Quem não me compreenda não compreenderá o rugido
do tigre.
Assassinei a Deus com minha preguiça minhas
palavras meus gestos e meus cantos obscenos.
A poesia nasce com o excesso, a desmesura, com a
busca perseguida pelo vedado.
Não me enterro num particularismo estreito. Mas
tampouco quero perder-me num universalismo descarnado. Há duas maneiras de
perder-se: por segregação amuralhada no particular ou por dissolução no
“universal”. Minha concepção do universal é a de um universal depositário de
todo o particular, depositário de todos os particulares, profundeza e
coexistência de todos os particulares.
África já não é, pelo diamante do infortúnio, um
negro coração que se estria; nossa África é uma mão fora do guante do púgil,
uma mão direita com a palma até adiante e os dedos muito juntos; é uma mão
tumefacta, uma-ferida-mão aberta, estendida, brancas, morenas, amarelas, a
todas as mãos, a todas as mãos feridas do mundo.
E sobretudo corpo meu e também alma minha, ficar
de cruzar os braços na atitude estéril do espectador, porque a vida não é um
espectáculo, porque um mar de dores não é um proscénio, porque um homem que
grita não é um urso que baila…
Sou o que canta com a voz algemada no suspiro
dos elementos. É doce ser nada mais que um pedaço de madeira, uma cortiça, uma
gotita de águas torrenciais do começo e do fim. É doce abandonar-se no coração
destroçado das coisas.
Se os negros não fossem um povo, digamos, de
vencidos, um povo de desventurados, um povo humilhado, etc.; se, se invertesse
a História e se fizesse deles um povo de vencedores não existiria a negritude.
Eu não defenderia a negritude, me pareceria insuportável.
Nós, homens de cor, neste preciso momento da
evolução histórica, tomados pela possessão, na nossa consciência, de todo o
campo de nossa singularidade e estamos prontos para assumir em todos os planos
e em todos os domínios as responsabilidades que se derivam desta tomada de consciência.
Fazei de mim o executor destas altas obras que
chegou o tempo de lutar como um homem valente mas fazendo-o, coração meu,
livra-me de todo o ódio, não façais de mim esse homem de ódio para quem só
tenho ódio.
Ao morrer o amanhecer… move-te, diz-lhe, focinho
de polícia, focinho de vaca, move-te, detesto os lacaios da ordem, às abelhas
da esperança.
Fonte: apanhado na Net
Imagem: http://saintheron.com/featured/black-history-month-musings-aime-cesaire/
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