Luanda.
Escola primária 1.120, sala 2, período da manhã, a poucos passos do Quinaxixi e
quase encostada à empresa Tecnoserve.
Era
considerada, dizem, a melhor escola de Luanda.
15fev18,
a professora do Marcos não veio.
16fev18,
a professora Rosa do Marcos não veio, as crianças ficaram com um professor do
tipo para entreter alunos.
26fev18,
a professora Rosa do Marcos não veio, talvez porque ontem choveu muito, mas ele
não foi na escola porque estava doente.
27fev18,
Marcos. não foi para a escola, além de estar doente também choveu muito.
28fev18,
Marcos faltou à escola, devido a estar com paludismo, mas toda a semana não
houve aulas. Disseram que as aulas só recomeçam na próxima segunda-feira,
05mar18. Deve ser por causa da chuva.
15mar18,
Marcos queixou-se de que o professor lhe bate com mangueira ou com um pau. O Nael
também se queixou. No dia 19mar18, o pai do Marcos foi perguntar ao professor,
como é isso. Um encarregado de educação disse que o ensino estatal está muito
mal, porque agora qualquer um é professor. Ezequiel, filho da Odete, disse que
o professor mau fica escondido no corredor a espiar as crianças e que depois
entra a gritar, “VAIS APANHAR!!!”
16mar18,
sem aulas, Marcos vem para casa.
19mar18,
ensino da barbárie? senão vejamos: crianças de cinco anos queixam-se que um
professor conhecido por, chefe, as tortura com mangueira, corda enrolada e um
pau. Odete fala com a professora, Rosa, que confirma e defende o professor mau
alegando que as crianças fazem muito barulho. É no que dá agora qualquer um ser
professor. Estamos no ciclo da selvajaria e o que virá a seguir?
20mar18,
Marcos faz finca-pé porque não quer ir para a escola com medo do professor mau.
Ai! Ai! Onde isto está a chegar, mas garantem-me que o pior ainda está para
vir.
21mar18,
Marcos não teve aulas, isto é, quando o pai chegou à escola com ele, não estava
lá ninguém, apenas o segurança, já muito velho, não segura nada, e as crianças
lutavam violentamente entre si. Então, Sérgio e Odete, e com certeza mais
alguns encarregados de educação trouxeram os filhos para casa. Poucos dias
antes uma criança rachou a cabeça. A coitada ficou a sofrer até que alguém a
socorresse. Não há kit de primeiros socorros e nem os professores têm aulas
disso. E extintores de incêndios, não são necessários porque é mais fácil
deixar as crianças morrerem queimadas. Mas isto é geral, revelando a calamidade
do ensino, que na verdade creio que é coisa que não existe, como tudo, só no
papel.
26mar18,
uma menina borrou-se, deixando alguns vestígios no chão, pouco depois começou a
cheirar mal. As crianças começaram a fazer-lhe pouco, a gritarem, “cheiras
mal!”. O socorro que o professor mau lhe deu?... foi colocá-la de castigo.
O
professor mau diz para as crianças dormirem, depois as outras que não estão a
dormir roubam a nossa comida e outras coisas dos nossos sacos, diz o Marcos.
27mar18,
o professor mau está a chamar Marcos de queixinhas. Receio que a tortura volte.
03abr18,
Nael, por não conseguir escrever o que a professora Rosa lhe dizia, ela
batia-lhe com a sua mão na mão dele, muito esticada, com muita força. Nael
chorava muito e dizia que queria ir para casa. E que no Nael a professora Rosa
está sempre a bater-lhe.
E
no dia 02 de Abril na Rádio Despertar pelas 06.30 horas, um comentarista de
serviço, mediocremente defendeu um chicote para cada medida como punição para
os crimes do desvio de fundos do Estado: arrepiei-me quando ele iniciou que
para uma criança um chicote pequeno. Não é necessário acrescentar mais nada, excepto
que tal senhor deveria prestar declarações na esquadra de polícia mais próxima.
Imagem: Sérgio Piçarra. NJONLINE