quarta-feira, 1 de outubro de 2014

13-20Set14. República das torturas, das milícias e das demolições





Diário da cidade dos leilões de escravos

13 de Setembro
Não tenho dúvidas que o melhor - único - programa de rádio é o Vector da LAC. É como outra Internet, uma enciclopédia. Há outro, é o Raízes do Ismael Mateus na FM/Stereo da RNA.
Alguns nadam em petróleo e milhões nadam em seco, sem água.
14 de Setembro
Raízes, quatorze horas e seis minutos. Oliver Mtukudzi, talvez o rei dos instrumentistas africanos entra em cena - apesar da morte do filho em 2010, em Harare, num acidente de viação - com a sua música muito inspiradora, tranquilizadora que nos faz voar a mente para os melancólicos confins de África, sempre na sua descoberta. Sem a verdadeira música que seriamos? Um oásis no deserto sem água, portanto sem nada. Muito grato Ismael pelo teu canto do que resta da angolanidade, que decerto se chama angulosidade.
Sempre os mesmos a ficarem cada vez mais ricos. O mais grave de tudo é a ausência total de lei, porque como as riquezas estão em seu poder, a lei são eles, e isso conduz à desgraça que se anuncia, que muito naturalmente se prevê. Um país sem lei não tem futuro porque se desintegra como o ebola na Libéria e noutros países. Onde o dinheiro abunda as injustiças também abundam. Por exemplo: até hoje nunca ouvi, nem ouvirei, que os trabalhadores de uma empresa têm direito à participação dos lucros, ou até serem sócios. Enriquecer com guerra é fazer mais guerra, revoltas. Isto, parece que não, é um brutal incremento do terrorismo, pois ele alimenta-se das desigualdades sociais, do trabalho escravo.
15 de Setembro
Das 08.53 até às 09.33, lembraram-nos que não somos nada, lixaram-nos a energia eléctrica. (Já estou cansado de escrever esta palavra.)
“ANGOSAT (Fim). Ao que tudo indica, com o Angosat (primeiro satélite angolano), ninguém mais dirá que 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% da população.” In Orlando Castro.
16 de Setembro
Os estrangeiros que na terra deles não são nada, e que mal poisam aqui os pés, de repente são chefes poderosos, ricos mercadores de escravos. O problema é que os portugueses continuam coloniais, convencidos com o complexo de superioridade de que aqui não há ninguém que saiba trabalhar, mas até é ao contrário. Eles chegam e os mwangolés ensinam-lhes a trabalhar para que eles transfiram os seus milhares de dólares todos os meses para Portugal e nós… sem empregos, são só para eles. Um exemplo muito convincente: um chefe tuga de uma empresa também tuga com software instalado numa máquina de um banco, visitou o técnico de informática angolano responsável diariamente pela sua manutenção, cumprimentou-o e os outros tugas que o acompanhavam olharam-no com desdém, porque em Angola só eles é que são técnicos, Angola sem eles não avança para lado nenhum, Angola sem os portugueses fica como um campo sem vegetação. Foi preciso o chefe tuga chamar a atenção aos outros tugas para que cumprimentassem o técnico mwangolé. Estes portugueses e outros como eles não passam de ciganos que vêm montar tendas em Luanda, sim Luanda, porque todos querem aqui ficar, espoliar. Angola é só o litoral das praias à beira-mar para saquear, o resto é abandono.
17 de Setembro
As penumbras da vida divisam-se a cada momento como no olhar de uma foto, ou de uma imagem cinematográfica. O mundo das imagens da miséria do petróleo é latente como os que dele usufruem e dele não prescindem. Os senhores do petróleo têm um mérito inigualável, inesgotável: a miséria acena-lhes por todos os cantos mas eles não a vêem porque estão cegos pela desgraça do petróleo.
Vale tudo para ficar rico no feiticeiro. Um candidato foi lá no feiticeiro e disse-lhe que queria ficar rico. Enquanto o feiticeiro lhe receitava a ladainha o candidato a rico levava chapada. Outra ladainha e mais chapada. Depois de muitas ladainhas e muitas chapadas o futuro rico gemia porque já não suportava mais surra. É o vale tudo para ficar rico.
18 de Setembro
Das 04.13 até às 10.12 horas ficámos a ver luz de vela.
