República das torturas, das milícias e das
demolições
Diário da cidade dos leilões de escravos
Ano 1 A.A.A. Ano do Apocalipse dos Angolanos.
Diplomacia é a arte de exterminar povos.
O jovem Francisco, com vinte e tal anos, vende
chourição para se safar do que o petróleo já, nem nunca, lhe pode dar. Na
companhia de outro jovem também empreendedor do chourição, estavam em plena
aula laboral quando como uma rajada de vento ciclónico, polícias lhes caíram em
cima. Fizeram-nos embarcar no seu carro dizendo-lhes que iam para a
esquadra do Nzinga, ali para os lados do Largo Primeiro de Maio, para lhes
fazerem o registo, - não, não é registo eleitoral - dos seus pertences. Assim
uma espécie de auto de apreensão. Revistaram-nos de cima abaixo, ao Francisco
apreenderam-lhe o chourição, o telemóvel e treze mil kwanzas. Ao seu amigo não
deu para ver porque ele vendo o polícia sem porrete nem arma disse que ia à
casa de banho, então começa a correr para a liberdade, mas é apanhado,
retiram-lhe a roupa deixando-o completamente nu. Depois atiram-lhe água de uma
mangueira e três polícias dão-lhe porretada até se cansarem. O jovem saiu de lá
todo amassado. O Francisco que entrou lá às dezassete horas só saiu da prisão
às vinte e três, a pé até ao Cacuaco, porque tudo os que os polícias lhe
tiraram não lhe devolveram nada, distribuíram entre eles. O
Francisco tem mulher e filho, e agora completamente na miséria é mais uma
família que vai passar fome, juntar-se às fileiras do exército nacional dos
famintos. De salientar que também nesse espaço de tempo, vinte de Outubro de
2016, deram entrada na esquadra, quatro bandidos algemados e os polícias não
lhes fizeram nada, disseram-lhes que depois iriam para a esquadra da Ilha onde
seriam julgados.
Porra! Mas que merda é esta!? Olho para o
relógio, são três horas e trinta minutos da manhã, o barulho é daquele de
estremecer tudo, incluindo o de rebentar tímpanos, fazer subir a pressão
arterial, matar. Este satanismo já vai para três meses. É esta actividade da
banal barbárie que os satânicos impõem nas nossas vidas. O barulho da música
parece o de bater tampas dos contentores do lixo, vem da improvisada discoteca satânica
instalada nas traseiras do hotel Katyavala do general Ledi, na rua rei
Katyavala em Luanda. Satã está muito contente porque os seus discípulos satanizam
Luanda. É caso para dizer que quem está ligado ao poder não tem problemas, é da
lei deles satanizar tudo e todos. Alcoolismo e satanismo são a feliz parceria
que Satã apoia. Apesar da última legislação de que quem não deixasse ninguém em
paz com festas satânicas que os fiscais do Governo da Província de Luanda lhes cairiam
em cima. Mas, apesar das inúmeras queixas apresentadas à Polícia, não serve de
nada porque quem é do poder pode acabar com as nossas vidas conforme lhe
apetecer. O M não liga aos votos que perde e isso é muito preocupante, cheira a
futuro colossal esturro. Claro que isto não durará para sempre porque quando
uma tribo satânica pretende dizimar as outras, acaba por perecer como que por
artes mágicas que é só aguardar. Neste estado satânico de Luanda já nem dormir se
pode. E o dinheiro para essas festas de alcoolismo e satanismo, onde mais
velhos acompanhados de mocinhas ninfetas vem de onde? Dos nossos bolsos, claro,
com os impostos, taxas e a corrupção que nos caem em cima como moscas.
Se o Ocidente abandonou a África, com o que se
passa com o deixa andar das guerras eleitorais, significa que está cansado, que
a África é um caso sem solução.
No noticiário da rua circula que o M tem um
sistema secreto de tirar fotografias durante o acto de voto. E quem nele não votar
vão-lhe matar. Povo educado pela Igreja e igrejas fica assim.
No Novo Jornal: O Banco de
Desenvolvimento de Angola (BDA) acumulou perdas de 400 milhões de dólares em 10
anos de actividade, a maior parte deste dinheiro corresponde a empréstimos para
projectos em áreas como a agricultura e a indústria transformadora.
