Diário da cidade dos leilões de escravos
11
de Outubro
07.31 horas. Está a cacimbar. O cacimbo
ainda não acabou, quando acabará? Vinte e um graus à sombra e oitenta e dois
por cento de humidade.
Outra vez o colapso da energia
eléctrica. Das 06.43 até às 08.15, e das 14.13 até às 14.33 horas a energia
eléctrica abandonou-nos.
SOS ONU. Lei do terror em Luanda.
22.30 horas. De um mwangolé atento: Em
Luanda, aí há dez anos a esta hora viam-se muitos carros e muita gente na rua.
Agora há muitos carros e mais gente e quase não se vê carro passar e pessoas
também.
22.54 Horas. De uma vizinha: os gatunos
já estão a assaltar os prédios.
Cuidado com os trapaceiros: o Nosso
Técnico reparou o computador de um português e entregou-lho devidamente
operacional. Como se conheciam já há quase um ror de anos o Nosso Técnico
confiou que o português honraria a dívida como uma pessoa civilizada. O
português assegurou-lhe que na próxima semana lhe pagaria. Nem na próxima, nem
nas próximas semanas pagou. Furtava-se sacanamente como é norma, pois Angola e
os mwangolés continuam no imparável saque. Já encostado na parede o tuga
desculpou-se que estava para ir no banco levantar o dinheiro, mas descobriu –
são sensacionais nas descobertas – que perdeu o cartão de crédito. Poucos dias
depois o Nosso Técnico vai a casa dele já de ultimato na mão – não, não, sem
AKM – mas o português já lá não está, mudou de casa de caxexe. Veio-se a saber
depois que o tuga fugiu das dívidas do conto do vigário. Mais mwangolés andam
no seu encalço e quando lhe descobrirem, lhe apanharem onde mora, vão-lhe
surrar e carregar-lhe coisas de casa como boa cobrança. Mas parece que ele
fugiu para Portugal, o eterno refúgio dos crimes coloniais.
Sem o rigor contabilístico, sem
contabilidade organizada, a corrupção alastra-se e desta nação apenas restam
ruínas. Se não a pararem, aniquilarem, ela mata-nos. A corrupção é como o
ebola.
Há quarenta anos que vivemos escuros e
secos. Mas o nosso Governo, nos próximos dias normalizará o abastecimento da
energia eléctrica e da água.
12
de Outubro
Hoje ao acordar fiz uma grande
descoberta. Estou neocolonizado! Só vejo por todo o lado capatazes do petróleo,
e chineses e portugueses em grandes quantidades como uma bruta tempestade que
depois nos inunda. Com os seus chicotes desembainhados a chicotearem-nos
enquanto gritam desalmadamente como no apogeu colonial: «Estamos aqui para vos
ajudar, para vos transmitir os ensinamentos da nossa avançada civilização do homem
branco! Portanto só vos resta obedecer-nos.»
“Isto não será outro Moçambique!” Pois
não, isto será muito pior. Não adianta perder tempo com eleições já
antecipadamente ganhas, porque não existe democracia. A luta pela democracia
terá que se efectuar por outras vias. Os nossos esforços têm que ir no sentido
de evitar por todos os meios o regresso às cavernas coloniais.
Pergunto-me o porquê da existência na
nossa praça de muitos analistas internacionais, que escalpelizam todos os
acontecimentos internacionais, dão palpites, etc. Mas analistas nacionais são
raríssimos, estão com certeza proibidos. E claro, é também raríssimo um
analista nacional dar palpites sobre a corrupção. Questão: porque será que faz
quarenta anos e nunca se prendeu um único corrupto?
E as igrejas uniram-se às forças da
opressão. A Igreja não pode abusar do santo nome de Deus para apoiar a
corrupção em Angola e dela usar e abusar. Um cristianismo corrupto jamais
parará os radicais islamitas.
E os chineses e portugueses ao apoiarem
também a corrupção facilmente enriquecem. Mesmo à custa das próprias vidas. Ou
não sabem, ou fingem não saber que são os mentores dos tumultuosos dias da
necrologia.
13
de Outubro
Há alguns anos no Futungo de Belas, um
mwangolé criou um jacaré desde pequenino. Ele já estava bem crescido, e o
mwangolé continuava a alimentá-lo servindo-lhe comida na mão. Tudo ia bem até
que um dia o jacaré comeu a comida e a mão do seu dono.
A pior coisa que pode acontecer a um
povo é ter um governo democraticamente eleito, que depois vende o país e o seu
povo ao desbarato a qualquer estrangeiro.
E quem não for vermelho e preto vai para
o matadouro.