O fado português da banca em Luanda: Munir Carmali. Tinha o visa do millenium clonaram o meu cartão gastaram 9000usd e dizem que não me devolvem e temho seguro do cartão é uma treta de banco. Miguel Vicente.  há dois anos no Banco Sol, tive o mesmo problema num multicaixa do BFA de S.Paulo , o cartão fica retido, dois dias depois vou a Banco Sol, para solicitar novo cartão, quando vou consultar a conta, fiquei deskwanzalizado, 450 000 Kz , levantamentos no Casino Plury Jogos do Morro Bento, só não conseguiram levantar na conta dos dólares... Procurei respostas tanto no BFA e no Banco Sol , ninguém sabe de nada, ninguém viu nada , o gerente do BFA só me disse == ÁHH AS VEZES ACONTECE «« In Portugueses em Angola
19 de Setembro
Espoliaram-nos a energia eléctrica das 09.47 até às 10.13 horas. Bem-hajam!
O tempo já aquece, na rua todos os péssimos dias não se fala noutra coisa, da invasão estrangeira. O povo despertou e comenta achincalhando os invasores. Perigo à vista! No teatro improvisado da entrada do prédio os actores e actrizes debatem o tema da peça em representação: A Grande Invasão. Um actor entra em cena e faz a introdução: «Os brancos estão a injectar veneno nas coisas que nos mandam para comermos para que morramos envenenados.» Uma actriz desenvolve o seu papel: «Eles querem nos matar, isso do ebola é invenção deles. Isso que os brancos estão a fazer, os chineses são melhores. Se tiveres pouco dinheiro os chineses fazem uma coisa para te desenrascar, se tiveres dinheiro os chineses fazem-te um bom trabalho. Os brancos, então esses portugueses não dá para confiar, são muito falsos.» Um actor dramatiza: «Os brancos portugueses que chegam querem em poucos dias enriquecer. Antes eram quinhentos anos, agora a escravidão disfarça-se que vem ensinar os mwangolés a trabalhar. Significa que somos todos burros, mas eles não fazem nada. Só estão aqui para transferir dinheiro lá para Portugal.» Uma actriz entra em cena furibunda: «Então, se eles lá estão todos na miséria, desempregados, as portuguesas entregam os corpos ao manifesto dos angolanos que lá chegam, vendem-se sem pudor. Aiué! Então se eles puseram Portugal de rastos em Angola farão o quê? Oh! Basta ver a actuação deles na actividade bancária – tal como lá - em Luanda quem é que confia nos bancos dos portugueses? Se os deixarem à-vontade, dentro de poucos anos os bancos em Luanda cairão tal como caíram em Portugal, pois se os mesmos portugueses que fizeram isso estão já em Luanda na grande golpada, isto é: defraudar a banca.» E um actor bem no intelecto mwangolé enuncia o hino da grande invasão: «Os assaltos são proporcionais ao número de estrangeiros existente. Quantos mais aventureiros estrangeiros chegarem, mais desempregados mwangolés abandonados para os assaltarem.»
O petróleo ilumina os cérebros dos senhores do petróleo. É por isso que eles são muito inteligentes. E isso nota-se facilmente pois que: «Estamos apostados na melhoria das condições de vida do nosso povo.»           De que povo se trata?
20 de Setembro
A Lwena disse-me que isto aconteceu mais ou menos há cinquenta anos lá para os lados de Quilenges, na Huíla: era um enterro, mas afinal o morto não estava morto, saiu do caixão e voltou à vida. Os povos admiravam-no porque ele explicava o que os outros animais falavam, compreendia a língua deles.
Há poucos dias a Lwena estava na rua com o neto dela. Passaram os homens da UGP-Unidade da Guarda Presidencial num carro e com as armas apontadas de tal modo para a população a modos de quem quer disparar e matar. Cheia de medo fugiu com o neto para dentro do prédio. Assim não dá, só pensam em matar! Exclamou ela.
O que é necessário é enfiar doses maciças de futebol, religião e televisão para embrutecer as multidões, e aí temos a ditadura perfeita.
Alguém é capaz de me dizer qual é a utilidade do Ministério do Ambiente? Resposta: Para destruir o ambiente. Os chineses exercem massivamente a pesca ilegal, para que serve o Ministério das Pescas? Resposta: Para pescar em águas turvas.
Ainda não se libertaram da mediocridade colonialista. Num debate, numa conversa banal, numa empresa, por todo o lado só se ouve: Senhor Doutor, Senhor Engenheiro. Angola está inundada de doutores e nada funciona.

Imagem: o petróleo não gosta do povo e por isso desaloja-o, envia-o para o desterro.

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