Acabo de ouvir, 12 de Dezembro de 2012, mais ou
menos das 14.20 às 14.30 horas, na Rádio Ecclesia de Luanda, a curta entrevista
que José Eduardo Agualusa deu à Rádio Vaticano aquando da sua passagem por Roma,
no lançamento da sua obra, Barroco Tropical, na versão italiana. JEA falou do
seu trabalho que se pode apreciar, como segue na edição da editora D.Quixote:
“(Chamo-lhe
romance. Gosto da palavra, do sabor dela, mas podia dar-lhe outro nome
qualquer: testemunho, relato; talvez acatar a sugestão de Kianda e chamar-lhe
um elucidário. Escrevo para compreender e aceitar.
Escrevo para tentar perdoar-lhe.)” (pág. 329)
Começa por parecer um romance. E será um romance. Ou não… Do que se trata, decerto, na minha modesta opinião, é de um manifesto. Político, de amor, sarcástico. Clarividente, sobretudo.
Só no início nos apercebemos de que estamos a ler um romance futurista: Luanda, 2020 – assim nos avisa o texto da contracapa. Com o avançar da leitura isso fica para segundo plano, tal é a realidade actual que nos entra pelos olhos dentro.
“Estamos mergulhados na luz. Estamos afundados no obscurantismo e na miséria. Somos incrivelmente ricos. Produzimos metade dos diamantes vendidos no mundo. Temos ouro, cobre, minerais raros, florestas por explorar e água que não acaba mais. Morremos de fome, de malária, de cólera, de diarreia, de doença do sono, de vírus vindos do futuro, uns, e outros de um passado sem nome” (pág. 93).
Agualusa atreve-se a denunciar, não há dúvida. Com ou sem liberdade poética, a denúncia espreita a cada página. Mas não derrota. É no próprio sogro do escritor do romance que coloca as palavras: ”O país caiu nas mãos de quimbandeiros e de aventureiros sem escrúpulos. Não podemos baixar os braços. A luta continua. A vitória é certa” (pág. 331). Porque o escritor – o protagonista da história, Bartolomeu, ou o autor, Agualusa – é um artista: “Deixem-nos a nós, os artistas, sentir muito – o nosso ofício é sentir muito. Médicos, advogados, políticos, engenheiros, prostitutas, proxenetas, psiquiatras, militares não podem sentir muito. Sentir muito prejudica-os na sua actividade” (pág. 321).
Sentir e pensar. A denúncia vinda do futuro, ou o presente a projectar o futuro: “Ninguém quer pensadores neste país. É coisa que desagrada quer aos dirigentes angolanos quer a todas as empresas e governos que aqui têm interesses. Angola vai muito bem. Continua a crescer, mesmo sem o petróleo. Dá dinheiro a ganhar a muita gente. Os pensadores costumam ser enviados para o aeroporto, ou então para o Tata Ambroise [centro de saúde mental]. Alguns morrem pelo caminho, coitados. Pensar prejudica a saúde” (pág. 242).
Ao longo das quase 350 páginas deste Barroco Tropical, Agualusa conta-nos uma história. Aliás, várias histórias. Fala de etnias e problemas étnicos; defende a Língua Portuguesa. Por mais que o escritor pretenda escrever sobre outras coisas, mais sociais, mais políticas, a ancestralidade está sempre presente. A África profunda, o fantástico, o maravilhoso, apesar do ambiente citadino da novela (?), a surgir no homem com asas, no búzio que soprou o verso de “Barroco Tropical”, o êxito musical que dá nome ao livro.
A história é, também, a de uma estrela da música… ou outra estrela qualquer! Que, como todas as estrelas, como a vida:…
“As noites estão cheias de estrelas e no entanto vê como são escuras. O brilho das estrelas não ilumina caminho algum” (pág. 132).
Se é possível que os sentimentos, mormente o amor, sejam definíveis, José Eduardo Agualusa fá-lo de uma forma magistral no trecho em que se define o título do livro.
