Era um povo que há muito vivia em
democracia, pois convivia com muitas bandeiras e com várias correntes de
opinião. Havia muitas erupções de um líquido negro a que não davam muito, ou
nenhum valor. Nos rios, os peixes e outras espécies marinhas abundavam de tal
modo que – pode-se dizer – bastava um soco para se apanharem peixes que logo
apareciam brasas para os assarem. Os campos estavam inundados de vegetação frutícola
e hortícola que os deuses há muito legaram. As crianças brincavam, saltavam e
chapinavam nos lagos paradisíacos como no Éden. Tudo estava ali à mão para
satisfazer a felicidade do povo na sua terra bendita e acolhedora. Quando chegavam
visitas havia festa que durava muitos dias, ou meses.
Até que um dia um helicóptero aterrou. A
criançada em louca correria gritava e os mais pequeninos exclamavam: «Olha, é
um ptopodo, é um ptopodo!» Um mais velho acercou-se dos tripulantes, quatro
europeus, cumprimentou-os e apreensivo perguntou-lhes o que desejavam, sabendo
de antemão no íntimo que não estavam ali para boa coisa. «Bom-dia! Andam á
caça?» Os europeus corresponderam-lhe com o bom-dia e negaram que andavam por
ali à caça. Foram directos ao que lhes interessava, dizendo que do ar viam-se
claramente manchas que anunciavam petróleo por todo o lado. E que foram
enviados pelos poderosos Ordens Superiores para negociar a futura extracção do
petróleo, garantindo para já alguns milhares de dólares e que mais tarde seriam
muitos milhões. O mais velho respondeu-lhes o que faria o povo com esse dinheiro,
pois que não sabia como o utilizar e que naturalmente acabariam na bebedeira, e
que há muitos e muitos anos viviam em paz com a natureza e nada lhes faltava.
Mas os enviados das Ordens Superiores não estavam para muitas conversas e logo
ameaçaram: «Bom, aceitem ou não, têm três dias para saírem daqui, pois que
virão forças poderosas para demolir tudo o que vos pertence, pois ninguém fala mais
alto que o petróleo. Ah! E a partir deste momento retirem todas essas bandeiras
e coloquem apenas esta vermelha e preta que é o símbolo da paz. Incrível! Então
não sabem que no califado só há lugar para uma bandeira? Bom, os camiões já
estão preparados para os carregarem para a nova centralidade do Zango. Aquilo
lá é muito bonito, não falta nada, e vive-se aprazível ao relento.»
E veio um poderoso exército comandado
por três generais para escorraçar tão escassa população. Não se poupava nada
nem ninguém. E o mais velho bradou: «Nesta república de uma só bandeira só
restam escombros e farrapos»
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