Há muitos, muitos bairros em Luanda que não têm
registo eleitoral, e nas províncias também. Sdiangane Mbimbi
De um bajulador de serviço na RNA, Rádio
Nacional de Angola, justificando o apocalipse de Angola, “estamos a aprender
democracia.”
De certeza absoluta que isto nada tem a ver com
Angola, “satisfação e motivação no trabalho são a base de tudo.”
Adalberto Costa, da Unita, “ há três meses que
os partidos políticos com assento parlamentar não recebem os seus subsídios.”
“Dizia um ministro francês, a propósito dos
levantamentos populares, que antes de se procurarem os chefes se procurassem as
ideias que sugeriam esse movimento. A luta do constitucionalismo com o
despotismo foi ferrenha e canibalesca; propagavam-se as ideias à cacetada,
calavam-se os descontentamentos com a forca, e era normal o confisco dos bens
dos que seguiam princípios opostos aos dos que usavam do poder. As ordens
religiosas, absorvendo cada vez mais a riqueza territorial pelas doações do
fanatismo, apoderavam-se das inteligências educando-as no sentido das doutrinas
que mais convinham à sua associação egoísta. Reinava a mediocridade nos
espíritos e a estupidez nas multidões. O povo, idólatra há dois dias, é hoje
filósofo, daquela filosofia da ignorância e de corrupção, que vós e só vós lhe
ensinastes. Se continuarmos a caminhar assim por esta estrada de perdição, o
lio mais forte da sociedade, o sacerdócio, desaparecerá; o templo do
Crucificado cairá em ruínas, mas a nação ficará esmagada debaixo delas. Ai dos
que abominam a cruz, porque a cruz é eterna. E o professor de certa Academia
célebre, que dava a razão de serem as viagens do Brasil mais demoradas de lá
para cá, do que de cá para lá, do seguinte modo: – Meus senhores, forçosamente
assim há-de acontecer, porque para lá desce-se; e para cá sobe-se. Quando
nas altas regiões do poder se desmente por tal modo as regras mais triviais do
bom governo; quando se tolera que os instrumentos da ordem pública se convertam
impunemente em instrumentos de anarquia; quando assim estalam os laços da vida
civil, ao homem honesto, mas inabilitado pela sua condição social para obstar a
esses abusos extremos, só resta encerrar-se no santuário da vida privada e
deplorar a ruína da república.” (In A Vida de Alexandre Herculano, de, Teófilo
Braga. História do Romantismo em Portugal II)
A cliente mais velha e de longos anos de um
minimercado conversa com a sua chefe, vê as prateleiras vazias e observa-lhe
que isso se deve à crise. Mas a chefe argumenta que para eles, do M, não há
crise porque eles têm dinheiro. Então termina com a pergunta, “qual crise?”
Pelo que se ouve daqui e dali, sugere que há
fraude no registo eleitoral e que está generalizada em todas as províncias.
Entretanto, a instabilidade política e social também alastra em todas as províncias.
E mais entretanto, um militante do M afirma categoricamente que sob nenhuma circunstância
o M deixará o poder.
E a oposição fala, fala… o M vai ganhar outra
vez folgadamente as eleições e tudo vai ficar como dantes, isto é, muito, muito
pior.
A seis dias do fim do mês de Outubro de 2016, já
vamos aqui na buala com dez cortes de energia eléctrica. De salientar que esta
área estava muito privilegiada mas pelos vistos deixou de o ser. Não se entende
como a governação insiste em que a energia eléctrica à cidade de Luanda não
teria mais problemas, excepto um ou outro corte de vez em quando, mas não é o
caso. Lá vamos outra vez, sempre, para a desgraça, para a república das
falências. Uma dúvida me assalta e que necessita de esclarecimento: Luanda
caminha para a Idade Média ou para a Idade da Pedra? Pelos factos verificados
do fingir que tudo funciona, é mais uma aposta governamental. Como disse André
Mingas, “é nacional, eu gosto, é bom.” Quer dizer, só haverá contentamento
quando tudo estiver destruído. Bem hajam!
Há duas Angolas, uma dos palácios e outra da
Idade Média, do desemprego, da miséria, da fome, etc.
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