É nacional, irracional, é neocolonizado, eu
gosto!
Assim que a jovem princesa saiu, a rainha sentiu as asas da sua voz e
deu-lhe liberdade.
- Estou bem fodida com
esta princesa. Esta menina é um novo vírus epidémico para o meu reino.
Terei que apartá-la definitivamente antes que ela me tire a coroa. Enviá-la-ei para as calendas do reino
Tuga. Quem sabe, lá
amarre um branco que a engravide e por lá fique. Que Deus me dê a força do outro… do seu Reino.
Epok acompanha o início da construção da Grande Muralha do Palácio
Castelo-forte. Vê um
amontoado de gente. Pergunta
a um guarda:
- O que é que
esta multidão está aqui
a fazer?
- Estão à espera do lixo
que sai do Palácio… é a única coisa que
os alimenta.
- Lixo à espera
do lixo. Corram com
eles!!!
Com o grande muro,
as dimensões do Palácio
ficarão mais que
enormes. Nada
melhor que
os operários e engenheiros
da Dinastia CIF para construir
a Grande Muralha
do Grande Palácio.
Trabalharam dia e noite como os escravos
do Faraó. Afinal os chineses ainda não saíram dos tempos da grande escravatura.
Claro, a obra terminou antes do prazo previsto.
Epok não escondia a sua satisfação pela recente, mais uma, importação
de piranhas. Por
causa disso nasceu um incidente
diplomático com o reino
do Brasil. Receavam que as piranhas se extinguissem no seu
reino. Reivindicaram que as importações seriam suspensas por
ora. Em
sua substituição
propunham jacarés muito
mortíferos. Epok respondeu que era desnecessário. Neste reino
existiam jacarés a mais.
De dia e de noite, nas ruas e esquinas
espreitavam as suas presas para desferirem com
as suas mandíbulas
o ataque fatal.
O curioso nisto é que
a população protegia-os. Diziam que eram
feiticeiros disfarçados. Afirmavam que os animais
eram sagrados. Seriam ramificações do antigo Egipto? Só
um entendido
na matéria o saberá explicar.
Lembrou-se das parecenças de um caso acontecido com um
marquês, que
não se lembrava qual,
também não
interessa muito, os marqueses são tantos que se lhes
perde a conta. Bom,
o marquês entrou na desgraça
do rei. Nem
conseguiu ser nomeado para
uma reles embaixada.
Ficou pobre e infeliz abandonado. A sua esposa viu
a fortuna minguar,
até que
se extinguiu por completo.
Primeiro instruiu as suas
jovens filhas para
que conquistassem a qualquer
custo um marquês,
ou um
qualquer nobre endinheirado, de preferência já idoso.
Daqueles que só
entesam com umas boas chupadelas no seu sexo flácido, devido
em grande parte ao álcool
consumido.
Nada disto resultou. Falou com um feiticeiro que lhe disse para plantar em
casa, residia no primeiro
andar do que restava dum prédio, um embondeiro na varanda.
Assim fez. O embondeiro cresceu. As raízes já
rachavam a varanda. O feiticeiro tinha-lhe dito
que os culpados da sua
desgraça eram os vizinhos.
Assim as raízes cresceriam por todo o
prédio e anulariam o feitiço deles. Estava tudo bem. Já cambiava grandes
quantidades de dólares. Trocava de mobília todos
os meses.
Já estava,
podia-se dizer, rica.
O feiticeiro reclamou-lhe os seus direitos. Ela não lhe largava um vintém. Já não necessitava dele para nada. E aconteceu-lhe o imprevisto.
Ficou diabética. O médico
receitou-lhe tratamento rigoroso.
Especialmente abster-se de bebidas alcoólicas. Ela
entendeu que o médico
era maluco.
Decidiu beber cerveja
anormalmente. Tinham-lhe dito que isso
aceleraria a cura.
Teve o primeiro derrame
cerebral. De urgência
foi para um hospital real. Saiu
de lá zonza.
Assim se manteve. As suas amigas insistiam que
bebesse pouca cerveja.
Aumentou a quantidade. Novo
derrame cerebral.
Ficou ainda mais
zonza. Depois
foi-lhe cortado um dedo
do pé. Depois
outro. Estacionou por
enquanto. Mas
já não
dizia coisa com
coisa. O dinheiro, como que por artes
mágicas evaporou-se. De vez em quando
lembrava-se de afirmar que
os vizinhos eram os causadores
da sua desgraça.
Deixaram de lhe dar
importância. O feitiço
que procurou já
acabou. Misteriosamente o embondeiro secou sem
qualquer explicação.
Dizem que o feiticeiro
libertou o feitiço. A pobre
alma vagueia por
aí. Quem
sabe do seu segredo
exclama:
- Os que não
sabem procurar nunca encontram o que precisam.
Estava Epok a gozar estes
pensamentos quando é interrompido por
um mensageiro
do Rei.
- Chefe, o rei clama pela sua presença.
- Diz-lhe que daqui a uma hora lá
estarei… pelo menos daqui a quatro. O rei
vai ter muito
que esperar.
Epok imaginou que se considerava
o súbdito mais importante.
Sabia que o rei
dependia muito de si.
Era o único
do reino que
tinha intimidade
com ele.
Muito mais
com a rainha. Agora
sentia-se proscrito. O rei proibira-o de qualquer
intimidade com
a bela rainha.
