terça-feira, 26 de julho de 2016

O SUBMARINO ANGOLA (10)



República das torturas, das milícias e das demolições

Diário da cidade dos leilões de escravos

Uma senhora foi beber, depois como não tinha dinheiro para pagar, deixou lá o filho menor como pagamento.
De um comentador da Rádio Despertar, “a Assembleia Nacional é um teatro e a oposição fica a assistir.”
E em Viana, arredores de Luanda, no porto seco, foram despedidos anarquicamente cento e quinze trabalhadores sem direito a indemnizações. (Denúncia de um ouvinte na Rádio Despertar)
Não há nada que aqui se faça que não tenha máfia.
Há quarenta e um anos sempre a viver com as calças nas mãos, é o fim meus irmãos.
O mais interessante do Submarino Angola era a sua colecção de desaires ostentada a bordo como num museu de grandes naufrágios. Que interessa falar, noticiar nos meios de informação exclusivos que projectam o ridículo do que não se fez e do que se aposta fazer, ou que se poderá fazer, parangonas sem nenhum significado apenas para iludir a quem, pois se já ninguém acredita em tal propaganda política. Mas a teimosia em publicitar coisas que não existem mais apoiava o grande naufrágio do Submarino. Sem infra-estruturas é a mesma coisa que uma universidade sem professores. Tudo se afundou, ninguém notou, ninguém escapou.
Justino Pinto de Andrade é muito bom como intelectual, mas como político é uma nulidade.
Um português sem vinho é um homem morto.
Do jornal Expansão: “Sem qualquer justificação, o BNA deixou de divulgar as vendas mensais de divisas e a sua distribuição por bancos, casas de câmbio e de remessas. Mais. Retirou do site as vendas mensais até Março anteriormente disponíveis.”
Para a oposição: tudo o que é repetitivo é cansativo. É como aquela palavra de ordem do partido dos intelectuais: “ Vamos diversificar a nossa economia.” E estão certíssimos, porque a economia é de uso exclusivo deles.
Este país só vive de actividades políticas, de actividades económicas não, economia, o que é isso?!
A Igreja e as igrejas não fazem socialização, fazem corrupção.
Mais de trezentos trabalhadores da empresa de recolha do lixo de Luanda, ELISAL, foram sumariamente despedidos. E parece que têm direito a uma irrisória indemnização.
Com a economia no caos, como é possível diversificar a economia? Se antes com montanhas mágicas de dinheiro não foi possível diversificar a economia, agora sem dinheiro não é possível diversificar seja o que for, excepto a corrupção que essa está sempre apta a corromper qualquer circuito. E com os mesmos que nunca conseguiram fazer nada, agora farão o quê?!, absolutamente nada. Não dá! Isto precisa de mudanças urgentes, mas atenção, mudar para pior não.
“Era habitual, desde logo, que os governadores se enriquecessem por meios ilegais. Logo, quando terminavam as suas funções e os provincianos apresentavam juízo contra eles ante o Senado, era habitual que este fizesse vista grossa. Todo senador esperava a sua oportunidade para fazer uma boa operação ou já o havia feito. Mas o saque devia de estar dentro de certos limites, Verres não conhecia limite algum. Bateu todos os recordes de vilania. Seus roubos eram incríveis e até roubou a mesma cidade de Roma, pois se embolsou com o dinheiro que se lhe havia dado para pagar os barcos carregados de cereais que os transportavam de Sicília a Roma.” In A República Romana. História Universal de Isaac Asimov.
Ricardo Lobo: “Olá a todos. Procuro casa, terreno, imóveis, viaturas em Portugal. No continente ou nas ilhas. Em qualquer estado. Pago em kwanzas. Obrigado e um bom haja a todos.”
O Submarino Angola continuava desgovernado e mergulhava numa espécie de fossa abissal económica e social, sem ninguém que o colocasse no rumo certo porque em Angola os intelectos parece que também desapareceram. Só se fala até à exaustão mas para resolver os problemas não, ninguém não. Todos falam a mesma coisa mas ninguém é capaz de salvar o Submarino Angola e trazê-lo à superfície e o salvar da grande e bizarra tragédia marítima, fazendo crer que só o caos interessa. O Submarino Angola tem muitos milionários mas eles preferem abandoná-lo à sua sorte, até já há quem o chame de, república da miséria e da fome de Angola. Todos se empenham nos seus assuntos pessoais como se em Angola já não existisse população. Os políticos da praça dão a impressão que estão num campeonato de política, e que vença o pior, o incrível é que todos dos partidos políticos da oposição dizem a mesma coisa como se fossem telecomandados, e não se apercebem disso. Fica bonito falar de política porque eu sou o bom desta tralha, o imbatível em retórica o resto que se lixe. Que não resolvam muito rapidamente o maremoto dos famintos que se aproxima depois contem-me como foi.
Já não há nada a fazer pelo Submarino Angola que repousa bem fundo no apocalipse de Angola.
Amigo leitor, não perca na próxima edição do Folha, a série, O Apocalipse de Angola.



