Parafraseando: violentas se dizem das populações
espoliadas, mas não se diz violento o poder que as espolia.
Introdução
Vim ao mundo no
reino Jingola, mais um
quilombo de concentração de renda…
algures no Golfo da Guiné, onde o cinismo e a hipocrisia
se institucionalizaram de tal modo que facilmente ultrapassam o Monte Kilimanjaro. Por mais que tente não consigo
distinguir se é um reino,
uma república, um principado ou qualquer
outra coisa atípica. Também ninguém sabe o que
é, ou o que
será. Actualmente é uma ilha cercada
de fortificações por
todos os lados. Tem petróleo,
diamantes, e uma trilogia informativa
dona absoluta dos céus que nenhum medicamento ainda conseguiu desintoxicar. Uma
rádio, uma televisão, e um jornal para que a aspereza
da nobreza permaneça vitalícia.
É-me extremamente difícil andar
constantemente sob os aguçados, apontados fios dos canos das armas sempre
apontadas e que ao menor estrilo… nos lembram que se usam para nos liquidarem.
Dum lado fome,
do outro miséria. Por cima estado de sítio, por baixo
repressão. Atrás polícia, à frente
prisão. É árduo, dizem os tiranos, é o caminho
da desolação. *
*(alusão à obra de W.S. Maugham, O Fio da
Navalha.)
Sinceramente… que me desentendo! Primeiro os portugueses,
depois os russos, cubanos e mais os do Leste europeu com as suas comunas da
Idade Média. A seguir alguns negros no conluio outra vez com os colonizadores
que me arrastam para o pau, para apanhar
outra vez tautau. Amarram-me as mãos mais fortemente que antanho, inundam-me de
nu na cintura outra vez. Repetem-se com o chicote e batem-me nas costas, que até parece serpente, e esticam-na de língua afiada.
O neocolonizador lança-a com força, como se fosse um
dardo, e não se cansa de tanta repetição. As minhas
costas já têm o calejar de tanto apanhar. Evito com dificuldade
que não
me bata
nos seios,
porque receio
desfear. Porque depois o meu príncipe não me namorará, bolinará, abandonar-me-á e objectará: «os
teus seios, os colonos te roubaram com eles… então lhes volta…. Não te desejo!»
Depois das primeiras chicotadas perdi o sentimento da dor. Desvio o pensamento para o mais profundo
da minha floresta,
e lá está o rio da minha
meninice. Vejo-me nele a pescar, e depois peixe para secar. E encanto-me com o meu
canto: o que parece um pássaro xirico
desencanta-me, apoquenta-me.
Estou super cansada, à espera
do momento eterno.
Sentada, ainda instalada no meu tijolo,
a única sobra da demolição do meu casebre. A noite
olha-me de soslaio, convicta da minha vã magnificência. Só
as noites são
magníficas, eternas, nós somos apenas seus passeantes
e efémeros convidados.
Porque é que o nosso cérebro
se sente feliz quando
“ouve” música?!
Falta serenidade
no meu mundo de casebres tão amaldiçoado, e constantemente pelos mesmos
inimigos ameaçado. A História ensina-nos
a mesmice, e por isso mesmo desentendo porque
nos deixamos por
eles dominar,
escravizar. Se são
sempre os mesmos,
e já o sabemos, porque
aceitamos a sua eterna
condenação de nos
matarem, e de nos inundarem de luar e fome? É porque
preferimos viver na eterna violência das revoluções.
Gostamos de pegar, lutar
com armas
para matar, fazer infindáveis revoluções por causa da fome.
Acabamos uma revolução… e damo-nos outra vez conta, que os nossos dentes não têm nada para mastigar. Somos os eternos idiotas
da nossa História.
Gil Gonçalves
Só haverá paz em Angola quando desmontarmos a
estrutura ortodoxa marxista-leninista do Politburo. Porque o colonialismo e a
escravidão ainda não acabaram não. É imperiosa a fundação de outro movimento de
libertação.
Ai nosso querido e exemplar Zimbabué! Ainda não lá
chegámos?! Já! Tal e qual, muito mais infernal, ao Zimbabué aportaremos,
abordaremos. As nossas mentes já são sementes zimbabueanas. Com elas os nossos
campos lavraremos, sulcaremos, pejaremos nos cadáveres das partituras sem
estruturas dos casebres.
Cumprimos a vontade milenar dos nossos sagrados ancestrais.
Miserar, nas trevas concentrar todos os que já não são, que ainda restam de
esfarrapados famélicos, moribundos povos enterrados nas cercanias palacianas dos
nababos petrolíferos. Governantes travestidos de ouro negro dos excedentes
petrolíferos e diamantíferos que investem em campos de concentração, para
concentrar a população. Exímio nazismo negro especializado nos comités de especialidade
do mais fácil intemporal sacerdotal: Matar! Matar!
Espoliam-nos às claras, claramente, ostensivamente.
Com o beneplácito dos amigos, nossos inimigos. Os sempre destruidores, apoiantes,
lidadores. Desconseguimos saber que já o zero absoluto atingimos, não somos
nada, ninguém O que fazemos?! Não sabemos! Então para que governamos? Para
alimentar a ilusão popular que vem aí a Nova Vida. Que tudo vai melhorar mas,
outro terrifico Zimbabué está a chegar e vamos nele mergulhar.
Necessita de um campo de concentração? Contacte em
qualquer ponto de Jingola uma agência do Politburo, o líder mundial na
construção de campos de concentração. Obrigado pela preferência. Garantimos
soberba destruição.
