sexta-feira, 26 de junho de 2015

O PARAÍSO PERDIDO A OCIDENTE (16)







Para trocar ideias tentei algumas vezes aproximar-me de algum oficial, mas desisti. Era proibido, mórbido, um oficial manter relacionamento com um recruta. Na cantina não havia televisão. Livros, revistas, biblioteca eram impensáveis. O fundamental era manter a soldadesca na ignorância, no embrutecimento. Nalguns fins-de-semana quando me dava conta estava só. Todos saíram. Tentava apanhar uma boleia perguntando aos meus companheiros se havia um lugar disponível para Lisboa. Mas não, todos os lugares estavam ocupados. Outros iam para a estrada e tentavam boleia, conseguiam. Não tinha paciência para isso.

Tentava adaptar-me a esta nova vida que me foi imposta. Mas por mais que tentasse não conseguia. Ia à cantina, comprava uma sandes com algumas rodelas de chouriço. O pão era bem confeccionado e o chouriço muito saboroso, melhor do que o de Lisboa. Acompanhava com uma gasosa e enquanto comia meditava na minha mãe, no meu pai, nos meus irmãos. Quantas saudades sentia do café do Frederico, do Mota, do Quitério. Aqui uma grande tristeza me invadia. Sem ninguém para conversar. À medida que a tristeza enchia o meu coração, sentia grande revolta, e pensava: Mas que mal fiz eu para me enviarem, longe da minha casa para aqui? Que tinha eu a ver com as aventuras dos senhores da guerra? Quando terminaria este pesadelo? Quanto tempo mais demoraria este sonho horrível? Mas o que é que eu estou aqui a fazer? E a Belita, tanto tempo sem a ver. Será que a veria mais? Algumas lágrimas começaram a inundar a minha face.

- Olha. Mandaram-nos formar para fazermos os testes psicotécnicos. – Disse o Dário.
Era uma série de perguntas escritas às quais respondi de acordo com os meus conhecimentos. Pessoalmente pensei que não lhes dariam qualquer valor.
- E amanhã vamos ter tiro real. – Disse mais uma vez o Dário.
Antes da minha incorporação, um alferes que terminou o serviço militar ofereceu-me dois livros do curso COM-Curso de Oficiais Milicianos em Mafra. Um, era, Técnica do Tiro, e o outro falava sobre a guerrilha e contra-guerrilha. Sobre este dei pouca atenção, porque já estava familiarizado com o tema devido às leituras que fazia sobre a guerra do Vietname de Jean Lartéguy. Prestei atenção ao do tiro: Como efectuar um bom tiro: A arma deve ficar bem fixa no ombro. Tira-se a folga do gatilho. Suspende-se a respiração e mira-se o alvo. Se a arma estiver em condições o tiro será certeiro. Foi assim que procedi quando chegou a minha vez na carreira de tiro. O alvo foi devidamente atingido.
- Pelo menos vais para atirador especial. – Profetizou-me o Dário.

Um dos treinos difíceis e que eu mais temia era o corta-mato de 10 quilómetros. Uma corrida que parecia não ter fim. Apesar de estar em boa forma física, fui advertido que os fumadores, o que era o meu caso, não aguentariam. Passado pouco tempo as pernas recusavam-se a prosseguir. Eu e mais alguns já estávamos bastante distanciados. Deixámos de ver os que iam à frente. O aspirante Abreu disputava a corrida com alguns que estavam isolados, antes de serem recrutas praticavam atletismo em alguns clubes desportivos, e o aspirante confessava que não os aguentava. Retrocedeu, aproximou-se de nós e gritou:
- Não passam de umas grandes merdas. Não sobreviverão nos matos do Ultramar quando forem mobilizados.
Mandou parar a corrida e deu voz de descansar. Era isso mesmo que eu esperava. Que grande alívio.
Depois veio a semana de campo. Fomos acampar num campo vasto cheio de eucaliptos. Ao fundo havia um rio. Precisava de passar o tempo. Fazia longas passeatas de investigação ao longo da margem. Isto fazia-me bem, porque durante longos momentos me esquecia onde estava. Quando regressava à realidade para junto dos meus companheiros pensava: Deixa-me lá ir aturar estes parvalhões. Que ordens virão a seguir. Sempre a obedecer a ordens imprevisíveis.

O frio começou a apertar. Acenderam-se fogueiras onde nos resguardávamos. Dormíamos em grupos de três nas tendas. Juntávamos os nossos cobertores para ficarmos mais quentes, mas isso não era suficiente porque a cada dia que passava o frio aumentava. Custava-me a entender o porquê deste tormento. Pois que, nas colónias era ao contrário. Calor não faltava. O curioso é que surgiu um preconceito. Quem se deitasse no meio dos outros dois era considerado paneleiro. Pensei logo que estes tipos são mesmo parvos, e a sorrir decidi aproveitar a ideia. Deitei-me no meio e não passei mais frio, porque recebia o calor dos dois corpos que me aqueciam. Não queria saber que pensassem o que quisessem.
Lembrei-me de uma coisa que o Quitério me tinha contado quando esteve no curso de sargentos milicianos em Tavira. Chamei o Dário:
- Dário queres ouvir esta?
- Conta lá.
- Parece anedota mas não é. Não me lembro bem se era o oficial Robles Monteiro, ou o Esteves Pinto. Bom, era um deles. Quando ia atender o telefone saltava do segundo andar, porque o telefone estava no rés-do-chão.
- Grandes malucos.
- E ficaram famosos pelos estragos que fizeram no Ultramar. Na guerra existe de tudo. É por isso que se chama guerra.
Ouve-se uma voz:
- Vamos a formar. Vamos embora. Acabou a semana de campo.
- Até que enfim, parece que isto nunca mais acabava. – Desabafei.

O dia do juramento de bandeira aproximava-se. Depois alguns de nós seriam escolhidos para tirar uma especialidade. Preocupado vi-me com a especialidade de atirador especial. Como já iria sair velho da tropa, ao menos que me dessem uma especialidade que depois aproveitaria para arranjar emprego na vida civil.
Na parada um frio de rachar. Todos formados para o juramento de bandeira. Já há muito tempo em pé senti que o meu corpo não aguentaria muito mais. Fiquei sem entender o que pretendiam. Seria que nos queriam matar desta maneira? E aconteceu um desmaio. Depois outro e mais outro. Pensei que se íamos morrer, então seria preferível revoltarmo-nos. A cerimónia acabou. A seguir, o nosso destino seria a estação do comboio de regresso a casa onde ficaríamos alguns dias.

