfarrapado. Angola é o povo do petróleo para escravizar, para vender aos estrangeiros.
E um país faz-se com sirenes policiais.
E quando se matam polícias significa que o terror está definitivamente instalado, e que por mais que se tente - ainda não temos o que se chama viver em sociedade - viveremos na tristeza do dia-a-dia, porque quem nos governa, parece que lhes interessa o caos, porque daí lhe advém fins políticos? Apresento ao Comando-Geral da Polícia e às famílias enlutadas as minhas sinceras condolências.
Se a governação deixar andar esta violência, duvido que a consiga estancar, ela subirá até atingir o descontrolo total e nem a governação dela escapará, e então, era uma vez Angola.
Mas, quem promove a violência é que vai acabar com ela?
Mas, quando é que esta revolução acaba? Ou já acabou e os revolucionários não? Ou os revolucionários acabaram e a revolução não?
Há homens que são amigos dos seus povos, outros são seus ferozes inimigos.
Nesta República dos tiroteios, agora são diários, depois serão de hora a hora, de minuto a minuto, constantes – como estes revolucionários gostam, sempre aos tiros - porque estas coisas quando começam tendem a alastrar, a piorar, a não parar. Agora, os revolucionários já não têm colonialismo para derrubar, mas têm um povo para neocolonizar, para tirotear.
Há governantes que para se manterem no poder vendem os seus países e povos aos estrangeiros, e justificam-se afirmando categoricamente que os seus povos são analfabetos.
Estrangeiros, bem-vindos a Luanda
Os escravos saúdam-vos!
Usem-nos e abusem-nos!

sexta-feira, 21 de junho de 2013

03 A 10 de Junho de 2013. Diário da cidade dos leilões de escravos





03 de Junho
Hoje entregaram-me um panfleto técnico numa folha formato A4 e outro panfleto em formato A5 com quatro páginas, para aderir – aderir não, que fique bem claro, é imposição sem alternativa – ao sistema pré-pago da energia eléctrica da EDEL.
Sinto o mesmo, arrepio-me quando penso num neto de quatorze meses. Isto já não tem cura, são milhares e milhares de jovens desempregados, e ainda continuam a partir casas para negociatas - forças policiais a baterem nas mulheres com crianças, incluindo estas crianças que também levam pancada, claro - portanto mais desempregados, mais miseráveis... isto virou um campo de concentração onde os prisioneiros matam para sobreviverem, matam os inocentes porque os culpados ainda não começaram a apanhar, mas também lhes vai atingir, nestas coisas ninguém escapa. Isto está terra de ninguém. E não sei como é que os estrangeiros sobreviverão. ESTE PAÍS ESTÁ DIRIGIDO POR UMA TRÓICA?!
04 de Junho
A partir de hoje - e não sei por mais quantos dias - fiquei sem Internet porque não há dinheiro. Quem não pertence ao círculo dos intelectuais do petróleo, não tem direito a salário. Não sei se hoje instalarão o contador pré-pago da energia eléctrica. Vai ser porreiro vai, vamos ficar também sem energia eléctrica. Até parece que Angola está na bancarrota, hum, não me admiro nada, uma vez que o dinheiro das receitas petrolíferas cai todo num círculo muito restrito de pessoas.
10.32 horas. Hoje a manhã está nublada e húmida, palustre, ontem à mesma hora estava um bom sol que nos atraía para o seu aconchegante leito. Fui espairecer a mente na varanda, a observar o trânsito na rua. Não havia vento, senti o cheiro intenso do fumo dos escapes dos carros, que coisa mais horrível não se poder respirar, está tudo envenenado. Fugi para dentro, assustado. E lembrei-me que se acontecer mais um apagão - a qualquer momento é o prato do dia – com os geradores ligados é, pode-se dizer, morte certa.
O cliente vai sentado, sereno no táxi Hiace. O cobrador – não se sabe o que aconteceu – insulta-o sem parar, chato, não larga o outro, o motorista coadjuva-o, e assim prosseguem, mas o cliente nem uma nem duas, sempre num silêncio impressionante, até ao momento em que o cliente chega ao seu destino, no São Paulo, levanta-se, aproxima-se da porta de saída e o cobrador e o motorista continuam como cães de caça que não largam a presa. E calmamente o cliente mete a mão num bolso do casaco, retira uma pistola e enfia o cano na boca do cobrador, dizendo-lhe: «Cala essa boca, senão?!» O motorista passa à defesa: «Tem toda a razão, esses miúdos insultam à toa, são muito mal-educados.»
