terça-feira, 24 de julho de 2012

Os Jasmins da Lwena (12)



E estes libertadores libertaram tudo, excepto Angola que ainda não se libertou da tirania destes libertadores.


O segurança com olhos de falcão viu um gatuno a romper a cerca do armazém e deu-lhe um tiro de chofre na cabeça. Ele e demais colegas informaram a polícia, que chega e de modo expedito iniciam a carga das suas duas viaturas com caixas de cerveja. No final os seguranças carregaram o cadáver para a morgue.
As atiradoras são mais rápidas que o vento. Fazem lançamentos como no jogo das escondidas. São finas como ratos na madrugada. Desalentam-se saberem bem ou certo, é mais fácil assim. Nas varandas preparam a comida, desajeitam-se em deitar a água suja na pia. Escolhem o caminho preguiçoso. O entupimento séptico está na Média. Tudo porta a fora.
Revejo as lâmpadas acesas dia e noite. A energia parece gratuita, ninguém assume pagar, ou os Jingola têm cegueira diurna. Estudam o manual de como desperdiçar energia facilmente, que é distribuído gratuitamente. Há intenção de não querer saber, ninguém requerer atenção ao outro. O chamamento de antemão é entonado, destoado: «não chateia pá!» na insistência segredam: «deixa-o falar, vai-se cansar!».
- Maremoto conduto!!!
- Não! É de moto-próprio!
Assustei-me e desassustei-me. Mais uma conduta de água quebrou-se, rompeu-se. A água liberta da prisão jaz caudalosa, persegue os interstícios do solo desestabilizado. Concebe uma via rápida com cratera. O rio chegado arreda coisas e pessoas. A visita líquida é desejada pelas crianças que se fantasiam de rãs e sapos. Atiçam-se:
- Vamos brincar no rio das condutas!
Um mais crescido, taciturno, explica solenemente à criançada:
- Chama-se rio das condutas porque tem nascentes em todo o lado mas, ninguém sabe explicar onde nasce.
Um poeta de última geração é rimado pelo ritmo caudal. Refaz-se, impoluto rebrilha o cabedal dos sapatos nos intervalos da calçada. Processa cantante:
Nesta planície de petróleo jorrante, jactante
de sol e solo exuberantes. Descontraídos novos-ricos cativantes
de desconstruídos, expectantes currais eleitorais errantes
requisitados, mal abençoados pela natureza Humana
de festeiros participativos 24 sobre 24 horas
que fortaleza tem esta tristeza! Viver na extrema pobreza!

