Um grupo de jovens aproximam-se. Cumprimentam:
- Boa noite
senhor Almirante.
- Por aqui a estas horas?
- Sim. Estamos a passear.
- Ó Móvel! Como é que vai o negócio dos telemóveis?
– Perguntou o Almirante.
- Bem, tenho aí alguns que vendo baratos.
- Nunca mais tens juízo.
- Tenho sim Almirante. Cheguei agora de Malanje e
fiz lá bom negócio.
- Quantos telemóveis roubaram?
- Ah! Ah! Não roubamos. “Compramos” e vendemos.
- Mostra lá a mercadoria.
- Vou buscar no carro.
O Móvel regressou com vários modelos de telemóveis.
Enquanto os mostrava, olhava receoso para todos os lados. O Almirante notou:
- Parece que estás com medo.
- A polícia anda atrás de mim.
- Sei que fizestes muitos roubos por aí. E deves
muito dinheiro que pediste emprestado e não pagas.
- Almirante, apenas roubei coisas sem muito valor.
Não sei fazer mais nada.
- Tal pai tal filho.
- Almirante quer comprar ou não?
- Queres-me obrigar a comprar coisas roubadas?
- Vendo muito barato.
- Não compro porque tenho direito a telemóveis
gratuitamente.
- Almirante, está-me a fazer pouco.
- De maneira nenhuma. Vi a mercadoria e não estou
interessado.
Estamos num navio com um grande rombo. Prestes a
afundar. – Profetizou o Presidente:
- Nós não temos ainda a garantia suficiente de
alimentação para todos os trabalhadores, não temos ainda garantia suficiente de
habitação para todos os trabalhadores. Temos, por exemplo, um problema que –
creio que todos o discutem hoje – que é a relação entre o salário e o custo de
vida. O custo de vida está elevado. Os salários, por vezes, não cobrem o
orçamento familiar e nestas circunstâncias há flutuações no trabalho. Nem
sempre os trabalhadores se conservam no seu posto, porque procuram melhores
condições, porque procuram viver cada vez melhor e é justo que assim seja.
Porque é que os preços são altos? Todos nós sabemos porquê. Há falta de géneros
no mercado, há uma produção insuficiente e aqueles que detêm alguma coisa
procuram ganhar o máximo. Isso obedece perfeitamente às leis da economia.
Quando há falta os preços sobem. Mas não é só isso. Há também a desonestidade
de alguns, que não põem à venda tudo aquilo que têm para oferecer ao público,
não oferecem ao comprador tudo aquilo que está no seu armazém. Fazem o seu
açambarcamento para vender em locais especiais e a pessoas especiais. Este
facto faz com que rareiem ainda mais os produtos no mercado. Que cada província
faça o possível para poder garantir a alimentação e o bem-estar dos cidadãos da
sua província. Estamos neste momento com problemas sérios quanto à educação das
crianças, dos jovens e dos adultos e a questão é simples. É que não temos
professores em número suficiente. Temos que evitar que os jovens, em vez de
trabalhar, irem – como direi – para as farras, em vez de estudar irem para as
farras. Mas não é só o desporto. É preciso pensar na construção ideológica do
nosso Povo, na construção material, na construção económica e social do nosso
Povo, porque sem isso nós estaremos a edificar qualquer coisa de falso, sem alicerces.
Eu tenho a certeza absoluta de que o nosso Povo, dentro de alguns anos, poderá
gozar de condições melhores, muito melhores do que aquelas que nós temos hoje,
apesar dos progressos já feitos. In Agostinho
Neto. 1 De Maio de 1979. Discurso do acto central do 1º de Maio.
O Almirante vira-se para outro jovem. Pergunta-lhe:
- E tu Antenas?
- Está tudo bem Almirante.
- Não está não jovem. Roubaste a minha parabólica e
fugiste para Malanje à espera que me esquecesse.
- Foi um empréstimo. Não tinha dinheiro para as
minhas damas. Já tenho aí uma nova. Depois vou montá-la.
- Faz isso rápido pá. Sabes que é muito fácil
atirar-te para um contentor.
- Sei Almirante.
- O descodificador que me vendeste é usado, e não
funciona bem.
- Amanhã vou instalar um novo.
- Esta juventude é o futuro da nossa desgraça.
Transformámos o nosso país num grande canteiro de
festas. Mortificou-se o Presidente:
- Medidas em que sentido? No sentido de nós
podermos honestamente realizar a nossa Revolução. Honestamente! Não temos que enganar
ninguém.
Camaradas, o que é que nós estamos aqui a fazer
para a produção? O que estamos aqui a fazer para que o Povo tenha a comida,
tenha medicamentos, tenha casas, tenha escolas, tenha assistência médica? O que
é que nós estamos a fazer? O nosso Governo e o nosso Partido precisam de dar
mais atenção aos problemas do Kuando Kubango. Vamos trabalhar mais aqui. Alguns
ministros do nosso Governo vão ter de aqui ficar para resolver os problemas das
populações. Ficarão um, dois, três meses. Nós não resolvemos os problemas das
populações. Não há roupa, não há escolas, não há hospitais. Nós vamos até ao
Rivungo e não há nada. Há mosca do sono. Porque não é possível camaradas,
trabalhar com uma segurança que oferece dúvidas acerca da protecção, aos nossos
compatriotas e tem hesitações quanto à nossa política de clemência. Quantas
pessoas, hoje, se queixam da DISA? Justa ou injustamente… Mas queixam-se. Não
há nenhuma semana que eu passe sem receber cartas de famílias a dizer que «o
meu filho desapareceu». Depois, camaradas, eu não sei o que vou responder. O
que é que eu hei-de dizer? Eu é que sou o responsável. Quando desaparece um
filho, um pai, um avô, uma mulher, um cunhado, etc., eu é que sou o
responsável. E o que é que eu vou dizer? Alguns que estão nas cadeias estão
muito bem lá; é melhor estarem lá do que cá fora. Mas nem todos… Precisamos de
resolver esta situação. Temos de ver bem como é que a nossa segurança vai
trabalhar no futuro. Pretendemos resolver a partir de Luanda muitos problemas
mas não é de Luanda que nós podemos resolver os problemas do Kuando Kubango.In Agostinho Neto. 26 De Julho de 1979. Discurso na cidade do Menongue.
O Poeta enaltece:
- Meus irmãos. Meus apóstolos. Dezembro
aproxima-se. Como vou para o estrangeiro, deixo aqui o meu voto.
Noite
silenciosa
Noite ruidosa/ violenta/ sem Jesus (que fugiu) /
com tiros e música de canhões/ com muita bebida/ com muitos maridos/ e muitas
esposas/ com filhos sem pai/ a ouvirem falar/ dos preços altos do petróleo/ a
educação, saúde e agricultura/ ao desbarato, em baixo
Nesta Nova Orleães/ cantamos pelas ruas/ o nosso
jazz vigoroso/ trovejante reinventado
Nesta noite ruidosa/ violenta/ que Jesus abandonou
O Filósofo glorifica:
- Não gosto de natais e anos novos, porque trazem
muitas mortes. Na verdade não trazem reunião de famílias, mas muita desunião e
sofrimento. Acidentes de carro, aviões que caiem, navios que afundam e outras
desgraças. Devemos acabar com este horror. Este negócio moderno da morte. Um
óbito uma festa, dois óbitos duas festas… muitos óbitos muitas festas. Não
beberias tanto nestas datas se soubesses os estragos que causas àqueles que te
amam. Delenda Carthago.
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