Aida sobre a invasão portuguesa e a situação económica de Portugal que outra vez está na bancarrota. É hilariante a afirmação dos portugueses que dizem que vêm para Angola para ajudarem os angolanos. Bom, o marido conseguiu um contrato de trabalho, a esposa ao abrigo do contrato vem também para Angola. Lá também estava desempregada, era funcionária da administração civil, e em Angola tenta a todo o custo um lugar na função pública, quer dizer, alguém angolano ficará desempregado. Depois vêm os filhos, mais familiares, amigos. Se multiplicarmos isto por cem ou duzentos mil, facilmente veremos que Luanda e Angola ficarão em poder dos portugueses – e dos chineses, os portugueses tomam conta de tudo o que é emprego, em especial nas áreas de serviços, mas já estão em todas, e lá está outra vez Angola colonizada, o que neste momento já é bastante periclitante – é que qualquer profissão lhes serve para emigrarem para Angola, e os angolanos passam para a criminalidade. Aliás, convém ressaltar, que a criminalidade e a violência em Angola estão ligadas à espoliação dos empregos, vale lembrar: desempregar por todos os meios possíveis os angolanos para empregar estrangeiros. E todos os dias oiço o mesmo refrão: «Na empresa tal já chegaram mais portugueses.» O que significa mais assaltos e mais “tiroteios”.
05 de Junho
Comentário de um mwangolé: Se ao menos os portugueses viessem para aqui para trabalhar, mas não, eles só vêm para aqui fazer confusão.
06 de Junho
08.30 horas. O ambiente está muito tenso. Ouve-se algazarra na rua, foco o meu radar nessa direcção e vejo pessoas amontoadas como estátuas. Olho e vejo um jovem aí de uns vinte anos a gritar: «José Eduardo dos Santos vais cair!» «José Eduardo dos Santos vais cair!» De repente o jovem muda de direcção e investe contra dois chineses que andam a montar os contadores da energia eléctrica, o pré-pago - até para isto, um trabalho tão simples, tão infantil, são necessários chineses, porque os angolanos são preguiçosos, não gostam de trabalhar – e tenta socar um deles, mas os chineses fogem. Ninguém se meteu, ninguém acudiu os chineses.
Amor de Fátima no Facebook: Tanta coisa má a acontecer pela nossa cidade...pelo país, que as vezes só dá para respirar fundo e esperar pelo Socorro Divino. Olhem, mas no meio desses kizangos todos aconteceu uma cena incrivel na cidade do Kilamba. Predio D24 uma criança deixada sozinha em casa, aparentemente de castigo, por ter feito qualquer coisa que não se sabe o quê, foi resgatada pela equipa de bombeiros, as 13 horas de ontem, que chegou depois do alerta da vizinhança que se compadeceu com os gritos da menina, que aparentava ter 5 anitos. A menina tirada da varanda de casa, desceu a escada abraçada a um dos bombeiros, enquanto a vizinha aplaudia o sucesso da missão.
12.39 Horas. Acabo de receber a informação, ainda não confirmada, de que a Polícia faz um controlo cerrado aos taxistas dos Hiace. Manda-os parar e obriga os passageiros a saírem para identificação. Dizem que anda na caça dos bandidos que mataram os três polícias.
07 de Junho
Uma amiga da minha esposa acaba de nos contar o seguinte: uma prima dela que trabalha num hotel da Ilha de Luanda invadido por portugueses, quando elas, as negras mwangolés servem às mesas, os portugueses ofendem-nas assim: «Vocês é que ficam a servir às mesas?! metem nojo!» Evidentemente que se trata do tal estratagema para que as escravas mwangolés abandonem o trabalho e eles, os tugas, mandem vir as suas esposas para ocuparem os postos de trabalho. Hum! Hum! Isto está “porero”! Pois, é chauvinismo, é história inventada, como se fosse possível inventar coisas destas de tão aberrantes que são.
“Eu até acredito, no Lubango, um português apalpou a bunda de uma empregada de mesa, ela reagiu e muito bem, deu-lhe um estalo... o patrão chamou-a e despediu-a, isto aconteceu a 2 anos atrás, eu assisti.” In Ermelinda Freitas. Facebook
08 de Junho
Alerta sobre a grande invasão portuguesa, especialmente depois do discurso do nosso outro guia imortal. Os portugueses invadem-nos assustadoramente, ficaremos sem nada, apenas como escravos debaixo dos seus chicotes.
Situação extremamente gravíssima. Na tal empresa de informática que tenho falado – e depois dos pronunciamentos do nosso benfeitor – acabo de receber a informação de que mais portugueses chegaram nessa empresa. Já lá estavam dois ou três e chegaram também mais dois ou três. A empresa não tem capacidade para absorver mais trabalhadores, então, o que há a fazer? Despedir os mwangolés, é claro. De notar, é muito caricato, que eles não fazem nada, porque não há nada para fazer. Apenas ficam sentados a darem ordens, sem noção do que fazem, apresentam-se como técnicos mas na realidade não o são - são isso sim -espantalhos que alimentam a grande hecatombe que se aproxima, uma grande desgraça.