Muitos… milhares, milhões de jovens deambulam. A facturação dos biliões petrolíferos sobe, o desemprego também. Novas ruas novos nomes: ruas dos desempregados, apinhados. Futuros continuadores da involução Jingola. Sem estudos, sem ciências humanas, morais e sociais. Apoiados por pretensa ciência, lentes na ciência penitenciária. Futuros trapeiros patriotas, neófitos vendedores de tralhas para aquecer. Os cavaleiros andantes nas justas pela libertação descuidaram brechas da neocolonização. Olvidaram o buraco negro da aldeia global, a senda triste da eterna escravidão neocolonialista.
Pode-se ruminar que não há emprego para ninguém. É constante noticiar mais desemprego. Despedidos porque a empresa faliu, ou há trabalhadores a mais. Mil e uma estratégia sem lei nem rei para trabalhadores autónomos, que do pé para a mão, vão para o olho da rua. Os Jingola lixados emparceiram com rebuçados, bolachas, cigarros e cacarecos que as esposas remendam. No mar de lama da magnitude da globalização empresarial, peixe graúdo abocanha peixe a miúdo.
O polícia monta guarda num mercado de rua. De vez em quando volteia, passeia, pára. De olhar frouxo repara, enquanto descansa o peso dos braços nas mãos enlaçadas, nas costas coladas. Está armado e equipado. O telemóvel espalha sem som nem tom o seleccionado timbre horripilante arquivado. À velocidade de cágado dormente desenlaça uma mão, solta o telemóvel da cintura, petrifica-se. Está colocado pelos Órfãos.
- Passa o telemóvel!!!
É um dia de juízo para a polícia. Chegou um carro patrulha com seis polícias diligentes. Apeados, encafuam-se nas ruelas. Um tenro Órfão alarma a combinação. Culpados e inocentes dão nos cascos. A terra freme como cavalos de corrida num hipódromo. Os incansáveis vigilantes dos dias e das noites, polícia não dorme, não é?!, aprofundam-se, aferram-se nos labirintos. A missão seja ela qual for, é sempre para repor a legalidade.
Enquanto aguarda pelo restabelecimento da lei, o motorista afunda-se no assento com as mãos na nuca. Ficou pachorrenta sentinela na viatura. Atira uns réditos para uma donzela bem nutrida de carnes frescas. Ela não dá cavaco. O vencimento de polícia está num escalão tão baixo que não dá para comprar um sutiã, quanto mais um biquíni. Ela pisca-lhe os olhos com tal intensidade que parece que o circuito de voltagem óptico se desregulou. Ele não entende a mensagem semafórica, acredita que ela está no ponto nevrálgico. A carne quente dele rejubila, solta o verbo.
- Estamos muito quentes, vem, vamos arder!
- Seu burro! Os bombeiros chegaram….
Os Órfãos chegaram, cercaram-no à má cara. Crianças com armas de guerra aperradas, e armas brancas afiadas, dos filmes imitadas, cópias de segurança efectuadas. Ainda não têm noção do matar, do coração parar. Por isso matam, como se fosse a brincar. No abandono da inocência pedem meças:
- Sai daí, vamos dar uma volta, depois regressamos.
E foram no popó da polícia dar umas voltas pela cidade com as deselegantes da mesma idade.
- Mentor, este conflito entre Órfãos e Politburo permanecerá por milhares de anos.
- Dou o meu acórdão. Nalguns bairros os Órfãos disputam a invisível força armada da defesa civil militarizada. Sem abrir concurso, os Órfãos impõem soirée até à matina.
Continuo na travessia das endechas do Homo oeconomicus.
Cooperadores discutiam, não se entendiam. Antes, juntaram-se e consagraram uma cooperativa habitacional. Imaginaram, levantaram habitações cooperativistas. A felicidade eterna nasceu-lhes nos rostos, sentiam-se notáveis. Faziam bom rosto à fortuna. Nas janelas à francesa os casais extasiados vigiavam a filharada que brincava a ter futuro. Tranquilidade absoluta garantida por seguranças privados, armados. Era mais que um jardim, um botânico e outro das delícias. Passaram à história o paradoxo do amor, roubaram o tempo de antena para amar. O casario era embarcação de vento em popa
Começou-lhes a dar o vento no rosto. Atingidos pela magia negra apressada restaram descorados, mitómanos, tensos, enfeitiçados, hipertensos… ficaram a ver navios. Casas construídas em menos de dois anos desfaziam-se aos pedaços. Fendas nas paredes utilizadas para cabeças estreitarem os íntimos lares. Inventou-se a hipótese que dantes o local foi cemitério. Persistiu-se na razão de Estado que os Jingola viviam, viveriam sempre em casebres.
- Mentor, esta magia é contagiosa?
- Muito! O Politburo apoiado pelos seus amigos estruturais de todo o mundo redouram os alicerces da democracia popular. Outra vez guerrear para aqui facturar. As guerras inventaram-se para alguns enriquecerem. Guerra… é o acto ou efeito de destruir, para depois reconstruir. São as filosofias da vida, das visões fantásticas dos canhões que disparam o vinho de Cristo, que nos afogam ou banham em sangue. Suam-nos, que a espécie humana é um tremendo erro da Criação. O Criador errou na manipulação genética. Falseou a costela. Criou o Inferno para os bons e a Terra para os maus. Alguns bons escaparam do Inferno para a Terra. Actualmente lutam ferozmente… luta desigual porque há muito sofrimento, muita miséria, muita fome. Os bons são poucos, os maus por enquanto ainda são muitos. Como alguém afirmou: Todos os Politburo sempre mentem.
- Mentor, antes de aqui cair molhei os pés na biblioteca de Baco. Li textos sobre os Jingola que me surpreenderam. Resumi-os:
Os Jingola odeiam as pessoas, comparam-nas a cães e gatos porque detestam estes animais. Gostam de ratos, da feitiçaria, de vírus e fantasmas. Aprenderam a não confiar em ninguém. O que mais odeiam é a sua sombra. Costumam afirmar que é uma assombração. Convictos, dizem que a inventaram, descobriram.
- Hum! Qualquer na sua superstição milenar vê sombras no seu quotidiano. É como levantar muito cedo, ir para o trabalho e voltar à noite a casa. Biliões de seres humanos desnotaram que os seus cérebros atrofiaram. Desconseguem pensar, e se intentam, lá aparece a mensagem na TV, porque é a primeira coisa que fazem quando chegam a casa. A mensagem é imutável: deitem-se, porque amanhã é dia de trabalho. Levantem-se, está na hora de ir para o trabalho. Exemplificam com um americano que afirma: nasci para enriquecer como empresário, ou ser um homem famoso, trabalhando muito consigo-o. Omitem que ele pouco ou nada dormia, e que acabou na psiquiatria, na psicologia com psicalgia, ou morreu de ataque cardíaco. São bibliotecas de ligação dinâmica, chegam ao trabalho com um chip embutido no cérebro. Muito submissos como a oposição Jingola, não incomodam, não pensam. Se algum consegue remover o chip, começa a pensar, revolta-se… exigindo melhores condições de pensamento. É logo acusado de senzaleiro das ideias incendiárias, não patriota e sumariamente julgado e para um gulag enviado.
- De revolta como Ulisses num gulag marítimo, porque Penélope transcende o amor. Ulisses vai amar na volta do mar
- Ao ir e voltar do trabalho no mar confuso, inúmeras horas irreversíveis são concedidas ao trânsito automóvel. E levantar às quatro, cinco da manhã… essas horas não são pagas. O trabalhador começa a trabalhar logo que se levanta da cama, isso deve ser-lhe pago.
- Não pagam porquê?
- Porque apenas existem quatro classes na sociedade. Presidente, ministro, director e os… lémures.

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