Antes havia muito dinheiro, as coisas não
funcionavam. Agora as coisas também não funcionam porque não há dinheiro. Uma
outra coisa há: santa paciência.
Tudo faliu, tudo sumiu, e quer-se fazer crer que
em pouco tempo a crise provocada pela corrupção será corrigida, melhorada, mas
não, é que estas coisas demoram muitos anos. E andar de modo titubeante nas
promessas de saltar as barreiras impostas perante o intocável poder da
oligarquia petrolífera e demais oligarquias financeiras, não creio que se
consigam atingir os resultados prometidos do novo governo. Porque está refém do
grupo oligarca que de facto governa Angola, isto é, o tecido empresarial vive à
margem governamental. Como se fosse dois países, dois poderes, dois pesos e
duas medidas.
Sem exportações não há divisas e viver única e
exclusivamente do petróleo para abastecer uma máquina administrativa
pesadíssima, mais os órgãos castrenses e policiais, mais o não cumprimento das
regras financeiras internacionais, do deficiente sistema bancário e sobretudo
da corrupção instalada, que obvia o acesso aos dólares… Angola está falida.
Na constante diária, trabalhadores que são
despedidos, empresas que declaram falência. No aspecto empresarial a coisa vai
bem demais. O governo introduziu mais uma aposta, os despedimentos e as
falências das empresas. Ouve-se diariamente o cortejo dos despedidos e das
empresas falidas como se de um concurso se tratasse. Uma tragicomédia de
famílias tendo como sustento o desemprego, o abandono, como lixo atirado para a
rua. Sem garantias, sem o mínimo apoio de sobrevivência, pois neste Estado de
resquícios leninistas, não existindo fundo de desemprego… não existe nada. É a
terra do falta tudo, mas uma coisa não falta, aquilo que destrói nações, impõe
as falsas instituições democráticas. É isso mesmo, trata-se da única coisa que
funciona em todo o mundo… a corrupção.
As reservas líquidas internacionais caem imparáveis,
diminuem substancialmente. É mais uma aposta, de tal modo caiem aparatosamente
para não mais se levantarem. Quo vadis Angola? A miséria e a fome sabem-no
muito bem. Pois, é que vai vir aí uma grande fome, o nosso holomodor.
E no altar da corrupção as amantes safam-se
esbanjando riqueza na compra ou aluguer de apartamentos, com obras de restauro no
mínimo de cinquenta mil dólares, mais carro de luxo, vestuário, sapatos, tudo
luxuoso, perdulário, etc. Como diz o outro: “Isto é o país do pai banana.”
E ninguém ousa atacar este mal porque todos
comem do mesmo prato. Eis a solução para salvar este Estado falido: A Rádio Despertar
noticiou que no mercado do Quicolo, no Cacuaco, arredores a norte de Lunda., os
vendedores pagavam uma taxa semanal de mil e duzentos kwanzas. Chegou o novo administrador
que exigiu o pagamento diário da quantia supracitada, sob pena de que quem não
pagasse seria sumariamente despedido perdendo o direito ao seu lugar de venda.
Os vendedores fizeram manifestação na administração municipal porque, claro,
não têm dinheiro para pagar quantia tão exorbitante. Mas não se sabe como é que
a coisa ficou, se pior ou melhor.
Ditos na rua atribuídos ao PR João Lourenço:” A
partir de agora ninguém paga mais taxas de lixo. Fechem as prisões e abram os cemitérios.”
E tudo se faliu.
Três dias sem gasolina e duas semanas sem água
na cidade de Luanda. E outra vez mais uma semana nas Ingombotas e arredores. Já
paira no ar, isto parece que vai sair confusão por todo o lado.
Aguarda-se a todo o momento pela declaração
oficial da falência do Estado. O ESTADO FALIU!
A crise da corrupção atacou-me em cheio. De tal
modo que fiquei sem acesso à Net. O dinheiro vive apenas para alguns e algumas
que gostam de pavonear as suas exibições de riqueza. A vulgar e ridícula
matumbice de que têm dinheiro sem trabalhar. Enquanto os honestos, os únicos
que trabalham e sabem trabalhar, são abandonados, motivo de chacota. Onde se
vive da opressão da corrupção, há o imparável subdesenvolvimento da vitória da
mortalidade infantil.
Isto está pior que f.o.d.i.d.o, até angariar
recursos para a internet é um sonho. Mas estou muito convicto que piores dias
virão.
E depois com uma oposição política muito
fragilizada, isto não dá mesmo nada. É o descalabro moral, e muito mais
doloroso, o descalabro intelectual. Quem tem o cérebro instável é demente.
Viver, depender continuamente do que nos
informam através dos mais variados meios de informação partidarizados, resulta
naquilo que é ver que a realidade é bem diferente.
Ai dos que se deixarem levar por discursos
bonitos, de belas palavras, de promessas que a felicidade já está a chegar, já
chegou, será deles o reino dos infernos.
Se não deténs conhecimento, estás vivo, mas não
existes. Estás vivo porque comes e cagas, mas estás morto porque a tua cabeça é
um frangalho da manipulação do poder e da religião. E quanto tentas sair do
caminho caem-te em cima todos os santos de todos os dias, ou não sabes que cada
dia tem um santo padroeiro? Ó alma errante, levanta-te e caminha.
Esta é a terra do falta tudo, onde na corrupção
não falta nada. Onde a oposição morreu, paz à sua alma.
Porque é que nos comentários nas rádios, os
comentadores são sempre homens? Onde estão as mulheres? É como se não
existissem, isto é, estão totalmente, brutalmente dependentes em absoluto dos
homens. Portanto, passivas e submissas. A divisa dos vencidos: fé, esperança,
caridade.
Enquanto se mantiver a não separação dos
poderes, legislativo, executivo e judiciário, teremos sempre esta nação adiada.
E a lei dos crimes informáticos versa mais sobre
os crimes nas redes sociais?, mas o mais importante são os crimes das fraudes
informáticas, que abarcam um oceano, pretende-se minorar a questão, porque lá
reside a corrupção? Espero que não se fira a objetividade e que não caiamos na defesa
do estabelecimento da corrupção.
"Não haverá também liberdade se o poder de
julgar não estiver separado do poder legislativo e
do executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas
estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente… Por essa razão, em
um estado democrático as leis devem ser executadas com a finalidade de
manutenção do bem comum, caso contrário, tal estado precisará ser dissolvido…
Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são
executadas, pois boas leis há por toda a parte… Quanto menos os homens pensam,
mais eles falam… A consequência desse excesso é que os magistrados perdem sua
respectiva autoridade, passando a não ser respeitados. Os senadores não são
mais respeitados, os velhos também deixam de ser e, consequentemente, também
acaba o respeito pelos pais. Somado a isso, a corrupção do povo a partir da
igualdade extremada, aumenta quando os magistrados, também corrompidos,
escondem sua respectiva corrupção ocultando sua ambição através do elogio da
força e grandeza do povo. O principal objetivo do povo corrompido é o ‘tesouro
público’, visto que, esse dinheiro servirá para o sustento do luxo e ‘preguiça’
desse mesmo povo. Até a eleição pode ser comprada por dinheiro, assim, o povo
corre o grave risco de perder mais do que, aparentemente, ganha. As vantagens
alcançadas através da liberdade proporcionada pela corrupção podem ser perdidas
com o surgimento de um tirano que possuirá a reunião de todas as corrupções”.
(In O Espírito das Leis, Montesquieu, 1689-1755)
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