O GOLPE DE ESTADO


E se dos presos políticos
Não houver libertação
Angola conhecerá como antes
Nunca vista uma manifestação

A guerra civil está por um fio
Sob a imposição chinesa do frio
Solta as suas feras o ordens superiores
Sob a batuta dos chineses doutores

Na falência técnica está a Sonangol
Foi atingida por um golpe de estado
Da chinesa imposição
Que obriga à extinção
Da oposição
À chacina da nação
E da população
Os jovens são arrastados sem remissão
E a política oposição (?)
Faz comunicados de ocasião
E a Igreja e igrejas obrigam à oração
E nós arrastados pelo chão
Pela desordem sem compaixão

O ordens superiores sempre a mandar
As leis, a cassação a arrastar a arrestar
Para as leis das chacinas nos levar
Para locais incertos nos atirar
O Estado é para desmandar
Em outra guerra civil nos desgraçar
Como acabam de nos ultimar
Na constituição deles nos aprisionar
A vida a nossa esperança levar
De noite e de dia a nos ameaçar
E os chineses vão nos ceifar
Nas terras agora deles nos escravizar
Os nossos corpos vão semear
E a Igreja e as igrejas a apoiar
O petróleo ainda dá para adulterar
E mais alguma corrupção comprar

E a pobre e ridícula oposição
Com revolucionários de ocasião
Esta angolana oposição
É um camaleão
Nos encheu da fatídica certeza
Quanto mais falam mais incerteza
No espírito da sua vil esperteza
Reina a nossa pobreza

Com casa ou sem ela
Almejamos sem janela
Sem manifestação
Não há oposição

Na tirania sem oposição
Não há governação
Não há manifestação
Há tortura, morte, prisão











domingo, 21 de junho de 2015

O REI DO PETRÓLEO (01)



Introdução

Apenas existem duas espécies de homens, os ditadores e os democratas.
Começo com este texto da Avaaz que me deixou aterrorizado pelo silêncio do deixa andar. “O Mediterrâneo e mar de Andamão estão se tornando cemitérios. Mianmar está expulsando o povo da etnia Rohingya e, com isso, milhares de famílias estão à deriva no mar, impotentes, forçadas a beber sua própria urina porque haviam sido rejeitadas pela Malásia, Tailândia e Indonésia. Todas as semanas, cidadãos sírios e africanos também correm o perigo de morrer afogados na costa sul da Europa ao arriscar a travessia assustadora, tida como a última esperança de escapar de tortura, fome e traficantes. Estamos enfrentando a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, mas até agora os governos estão permitindo que pessoas morram em meio a um clima crescente de xenofobia. Agora que a crise chegou, nossa comunidade tem uma oportunidade única de trocar a cultura do medo por uma onda de compaixão. Se cada um de nós fizer uma pequena doação agora, vamos ajudar a financiar operações de resgate no mar; criar uma equipe com foco em refugiados na Avaaz para apoiar essas missões e reassentamento; fazer pressão para forçar líderes políticos a abrir as fronteiras; e lançar anúncios para combater o racismo.”
Tudo é permitido, desde o assassinato de jornalistas, de crianças… de destruição em massa, da decapitação mundial perante o receio das democracias ocidentais que se escudam na fragilidade das suas fortalezas, perante a ameaça do derrube dos seus torreões porque ao titubearem sem saberem o que fazer, ver-se-ão envolvidas num conflito de vastas proporções. Por incrível que pareça as democracias ocidentais apoiam abertamente as ditaduras mundiais, especialmente na África onde os ditadores eliminam a seu bel-prazer populações sob o olhar complacente dos famosos líderes democráticos. As populações africanas são tratadas como componentes de uma lixeira, nunca se escutando uma palavra de condenação dos poderosos dirigentes ocidentais que fabricam em larga escala multidões de terroristas. A hipocrisia política comanda as operações da diplomacia, como aquela dos acordos de cooperação mutuamente vantajosos.
E a Avaaz termina pedindo doações para apoiar a desgraça dos governos democráticos que parece escolheram o caminho da sua extinção.
“Juntos, podemos ajudar no resgate de refugiados, como também no resgate de nossa humanidade comum.”
Querem-nos impor que dependendo em absoluto de ditadores as nossas vidas e o nosso futuro serão radiosos, e quem ousar se manifestar de imediato será para aniquilar.
Estamos outra vez no mundo de Hitler que nos ameaça com todos os meios para nos subjugar e nos impor a guerra de destruição massiva. Ó EUROPA, DESPERTA!
Não há regras, a não ser o jogo lúdico do matar impunemente. A barbárie avança invencível mostrando que se perdeu a noção do que é ser humano.
Até as famílias estão a desaparecer.
O comportamento das igrejas é como os partidos políticos que fazem promessas que nunca cumprem, como o regresso de Jesus Cristo para nos salvar… não sei do quê, só se for da sua egrégia ditadura.