sábado, 23 de julho de 2016

O MPLA ME LIBERTOU



Mas mesmo assim diz
Que estou feliz
Porque estou no meu país
O Mpla me libertou

Com tamanha absurda oposição
Sem imaginação
O Mpla me libertou

Como posso ser comedido
Do emprego despedido
Sem dinheiro, desfalecido
O Mpla me libertou

Fiquei sem casa
Foi demolida
A minha vida bem fodida
O Mpla me libertou

Já não há divisas
Para importar medicamentos
E alimentos
O Mpla me libertou

Os bancos não têm
Credibilidade nacional
E internacional
O Mpla me libertou

O marido sem dinheiro para comer
E a esposa a beber
As crianças a padecer
O Mpla me libertou

A oposição é a nossa mudança
Não faz para merecer confiança
Tudo é composto de desconfiança
O Mpla me libertou

A família já está sem salvação
Tanto tempo perdido em vão
Tanta tristeza de partir o coração
O Mpla me libertou

Já tive família, quem a destruiu?
A engoliu
Ela sumiu
O Mpla me libertou

Não há fábricas de comida
Uma coisa está garantida
O Mpla me libertou















quarta-feira, 20 de julho de 2016

O SUBMARINO ANGOLA (09)



REPÚBLICA DAS TORTURAS, DAS MILÍCIAS E DAS DEMOLIÇÕES

DIÁRIO DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS

“Formar filho do pobre é formar inimigo.”
Onde há muita fome há muitos assaltos.
Fernando Heitor, economista angolano, na Rádio Despertar, que cito de memória: Deixemo-nos do eurocentrismo, há uma crise profunda, não há divisas, deve-se explicar à população para mudarem de hábitos alimentares, deixemo-nos de eurocentrismos. Se não há pão, pode-se substitui-lo por banana-pão ou batata-doce. O arroz pode ser substituído pela mandioca. Se não há divisas, há que impor os produtos nacionais. Sobre a subida dos preços e açambarcamento, isso evita-se abastecendo devidamente o mercado, havendo quantidade suficiente os preços baixam, e não adianta perseguir as pessoas que vendem nas ruas ou nos estabelecimentos comerciais porque isso não resolve nada.
Mais dois assaltos patrocinados pelo comité de especialidade dos assaltos: Um no dia 08 de Julho, 2016, em frente da Igreja Adventista do Sétimo Dia, na rua Rei Katyavala. Foi aí pelo meio da manhã, o vizinho chegou, estacionou o seu carro, saiu e logo foi assaltado. Eram dois gatunos que queriam o carro, mas vendo que havia muita gente e a coisa não dava, preferiram não arriscar, levaram-lhe a pulseira daquelas bem caras e um telemóvel topo de gama. Bazaram numa moto-rápida, a vizinhança não se apercebeu de nada.
O outro foi nas traseiras da mesma igreja no dia seguinte, um sábado. Outro vizinho chegou pelas vinte horas, estacionou o carro, viu três jovens, pensou que eram lavadores de carros, fez marcha para a sua casa mas foi brutalmente interrompido por um deles que lhe ordenou, “entra no carro!” Já todos nele sentados, disseram ao vizinho para conduzir normalmente e que não fizesse nenhuma tentativa para evitar o assalto pois tinha pistolas apontadas. Chegaram algures no bairro do Golfe, abandonaram o vizinho, roubaram-lhe tudo, deixando-o com a roupa que trazia, exigiram-lhe o Pin do cartão de crédito bancário. Antes de o abandonarem entregaram-lhe quinhentos kwanzas para ele apanhar um táxi Hiace e mandaram-no à vida. O vizinho não sabia onde estava, lembra-se que era lixo por todo o lado. Os gatunos levantaram do multicaixa cento e cinquenta mil kwanzas. No outro dia ele foi ao bairro do Golfe e encontrou lá o carro abandonando. O vizinho confessou que ficou sem nada. 
A vizinha estava sentada na porta do prédio, chegou outra vizinha e perguntou-lhe se ficava ou ia embora, respondeu-lhe que não, então a vizinha levantou-se e disse que “tenho medo de ficar aqui sozinha, vou-me embora.”
“É difícil encontrar homens sãos numa sociedade enferma.” (Isaac Asimov, 1920-1992)
