Diário da cidade dos leilões de escravos
06
de Fevereiro
A malvadez dos detentores das riquezas
do petróleo, dois mwangolés: «Já recebeste o teu salário?» «Ainda não, ainda
estão a pagar nos brancos.» Faz-se silêncio na tarde do calor do poder
ultrajante, sufocante. Carros de luxo conseguidos com a corrupção do petróleo
desfilam como numa passagem de modelos. O mwangolé que perguntou pelo salário
fica com ar sombrio e exclama: «Olha, alguns dos meus colegas amanhã não vão
trabalhar porque não têm dinheiro para pagar o táxi Hiace para o Talatona.
O descalabro do Eldorado: Cerca das dez
horas, no minimercado Pomobel na rua rei Katyavala: um português aí com trinta
anos de idade entra no estabelecimento, tira um bolo e começa a comê-lo com
avidez. Uma empregada chama-o: «Ó senhor, ó senhor, então não paga?» O português
não responde, apesar de mais tentativas de outras empregadas. Acabou de comer o
bolo e finalmente fala: «Quero água!» Uma mais velha presente condói-se: «Dêem-lhe
a água porque Deus está a escrever isto no livro Dele.» E o português foi-se
embora sem uma palavra.
07
de Fevereiro
É muito triste ver os mwangolés sem
emprego, e agora com o desastre do petróleo mais são abandonados, desempregados,
e os chineses aqui facilmente conseguem empregos. É muito triste!
Mais uma aberração angolana: o chinês
continua a serrar bocados de madeira, de ferro, de chapas de zinco e sucatas
que apanha no lixo. Porque até agora não foi possível encontrar um angolano que
saiba executar esse serviço.
Na rua da Liga Africana, no passeio da
loja de moda Bata, a quase centenária árvore desabou porque os mwangolés não
tendo onde fazer as suas necessidades, fazem-nas como os cães, nas árvores.
Será uma reacção em cadeia?, uma vez que as árvores estão assoladas pela urina
dos “cães” mwangolés?!
Muito, muito estranho: o FMI diz que
Angola deve aumentar os impostos – a receita habitual – e retirar os subsídios
aos combustíveis. Mas não ousa dizer para Angola acabar com a corrupção. É que
com corrupção não há receita que funcione.
08
de Fevereiro
Do Elpaís: na RDC, em Kavumu, na
província de Kivu do Sul. “Não param de violar as meninas de dois e de três
anos. Depois de violá-las e agredi-las fisicamente, são devolvidas ao lugar com
graves e dolorosas feridas. As idades das vítimas oscilam entre os quatro meses
e os 17 anos. No Congo, as violações são práticas comuns da magia negra; no
Uganda são frequentes as mutilações de órgãos e o canibalismo; e na Tanzânia,
os sacrifícios de albinos. Para eles, o sangue das virgens lhes limpam de enfermidades
como o VIH e lhes libertam da esterilidade; o sangue provê-lhes riqueza e trabalho
ou a subida de posição e do estatuto no caso de militares e de polícias; e
inclusos os maimais [rebeldes da zona] guardam em pequenos recipientes o sangue
e se untam em tempos de guerra, evitando que as balas os atravessem.”
Com todos a roubarem e na trapaça
nacional, Angola nunca será um país, será a terra prometida dos cambalachos.
09
de Fevereiro
José Laranjeira: “Quem estará a falar
verdade Norberto Braga? O BNA diz uma coisa e os Bancos dizem outra...”
A austeridade é a receita ideal para
fabricar terroristas.
E na TPA ouvi que algures em Angola
estão cem mil chineses. Logo pensei que isso significa que são cem mil
desempregados angolanos. Os novos saqueadores de Angola cumprem a sua nobre
missão.
Um bom pastor evita que o seu rebanho vá
para o precipício. Mas como temos muitos maus pastores é por isso que temos
muitos precipícios.
Nomear um ministro só porque esteve no
FMI, isso não prova nada. Não é isso que nos tira da miséria.
Quando tudo depende de uma só pessoa, é
isso que se chama ditadura.
10
de Fevereiro
Angola
vive momento de grande estabilidade política e social. José Eduardo dos Santos.
