E estes
libertadores libertaram tudo, excepto Angola que ainda não se libertou da
tirania destes libertadores.
O segurança com olhos de falcão viu um gatuno a romper
a cerca do armazém e deu-lhe um tiro de chofre na cabeça. Ele e demais colegas
informaram a polícia, que chega e de modo expedito iniciam a carga das suas
duas viaturas com caixas de cerveja. No final os seguranças carregaram o
cadáver para a morgue.
As atiradoras são
mais rápidas que
o vento. Fazem lançamentos
como no jogo
das escondidas. São
finas como ratos
na madrugada. Desalentam-se saberem bem ou certo, é mais fácil assim.
Nas varandas preparam a comida, desajeitam-se em
deitar a água
suja na pia.
Escolhem o caminho preguiçoso.
O entupimento séptico
está na Média. Tudo
porta a fora.
Revejo as lâmpadas
acesas dia e noite.
A energia parece gratuita,
ninguém assume pagar,
ou os Jingola têm cegueira
diurna. Estudam o manual
de como desperdiçar
energia facilmente, que
é distribuído gratuitamente. Há intenção de não
querer saber, ninguém requerer atenção ao outro.
O chamamento de antemão é entonado,
destoado: «não chateia pá!» na insistência segredam: «deixa-o falar,
vai-se cansar!».
- Maremoto
conduto!!!
- Não! É de
moto-próprio!
Assustei-me e desassustei-me. Mais
uma conduta de água
quebrou-se, rompeu-se. A água liberta da prisão jaz caudalosa, persegue os interstícios
do solo desestabilizado. Concebe uma via rápida com cratera. O rio chegado arreda coisas e pessoas.
A visita líquida
é desejada pelas crianças que se
fantasiam de rãs e sapos.
Atiçam-se:
- Vamos brincar no rio das condutas!
Um mais
crescido, taciturno, explica solenemente à criançada:
- Chama-se rio das condutas
porque tem nascentes
em todo
o lado mas, ninguém sabe explicar
onde nasce.
Um poeta de última geração
é rimado pelo ritmo
caudal. Refaz-se, impoluto
rebrilha o cabedal dos sapatos nos intervalos da calçada.
Processa cantante:
Nesta planície
de petróleo jorrante, jactante
de sol
e solo exuberantes.
Descontraídos novos-ricos cativantes
de desconstruídos,
expectantes currais eleitorais
errantes
requisitados, mal abençoados pela
natureza Humana
de festeiros
participativos 24 sobre 24 horas
que fortaleza
tem esta tristeza! Viver
na extrema pobreza!
Muitos… milhares, milhões de jovens deambulam. A
facturação dos biliões petrolíferos sobe, o desemprego também.
Novas ruas
novos nomes:
ruas dos desempregados, apinhados. Futuros
continuadores da involução Jingola. Sem estudos, sem ciências
humanas, morais e sociais. Apoiados por pretensa ciência, lentes
na ciência penitenciária.
Futuros trapeiros
patriotas, neófitos
vendedores de tralhas
para aquecer. Os cavaleiros andantes
nas justas pela
libertação descuidaram brechas da neocolonização. Olvidaram o buraco negro da
aldeia global,
a senda triste
da eterna escravidão
neocolonialista.
Pode-se ruminar que não há emprego para ninguém. É constante
noticiar mais
desemprego. Despedidos porque a empresa faliu, ou há trabalhadores a mais.
Mil e uma estratégia sem lei nem rei para trabalhadores
autónomos, que do pé
para a mão, vão para o olho da rua. Os
Jingola lixados emparceiram com rebuçados, bolachas,
cigarros e cacarecos que as esposas remendam. No mar
de lama da magnitude
da globalização empresarial,
peixe graúdo
abocanha peixe a miúdo.
O polícia monta
guarda num mercado
de rua. De vez
em quando
volteia, passeia,
pára. De olhar frouxo repara, enquanto
descansa o peso
dos braços nas mãos
enlaçadas, nas costas coladas. Está
armado e equipado. O telemóvel espalha
sem som
nem tom
o seleccionado timbre horripilante
arquivado. À velocidade de cágado
dormente desenlaça uma mão, solta o
telemóvel da cintura, petrifica-se. Está
colocado pelos Órfãos.
- Passa o
telemóvel!!!
É um dia de juízo para a polícia.
Chegou um carro
patrulha com
seis polícias
diligentes. Apeados, encafuam-se nas
ruelas. Um tenro
Órfão alarma a combinação.
Culpados e inocentes dão nos cascos. A terra freme como cavalos de corrida
num hipódromo. Os incansáveis
vigilantes dos dias
e das noites, polícia
não dorme, não é?!, aprofundam-se,
aferram-se nos labirintos.
A missão seja ela
qual for, é sempre
para repor a legalidade.
Enquanto aguarda pelo restabelecimento da lei,
o motorista afunda-se no assento com as mãos na nuca. Ficou pachorrenta sentinela na viatura. Atira uns réditos
para uma donzela
bem nutrida de carnes
frescas. Ela
não dá cavaco.
O vencimento de polícia
está num escalão tão
baixo que
não dá para comprar um sutiã,
quanto mais um biquíni. Ela pisca-lhe os
olhos com
tal intensidade que
parece que o circuito
de voltagem óptico
se desregulou. Ele não
entende a mensagem semafórica, acredita que ela está no
ponto nevrálgico.
A carne quente
dele rejubila, solta o verbo.
- Estamos muito
quentes, vem, vamos arder!