No tempo do império romano era assim: Panem et circenses. Alimento e diversão. No tempo do apogeu do império angolano do petróleo também era assim. Agora é: famintos não têm diversão.
Com ou sem oposição, isto já não tem solução.
Marido com muitas mulheres é muita miséria.
Os caminhos da miséria e da fome nunca têm fim. Os humanos parecem estar no estádio final da evolução porque estão na batalha final do suicídio colectivo.
O que é que farei com tal multidão de bestas à minha volta, tanta gente desesperada à procura do caminho de Deus, mas na realidade oram ao demónio que está em todo o lugar. Há muito que o demónio invadiu a Igreja e dela se apoderou. Já não há sacerdotes, há demónios. Por isso mesmo, acreditar em Deus é acreditar no demónio.
Já não suporto este refrão: “ vamos vencer as eleições de 2017.” Famintos moribundos não votam.
Está muito difícil conseguir recargas da Unitel. Estou aqui com vocês graças ao quilapi, - a verdade é que estou a acumular dividas e não sei como as vou pagar, claro que não perco a esperança – até quando não sei, creio que isto vai ficar uma espécie de campo de extermínio, onde estão os partidos políticos da oposição? Não sei não! Alguém sabe?! Uma coisa sei muito certa: onde não há intelectos há miséria e fome. Isto não é vida, não é futuro.
A aflição de José Carvalho: “Venho aqui demonstrar a minha indignação raiva, revolta o que lhe queiram chamar o meu colega que é português teve a infelicidade de atropelar una criança na estrada de Luanda Catete a criança que largou a mãe e começou a correr na estrada esta foi colhida pelo carro do meu colega que tem o seguro do carro em dia. Prestou assistência à criança levando-a ao hospital, a polícia levou o meu colega para a esquadra de Viana isto aconteceu no Domingo sem motivos para tal mantém-no preso na esquadra até ao momento, desde que ninguém sabe como ele está pois não me deixam contactá-lo. Tenho levado a comida mas nem sei se ele a recebe, pois já ouvi os seguintes comentários quando entrego a comida na polícia " e nós só cheiramos " outra vês entreguei a comida as 18 horas e disse-me o polícia " a esta hora não entregamos comida tem de se pagar a passagem" quando lhe pergunto como está, respondem a rir ”está na cela está bem.” Desde Segunda-feira que liguei para o número SOS do consulado de Portugal que atendem com simpatia mas até ao momento o que fizeram foi dois telefonemas para o comandante da Polícia nem se dignaram de ir à Esquadra com este tipo de apoio muito obrigado. A minha empresa está a fazer o possível para o tirar de lá pois a empresa onde ele trabalha não lhe paga há 4 meses está-se a borrifar. O que lhe está a acontecer pode acontecer a qualquer um de nós pois já vi que neste caso não cumprem a lei nem existe bom senso, nem apoio de quem o deveria prestar para que serve o consulado de Portugal.”
Para a minha amiga Manuela Joaquim: tu és maravilhosa! Creio que foi Deus que te enviou à Terra para salvares as pobres almas carentes e sofredoras. Continuo na luta para sair do desaire económico e social em que nos abismaram. Depois te premiarei com o devido reconhecimento, penso numa estátua da Afrodite aangolana para te imortalizar, tu mereces. Luta para seres feliz.
O Fahrenheit 451, agora é dos presos políticos em Angola. (Obra de Ray Bradbury (1920-2012), sobre a queima de livros do totalitarismo.)
Vida do muangolé é beber para morrer. Angola, a nação alcoólica: depois de quarenta anos, a república dos alcoólicos angolanos. O álcool aniquila os cérebros de quem mais nada sabe fazer, é só beber. Toda a noite música muito estridente, muitos cigarros de quem nada sabe e não tem o que fazer. Pobres cadáveres deambulando.
Garante a oposição: “Não vamos fazer manifestações para evitar o pretexto do poder para nos aniquilar.” Mas o poder está a aniquilar.
A corrupção destruiu o império romano e o império do petróleo de Angola.