As pessoas, familiares queridos, amigos e conhecidos, vivem, passam por nós, a maioria morre a grande velocidade e poucos restam vivos. É esta outra lei contrária à vida que nos conduz à solidão e que ninguém quer assumir pois a nostalgia daí resultante rói os nossos corpos, as nossas almas.
Meu Deus! Parece que a última réstia de amor desabou em cima de nós. Sem amor nada das nossas vidas terá esplendor, restar-nos-á o sobreviver da selva animalesca, a dor. Creio que vivemos na esperança do além.
Mais um alarme vem de Justino Pinto de Andrade numa conferência de imprensa em Benguela: “Angola está a ser conduzida para um beco sem saída, estamos no colapso económico.” Um pequeno bando de pessoas destroçou Angola, e creio que os culpados disso são os angolanos, pois permitiram que tal acontecesse.
Enquanto há vida há esperança, sussurram das suas tumbas milhares, não, milhões de mortos que nisso acreditaram. E os vivos continuam a levar essa esperança para debaixo da terra. Mais uma coisa que a Igreja inventou para subjugar os pobres coitados e abandonados crentes além-túmulo.
Neste momento recebo a notícia de que uma feiticeira vinda do Uíje caiu com a sua vassoura algures num bairro de Luanda por falta de combustível. A testemunha que relatou este acontecimento disse que no local estava muita gente e que a feiticeira estava nua, deitada no chão. Ela viajava em negócio para o estrangeiro para carregar mercadorias.
Outro caso foi o de uma albina que faleceu e o seu corpo foi depositado na morgue, que misteriosamente desapareceu sem que ninguém saiba explicar, o mistério decifrar.
O mundo não está em guerra, mas pelas terríveis situações de refugiados e abusos do poder, parece a terceira guerra mundial.
O trabalhador sem trabalho e o que o consegue tem um salário de miséria, de escravo.
Os genocídios tornaram-se tão vulgares como os campos de concentração nazis da Segunda Guerra Mundial.
Neste mundo apenas há lugar para os ricos, os pobres são para esmagar como as moscas. O mais estúpido dos ditadores é tentar parar manifestações de famintos com extrema violência. No seu desespero esquecessem-se que é assim que se inicia o seu fim.
Os chineses já se apoderaram das fábricas de tijolos, da venda de água, do gelo, dos cigarros e em Viana já têm uma casa de prostitutas. Não me surpreende nada que eles também já controlem o Governo, e isso nota-se nas semelhanças do partido comunista chinês com a actuação das autoridades angolanas.
Os portugueses estão no saque desordenado, e o mais curioso é que estando Angola no colapso económico, muitos continuam aqui a chegar, não se sabendo o que vêm aqui fazer, só se for para apanharem algumas migalhas. A expressão mais utilizada por eles é: «Como é que se consegue enviar dinheiro pata Portugal?»
Mas os chineses reinam como donos absolutos de Angola, pois até já lhes dá para utilizarem mão-de-obra infantil, crianças escravas numa impunidade de arrepiar. É demasiado evidente o desprezo pelo semelhante praticado por eles. Um exemplo: quando numa obra, não querem saber se a vizinhança morre ou não, desviam tudo para o outro lado, e quando chove é uma desgraça, pois resolveram o problema da obra atirando com todos os problemas para os vizinhos, e ninguém pode protestar porque por trás deles está sempre a Casa Militar da Presidência da República. Vi numa obra, com um sol terrível, daquele de queimar, de desmaiar, de matar, jovens angolanos a trabalharem, enquanto os chineses estavam na sombra. Colocam-se como capatazes de escravos a vigiarem a mão-de-obra escrava, substituindo a anterior colonização.
A lei existente é a da arma e a da chacina.
Restam apenas dois órgãos de informação livres, a Rádio Despertar e o Charlie Hebdo angolano, o jornal Folha8.
A Lei Eleitoral foi alterada de modo a que um único candidato vença as eleições. Isto é a tragédia anunciada, instalada. A perseguição aos opositores políticos é constante, intolerantemente doentia. Um segurança disse que à noite nos bairros os mortos são demais, a bandidagem constituída por jovens vítimas do desemprego vive dos assaltos, mas presentemente assaltam e matam.
A Rádio Despertar denunciou que na província do Namibe, trabalhadores estrangeiros não especializados roubam os empregos. De facto quem só sabe criar problemas conduz Angola para um beco sem saída.
Tal como os outros regimes idênticos também este cava a sua sepultura. Pelas suas características geográficas Angola não será outra Síria ou Egipto, creio que será outro Congo.
Presentemente os fiscais do Governo da Província de Luanda atacam, isto é, saqueiam ferozmente os bens de venda das desgraçadas e desgraçados que ousam vender seja o que for nas ruas, nem as cadeiras escapam. Decerto a crise também afectou os salários dos fiscais que para sobreviverem saqueiam os bens da população.