Na capital do reino Jingola reiniciaram os trabalhos
para a instalação da energia eléctrica experimental. O americano Edison disponibilizou
a patente, que roubou a Nikola Tesla, desta extraordinária invenção. Ainda a 130
e com um pico máximo de170 volts, pelo sim pelo não os sem casebres continuam
refugiados nos candeeiros a petróleo e nas velas. A energia eléctrica está,
sente-se como o poder. Tão esquizofrénica, tão enfraquecida, tão psicopática,
tão patogénica, tão epidémica. Sem energia eléctrica vamos para onde?! Para
lado nenhum! Não!.. para o Zimbabué!
Não há dinheiro para construir casas mas, não falta
para os estádios de futebol e para mais desperdiçar milhões com treinadores. O
fascista, colonialista Salazar mandou construir casas económicas. E ainda estão
de pé. O estalinismo do Politburo continua a deportar populações para os campos
de concentração de Jingola. São ténues governantes a montante e a jusante do
sistema que inventaram e neles concentraram. Governantes da maiuia
(meia-tijela) que actuam como se todos o fossemos. De matilhas de nababos e
desconjuntados se instalam. E já cantam: «Brevemente tudo será nosso e nada nos
escapará. A negralhada aviltada empurra-se para o mar, e nele se vão afogar.»
Que os jingolanos não prestam, que são boçais. Mas os brancos de outras cores
apenas se aproveitam dessa forçada condição. Serve-lhes de proveito para
continuarem a secular pilhagem e escravidão. Estes governantes que nos deportam
nada têm a ver com o 11 de Novembro da independência. A espoliação da ilha de
Luanda prova uma vez mais que: ser banqueiro é fácil, qualquer idiota o é.
Afinal, tão tosco roubar não exige intelecto. E são sempre os mesmos a
prometerem, a dizerem as mesmas coisas. Governados por generalistas só vamos
para um lado... nunca alcançaremos nenhum. Cada dia que passa tudo se complica.
Estão tudo e todos abandalhados, tão desprezados. Isto não está nada bom, não.
Pressente-se o temor que de um momento para o outro a terra Jingola tremerá.
Isto está insustentável e polícia e exército serão insuficientes e ineficientes.
Estamos tolamente, totalmente desgovernados, encalhados num mar tormentoso. Mas,
os governantes esforçam-se na aventura do analfabetismo, qual cérebro que não funciona
com tanto barulho dia e noite. Cérebros que já não o são, de tão apodrecidos. E
assim tudo se acabará… nem sequer se iniciará. Esta fantástica barulheira
revela que estamos perante mais um país de brincar, mais um estado-falhado. Depois
não repitam à bolchevique que foi Jonas Savimbi que destruiu, que demoliu
Jingola. Nós, os do Politburo, estamos na libertação da pátria, construindo o
socialismo sem trabalhadores. E estes espaços demolidos são agora do povo, nós
os libertamos do capitalismo, são espaços para a criação da nova pátria, como diria
outro Hugo Chávez. Na segunda guerra mundial num campo de concentração nazi,
momentos antes do envio para a câmara de gás, um rabi eleva as mãos ao céu e
clama, convicto: «Ó Deus mostra-lhes o teu poder!» Mas nada acontece.
Desanimado, entoa convincente: «Ah… Deus não existe!»
Nesta Jingola, a cada momento ultrapassado tudo se torna
tão complicado. Estamos abandalhados, desprezados pelos urros dos discursos vigiados
que apunhalam o nosso sono já quase moribundos. Esses sons azedos, coloniais,
escravos das construções dos prédios desviados do petróleo deles e só para
eles. Até as noites nos corromperam, nos espoliaram. São os vampiros das noites
que sugam os mártires dos nossos deslocados, abandonados em mais um campo de
concentração diário. Nesta Jingola pintada de negro sem futuro. Sempre com os
dedos calejados de tanto carregar nos gatilhos das armas enferrujadas que nos
apreendem, nos surpreendem, nos prendem sem culpa formada, que a esmo nos
eliminam.
Está tudo tão podre, incompetente, irresponsável e tão
selvaticamente, eternamente implantado nos palácios da miséria. Caramba!
Corrupção agigantada, não contabilizada, que até da noite fazem nascer selvas. «A
falta de transparência manter-se-á com a resistência em organizar legalmente os
técnicos de contas nacionais e das empresas nacionais de auditoria poderem
fazer auditoria às grandes empresas nacionais. Projecta igualmente o Governo
estar impune à falta de cumprimento do regime de prestação de contas
estabelecido, de acordo com a Lei do OGE.» In
OGE 2005 fpdangola.blogspot.com/
É que esta nau abortou num porto tão lodaçal, que faz
muito bem lembrar por analogia, a actual irmandade de Portugal. Que deram-se as
mãos ao bananal do subdesenvolvimento e os dois governos pantanosos cheiram a
podre de muito longe. E das ruínas dos imponentes prédios coloniais saem
contínuos jactos de águas baldeadas, imundas do primeiro ao que resta dos
outros andares. O chapinhar é intenso mas tudo e todos permanecem impassíveis,
impossíveis no sabor da mais pura selvajaria. É mais esta palavra de ordem
silenciosa. Destruir tudo o que resta é preciso. O nosso mestre, ainda no Poder
Popular, assim nos doutorou e desunidos nos perderemos. Tamanha miséria moral e
material para atacar. Mas não… espalhar estádios de futebóis com o dinheiro que
resta do fundo a afundar-se. Apenas para manter a glória efémera dos caudilhos
desta praça de armas. «O sociólogo critica, com dureza, a incompetência que
campeia pelos corredores das universidades, de professores e estudantes; diz
que de cada cem novos licenciados, em média apenas dez têm qualidade
aceitável.» In Paulo de Carvalho, sociólogo, em entrevista ao semanário, O PAÍS.
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