E o Submarino Angola lá ia, para onde ninguém sabia, no rumo do inferno facilmente se previa.

sábado, 16 de julho de 2016

O SUBMARINO ANGOLA (08)




República das torturas, das milícias e das demolições

Diário da cidade dos leilões de escravos


Por aqui a miséria e a fome estão à espera de reforços.
Um país atolado na maldade, na hipocrisia, na falsidade e na corrupção nunca será democrático. E isso de oposição é pura fantasia. Oposição é rendição. O mais notável é a hipocrisia dessa oposição em relação aos presos políticos. Com esta oposição, não. De qualquer modo acredito na oposição, não acredito nos actuais oposicionistas.
“Naturalmente, quando um magistrado era enviado a governar uma província, habitualmente cuidava de que não todo o dinheiro que arrecadava fosse enviado a Roma. Uma parte ficava em suas mãos. Era norma que um funcionário governamental romano a quem se outorgava uma província devia enriquecer-se. Disto se segue que, em geral, as províncias eram mal governadas (nem sempre, por suposto, já que até nos piores tempos há alguns funcionários honestos).” In A República Romana. História Universal de Isaac Asimov.
No Submarino Angola um deputado comentou que devido à crise da corrupção e para prevenir os tumultos dos famintos, o melhor era começar já a andar atrás deles com armas apontadas nas cabeças para evitar o pior. Outro deputado apoiou e recomendou que nas próximas reuniões o Submarino deveria descer mais, até aos cem metros de profundidade e se necessário descer ainda mais porque o imperialismo nunca desarma, só deseja a escravidão dos povos, o imperialismo é o principal inimigo da socialização, o opressor dos povos, disse com descomunal entusiasmo lembrando-se dos anos dourados da grande revolução que era para durar séculos, milénios, mas não, quem sabe, talvez ainda seja possível. Há que lutar para isso, disse, sonhando com a nostalgia do passado, dos milhares de bandeiras vermelhas com uma estrela no meio, essa estrela sempre cintilante que guia os povos à vitória, à libertação do homem.
Todos os caminhos conduzem a Roma. Em Angola todos os caminhos conduzem à corrupção.
Famintos de Cabinda ao Cunene a corrupção saúda-vos! Em Angola todos os caminhos conduzem à fome.
Ouvi na rua que os trabalhadores da função pública vão ficar com os salários do mês de Agosto congelados. Se é verdade ou não, não sei, também não dava para perguntar porque eram pessoas desconhecidas. Não vale a pena arriscar porque nunca se sabe. Mas ainda consegui ouvir de um interlocutor que “ não sei, porém, dos executores do povo, tudo se espera.”
Entretanto o BPC, Banco de Poupança e Crédito, sem dinheiro diz aos seus clientes que vai fazer reforço.
A África não produz cientistas, produz ditadores, políticos de feira, famintos, feiticeiros e corruptos.
Amigo leitor, não perca tempo com a Igreja e as igrejas e com os partidos políticos, porque são a principal maravilha da desgraça dos muangolés.
Angola tem um imenso exército de irresponsáveis, e outro imenso exército de “espantalhos” políticos. E devido a isso Angola não sobreviverá.
Cuidado! Não vejam a Tpa, televisão dos “pacatos” de Angola, porque destrói os cérebros, isso já foi provado num estudo. Nunca se perguntaram porque é que estão assim tão burros? É da Tpa, seus burros!
Deve ter cerca de vinte anos, está bem vestida de calça preta justa tipo colante e camisola que lhe chega até aos joelhos. O cabelo postiço é da nova vaga, comprido, caído em cascata um bocado para além dos ombros. Ela tem beleza de modelo. Está grávida, pelo volume da barriga está com sete meses de gestação. Caminha com um saco plástico de cor verde-claro fechado na cabeça com coisas para vender. Facilmente se nota que a jovem não faz parte da arraia-miúda, do conjunto habitual das miseráveis das ruas. Esta é de “boas” famílias. Significa que isto está no estádio final da involução… da morte da classe média.