E neste ambiente se formou, vive e reina o Rei do Petróleo.

Libertem-me da poluição religiosa!


As “sondagens” indicam que na próxima remodelação governamental, para os ministérios serão nomeados ministros portugueses, pois a isso o neocolonialismo obriga e a paz legaliza.
República da literatura do petróleo. República dos salteadores do petróleo de Angola. República dos assaltos de Luanda. República do assalto do registo eleitoral. Ó pobres almas que caminhais para as sepulturas.
Sempre na vanguarda do trabalho, os chineses pelas seis e trinta, sete horas, todas as manhãs, atiram com barrotes de madeira para o chão, mudando-os de lugar, fingem trabalhar.E outras coisas genuínas dos subdesenvolvidos, como deixar cair chapas de madeira e de zinco com o maior barulho possível. Depois, como os angolanos ainda não sabem serrar – ninguém lhes ensinou – os chineses com serras eléctricas mutilam madeira a esmo. É o propósito intencional, maldoso do não deixar ninguém dormir. É isto o desenvolvimento de Luanda projectado por salteadores, saqueadores chineses.
E às escravas do petróleo só lhes restam as ruas para venderem algo para comerem - restava-lhes – porque os estrangeiros queixaram-se nos senhores do petróleo que a negralhada a vender nas ruas, obscurece-as, escurece-as.
E para que a nossa vida melhore, vai melhorar, a corrupção é certa, basta nomear alguns chineses para ministros de alguns ministérios, e então Angola ficará numa boa. A nossa vida vai melhorar!
Não é possível mais sobreviver no campo de concentração de Luanda!
Qual a utilidade dos sacerdotes? Para que os nossos corpos alimentem as fogueiras que eles ateiam.
Os lordes do petróleo gostam muito de brincar às revoltas e revoluções.
De uma crente de uma igreja do Senhor: «Brinquem com as coisas, porque quando o Senhor chegar vão-se arrepender.»
Por mais que se tente evitar a escalada da desgraça angolana, Angola não é igual nem melhor que os outros países africanos mergulhados na debandada dos seus povos como errantes, como farrapos humanos. Angola é pior porque o neocolonialismo também é pior.
Quanta mais trampa fizerem nela se atolarão e nela perecerão.
Há homens que fundam a democracia, outros afundam-na.
Não será nada mau se em Angola existirem dois ou três democratas.
O investimento chinês é bom para África, mas para Angola é péssimo para a sua população.
O problema de Angola é que não há ninguém que consiga acabar com a miséria e a corrupção. Pelo contrário, só há quem as exacerbe.
Que Deus nos livre da poluição religiosa, tão nefanda epidemia ardilosa. Os hipócritas estão no poder e a oposição também o quer ter.
Cada cidade da Inglaterra tem uma história bonita. Cada cidade de Angola tem uma história de miséria.
Na república do ter energia eléctrica e água é sorte.
Fiquei muito triste ao tomar conhecimento que uma amiga de quarenta anos de idade está a passar mal, a fome montou-lhe guarda. Surpreendido pela notícia, pois ela vivia desafogadamente sem motivos que justificassem a instalação da desgraça no seu lar. Quantos mais casos existem? Muitos! Muitíssimos! Não há empregos! Luanda está invadida por portugueses que nos rapinam os empregos sob o disfarce da mão-de-obra especializada, o que é notoriamente mentira do sou português e angolano. Como é possível os portugueses serem angolanos?! Aqui da praça política nada há a esperar de uma oposição esquecida. É só falar, falar, enquanto do outro lado os prelados dizem que devemos orar, orar. Manos e manas! A violenta maré que se aproxima traz-nos luto.
Libertem-me da poluição religiosa!
Mais um casal português desembarcou no prédio. Sempre a mesma questão se coloca: como é que saídos da miséria profunda conseguem os cinco mil dólares mensais de renda?
Se os portugueses fogem do sonho irrealizável de Portugal, porque o procurar no pesadelo de Angola? Fugir de um inferno para outro nunca é solução, é expiação.
Os missionários vêm com a missão de evangelizar os mwangolés, mas estes refugiam-se na feitiçaria. Os portugueses vêm com a missão de civilizar os mwangolés, passar-lhes conhecimentos do homem branco, dos ardis colonialistas que levam à escravidão.
Já perdi o interesse em ouvir a Rádio Ecclesia. Parece a Rádio Renascença do tempo de Salazar e da nossa senhora de Fátima. Aliás, Angola está como Portugal antes do 25 de Abril, muito mais feroz.
Faço tudo o que quiserem, mas por favor não me mandem para a embaixada de Portugal em Luanda, porque lá vê-se bem que Deus não existe. ´
Por vezes parece-me ser melhor extinguir os partidos da oposição existentes em Angola e criar novas formações políticas.
O melhor momento da nossa vida, é o saber esperar a chegada do momento ideal para desferir o golpe sem misericórdia no nosso inimigo.
E o nosso petróleo deles é a grande fonte de inspiração, o viveiro da literatura do petróleo, dos poetas, escritores, uma refinaria de intelectos.
A única riqueza nacional de Angola, a sua primeira maravilha é o petróleo.
Continuo a ouvir parvoíces nas rádios de consumismo primitivo. São tantas bocas de aluguer que ao desinformarem como regra, como se fosse possível lavar todos os cérebros. Como é bom despedaçar Angola.
Agora, qualquer um é advogado.
Agora até as mães mwangolés são como as obras dos orientais, são mães descartáveis.
Mas o mwangolé serve para quê afinal, pois que quando contactado para um compromisso, um serviço, diz que: «Daqui a cinco minutos estou aí.» Mas não aparece, tudo não passa de uma grande merda irresponsável. E assim o estrangeiro avança, apodera-se de Angola e depois os mwangolés lamentam-se que Angola está em poder de estrangeiros, e que eles os escravizam. Pois com toda a certeza, é isso mesmo que acontece, deixem de ser burros!
No paraíso das epidemias, Luanda tem mais uma catástrofe na saúde. Estarmos sob uma invasão – é melhor chamar-lhe de república das invasões – de mosquitos de todas as espécies, de dia e de noite os mosquitos ceifam-nos.
O ideal é ter uma imprensa que nunca denuncie os terríveis actos da péssima governação, sim, uma imprensa ao serviço do desgoverno, sim, isso é o ideal.
Nem tudo está mal. Por exemplo, a miséria funciona a cem por cento, isso é muito bom, porque esclarece a meta conseguida pelo governo, promessa cumprida. Aplausos para este governo que trabalha muito bem, e do qual esperamos que continue mais quarenta anos no poder.
O jornalismo que se sujeita às leis do jornalismo do petróleo, não é, não pode ser jornalismo, é um jornalismo comodista. O petróleo ilumina-lhe a corrupção neuronal, e isso não é jornalismo, é criadagem, é serviçal.
A mana Antónia lá foi outra vez com as duas jovens filhas com células falciformes para o hospital. Mais uma vez o dinheiro que conseguiu amealhar desapareceu.
Todos os caminhos de África desaguam em Lampeduza. Já não se chama continente africano, é continente Lampeduziano.