Epok não podia, nem
devia, esconder a sua
insatisfação. Sentia-se demasiado leal.
Seria por isso?
- Chefe, chegou outro mensageiro do rei.
- Diz-lhe que demorarei mais uma hora.
Ele não
compra rádios
para comunicarmos. Receia que
alguém escute as conversas.
Arquitecta constantemente estratagemas de segurança.
Envia a guarda para
uma rua, aparece noutra. Simula que vai sair, não sai. Diz que
já saiu, mas
está lá dentro.
Põe toda a guarda
nas ruas, a escumalha aguarda-o, não aparece. Vai tranquilamente para
o seu jacto particular.
Desaparece, depois informa que já chegou
ao destino tal.
Este reino
está encoberto. Trabalhar
assim é uma merda.
Epok comparece na presença do rei. Este anuncia-lhe:
- Cavaleiro Epok, tive uma excelente ideia. Vou mandar construir uma grande
catedral de estilo gótico.
Chamar-se-á catedral do santo rei. Será bem dimensionada, agigantada para
acolher todas as religiões,
incluindo a nossa tradicional feitiçaria. Os locais
de culto serão
protegidos com grossas paredes de concreto para evitar os ataques à bomba, e os confrontos
sangrentos que
por certo
virão. Trata de encomendar
as estátuas que
serão feitas
de oiro. Os fiéis pagarão para acesso
uma taxa monetária.
Já vistes a mina
de oiro que isso
nos vai dar?
- É de facto mais uma excelente ideia, majestade. Só me preocupa onde
vamos arranjar uma imagem para
representar a nossa
feitiçaria.
- Qualquer coisa
serve. Uma cobra, um
jacaré, um
osso. Os parvalhões não
vão notar nada.
- Meu rei,
temos no reino uma empresa
que cobra
por estátua mais
ou menos
cem mil
dolo. Para não ficarem desempregados vou pedir-lhes para as construírem.
- Não, nada disso. Manda construir naqueles nossos
amigos do estrangeiro.
Cada uma custará um
milhão de dólares. E fazem-nos esse preço porque
somos amigos.
- Muito bem
magnânimo.
- Piranhar e elementar meu caro Epok…
tenho aqui uns decretos
reais para publicitares. Vou com
a rainha gozar
umas merecidas férias no reino do Brasil. Infelizmente
no meu reino
não há condições
para tal.
Creio que nunca
haverá. Entretanto fique de olho na princesa… e nos republicanos.
- Assim será meu
iluminado.
CAPÍTULO VIII
OS DECRETOS
Epok viu os decretos que
seriam publicados:
DECRETO REAL.
EXONERAÇÕES
No uso das minhas Reais faculdades,
por minha
conveniência, e ao abrigo das únicas competências que
me atribuo, exonero os seguintes Marqueses:
Marquês do
Desemprego, Marquês dos Vice-reinos, Marquês das Terras e Marquês dos Peixes.
Cumpra-se e dê-se à voz dos arautos
reais, do reino
e vice-reinos. Feito para sempre
neste reino. O Rei.
DECRETO REAL
NOMEAÇÕES E EXONERAÇÕES
No uso das minhas Reais faculdades,
por minha
conveniência, e ao abrigo das únicas competências que
me atribuo, exonero e nomeio:
Marquês das Sobras da Guerra,
para Marquês
do Desemprego. Este ocupa-se das Sobras da Guerra.
Marquês Sem Ciência,
para Marquês
dos Vice-reinos. Este ocupa-se dos Sem Ciência.
Marquês das Cantinas, para
Marquês das Terras.
Este ocupa-se das Cantinas.
Marquês dos Pasquins, para
Marquês dos Peixes.
Este ocupa-se dos Pasquins.
A instância do Cardeal
representante neste Reino da Igreja de Roma, o Marquês
do Santo Oficio acumula a função de compulsivamente
usar a polícia na busca
dos cidadãos que
recusarem os cultos. O Reino apoia sem reservas a Igreja de Roma. Pelo que, todos os lugares de culto
receberão enchentes de fiéis. É criado o novo cargo, Marquês dos Reais
Mosqueteiros-Mirins. Compete-lhe a obrigação de
efectuar o registo obrigatório das
crianças desde o seu
nascimento até à idade
juvenil. Nascerá um exército Real espartano para
defender com propósitos
bélicos os bons
costumes Reais.
Serão ensinados a denunciarem pais, mães,
namorados ou
namoradas, amigos, amigas, e qualquer outra
pessoa que não
esteja de acordo com
as Reais Leis.
Os gastos para
o seu orçamento
inicial e futura
manutenção serão como sempre ilimitados.
Cumpra-se e dê-se à voz dos Arautos Reais do Reino
e Vice-reinos. Feito para sempre
neste Reino. O Rei.
Epok intrigava-se
muito com os gastos que
se faziam nas cozinhas reais. Não era possível que os géneros durassem poucos
dias. Passou a vigiar
o pessoal. Perguntou a um cozinheiro:
- Os géneros não chegam porquê?
- Antes eram importados. O rei
disse que devíamos desenvolver
a nossa agricultura.
Criar empregos.
Só consumir produtos de produção local, real, assim falou ele. A questão
é que os nacionais chegam aqui em muito mau estado de conservação. Vai quase tudo para o lixo.
- Quando chegar o próximo abastecimento quero estar
presente.
- Sim, meu cavaleiro.
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