Chamou uma jovem empregada que chegou com um enorme sorriso. Trajava uma mini-saia muito
curta. Quando
se baixava via-se nitidamente o traseiro
que parecia não
ter nada que o cobrisse. De igual
modo usava um
decote que
ao inclinar-se nas mesas, que eram muito baixas, deixava quase
a nu os seios.
Vieira notou o meu olhar
para esse manjar de carnes
vivas, e explicou-me:
- As nossas empregadas vestem-se assim para atraírem os clientes. Além
disso também têm que
ter uma beleza natural. Mas o que é que tu queres?! Neste negócio
é mesmo assim! Na realidade
as jovens que
seguem este tipo
de actividade são consideradas
prostitutas, mas eu
acho o contrário. Elas
foram admitidas depois de rigorosas investigações que
fizemos sobre a sua
vida. Posso assegurar-te que são exemplares, e não
é pela indumentária
que podemos julgar
uma mulher. Nas praias
com aquelas ultras minúsculas tangas que agora se usam…
(PSYCO. Estava Deus a criar o mundo... - Para
este país eu deixo os terramotos, para este outro deixarei os vulcões, para
aquele ali vou deixar os maremotos... E assim foi sucessivamente com todos os
países, menos ANGOLA. Até que um anjo que estava ao seu lado perguntou: -
Senhor, então e Angola? Não vai ter nada de mal? - Claro que vai! Espera até
veres o PRESIDENTE que lá vou pôr!
In Angonotícias)
In Angonotícias)
- São as reminiscências…
- Mas
o que é que
tu queres?! Olha,
assim que
obtiver o dinheiro necessário
acabo com os serviços
de segurança. Vou pôr tudo na rua. Não estou para aturar estes gajos. Vou ficar mais algum tempo com os serviços do banco,
que me
dão uma boa maquia. O Director diz que
se vai embora definitivamente
para Portugal.
- Vieira, para
a colónia de férias…
- Ah, ah! Ele
é que conseguiu através
das suas influências
todos os clientes
com quem
trabalhamos. Na realidade é mais
um revolucionário
de merda. Andou a fingir para
angariar uma grande
fortuna. Mas
o que é que
tu queres?! Aqui
não existem revolucionários,
só gatunos.
O dinheiro para o povo é desviado, vai para
contas bancárias deles no estrangeiro.
- Agora entendo porque é que o
gatuno está sempre com medo de ser roubado.
Notei que
Vieira perturbou-se com a minha
afirmação, que de certo
modo era enigmática. Durante alguns momentos os seus
olhos ficaram estáticos.
Aproveitei e perguntei-lhe:
- Já transferiste o meu
dinheiro?
- Ainda
bem que me lembraste. Na segunda-feira
vou mandar o Heitor tratar
disso sem falta.
Podes estar tranquilo. Pode não
haver dinheiro, mas para ti nunca faltará. Mas
o que é que
tu queres?! Porra!
Vê só
isto: O libanês, o indiano
e outros gajos
chegam aqui, facturam um milhão de
dólares e vão-se embora. Não constroem nada,
não deixam nada.
Até fazem lavagem
de dinheiro. Depois
vem outros, que
são seus
amigos, e fazem a mesma
coisa. E sempre
assim sucessivamente.
Nos últimos
anos andei a dormir,
agora acordei. Vou trabalhar
no sistema de trading. As coisas chegam e são
logo vendidas, é como
eles fazem. Por
exemplo, estou a vender
uma resma de papel
A4 a cinco dólares. Sabes o que é que um
cliente me disse? Pois, disse-me para cobrar por
cada resma
oito dólares. Já
viste o lucro sem
nenhum esforço?
A propósito, já
te debruçaste sobre
os documentos da contabilidade
da nossa empresa
de segurança?
- Já… faltam os pagamentos do
aluguer do terreno. O lucro é muito elevado, não sei…
- Pagamentos do aluguer do
terreno?! Vou mandar fazer saídas de caixa a fingir que pagámos. E quanto ao
lucro muito elevado, vou inventar alguns documentos de despesas que vão dar
prejuízo. Mas o que é que tu queres?! Isto aqui é assim.
- Vieira, e como ficam as
contas em divisas?
- Omitimos… eles nunca vão saber... puta que
os pariu.
- Vieira, devia ser
exigido aquando da apresentação das contas anuais, extractos das contas
bancárias em divisas.
- Eles que façam isso. Mas
duvido que o consigam. Ninguém lhes vai ligar. Todos exportam os dólares que
possuem.
- Mas
o teu dinheiro,
o dinheiro de todos
está lá fora,
e aqui dizem sempre
que não
têm!
- Precisamente! Mas não é isso o que os governantes dizem? Claro,
o dinheiro está todo
lá fora,
nas suas contas
particulares. Vê
o que alguns
generais fazem aí
por toda
a cidade. Ocupam todos
os espaços possíveis
e imaginários. Apoderam-se de terrenos, desalojam pessoas,
constroem onde bem
lhes apetece. Isto
é deles, isto é África, isto é Angola.