(Amigo leitor, a partir da próxima edição do Folha 8 – o nosso Charlie Hebdo – sairá o primeiro episódio da série O Rei do Petróleo, não perca.)

sábado, 20 de junho de 2015

Ao lado de cada estrangeiro uma angolana para lhe vender o seu corpo.


E os aventureiros das guerras vão deixando, cadáveres pelos campos semeando. É isto que agora se chama agricultura.
Segundo a Rádio Despertar, nos mercados informais o balde de tomate que antes custava mil kwanzas, agora está a dois mil e quinhentos kwanzas. A batata rena, a cebola e a batata-doce seguem a mesma desgraça. Fala-se de protestos de rua.
Um sindicalista da CGSila disse na Rádio Despertar que era melhor que fizessem marcha atrás com a nova Lei Geral do Trabalho, porque antes de ela sair já começaram os despedimentos à toa, (decerto para serem ocupados por estrangeiros). E que esta LGT vai dar muitos problemas, muita desestabilização. Há várias empresas onde já se preparam movimentos grevistas. Esperam-se também manifestações de rua.
Aqui não se resolvem problemas, cria-se um abismo de problemas. Está tudo descontrolado e quando isso acontece… a cidade foi tomada de assalto. Os bandidos, milhares de jovens desempregados fazem assaltos mortais de noite e de dia. A cidade está em seu poder, a arder.
A África dos ditadores é como um violento terramoto sempre em actividade.
Esta cidade está lotada de comandantes de campos de concentração.
Afinal este movimento de libertação não nos liberta, oprime-nos, chacina-nos.
O ambiente em Luanda é de pavor, de morte.
Já não se consegue vender qualquer coisa para sobreviver porque tudo está tão caro devido à miséria organizada do PT.
Os bandidos não são só os que andam nas ruas e por aí nos assaltos. Nas empresas também têm muitos bandidos e estão impunes, protegidos pela lei.
Exército de desempregados de empregos espoliados por estrangeiros é exército de assaltantes.
Ao lado de cada estrangeiro uma angolana para lhe vender o seu corpo. Como a actual Lei Geral do Trabalho que nota-se clandestinamente parece ser de inspiração chinesa.
Os chineses saqueiam-nos e depois exportam-nos lixo, criando mais miséria e avivando a corrupção.
Na política já se funciona como nas mudanças climáticas. Agora a má governação recebe o prémio de boa governação. Depois do Dubai oferecer o prémio da boa governação ao nosso querido Líder, seguir-se-ão os libertadores das forças oprimidas do mundo, a Coreia do Norte, a China, Portugal e o Brasil não faltarão a tão merecido galardão da má governação.
No dia 13 de Abril a Rádio Despertar noticiou que a Universidade Metodista em Luanda está encerrada desde a madrugada desse dia. Alunos e corpo docente não podem entrar. Está guardada por seguranças de farda preta.
E de noite muitos fazem magia e conseguem importar as coisas para vender a voar e aqui chegarem e depois vão vendê-las nas praças.
Um mwangolé comprou um fio de ouro. Assim que o colocou no pescoço, ele enterrou-se-lhe no corpo.
Um cliente roubou cem kwanzas a um senegalês. Ele disse que não se preocupassem muito com isso, que depois veriam o que aconteceria. Passaram alguns dias e a mão, o braço e o pescoço do cliente enfiaram-se para dentro do corpo.
Quando a energia eléctrica falha, que quase não existe, o fumo dos geradores faz de Luanda a prisão da morte. Na ânsia de facturarem, os aventureiros e criminosos locais e internacionais não querem saber se as suas famílias sobrevivem ou não, – as outras famílias são para chacinar – sem dó nem piedade entregam os seus filhos crianças à morte para transferirem o saque de Angola para os seus países.
Contra milhões de desempregados ninguém combate. Milhões de esfomeados, ei-los na sua máxima força terrorista.
Compraram-me uns chinelos desses do facilita, depois de os usar notei que a planta dos pés estava avermelhada. Assustado, logo pensei que uma doença me atacou. Mas com atenção analisei os chinelos e lá estava o made in China. A tinta dos chinelos desfazia-se nos meus pés. Os chineses estão cada vez pior, não fazem nada que se aproveite, vivem da propaganda como nos bons tempos soviéticos.
Eis a última profissão inventada pelos portugueses para sacarem dinheiro: gestor de frio.
Brevemente em Angola por decreto presidencial decretar-se-á o dia da privatização dos angolanos.
Faz o árbitro e jogador o registo eleitoral da violência do pavor.
Um segurança conseguiu um diamante e ao olhar para ele vê a cruz de Cristo a partir-se e a cair em cima de Deus. Outro vê muita água. São os efeitos da bebida do uísque dos saquinhos de plástico.
A meio da manhã a escolta dos guardas prisionais exige que todos os carros saiam do seu caminho, mas não dá porque o trânsito está doentiamente engarrafado. Então, há que apelar a todos os meios para resolver a contenda, e vai daí: «Tira daí o carro filho da puta!» 
Dois portugueses quase todos os dias ligam e desligam três gigantescos geradores - que quando arrancam parece que tudo vai desabar, sim, isto é tudo para queimar - do hotel na rua Rei Katyavala que dizem é da mana Isabel, para justificarem o saque dos empregos e das transferências milionárias para Portugal.
O banco millennium na rua rei Katyavala segue o exemplo da mortandade da agora república das chacinas. Há pouco mais de dois meses que expele fumo mortal do seu gerador que já quase matou uma criança de dois anos vítima de pneumonia do seu fumo da morte. É a política do todos matamos porque ninguém ousa nos matar. É por isto que estas coisas originam a violência imparável. Quem pela violência mata também pela violência será morto.
E o trabalho escravo dos chineses que obrigam os jovens mwangolés a trabalhar antes das sete horas da manhã, sábados, domingos e feriados. É trabalho forçado, como se estivessem presos num campo de concentração, como se os nazis nos governassem. E não é isso que a nova Lei Geral do Trabalho nos contempla?
Antes, de vez em quando ficávamos sem energia eléctrica de noite e de dia, agora tornou-se uma constante. Vivemos sob uma nuvem de fumo proveniente dos geradores, um extermínio massivo.
Ao que chegámos! Por incrível que pareça, os “governos” democraticamente eleitos são os garantes da instabilidade política, económica e social. É que os ardilosos conseguiram o disfarce da frágil capa negra da democracia.
E em Angola constrói-se um dos maiores aeroportos do mundo, num país com a maior miséria do mundo.
E também as ideologias destroem as nossas vidas.
Os ditadores, todos os dias das suas vidas são de sangue, e os dias do seu fim também.
O dia-a-dia de Luanda é… é os dias das execuções sumárias da bandidagem. E ainda há quem lhe chame democracia.
Falei com uma jovem mãe de vinte e um anos de idade, com um filho bebé de vinte e um meses que ela amamenta enquanto fuma. Ela sabe que não deve amamentar assim o bebé. Ela confirmou que sabe disso, que ao fumar a nicotina passa para o leite. Mas mesmo assim continua a dar de mamar ao bebé. O que é que esta mãe merece?
Os lordes do petróleo são exímios seca torneiras, apagadores de lâmpadas, e os melhores corta empregos do mundo. Neles a corrupção é consanguínea.
A melhor política é não perder tempo com políticos.
Há palavras que ferem como as mordidelas de cães raivosos.
Muito se fala da paz. Que paz! O povo angolano é desempregado. Isto é paz? Não! É guerra social!
E o que está errado, por mais esforços que se façam, nada bate certo. Persistir no erro sistemático é o anunciar da desgraça de um país. E quem sabe disso? Ninguém!
Sobretudo, seja um indivíduo culto, esforce-se, pois sem isso o futuro é-lhe muito incerto, leia o Jornal de Angola.