“Os sonhos são inapreensíveis” (pág. 123). Não o será, também, o amor?
Escrevo para tentar perdoar-lhe.)” (pág. 329)
Começa por parecer um romance. E será um romance. Ou não… Do que se trata, decerto, na minha modesta opinião, é de um manifesto. Político, de amor, sarcástico. Clarividente, sobretudo.
Só no início nos apercebemos de que estamos a ler um romance futurista: Luanda, 2020 – assim nos avisa o texto da contracapa. Com o avançar da leitura isso fica para segundo plano, tal é a realidade actual que nos entra pelos olhos dentro.
“Estamos mergulhados na luz. Estamos afundados no obscurantismo e na miséria. Somos incrivelmente ricos. Produzimos metade dos diamantes vendidos no mundo. Temos ouro, cobre, minerais raros, florestas por explorar e água que não acaba mais. Morremos de fome, de malária, de cólera, de diarreia, de doença do sono, de vírus vindos do futuro, uns, e outros de um passado sem nome” (pág. 93).
Agualusa atreve-se a denunciar, não há dúvida. Com ou sem liberdade poética, a denúncia espreita a cada página. Mas não derrota. É no próprio sogro do escritor do romance que coloca as palavras: ”O país caiu nas mãos de quimbandeiros e de aventureiros sem escrúpulos. Não podemos baixar os braços. A luta continua. A vitória é certa” (pág. 331). Porque o escritor – o protagonista da história, Bartolomeu, ou o autor, Agualusa – é um artista: “Deixem-nos a nós, os artistas, sentir muito – o nosso ofício é sentir muito. Médicos, advogados, políticos, engenheiros, prostitutas, proxenetas, psiquiatras, militares não podem sentir muito. Sentir muito prejudica-os na sua actividade” (pág. 321).
Sentir e pensar. A denúncia vinda do futuro, ou o presente a projectar o futuro: “Ninguém quer pensadores neste país. É coisa que desagrada quer aos dirigentes angolanos quer a todas as empresas e governos que aqui têm interesses. Angola vai muito bem. Continua a crescer, mesmo sem o petróleo. Dá dinheiro a ganhar a muita gente. Os pensadores costumam ser enviados para o aeroporto, ou então para o Tata Ambroise [centro de saúde mental]. Alguns morrem pelo caminho, coitados. Pensar prejudica a saúde” (pág. 242).
Ao longo das quase 350 páginas deste Barroco Tropical, Agualusa conta-nos uma história. Aliás, várias histórias. Fala de etnias e problemas étnicos; defende a Língua Portuguesa. Por mais que o escritor pretenda escrever sobre outras coisas, mais sociais, mais políticas, a ancestralidade está sempre presente. A África profunda, o fantástico, o maravilhoso, apesar do ambiente citadino da novela (?), a surgir no homem com asas, no búzio que soprou o verso de “Barroco Tropical”, o êxito musical que dá nome ao livro.
A história é, também, a de uma estrela da música… ou outra estrela qualquer! Que, como todas as estrelas, como a vida:…
“As noites estão cheias de estrelas e no entanto vê como são escuras. O brilho das estrelas não ilumina caminho algum” (pág. 132).
Se é possível que os sentimentos, mormente o amor, sejam definíveis, José Eduardo Agualusa fá-lo de uma forma magistral no trecho em que se define o título do livro.
“Os sonhos são inapreensíveis” (pág. 123). Não o será, também, o amor?
Joaquim
Gonçalves, Maio 2009
In http://adasartesleituras.blogspot.com/2009/05/barroco-tropical.html
Depois JEA,
abordou, o que se pode chamar, aspectos da teoria da literatura. Falou sobre a
riqueza cultural dos países de expressão portuguesa, sem apoios. E que não
existindo leitura nos primeiros anos de vida, não há literatura.
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