Para sobreviver a única saída é roubar. Aqui temos que ser abutres, senão não conseguimos sobreviver.
Senti que
não estava preparado
para este estado de coisas.
Mais uma vez
senti-me arrependido. Tinha uma boa carteira de clientes
em Portugal que
me permitia levar
uma vida desafogada, a mim e à minha família. Senti desejo
de dizer que
queria voltar, para junto da minha família e dos meus
amigos. Mas,
já agora
que me
coloquei nesta aventura, ansiava conhecer mais, para depois narrar os acontecimentos.
Afinal era
uma boa experiência de vida. Conhecer como funciona este país
à deriva. Vieira continua:
- Isto é deles.
- Acho que
não. É de todos
nós, dos que
trabalham honestamente.
- Assim
deveria ser mas
não é. É a selva.
À nossa frente
leões, atrás
crocodilos, à esquerda
lobos, à direita
serpentes venenosas. Os governos africanos
não são
corruptos. As companhias
petrolíferas são… é que
fomentam a corrupção dos governos.
Vê o que
aconteceu no Zaíre com Lumumba. Como era contra os interesses
ocidentais foi assassinado. Depois colocaram um
ditador, o Mobutu, e protegiam-no. Quando já não era necessário foi passar a reforma
na França. Nkrumah tentou efectuar algo
de diferente. Mas
não conseguiu porque
o Ocidente não
deixou.
(E a lista continua. João de
Matos foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas e tem a empresa
Genius, com interesses referenciados nas minas, electricidade e Bellas Shopping
Center. José Pedro Morais (ex-ministro das Finanças), Kundi Paihama (ministro da
Defesa) e Pedro Neto (Estado-maior da Força Aérea) partilham a Finangest,
'holding' com interesses nos transportes, construção e segurança. In Jornal de
Negócios)
Vieira sabia despertar,
cativar a atenção
do interlocutor. Sabia fazer
pausas intencionais.
Quando eu
tentava dizer uma palavra,
não conseguia porque
ele mostrava ser
convincente. Assim
deixava-o falar:
- Interessa manter
as populações na miséria,
no desemprego, para que
os custos de produção
baixem muito, e assim obterem-se grandes lucros.
Num país asiático
pagam-se noventa e sete dólares por mês, com dez horas de trabalho diário. A exploração
do trabalho infantil é um facto. Por exemplo, as empresas
de calçado desportivo têm lucros impressionantes
com esta exploração.
Uma delas ganhou sem impostos 1.123 biliões
de dólares em 2003. David Beckham recebe
em patrocínio
161 milhões ao longo
da sua vida.
A diferença de salários
é abismal. Vamos supor
que os salários
seriam quase iguais
às economias desenvolvidas. Seria a ruína do sistema
financeiro internacional.
Porque os custos
subiriam e os lucros quase deixariam de existir.
Por isso
é necessário manter a todo o custo governos fiéis e corruptos,
que obrigam as suas
populações a ficarem na miséria. Uma dependência
eterna. Um grandioso exército de escravos
a mendigar qualquer coisa.
- Vieira, acho que as ideologias
estragam tudo.
- De facto isso
é verdade. Wole Soyinka já
se referiu a isso, quando
afirmou que o maior
erro de África foi expulsar
os brancos. Mas
Ladislau Dowbor exemplifica muito bem como
surge a dependência, a manutenção da miséria e da fome
permanentes.
«John Perkins faz parte de uma geração
de autores que
denunciam o funcionamento do sistema neo-liberal, mas
que não
vêm da esquerda: são
pessoas cuja
revolta surge justamente
do facto de entenderem profundamente como o sistema
funciona. E entendem profundamente porque a ele
pertencem, ou pertenceram.
Perkins trabalhava na MAINE,
uma empresa de intermediação de contratos
internacionais, negociadora do
financiamento de grandes obras, e executora de infra-estruturas
energéticas, com
o perfil da ENRON, da BECHTEL e outras semelhantes. Como
economista-chefe da empresa, era
encarregado de traçar
as grandes linhas
de investimentos, e de negociar
a triangulação entre governos de países
do Terceiro Mundo,
empreiteiras, e o sistema
financeiro norte-americano.
A lógica básica
é simples: ele
era encarregado
de inflar artificialmente
as perspectivas de crescimento
do PIB do país visitado, (como Angola) e
de assegurar o financiamento de grandes
obras de infra-estruturas
pelo Banco
Mundial ou outra
instituição, com
a condição das infra-estruturas
serem executadas por grandes firmas
americanas. Assim o dinheiro
não sai dos Estados
Unidos, vai directamente para uma das empresas executoras. (Como a China faz com Angola)
Imagem: canalmoz
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