sexta-feira, 19 de junho de 2015

A PESTE


Até os jornais chacinaram.
E houve um terrível genocídio e logo o jornalismo do poder se apressou a informar com a mentira que afinal apenas foi uma peste.
E no poder da tirania está a consolidação desta democracia.
Este petróleo é o grande inimigo da paz.
Onde há muita repressão há muita corrupção.

Apesar de quarenta anos de independência, os corpos arrastam-se no suor da tempestade de calor que sobre eles se abate sem misericórdia. Carregam sacos, tudo o que é pesado nas costas nuas ou não, soltando o perfume do chocolate escuro africano. É a nova vida colonialista que persiste, que insiste daqui e da África não mais sair.
À noite, as crianças abandonadas pela maldição do petróleo mendigam próximo dos supermercados que alguma coisa lhes caia como que por magia. Mas ninguém delas se condói porque elas trazem a peste que o partido do petróleo criou e logo abandonou. Os seguranças são instruídos para enxotar estes parasitas que não entendem o que é isso de ser angolano. Só a uma coisa têm direito: levar surra por incomodar quem transporta comida. O petróleo é o deus dos milionários e o diabo dos miseráveis.
E as meninas crianças conquistam a noite, frequentam a escola da vida da prostituição desta nação. Ao lado o petróleo sorri perante mais uma batalha ganha, pois onde ele está toda a imoralidade, maldade e criminalidade se consente porque o poder há muito está ausente. E os adultos gozam de prazer só de pensarem que uma coisa pequenina de carne tão tenrinha lhes adoçará o prazer dos corpos viciados e que lhes fará das doenças imunizados.
Bandos de crianças e bandidos adultos patrulham a cidade nas noites cúmplices, como feras libertas das suas jaulas. As ruas e as noites são deles como se decretassem a lei marcial. Perante tal ameaça letal ninguém vive em paz, pois a qualquer momento o assalto é um facto consumado, agora de morte acompanhado.
Os discursos dos agentes petrolíferos viciados pelos quarenta anos sem mudanças, repetem constantemente as conquistas alcançadas pelos gloriosos combatentes da milionária facturação do petróleo que eles decretaram ser do seu interesse público. Assim como a terra de que já não é pertença dos ancestrais, mas surripiada à vista generalizada pelo poder dos marginais.
As ruas dos miseráveis são vitalícias e as do poder são jardins das delícias.
Que foi finalmente conquistada a liberdade, afinal tratava-se de terrorista maldade.
A Igreja pede ao céu para que desça à terra e faça milagres mas já ninguém acredita nisso.
O peso dos quarenta anos do opróbrio poder nas nossas costas está insuportável. Chegou a hora do render da guarda, inevitável.
Esta cidade é um vasto cemitério onde depois da meia-noite os carros que circulam são caixões.
Há vários anos que o Miguel andava à procura do sem sistema. Passou pela rua rei Katyavala e notou o sem sistema do banco millennium, mas viu o fumo da morte do seu gerador que há dois meses chacina, agora fazendo parte integrante do sistema de governo. Não é possível governar sem chacinar, mas quando o contrário acontecer nada haverá a fazer. O sem sistema é como a peste que arrasta cadáveres para as valas comuns.
Na rua que semelhança com isso nada tinha porque também não escapou à chacina, mostrava o cenário do fim do mundo a aproximar-se. Uma kinguila chorava porque caiu na conversa petrolífera de um senhor abastado, mas agora desbastado porque o preço do petróleo abandonou-o. E a desgraçada kinguila lamentava-se que lhe emprestou oito mil dólares. Mas ela nunca mais o viu. Muito mais tarde ela soube que ele fugiu com a família para a África do Sul com bwé de dívidas no mesmo estilo do empréstimo. Lá esbanjou o dinheiro, fugiu para Luanda deixando os filhos abandonados à miséria da vida, a morrerem à fome.
Miguel recordou-se de mais uma coisa da vida sem sistema: No dia anterior às 23.21 horas, uma jovem aí para os vinte e cinco anos com uma perna mutilada e de bengalas acompanhada, mantinha conversa com um conquistador segurança que se preparava para lhe aflorar a flora sexual. Quer dizer, nem mutilada escapa da sangria sexual.
Um ouvinte na Rádio Despertar comentava que a Assembleia Nacional já não é disso. É mais um comité de especialidade do Mpla.
Nas ruas da cidade da desolação, muitos jovens moviam-se como moscas na ânsia de alguém lhes comprar alguma coisa. É o único emprego que lhes resta porque os estrangeiros e o governo que os suporta são peremptórios, que os angolanos não sabem trabalhar e como tal os empregos são só para os estrangeiros.
Viam-se mulheres muito aflitas na caça de uns pingos de água que saiam das torneiras. Vaticina-se que a água continuamente perde pressão, já não enche as cisternas montadas nos terraços e fora deles, e que dentro de algum tempo se vá de vez. A energia eléctrica continua com a chacina dos cortes constantes. Mas agora com mais um aumento dos preços dos combustíveis a coisa vai ficar muito feia devido ao uso massivo dos geradores. Se antes já se cortava nos gastos agora corta-se em quê… nos despedimentos massivos é o que se vê.
Miguel, considerou que a luta mais terrível da vida das pessoas é conseguir vencer a miséria que teimosa nunca nos deixa em paz, porque a política salarial de Angola é: primeiro as amantes, muito depois ou nunca os trabalhadores. E que há quarenta anos que a chacina da população é um facto bem visível, assim como se exterminaram os índios nos Estados Unidos da América e noutros países, também em Angola há essa intenção, pois a acumulação do capital assim o ordena.
Miguel olhou e viu tudo sem sistema. Voltou-lhe à baila no pensamento a maka dos combustíveis, melhor, da chacina da subida dos seus preços. Viu uma cantina dos orientais que de imediato chacinou os preços dos seus víveres. Mel Gamboa, uma conhecida locutora da televisão apelou à manifestação. Nos tempos áureos do petróleo quando os preços eram milionários, era a leitura indicada para subir lentamente os preços dos combustíveis, mas tal não se fez porque os milionários do regime nadavam em dinheiro e não queriam parar. Agora, a nadarem em seco estupidamente sobem os preços porque o petróleo já não lhes dá riqueza. Quem não sabe governar com os preços muito altos do petróleo, com eles muito baixos utilizará a política da chacina.
E nas rádios e televisões do sismo do poder um comunicado corria, se ouvia: E quando nos nossos rios já não existirem peixes, quando eles se infestarem de cadáveres, então sim, poderemos afirmar com toda a certeza que Angola é finalmente livre e independente.
E o Miguel prossegue, analisa a chacina dos intelectos, pois sem eles não existe nada, apenas a terrifica tirania: E a literatura do petróleo está bem servida, guarnecida pelos génios escritores, poetas e outros campos de prospecção petrolífera, pois, sem petróleo jamais existiria tal imensidão de génios ligados às artes. Há uma coisa que não entendo, não vejo como é possível os democratas consentirem que os ditadores tomem o poder. Um jornal, qualquer órgão de informação que não denuncie a miséria a que o poder sujeita a população, isso não é, nunca será informação. Isso é o poder da imprensa da opressão.
Este governo da miséria tem milhões de miseráveis. Sim, é verdade, pensou com imensa tristeza o Miguel: Há quarenta anos que estamos sem sistema, aguardamos que a qualquer momento o povo imponha a sua vontade soberana, a reposição do sistema.
Há dezenas de anos que a peste está aqui, nos dizima, nos chacina.


quinta-feira, 18 de junho de 2015

O Rei do Reino do Sol



Bem governar é a população chacinar.
“A fruta quando está madura cai. Mas quando está verde também cai com uma tempestade.”
Jornalismo é informar o que o jornalismo do poder não informa.
Este reino é obra de corruptos.