Uma modesta opinião: para sair da crise
têm que deixar de agir e pensar como comunistas. E os corruptos, os
responsáveis pelos nossos sofrimentos, a fome final já está aqui, que sejam de
imediato detidos e levados a julgamento e os seus bens confiscados. Mas não é
possível porque ainda não estamos num país normal, onde a oposição não passa de
um sonho, e as garras dos chineses são bem visíveis, medievais.
As quitandeiras já dizem que vamos
morrer à fome porque a caixa de carne entrecosto estava a 3.200 agora está a
oito mil kwanzas. A caixa de frango e de costeletas de porco congelado também.
A caixa de febras estava a quatro mil kwanzas agora está a dez mil. E os
clientes fogem do campo da exterminação de Luanda.
Já me contam relatos sobre os
salteadores do petróleo, posso dizer incríveis, que prenunciam a tragédia
trágico-petrolífera que se aproxima. Já estão a roubar no dinheiro dos salários
dos seguranças.
Será?! Norberto Braga: “É preciso por
ordem na casa! Os bancos comerciais estão a cativar os dólares. Os gerentes
estão a fazer negócio com os dólares. Eles pedem bilhete de passagem para
provar que o cidadão vai viajar. Formalizam o pedido, a remessa solicitada é
atendida, porém a corja cativa as divisas e comunicam ao cliente que o pedido
ainda não foi atendido por falta de divisas. O cliente vai embora. No entanto,
os malandros, executam a operação (uma vez que estão na posse da cópia do
bilhete de passagem do coitado). Canalizam os dólares para o circuito que já
anda bem montado. É vendido pela porta do cavalo a um valor altíssimo. Retiram
o lucro e ficam a caça da próxima vítima. É assim que eles trabalham... Cambada
de impostores!”
Há três dias que três geradores
monstruosos instalados na zona da Liga Africana, de um prédio com doze andares,
desses do luxo do petróleo brent, não param de funcionar, além do barulho,
parecem turbinas a jacto, e da poluição. Esta cidade é dos delinquentes da rua
e dos delinquentes do petróleo. O consumo do combustível dos três gigantescos
geradores quem o paga? Está subvencionado, só pode. Viver com monstros
disfarçados de pessoas não dá. Isto vai ficar uma chinesada daquelas.
11
de Fevereiro
O português vem com um segurança
mwangolé gorila e encontra um lugar livre para estacionar o seu carro. Mas um
mwangolé já antes o tinha sob mira e prepara a manobra de estacionamento do seu
carro. O português valendo-se do seu gorila, que salta do carro e brutalmente
grita: «Vai para o caralho!» O mwangolé pára, sai do seu carro e retruca:
«Estás a falar com quem!?» E não se intimidando com a presença do gorila
prossegue elevando o tom de voz esgrimindo os seus argumentos. O povo vai
passando e a contenda observando, vai-se amontoando. O gorila já estava
refugiado no carro do seu amo domador a dirigir, pronto para partir, fugir. A
aglomeração de pessoas tornou-se um veredicto desfavorável, imperdoável. O
português e o seu gorila aceleraram e marcharam, de uma grande surra escaparam.
12
de Fevereiro
O ouro está a 1.219.00, o Brent Crude
Oil a 54.66 e o WTI Crude Oil a 48.84 dólares. Coitados dos que só sabem
governar com os preços altos do petróleo, porque quando os preços baixam,
baixam... não sabem governar. Isto não pode continuar assim, com o governo dos
homens da mata, não podemos continuar dependentes de generais.
Agora também a Internet? Das 14 horas do
dia 11 até às 13 horas de hoje ficámos sem Net. O que se passou? Ninguém sabe,
como é de norma. Será da baixa dos preços do petróleo? Os chineses estão lá? Há
quem costume bem governar na desgraça de uma nação. E os chineses são hábeis nisso.
Miriam Almeida: “Deve ser deve... com tudo o q tenho visto já cheguei à
conclusão q o BNA n manda nada aqui, se mandasse os bancos n estavam a ter a
atitude deplorável q têm com os clientes.”
Para a oposição:
a política não é para pessoas medrosas.
A irmã da mana
Antónia é cega e vende rebuçados. Os gatunos chegaram e roubaram-lhe o saco dos
rebuçados. Deram-lhe cabo do negócio da fome.
Se chegou a hora
de sermos criativos, significa que em quarenta anos de Angola nunca houve
criatividade. O petróleo caía, - cai – do céu e fazia – faz - inferno.
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