09 de Junho
Porque é que estão sempre a partir paredes?
10 de Junho
Resposta da Lwena a uma vizinha que trabalha nos petróleos: «Os sacos do lixo custam mil kwanzas e estão perfumados?! Eu?! Isso é só para os ricos!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O empresário luso-angolano (10)




Chamou uma jovem empregada que chegou com um enorme sorriso. Trajava uma mini-saia muito curta. Quando se baixava via-se nitidamente o traseiro que parecia não ter nada que o cobrisse. De igual modo usava um decote que ao inclinar-se nas mesas, que eram muito baixas, deixava quase a nu os seios. Vieira notou o meu olhar para esse manjar de carnes vivas, e explicou-me:
- As nossas empregadas vestem-se assim para atraírem os clientes. Além disso também têm que ter uma beleza natural. Mas o que é que tu queres?! Neste negócio é mesmo assim! Na realidade as jovens que seguem este tipo de actividade são consideradas prostitutas, mas eu acho o contrário. Elas foram admitidas depois de rigorosas investigações que fizemos sobre a sua vida. Posso assegurar-te que são exemplares, e não é pela indumentária que podemos julgar uma mulher. Nas praias com aquelas ultras minúsculas tangas que agora se usam…

(PSYCO. Estava Deus a criar o mundo... - Para este país eu deixo os terramotos, para este outro deixarei os vulcões, para aquele ali vou deixar os maremotos... E assim foi sucessivamente com todos os países, menos ANGOLA. Até que um anjo que estava ao seu lado perguntou: - Senhor, então e Angola? Não vai ter nada de mal? - Claro que vai! Espera até veres o PRESIDENTE que lá vou pôr!
In Angonotícias)

- São as reminiscências…
- Mas o que é que tu queres?! Olha, assim que obtiver o dinheiro necessário acabo com os serviços de segurança. Vou pôr tudo na rua. Não estou para aturar estes gajos. Vou ficar mais algum tempo com os serviços do banco, que me dão uma boa maquia. O Director diz que se vai embora definitivamente para Portugal.
- Vieira, para a colónia de férias…
- Ah, ah! Ele é que conseguiu através das suas influências todos os clientes com quem trabalhamos. Na realidade é mais um revolucionário de merda. Andou a fingir para angariar uma grande fortuna. Mas o que é que tu queres?! Aqui não existem revolucionários, só gatunos. O dinheiro para o povo é desviado, vai para contas bancárias deles no estrangeiro.
- Agora entendo porque é que o gatuno está sempre com medo de ser roubado.
Notei que Vieira perturbou-se com a minha afirmação, que de certo modo era enigmática. Durante alguns momentos os seus olhos ficaram estáticos. Aproveitei e perguntei-lhe:
- Já transferiste o meu dinheiro?
- Ainda bem que me lembraste. Na segunda-feira vou mandar o Heitor tratar disso sem falta. Podes estar tranquilo. Pode não haver dinheiro, mas para ti nunca faltará. Mas o que é que tu queres?! Porra! Vê só isto: O libanês, o indiano e outros gajos chegam aqui, facturam um milhão de dólares e vão-se embora. Não constroem nada, não deixam nada. Até fazem lavagem de dinheiro. Depois vem outros, que são seus amigos, e fazem a mesma coisa. E sempre assim sucessivamente. Nos últimos anos andei a dormir, agora acordei. Vou trabalhar no sistema de trading. As coisas chegam e são logo vendidas, é como eles fazem. Por exemplo, estou a vender uma resma de papel A4 a cinco dólares. Sabes o que é que um cliente me disse? Pois, disse-me para cobrar por cada resma oito dólares. Já viste o lucro sem nenhum esforço? A propósito, já te debruçaste sobre os documentos da contabilidade da nossa empresa de segurança?
- Já… faltam os pagamentos do aluguer do terreno. O lucro é muito elevado, não sei…
- Pagamentos do aluguer do terreno?! Vou mandar fazer saídas de caixa a fingir que pagámos. E quanto ao lucro muito elevado, vou inventar alguns documentos de despesas que vão dar prejuízo. Mas o que é que tu queres?! Isto aqui é assim.
- Vieira, e como ficam as contas em divisas?
- Omitimos… eles nunca vão saber... puta que os pariu.
- Vieira, devia ser exigido aquando da apresentação das contas anuais, extractos das contas bancárias em divisas.
- Eles que façam isso. Mas duvido que o consigam. Ninguém lhes vai ligar. Todos exportam os dólares que possuem.
- Mas o teu dinheiro, o dinheiro de todos está lá fora, e aqui dizem sempre que não têm!