No reino tudo era composto de petróleo, de sol e de paraíso. De tal modo que os estrangeiros não queriam outra coisa. Peremptórios afirmavam que nunca sonharam com tanta riqueza fácil. Assim qualquer acéfalo chegava e no rei Midas se transformava. Com salários muito altos a fingirem que trabalhavam e o povo de bandeja escravizavam. O Rei do Sol decretou que ao lado de cada estrangeiro uma angolana se devia prostituir. O Rei do Sol, há quarenta anos que reinava numa permanente romaria de aduladores da pior espécie encontrados pelos mais perdidos cantos do mundo. Contratados como mercenários ao serviço do Rei do Sol punham e dispunham: partiam casas, espoliavam populações e matavam como nos bons velhos tempos coloniais. A coisa estava do piorio porque o Rei do Sol não conseguia controlar os seus subordinados, de tal modo que eles maltratavam as populações, mas a coisa evoluiu para o esperado: passaram a assassinar indiscriminadamente populações indefesas, sempre no cumprimento do dever das ordens superiores do Rei do Sol, confessavam.   
Num dia que tresandava a nevoeiro, o Rei do Sol chamou um dos seus generais mais chegados e disse-lhe de chofre, que a partir de hoje no reino moraria a democracia. O general estupefacto pensou de imediato que o Rei do Sol estava louco – de facto estava-o há quase quarenta anos como num tabuleiro de xadrez onde só os assistentes percebem as jogadas dos contendores – e prostrou-se durante uma eternidade de momentos na defensiva. O Rei do Sol achou por bem que devia esclarecer o seu general para que no futuro não houvessem mal-entendidos, como aquela vulgar cena do assassinato a tiros de um colador de cartazes de inofensiva propaganda política protagonizada pelos seus homens de confiança. O Rei do Sol acalmou o seu general: «Não, não fiques amuado, jamais alternaremos o poder com quem quer que seja, simplesmente nos tempos que correm – maldita democracia – temos que dar a entender que abraçámos a tal dita democracia.»
E o general muito vivo observou: «Meu Rei do Sol, e para isso temos que organizar o registo eleitoral.» «Disseste muito bem, temos que organizar o registo eleitoral, apenas te corrijo num ínfimo pormenor: Não é temos, mas tenho… isto é, quem organiza, quem controla o registo eleitoral sou eu. Assim, perante a comunidade internacional seremos muito bem vistos como os grandes impulsionadores da democracia em África e no mundo… e teremos as mãos livres para liquidarmos qualquer opositor.»
Para os seus maléficos desígnios, o Rei do Sol contava com o exército de milhares de mercenários portugueses, chineses, brasileiros e outros que trabalham apenas por interesse financeiro.
Um dos passatempos principais do Rei do Sol, era, com os seus sofisticados binóculos, - oferecidos pelos chineses - observar por uma das janelas do seu palácio o sofrimento atroz das suas populações que moribundas imploravam os restos do lixo que saíam do palácio. Mas nem a isso tinham direito porque a guarda do Rei do Sol tinha ordem para disparar a matar quem ousasse do palácio se aproximar.
Diariamente o Rei do Sol sentava-se no repasto da sua mesa real e junto com os seus colaboradores – os executores das suas ordens superiores – concebia os planos do realojamento das populações. Assim, em nome disso procedia-se a todo o momento a desalojamentos forçados sem quaisquer contemplações e muito menos indemnizações. O Rei do Sol há muito havia arquitectado o plano de emergência real, que consistia em alojar os desgraçados que ficaram sem nada, em reservas indígenas chamadas de zango 1, zango 2, zango 3 e assim interminavelmente. Com deleite, o rei observava estes seus miseráveis súbditos lançados em camiões e depois despejados sem quaisquer condições. E ele ria, ria, até desmaiar, de tal modo que até espuma lhe saía da boca.
Sem oposição, claro que o Rei do Sol fazia o que queria, e dela também muito se ria. Pois, quem muito fala e nada faz, em tudo o mais é incapaz. E o Rei do Sol ia avançando, nos desmandos trucidando. Outra vez chamou o seu general sempre às ordens e lhe anunciou terríveis desordens. «Olha meu amigo, a partir de agora acabou-se definitivamente isso da democracia. Como muito bem sabes, esta gente é abusadora e não sabe agradecer o bem que lhe fazemos. Custa-me a acreditar… mas é verdade… querem o poder – como dizem – por via de eleições livres, transparentes e justas… eleições?!, mas eu apenas falei que como magnânimo abriria algumas portas da democracia, todas abertas isso nunca, jamais aconteceria! Bom, como eles até falam que eu já estou há muito tempo no poder e que não o largo, que deverei abandoná-lo, dar, como eles dizem, a alternância do poder. Bom… meu amigo, sabes qual é o plano a seguir?» «Não meu Rei, é claro que não sei, apenas o escuto e tudo o que vossa eminência diz é a luz de Deus.» Disse o general.
«Claro… é bom lembrar a todos os arruaceiros que fui eleito por Deus, e a Igreja e as igrejas me veneram como tal… já estás a ver qual é o plano que se seguirá, não é?» Perguntou o Rei. E o general incapaz de responder, pois regra geral general só pensa em guerra, apenas abanou ligeiramente a cabeça. E o Rei com a face mais terrível de todo o mundo, como se o quisesse desfazer ordenou: «A partir de agora vamos para as chacinas, toda a gente que não esteja do nosso lado será massacrada pelas balas e às fatias catanada. Não há problemas porque os nossos amigos chineses, portugueses, brasileiros… toda a escumalha internacional nos apoiará, pois os massacres estão no lodaçal da moda e nós apenas a seguimos. Também quem é que liga às chacinas de negros, isso é o prato do dia, basta ver os naufrágios nas costas da Europa e os inconcebíveis crimes de morte do estado islâmico e o abandono à morte das crianças na Síria e na África. Como sempre, por vontade própria seremos mais um estado islâmico em África. Chacinaremos, não deixaremos pedra sobre pedra o que for oposição e mais um Ruanda entrará em acção.»
E outra vez o Rei do Sol pegou nos seus binóculos para observar mais demolições de casas por si ordenadas, para cumprir o apoio dado à corrupção pelos países amigos e dos seus correligionários.
Os massacres estendiam-se por todo o lado. Frequentemente sobre os bancos ouve-se e lê-se que os seus clientes ficam sem o seu dinheiro depositado. Por mais que se queixem não conseguem reaver o que os bancos lhes desviam. É perigoso ter dinheiro nos bancos do Rei do Sol porque os assaltantes bancários roubam os saldos das contas. Quem lá tiver dinheiro que se acautele pois corre o risco de ficar sem ele. A banca é pois uma aventura. Quem confia nos bancos é como um marido traído.
As “sondagens” indicam que na próxima remodelação governamental, para os ministérios serão nomeados ministros portugueses, pois a isso o neocolonialismo obriga e a paz legaliza.
Notava-se claramente que o símbolo da bandeira nacional era a corrupção. A enxada, símbolo de uma agricultura inexistente. A roda dentada há muito que os seus dentes estavam partidos. A catana cheirava a corpos mutilados que aliados às cores do sangue e da morte terminavam num quadro lúgubre, muito rocambolesco.
A Igreja no seu silêncio cúmplice, cadavérico, abre as luzes verdes para mais um massacre dos cátaros, agora em Angola, lá como cá nem as crianças escapam.
E o Rei do Sol investido pelos poderes divinos, mais um deus na Terra justifica o seu endeusamento sobre a vida e a morte do ser humano, e lança a sua ira divina: «Chacinamos alguns milhares, os outros vão ficar cheios de medo, aterrorizados, e não mais se manifestarão. É como os pardais, mata-se um, deixa-se no terreno, os outros fogem, não voltam mais. Governar é bem a população chacinar.»
Onde há intolerância política, não há desenvolvimento económico. E viver da violência instituída é o caos de uma nação. Estas coisas originam a formação de quadrilhas, o terrorismo que arrasta África e o mundo para o caos económico.
Mesmo sobre qualquer que seja a sua actividade a população está sempre sob alçada da lei dos crimes contra a segurança do Estado e é passível de prisão imediata.

Mas mesmo assim a população avançou revoltada para o palácio, o rei viu-se cercado, perdido, completamente só, abandonado pelos boçais bajuladores seus fiéis serviçais seguidores. A populaça incendiou o palácio que ardia, desaparecia, e o Rei do Sol foi agarrado pelas chamas e na morte atroz por elas consumido. E assim se dizia adeus a mais um rei africano que loucamente quis parar a democracia com balas. 