Há muito que faz parte do sistema, actualmente e nos próximos dias, acho que já nem merece tal designação, o correcto será chamar-lhe o fim da quimera, de mais uma utopia de governantes e governados que se convenceram de que com o dinheiro do petróleo e a corrupção não seria necessário mais trabalhar, e com o apoio militante da Igreja, Deus zelaria tal como um segurança o futuro de quem esbanjasse o dinheiro sem nada obrar. E todos eram ricos, riquíssimos e pareciam que tinham algo gravado porque das bocas lhes saía a célebre frase que tudo fazia estremecer à sua volta “cuidado não se metam comigo, não sabem quem eu sou.” E havia sempre alguém que corroborava, ainda mais amedrontava as massas populares, “sim é verdade, cuidado porque ele trabalha na presidência porque eu já o vi de lá sair algumas vezes.” O patrão muangolé, tal patronato é há dezenas de anos reincidente no abandono dos seus trabalhadores, tem vocação precoce para o empresariado, já nasceu assim, dizem, viaja para o estrangeiro, para Portugal, com as suas mulheres, ter muitas mulheres é sinal de riqueza, de homem muito macho, e hoje traz muita miséria e fome, – aqui as prateleiras do minimercado Pomobel na rua rei Katyavala quase só tem garrafas de água mineral, isso tende a espalhar-se, é mais uma epidemia da boa governação, graças ao genial plano da saída da crise – o empresário muangolé carrega o dinheiro com ele e deixa os trabalhadores sem salários, e depois quando do regresso a Luanda diz com ar mais natural deste mundo que não tem dinheiro. Da maneira que as coisas estão, vão muito piorar, qual quê, isto é que é diversificação da economia. É mera irresponsabilidade, é natural, habitual.
Contrariamente à propaganda oficial de apoio aos camponeses para a habitual propaganda oficial da diversificação da economia, se o saco de adubo está a trinta e dois mil kwanzas, claro que o camponês não tem dinheiro para comer, quanto mais para comprar adubo.
Outra vez mergulhado na causa da estapafúrdia oposição, é que não há intelectos senão vejamos: até agora não ouvi nenhum avatar da oposição explicar em detalhe a situação do caos económico, e isso, parece que não, é extremamente importante. Confesso que estou saturadíssimo de há longos anos ouvir todos os dias os mesmos discursos de que foram desviados mais milhões de dólares do erário público, a governação é péssima, corrupta, deixa morrer a população, abusar da intolerância política, que em 2017 vamos ganhar as eleições. Não dá para ouvir mais, parece a Tpa e restante família da comunicação partidária. Ó “espantalhos”políticos da oposição, então não sabem que chegados a um certo ponto cansamo-nos de os aturar?! É necessário inovar, criando outros modos de actuação, quais?, não é a mim que compete isso, era só o que faltava. Se repetem constantemente o mesmo discurso é porque não sabem dizer mais nada, não tem imaginação para criar outras formas de luta, para aguçar, despertar, para os eleitores saírem do estado hipnótico. Também é verdade que a fina flor da oposição, os seus oradores se esmeram para atraírem o povo, na verdade ludibriá-lo com discursos a insinuarem que eu sou o melhor de todos, comigo a governar não haverá mais miséria e fome. Que nós da oposição somos a chave que abrirá as portas da felicidade e jamais haverá tristeza. Portando-se como grandes homens de virtudes, muito honestos, extraordinários no apoio social, quando contactados pessoalmente, descobre-se que afinal veneram o reino da falsidade e até do desprezo. Infelizmente creio que ainda não há noção do que é oposição. Oposição é falar, falar até nos cansar, não, chega, basta! Os discursos da vaidade adormecem-nos como um narcótico.