- Precisamente! Mas não é isso o que os governantes dizem? Claro, o dinheiro está todo lá fora, nas suas contas particulares. Vê o que alguns generais fazem aí por toda a cidade. Ocupam todos os espaços possíveis e imaginários. Apoderam-se de terrenos, desalojam pessoas, constroem onde bem lhes apetece. Isto é deles, isto é África, isto é Angola. Para sobreviver a única saída é roubar. Aqui temos que ser abutres, senão não conseguimos sobreviver.
Senti que não estava preparado para este estado de coisas. Mais uma vez senti-me arrependido. Tinha uma boa carteira de clientes em Portugal que me permitia levar uma vida desafogada, a mim e à minha família. Senti desejo de dizer que queria voltar, para junto da minha família e dos meus amigos. Mas, já agora que me coloquei nesta aventura, ansiava conhecer mais, para depois narrar os acontecimentos. Afinal era uma boa experiência de vida. Conhecer como funciona este país à deriva. Vieira continua:
- Isto é deles.
- Acho que não. É de todos nós, dos que trabalham honestamente.
- Assim deveria ser mas não é. É a selva. À nossa frente leões, atrás crocodilos, à esquerda lobos, à direita serpentes venenosas. Os governos africanos não são corruptos. As companhias petrolíferas são… é que fomentam a corrupção dos governos. Vê o que aconteceu no Zaíre com Lumumba. Como era contra os interesses ocidentais foi assassinado. Depois colocaram um ditador, o Mobutu, e protegiam-no. Quando já não era necessário foi passar a reforma na França. Nkrumah tentou efectuar algo de diferente. Mas não conseguiu porque o Ocidente não deixou.
(E a lista continua. João de Matos foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas e tem a empresa Genius, com interesses referenciados nas minas, electricidade e Bellas Shopping Center. José Pedro Morais (ex-ministro das Finanças), Kundi Paihama (ministro da Defesa) e Pedro Neto (Estado-maior da Força Aérea) partilham a Finangest, 'holding' com interesses nos transportes, construção e segurança. In Jornal de Negócios)
Vieira sabia despertar, cativar a atenção do interlocutor. Sabia fazer pausas intencionais. Quando eu tentava dizer uma palavra, não conseguia porque ele mostrava ser convincente. Assim deixava-o falar:
- Interessa manter as populações na miséria, no desemprego, para que os custos de produção baixem muito, e assim obterem-se grandes lucros. Num país asiático pagam-se noventa e sete dólares por mês, com dez horas de trabalho diário. A exploração do trabalho infantil é um facto. Por exemplo, as empresas de calçado desportivo têm lucros impressionantes com esta exploração. Uma delas ganhou sem impostos 1.123 biliões de dólares em 2003. David Beckham recebe em patrocínio 161 milhões ao longo da sua vida. A diferença de salários é abismal. Vamos supor que os salários seriam quase iguais às economias desenvolvidas. Seria a ruína do sistema financeiro internacional. Porque os custos subiriam e os lucros quase deixariam de existir. Por isso é necessário manter a todo o custo governos fiéis e corruptos, que obrigam as suas populações a ficarem na miséria. Uma dependência eterna. Um grandioso exército de escravos a mendigar qualquer coisa.
- Vieira, acho que as ideologias estragam tudo.
- De facto isso é verdade. Wole Soyinka já se referiu a isso, quando afirmou que o maior erro de África foi expulsar os brancos. Mas Ladislau Dowbor exemplifica muito bem como surge a dependência, a manutenção da miséria e da fome permanentes.
«John Perkins faz parte de uma geração de autores que denunciam o funcionamento do sistema neo-liberal, mas que não vêm da esquerda: são pessoas cuja revolta surge justamente do facto de entenderem profundamente como o sistema funciona. E entendem profundamente porque a ele pertencem, ou pertenceram.
Perkins trabalhava na MAINE, uma empresa de intermediação de contratos internacionais, negociadora do financiamento de grandes obras, e executora de infra-estruturas energéticas, com o perfil da ENRON, da BECHTEL e outras semelhantes. Como economista-chefe da empresa, era encarregado de traçar as grandes linhas de investimentos, e de negociar a triangulação entre governos de países do Terceiro Mundo, empreiteiras, e o sistema financeiro norte-americano. A lógica básica é simples: ele era encarregado de inflar artificialmente as perspectivas de crescimento do PIB do país visitado, (como Angola) e de assegurar o financiamento de grandes obras de infra-estruturas pelo Banco Mundial ou outra instituição, com a condição das infra-estruturas serem executadas por grandes firmas americanas. Assim o dinheiro não sai dos Estados Unidos, vai directamente para uma das empresas executoras. (Como a China faz com Angola)
Imagem: canalmoz