12 de Abril 15. República das torturas, das milícias e das demolições



Diário da cidade dos leilões de escravos

12 de Abril
Esta terra é de quem a rouba.
E tudo este estado islâmico nos decapitou.
O fumo da quadrilha bancária do gerador do banco miillennium decapita os nossos pulmões.
Segundo a Rádio Despertar, os moradores que estavam na Chicala, (e abandonados para aí) a fome é tanta que para sobreviverem comem cobras e lagartos.
Em Cabinda, a prospecção de metais preciosos está entregue ao garimpo internacional.
O que faziam os cinco chineses acompanhados por forças policiais e militares na espoliação das terras da Unaca, a associação dos camponeses de Angola? O poder eterno vendeu Angola aos chineses?
“Todo o acordo que o Mpla assinou, nenhum funcionou. O Mpla nunca os cumpriu.” Presidente do Pdp-Ana, na Rádio Despertar.
No dia 3 de Abril, na obra do general Ledi nas traseiras da Pomobel junto ao Zé Pirão, um jovem angolano estava a dormir no cimo de uma parede interior em construção. Um chinês chega junto dele com um tubo de ferro e berra-lhe ameaçador fazendo gestos que vai bater-lhe. O jovem angolano sai de cima do muro e não lhe dá patavina, pois agora – continua - só vale o trabalho escravo. Um chinês também estava na sorna, mas não foi enxovalhado.
Cerca das doze horas, no hotel da rua Rei Katiavala junto ao Zé Pirão, que alguns dizem pertencer ao governador do BNA, José Pedro de Morais e outros a Isabel dos Santos, os mwangolés ficaram colados ao chão. Era um exército de chineses escoltados por angolanos que para lá se dirigiam. Os comentários não faltaram, como: Tanto chinês para quê, isso não é muito suspeito? Então, não temos ninguém que faça o trabalho que eles vêm fazer?”
Um estranho telefonema: às 20.26 horas do dia 3 de Abril atendo o telefone e recebo o seguinte alerta: “Tu não és o Hélder?, moras no quilómetro trinta? Amanhã vais estar sem casa!”
13 de Abril
Das 08.22 até às 17.12 horas tivemos mais um massacre da energia eléctrica.
Amigo leitor, quer ver o seu cérebro confuso?, então faça o seguinte: Quando se deitar, enrole os pés e pouco tempo depois mexa os dedos de um deles. O seu cérebro não consegue saber qual deles se mexeu, se o esquerdo ou o direito.
Primeira vítima, uma criança de dois anos apanhou pneumonia, a sua mãe também se sente mal. Queixou-se, mas não deu em nada porque estamos reféns de terroristas. A revolta é necessária. Em Luanda desde as 07.40, de 10 de Março que o gerador do banco millennium, na Rua Rei Katyavala – o banco da morte – trabalha dia e noite. A energia eléctrica não falta. Vivemos com janelas e portas cerradas. No dia 13 de Março, três mercenários portugueses ao serviço do crime organizado estiveram no local e aprovaram o massacre.
14 de Abril
Mais massacre da energia eléctrica, das 13.41 até às 23.41 horas.
Às oito horas, a temperatura estava a 23.5 graus. O cacimbo já está aqui? Não há dúvidas que o clima também está corrompido.
15 de Abril
Outra vez massacrados pela energia eléctrica das 08.46 até às 09.06, e das 12.43 até às 23.34 horas.
As empresas de recolha do lixo em Luanda vai para um ano que não recebem pelos serviços prestados. Os trabalhadores também estão sem salários. A paralisação da recolha do lixo está iminente, dizem. O governador da província de Luanda apelou ao patriotismo e acrescentou que vivemos momentos muito difíceis e que os munícipes urbanos pagarão a recolha do lixo mediante a cobrança de uma taxa.
16 de Abril
Das 09.17 até às 09.32 e das 21.42 até às 22.01 horas, a energia eléctrica foi não se sabe para onde.
16.45 horas do dia 06 de Abril, Rádio Despertar. De um jovem algures num hospital de Luanda: “Digam ao meu amigo para me enviar comida. O hospital não tem ligaduras, não tem comprimidos para as dores. Deus abandonou Angola.”
17 de Abril
A partir da meia-noite só circulam os carros dos espíritos.
A meio da manhã lá foi a mana Antónia outra vez com as suas filhas que sofrem de células falciformes para o hospital.
18 de Abril
Agostinho Neto disse: “Temos que arrancar o poder pela força”. Citação do general Silva Mateus na Rádio Despertar.
Isto é anedótico, próprio da tragicomédia angolana: Aqui na banda todos os anos o cabo da energia eléctrica da rua queima e ficamos dois, três, quatro dias sem a tal luz. É típico desta tragicomédia: Um palácio, uma estrada asfaltada, uma guarda presidencial, uma banda para tocar o hino, uso exclusivo do erário público, e muito, muito mais.
19 de Abril
O polícia de trânsito está a vigiar os condutores que circulam no posto montado na rua Rei Katyavala, e de vez em quando manda parar um. Faz sinal a um jovem de motorizada para parar, ele pára e grita-lhe: “Deixa-me em paz! Vai para a cona da tua mãe!!!” e logo de seguida arranca em grande velocidade. Quinze minutos depois um jovem condutor é sinalizado para parar o seu carro, o que ele faz. E num colossal grito: “Deixa-me em paz! Vou-te mandar para o inferno! Deixa-me em paz! E também logo em seguida arranca a toda a pressa. 
20 de Abril
“Nós fomos formados analfabetos e os nossos filhos seguem o mesmo caminho.” (De um ex-militar na Rádio Despertar, referindo-se à manifestação programada para o próximo dia dois de Maio em Luanda.)
21 de Abril
Das 10.18 até às 11.04 horas a energia eléctrica desligou-se.
Hoje massacraram a água. Alguém a viu por aí?
22 de Abril
Sob o olhar de cobiça e cumplicidade, Portugal, China, Brasil e outros cúmplices, o genocídio do povo angolano arrancou em grande força. É isto o tal registo eleitoral oficioso. No massacre do Huambo há festa da seita estalinista que nos governa.
Há homens que nascem para engrandecer as suas pátrias e os seus povos rejubilam. Há demónios que nascem no inferno e fazem das suas pátrias e dos seus povos o pasto das chamas. Como a teimosia de um homem que arrasta Angola para as chamas do inferno e nelas também perecer.
Francisco Lopes
Se se confirma que mais de 700 cristãos foram assassinados e enterrados em valas comuns nos últimos cinco dias em Angola, podemos assegurar que o processo de transição para a democracia em Angola terminou!
Raul Tati
Acabo de receber informações alarmantes neste sentido. Não consigo acreditar. Até que as coisas sejam esclarecidas prefiro ainda o benefício da dúvida. Se se confirmar este dado, então direi que começou o fim do regime.
Setas António
“Eu tenho a impressão, Francisco Lopes que, sendo verdade, o que se anuncia é o fim desta ditadura. Só pode! Porque se não for assim, com que cara de palhaço vamos reivindicar a nossa qualidade de cúmplices destes assassinos, não os do Kalupeteka, os outros... e aqui entre nós, é mesmo verdade.”

O ouro está a 1.202.90, o petróleo Brent a 62.08 e o Texas a 55.26 dólares. Continuamos a patinar sem alternativas.