sexta-feira, 15 de julho de 2016

MAS QUE PAÍS TÃO INFELIZ



Disparou o preço da comida
Estamos como coisa perecida
Despedimo-nos da vida
Da governação corrompida

Faço o possível para me aguentar
Mas parece que não vai dar
A fome vai-me matar
Terei que bazar

Assim se quis
Destruir o país
Gente tão infeliz
Como cães sem canis

Onde se vive da ilusão
Há campo de concentração
Sem informação
Impera a alienação

O que resta da população
Jaz num caixão
Na extrema podridão
Da gente sem coração

A grande desilusão
Com pavor do papão
Não há nação

Há uma alcateia de opositores
De democratas impostores
Feitos com as igrejas dos pastores
E da caterva de falsos doutores

É tão rica esta terra
Prevalecendo em guerra
Ai! esta oposição
Que está sempre em reunião

As divisas secaram
Os famintos aumentaram
Os corruptos regozijaram
E os bajuladores apoiaram

Inaugurou-se a vida de cão
Para eles a parte de leão
Para nós nem um tostão
Vivemos abaixo da escravidão

Miséria, fome, eleição
Já nada há a fazer
Já nada há que dizer







quinta-feira, 14 de julho de 2016

ADEUS ANGOLA



Esta economia sem mercado
Do humano gado
Do comando desorientado
Do trânsito das divisas congestionado

O chefe quer-nos à fome
O precipício já está enorme
Angola de feição disforme
Não mais ao comunismo retorne

Como é que eu vou escrever
Se amanhã não sei o que vou comer
Da hipocrisia da oposição a saber
Nada espero, nada vou ter

Os falsos líderes da oposição
Estendem a mão
À ocasião
Do burlão

Não lhes chega o deus da corrupção
Do estado nação
Ladrão
Da Igreja o seu bastião

A Igreja é o farol
Do deus sol
A mortalha, o lençol
De Angola o país do caracol

A Igreja faz das forças desunião
Na Igreja da corrupção
Os déspotas triunfarão
Da miséria social e moral não sairão

Partidos políticos assim não
Da incipiente oposição
Como o ladrar do cão
Assim deambularão

Oh! Mais trapaceiros não
Só faltava mais esta maldição
Nada se pode fazer sem orientação

Não há divisas, para eles há
Oh! Isto assim não dá
Para eles mais luxo haverá
Para nós a fonte secará

Mas que grande trapaça
E disto não se passa
Angola adeus vai ficar fumaça
Do fumo da oposição que nos embaça

Imagem: autor desconhecido



























quarta-feira, 13 de julho de 2016

A BALADA DA MULHER ANGOLANA DESGRAÇADA



A Dite ficou sem casa, sem nada
Escapou de ser enforcada
Coitada
A Dite está desolada

Como o seu futuro será
Ninguém saberá
Nos caminhos incertos andará
Mas sempre sonhará

Este mundo é uma perdição
Oh, não chores mais, não
Muitos mais males te acontecerão
Não, não chores mais não

Que fazer sem dinheiro
Até acabar num pardieiro
Corruptos sempre no lugar cimeiro
A Igreja e o seu deus sempre primeiro

Já fiz quilapis, sem dinheiro
Agora é que vai ser porreiro
Nunca nenhum plano se executou
Nunca nenhuma lei funcionou

Vale mais tarde do que nunca
Mas acordar tarde tudo se trunca
Quando a corrupta Igreja acabar
Então sim haverá lugar para amar

Quem tem, tem
Quem não tem come dendém
Onde há desdém
Não se vive bem

Uma desgraça nunca vem só
A pobreza mete dó
A miséria está comovente
E a fome muito insolente

Quando se perde a esperança
Deixa-se de acreditar em nada
Resta da família a lembrança
Antes da derrocada

A intolerância está muito presente
Quem comanda está ausente
Não quer saber da gente
Nada sente

Perde-se o alento
Na tristeza do olhar desatento
À espera de algum alimento

Imagem: Ermelinda Freitas













sábado, 9 de julho de 2016

O HINO DA MONARQUIA DE ANGOLA



Angola é uma monarquia
Sem democracia
Onde ninguém pia
Angola é cleptocracia

O nosso dever está cumprido
Não importa quem está aborrecido
Quem é corrupto é bem-vindo
Diz o monarca sempre sorrindo