O jovem com quinze anos veio do Lubango
para Luanda e ficou em casa dos tios. No início tudo bem, – é sempre assim – os
dias passam e começam os problemas. O tio e a sua esposa queixam-se de que ele
não faz nada, e logo se torna num empecilho. Falam-lhe, falam-lhe mas ele não
liga. O tio fala com ele, diz-lhe que vai pagar a viagem de regresso ao Lubango
e dar-lhe mais algum dinheiro para a viagem. Mas o jovem foge e ruma para casa
do avô, mas este já sabedor da situação também não o aceita. O jovem passa a
dormir na entrada do prédio junto com os seguranças alegando que já é tarde, e
por isso não quer incomodar o avô. Anda por aí ao sabor das aulas da rua, mais
um que tira o curso intensivo da bandidagem. Quando num país as famílias se
desmoronam nada mais resta, como um navio que encalhou num baixio e lá espera o
seu irremediável afundamento.
Os chineses impõem-nos as suas leis, os
portugueses também. Angola é um feudo de países. E o mwangolé escorraçado daqui
e dali sem direito ao seu quinhão de Angola, só lhe resta o feudo dos assaltos.
14
de Outubro
Que mundo atroz este, onde uma pessoa
tem que lutar sozinho contra a maldade e contra a democracia que afinal é nossa
inimiga.
Perante a hipócrita democracia que
oprime os povos para fazer comércio, não surpreende que o EI-Estado Islâmico,
avance, avance e avance e depois que os terroristas se expandam por todo o
lado. A actual democracia corrupta é a empresa ideal donde saem milhões de
terroristas bem formados, bem-educados.
Onde há corrupção institucionalizada, há
constante violência, crime e morte.
Há uma infinidade de programas
educativos e religiosos em todos os meios de informação, mas as crianças estão
cada vez mais violentas. Há muitos psiquiatras, mas as sociedades estão muito
doentes. Há muitos economistas e as economias não funcionam, estão também muito
doentes, etc.
“Pode até ser que consigamos
convencê-los que torturar não mata ideias, que o terror é insuficiente para a
manutenção da ordem. Precisamos tentar convencê-los. Eu continuo tentando.” In
Dom Hélder Câmara.
15
de Outubro
Enquanto ontem estiveram a ver o debate
político na TV-Zimbo, - se notarem é sempre a mesma coisa, só mudam as
palavras, parece mais um jogo de futebol - optei por ver o filme sobre a vida
da Coco Chanel. Creio que fiz boa gestão do uso do tempo.
“Lavar as mãos com sabão é uma das
‘vacinas’ mais baratas e eficazes contra doenças virais. Se a isso conseguir
juntar a lavagem mental, será perfeito.” (Orlando Castro)
16
de Outubro
Ó Amélia de Aguiar, do programa Vector,
da LAC-Luanda Antena Comercial. “Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena.”
Não é do Camões, é do Fernando Pessoa.
“A força é construída pelos fracassos e
não pelos sucessos.” (Coco Chanel)
Comentário de Chiquita Bacana
Kundi no Facebook.“ Tudo isso?! E o angolano
recebe o quê?????? Os salários desses espertinhos deverá ser igual ao do
angolano. Ninguém os chamou, eles é que estão a entrar sem pedir licença. Ainda
por cima com certificados duvidosos e vistos falsos.”
17
de Outubro
As malas com dinheiro provenientes do
BESA – Banco Espírito Santo Angola, invadem Portugal e os bancos dos
empresários governantes. Arruínam Angola, Portugal e os seus povos. Na
reciprocidade de vantagens e a coberto dessa corrupção, os portugueses estão
autorizados a invadir Angola. E por isso mesmo o Governo português e os seus
bancos são perigosamente corruptos. Portugal perde a sua soberania e os
portugueses passam à reles condição de ciganos em Angola e no mundo, como
párias. Os chineses financiam Angola e obrigam o Governo a esbanjar dinheiro em
obras sem nenhuma utilidade, realidade para a população. A China obriga Angola
a entrar no clube da alta corrupção, e depois cinicamente diz que não se
intromete nos assuntos internos dos outros países. Em contrapartida Angola
recebe a invasão chinesa. Isto faz com que Portugal e a China sejam os principais
responsáveis da sangrenta repressão contra qualquer manifestação pacífica. Por
trás das marionetes da governação angolana estão os portugueses e chineses que
de facto e de jure governam Angola. E como um mal nunca vem só, o preço do
petróleo já caiu trinta por cento.
No momento do discurso do PR sobre o
estado da Nação, na Assembleia Nacional, preferi ver o filme, Coco Before
Chanel, de 2009, mais um filme muito inspirador da gloriosa vida da imortal
modista francesa de alta-costura, Coco Chanel. Estou convicto de que o PR
concorda comigo.
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