- Seu burro! Os bombeiros
chegaram….
Os Órfãos chegaram, cercaram-no à má cara.
Crianças com
armas de guerra
aperradas, e armas brancas afiadas, dos filmes imitadas, cópias
de segurança efectuadas. Ainda
não têm noção
do matar, do coração
parar. Por isso matam, como
se fosse a brincar. No abandono
da inocência pedem meças:
- Sai daí, vamos dar uma volta, depois
regressamos.
E foram no popó da polícia dar
umas voltas pela
cidade com
as deselegantes da mesma idade.
- Mentor, este conflito entre Órfãos e Politburo permanecerá por milhares de
anos.
- Dou o meu acórdão. Nalguns bairros
os Órfãos disputam a invisível força armada da
defesa civil
militarizada. Sem abrir
concurso, os Órfãos impõem soirée até à matina.
Continuo na travessia
das endechas do Homo oeconomicus.
Cooperadores discutiam, não
se entendiam. Antes, juntaram-se e
consagraram uma cooperativa habitacional. Imaginaram, levantaram habitações cooperativistas. A felicidade
eterna nasceu-lhes nos
rostos, sentiam-se notáveis.
Faziam bom rosto
à fortuna. Nas janelas
à francesa os casais extasiados vigiavam
a filharada que brincava a ter futuro.
Tranquilidade absoluta garantida por seguranças privados, armados. Era
mais que
um jardim, um botânico e outro das delícias. Passaram à história
o paradoxo do amor,
roubaram o tempo de antena
para amar. O casario era embarcação de vento em popa
Começou-lhes a dar o vento no rosto.
Atingidos pela magia
negra apressada
restaram descorados, mitómanos, tensos,
enfeitiçados, hipertensos… ficaram a ver navios. Casas construídas em
menos de dois
anos desfaziam-se aos pedaços. Fendas
nas paredes utilizadas para
cabeças estreitarem os íntimos lares.
Inventou-se a hipótese que dantes o local
foi cemitério. Persistiu-se na razão
de Estado que
os Jingola viviam, viveriam sempre em casebres.
- Mentor, esta magia é contagiosa?
- Muito! O Politburo
apoiado pelos seus
amigos estruturais de todo o mundo
redouram os alicerces da democracia popular.
Outra vez
guerrear para aqui facturar. As guerras
inventaram-se para alguns
enriquecerem. Guerra… é o acto ou efeito de destruir, para depois reconstruir. São as filosofias da vida,
das visões fantásticas dos canhões que
disparam o vinho de Cristo,
que nos
afogam ou banham em
sangue. Suam-nos, que a espécie humana é um tremendo erro da Criação. O Criador
errou na manipulação genética. Falseou a costela.
Criou o Inferno para
os bons e a Terra para os
maus. Alguns
bons escaparam do Inferno
para a Terra. Actualmente
lutam ferozmente… luta desigual porque
há muito sofrimento, muita miséria, muita fome. Os bons são poucos, os maus
por enquanto ainda são muitos. Como alguém afirmou: Todos
os Politburo sempre mentem.
- Mentor, antes de aqui cair molhei os pés na
biblioteca de Baco. Li textos sobre os
Jingola que me
surpreenderam. Resumi-os:
Os Jingola odeiam as pessoas,
comparam-nas a cães e gatos porque detestam estes
animais. Gostam de ratos,
da feitiçaria, de vírus e fantasmas. Aprenderam a não
confiar em ninguém. O que
mais odeiam é a sua
sombra. Costumam afirmar
que é uma assombração.
Convictos, dizem que a inventaram,
descobriram.
- Hum! Qualquer
na sua superstição
milenar vê
sombras no seu
quotidiano. É como levantar
muito cedo,
ir para o trabalho
e voltar à noite
a casa. Biliões
de seres humanos
desnotaram que os seus
cérebros atrofiaram. Desconseguem pensar, e se intentam, lá
aparece a mensagem na TV, porque é a primeira
coisa que
fazem quando chegam a casa. A mensagem
é imutável: deitem-se, porque amanhã é
dia de trabalho.
Levantem-se, está na hora de ir para o trabalho.
Exemplificam com um
americano que
afirma: nasci para enriquecer
como empresário,
ou ser um homem famoso, trabalhando muito
consigo-o. Omitem que ele pouco ou nada dormia,
e que acabou na psiquiatria,
na psicologia com
psicalgia, ou
morreu de ataque cardíaco.
São bibliotecas
de ligação dinâmica,
chegam ao trabalho com
um chip
embutido no cérebro.
Muito submissos como a oposição Jingola,
não incomodam, não
pensam. Se algum consegue remover
o chip, começa
a pensar, revolta-se… exigindo melhores
condições de pensamento.
É logo acusado de senzaleiro
das ideias incendiárias, não patriota e sumariamente julgado e para
um gulag enviado.
- De revolta como Ulisses num gulag marítimo,
porque Penélope transcende o amor. Ulisses vai amar na volta do mar
- Ao ir e voltar
do trabalho no mar
confuso, inúmeras horas irreversíveis são
concedidas ao trânsito automóvel.
E levantar às quatro,
cinco da manhã…
essas horas não
são pagas.
O trabalhador começa
a trabalhar logo
que se levanta da cama,
isso deve ser-lhe pago.
- Não pagam porquê?
- Porque apenas existem quatro
classes na sociedade.
Presidente, ministro,
director e os… lémures.
Sem comentários:
Enviar um comentário