Muito saudados pelos bajuladores
Os monarcas estão
Apesar dos muitos clamores
Mais bajuladores se acercarão

O petróleo já é da monarquia
O garante da anarquia
Até parece que ninguém o sabia
Isto sim é que é sabedoria

É a crise da corrupção
Que fortalece a monarquia
Quem está na linha de sucessão
Acaba com a democracia

Já não há receitas
Os cofres estão vazios
De contas muito mal feitas
Outra vez nos chamam gentios

O fundo soberano
Está bem guardado
Nos cofres do mano
Bem saqueado

Se Angola é uma monarquia
Para quê falar de democracia
Angola vive o final
Da corrupção local

Levam a Roma todos os caminhos
Em Angola levam à corrupção
Até a Igreja está nos descaminhos
Decerto não terá salvação

E agora é o absurdo, a mania
Da monarquia
Sem divisas é a razia
Isto está uma grande porcaria

Angola está medieval
Está um quintal
De pensamento unilateral
Vamos no cortejo do seu funeral

















quarta-feira, 6 de julho de 2016

O SUBMARINO ANGOLA (07)



República das torturas, das milícias e das demolições

Diário da cidade dos leilões de escravos

No Submarino Angola decorria o congresso do partido da partitura. Claro que não faltava nada porque o OGP, Orçamento Geral do Partido, assim o exigia e os recursos da nação estavam apenas distribuídos para os membros do partido. Bebia-se caviar com lagosta, champanhe e ostras vindos da França por via aérea no avião particular do politburo. Entretanto a população perdeu o direito de assim se chamar, cedendo-o para os estrangeiros que passaram a ganhar esse estatuto, inclusive foram agraciados por decreto que tinham direito a bilhete de identidade e logo o de cidadãos angolanos. Algum estrangeiro se lembrou do velho epíteto colonial dos pés descalços e rapidamente todos como que formando um partido nele votaram na exclusão da população muangolé, apelidando-a formalmente de pés descalços, e como tal sem direitos, tinham como deveres servir os senhores estrangeiros e os do Submarino Angola. Claro, ficaram sem terras, sem nacionalidade, sem trabalho, sem escola e hospitais – eram de fingir – sem independência, e muito mais grave, abismal, sem direito a Constituição, sem direitos democráticos, – também eram de fingir – com direito a casas partidas e sumariamente desalojados sem indemnizações. Totalmente, radicalmente sem direitos, as mamãs e as suas filhas tinham o direito de se prostituírem, e sem empregos quem tentasse vender alguma coisa nas ruas era sumariamente despojado dos seus bens, e também sumariamente “executado”, enviado para o conglomerado da cidade lata a que chamavam zangos com direito a numeração, zango 1, até zango 4, não se sabendo se mais virão, dependendo da rapina chinesa sob o disfarce do apoio financeiro. Com direito à miséria e à sua companheira inseparável, a fome, os pés descalços lutavam para sobreviver ressuscitando o velho esquema colonial dos assaltos. De tal modo que um português aconselhou outro que queria vir para o Submarino Angola que podia vir, que este país e o seu povo de pés descalços são maravilhosos, que não podia transferir euros, mas mesmo só com kwanzas, a moeda local, a coisa prometia, maravilhava, e depois, quem sabe, daqui a alguns anos a situação voltaria à normalidade e naturalmente se poderiam saquear os dólares e os euros outra vez à vontade, mas o pior, ressaltava o português, eram os assaltos. Por exemplo, um vizinho desceu do terceiro andar do prédio onde habita, foi ao minimercado quase pegado ao prédio e quando de lá saiu com dois sacos de compras, foi surpreendido por uma criança de dez anos a meter-lhe a mão no bolso das calças para lhe apanhar dinheiro. Claro, que quanto mais tempo passar mais as coisas vão piorar, e os estrangeiros não conseguirão escapar da onda do exército dos famintos que com muito empenho ajudaram a criar. Viver com famintos por todo o lado é um exercício de alto risco. Creio que me é um pouco difícil ver tantos portugueses a arriscarem aqui as suas vidas sem necessidade, mas eles é que sabem, mas é muito triste morrer assim por causa do vir na aventura do partir sem regressar.   
