A gatinha recém-nascida estava num
passeio de uma rua refugiada na base de uma árvore. Não entendia o que se
passava, qual era a acusação do mal que fez, porque crianças decidiram
lapidá-la. Atiravam-lhes pedras decididos a acabarem com a sua curta vida, conforme
os ensinamentos dos gloriosos libertadores revolucionários do homem novo.
Foi salva nos derradeiros momentos, pois
a morte já se adivinhava porque a criançada (?) reforçou-se de munições e de
mais tropas.
Chegada em casa e logo baptizada Pipoca,
foi sanada de algumas escoriações, alimentada a biberão com leite, e colocada
numa casinha apropriada para gatos, uma caixa de papelão com dois bocados de
tecido. Depois de devidamente recuperada dos cuidados intensivos já queria
estudar, andar pela casa, conhecer o mundo que a cercava e miava de
contentamento.
Depois foi transportada para o quintal
de uma tia, e lá naturalmente se desenvolvia.
Cerca de dois meses depois recebemos a
notícia que outro grupo de criançada (?) lapidou-a. Deixaram-na a sangrar da
boca, não resistiu à lapidação da morte.
Creio que uma sociedade onde as crianças
matam animais indefesos sem dó nem piedade por pura diversão, não acalenta
futuro, é por isso que matar seres humanos em Luanda é a coisa mais natural do
mundo.
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