No Submarino bebia-se e comia-se até cair, faziam-se muitos brindes pelo encarceramento dos presos políticos, “uma das maiores vitórias de Deus” como disse um padre militante do partido Submarino Angola. Um deputado bem jiboiado prestou atenção a um vulto na janela do Submarino que fazia uma espécie de acrobacias submarinas e se aproximava da janela. Parecia um desses peixes abissais com lanterna para atrair as suas presas. O deputado olhou-o com muita atenção e não queria acreditar no que estava escrito na lanterna em letras bem grandes, LIBERTEM OS PRESOS POLÍTICOS. O deputado sentou-se, levou as mãos à cabeça, depois nas faces deixando-as escorregar e depois pousando-as nos olhos convencido que afinal isso de beber à toa não dá, e pensou que encher-se de álcool só trás coisas assim, visões. Porra, estamos bem lixados, até os peixes são revolucionários. E mais pensou que o melhor era não dizer nada a ninguém, senão teria problemas e ainda seria, coisa muito natural, afastado da vida política, e depois que faria sem o seu partido dos presos políticos? Nada, absolutamente nada, nadaria no mar da miséria. Por isso o melhor é ficar de bico calado e apoiar tudo o que estiver errado, como a intolerância política, a exclusão social, o abandono das populações, e levantar sempre a mão no ar, votar em tudo, muito em especial na corrupção, que sem ela não é possível viver.
É com profundo pesar que declaro que a oposição em Angola chama-se Rafael Marques de Morais.
“O sonho comanda a vida”, em Angola há muito que não sonhamos porque se vive de constantes pesadelos.
Ó corruptos, o exército de famintos saúda-vos!
Aqui não dá para confiarmos, só dá para desconfiarmos.
Enquanto continuarmos sob os falsos pilares democráticos, que já ruíram, é que nem o pó se vê, a direcção dos discursos retrógrados dos comissários políticos do povo, não será possível – nunca foi e nunca o será – qualquer diversificação da economia da corrupção, isto é, serão construídos mais gulagui (“sistema penal institucional da antiga União Soviética, composto por uma rede de campos de concentração”) seremos, somos, mais uma pátria de presos políticos, pois onde os há, isso significa miséria, fome, e o falso deus da Igreja que a apoia (a pátria) é a origem desta suprema merda.
Falsas ilusões, falsas expectativas, falsos sonhos, falsos governos, conduzem a pesadelos.
A Neusa tem vinte e nove anos, foi despedida porque faltava muito. Fez da sua casa um salão de cabeleireira. Mas como a crise da corrupção aprofunda a miséria e a fome, o futuro desta Angola será uma república de cadáveres. A Neusa está sentada à espera dos clientes que não aparecem. E ela cabisbaixa diz que “não sei o que hoje vou dar às crianças para almoçarem.”
E os portugueses estão outra vez em Angola para definitivamente a evangelizar.
E depois da independência Angola perdeu-se e nunca mais se encontrou. Alguém sabe onde ela está?
Um segurança disse para o colega que ia a casa e que não demoraria. Chegou e matou a mulher grávida, cortou-a aos bocados, meteu-os na arca congeladora e voltou nas calmas para o serviço, como se nada tivesse acontecido.
E depois de uma vida inteira a trabalhar, e no fim ficar sem nada, isto também é terrorismo.
Os partidos políticos da oposição não conseguem enfrentar o bicho-papão. E de repente senti tudo a desaparecer e por incrível que pareça divisei a inutilidade dos partidos políticos no Submarino Angola. Sim, sem liderança não têm nenhuma serventia. Estão, pode-se dizer, insuportáveis, o Submarino Angola também os levará para o fundo. No Submarino Angola a desgraça é o que mais grassa. A corrupção é o pai da nação. Todos lutam em vão contra o mauzão.
E no Submarino o seu controlo já se dificultava porque o lastro da corrupção o manobrava, e o seu capitão muito o descontrolava. Pouco irá faltar para o Submarino se afundar.
Como se pode dizer que estamos em paz, como se pode dizer não incitar à violência, se ela já nos domina, está presente em todos os domínios. O fundo está próximo.