quinta-feira, 28 de junho de 2012

OS JASMINS DA LWENA (01)



Parafraseando: violentas se dizem das populações espoliadas, mas não se diz violento o poder que as espolia.

Introdução

Vim ao mundo no reino Jingola, mais um quilombo de concentração de renda… algures no Golfo da Guiné, onde o cinismo e a hipocrisia se institucionalizaram de tal modo que facilmente ultrapassam o Monte Kilimanjaro. Por mais que tente não consigo distinguir se é um reino, uma república, um principado ou qualquer outra coisa atípica. Também ninguém sabe o que é, ou o que será. Actualmente é uma ilha cercada de fortificações por todos os lados. Tem petróleo, diamantes, e uma trilogia informativa dona absoluta dos céus que nenhum medicamento ainda conseguiu desintoxicar. Uma rádio, uma televisão, e um jornal para que a aspereza da nobreza permaneça vitalícia.

É-me extremamente difícil andar constantemente sob os aguçados, apontados fios dos canos das armas sempre apontadas e que ao menor estrilo… nos lembram que se usam para nos liquidarem. Dum lado fome, do outro miséria. Por cima estado de sítio, por baixo repressão. Atrás polícia, à frente prisão. É árduo, dizem os tiranos, é o caminho da desolação. *
*(alusão à obra de W.S. Maugham, O Fio da Navalha.)
Sinceramente… que me desentendo! Primeiro os portugueses, depois os russos, cubanos e mais os do Leste europeu com as suas comunas da Idade Média. A seguir alguns negros no conluio outra vez com os colonizadores que me arrastam para o pau, para apanhar outra vez tautau. Amarram-me as mãos mais fortemente que antanho, inundam-me de nu na cintura outra vez. Repetem-se com o chicote e batem-me nas costas, que até parece serpente, e esticam-na de língua afiada. O neocolonizador lança-a com força, como se fosse um dardo, e não se cansa de tanta repetição. As minhas costas já têm o calejar de tanto apanhar. Evito com dificuldade que não me bata nos seios, porque receio desfear. Porque depois o meu príncipe não me namorará, bolinará, abandonar-me-á e objectará: «os teus seios, os colonos te roubaram com eles… então lhes volta…. Não te desejo!»
Depois das primeiras chicotadas perdi o sentimento da dor. Desvio o pensamento para o mais profundo da minha floresta, e lá está o rio da minha meninice. Vejo-me nele a pescar, e depois peixe para secar. E encanto-me com o meu canto: o que parece um pássaro xirico desencanta-me, apoquenta-me.
Estou super cansada, à espera do momento eterno. Sentada, ainda instalada no meu tijolo, a única sobra da demolição do meu casebre. A noite olha-me de soslaio, convicta da minha vã magnificência. Só as noites são magníficas, eternas, nós somos apenas seus passeantes e efémeros convidados.
Porque é que o nosso cérebro se sente feliz quando “ouve” música?!

Falta serenidade no meu mundo de casebres tão amaldiçoado, e constantemente pelos mesmos inimigos ameaçado. A História ensina-nos a mesmice, e por isso mesmo desentendo porque nos deixamos por eles dominar, escravizar. Se são sempre os mesmos, e já o sabemos, porque aceitamos a sua eterna condenação de nos matarem, e de nos inundarem de luar e fome? É porque preferimos viver na eterna violência das revoluções. Gostamos de pegar, lutar com armas para matar, fazer infindáveis revoluções por causa da fome. Acabamos uma revolução… e damo-nos outra vez conta, que os nossos dentes não têm nada para mastigar. Somos os eternos idiotas da nossa História.
Gil Gonçalves


Só haverá paz em Angola quando desmontarmos a estrutura ortodoxa marxista-leninista do Politburo. Porque o colonialismo e a escravidão ainda não acabaram não. É imperiosa a fundação de outro movimento de libertação.
Ai nosso querido e exemplar Zimbabué! Ainda não lá chegámos?! Já! Tal e qual, muito mais infernal, ao Zimbabué aportaremos, abordaremos. As nossas mentes já são sementes zimbabueanas. Com elas os nossos campos lavraremos, sulcaremos, pejaremos nos cadáveres das partituras sem estruturas dos casebres.
Cumprimos a vontade milenar dos nossos sagrados ancestrais. Miserar, nas trevas concentrar todos os que já não são, que ainda restam de esfarrapados famélicos, moribundos povos enterrados nas cercanias palacianas dos nababos petrolíferos. Governantes travestidos de ouro negro dos excedentes petrolíferos e diamantíferos que investem em campos de concentração, para concentrar a população. Exímio nazismo negro especializado nos comités de especialidade do mais fácil intemporal sacerdotal: Matar! Matar!

Espoliam-nos às claras, claramente, ostensivamente. Com o beneplácito dos amigos, nossos inimigos. Os sempre destruidores, apoiantes, lidadores. Desconseguimos saber que já o zero absoluto atingimos, não somos nada, ninguém O que fazemos?! Não sabemos! Então para que governamos? Para alimentar a ilusão popular que vem aí a Nova Vida. Que tudo vai melhorar mas, outro terrifico Zimbabué está a chegar e vamos nele mergulhar.
Necessita de um campo de concentração? Contacte em qualquer ponto de Jingola uma agência do Politburo, o líder mundial na construção de campos de concentração. Obrigado pela preferência. Garantimos soberba destruição.
Na capital do reino Jingola reiniciaram os trabalhos para a instalação da energia eléctrica experimental. O americano Edison disponibilizou a patente, que roubou a Nikola Tesla, desta extraordinária invenção. Ainda a 130 e com um pico máximo de170 volts, pelo sim pelo não os sem casebres continuam refugiados nos candeeiros a petróleo e nas velas. A energia eléctrica está, sente-se como o poder. Tão esquizofrénica, tão enfraquecida, tão psicopática, tão patogénica, tão epidémica. Sem energia eléctrica vamos para onde?! Para lado nenhum! Não!.. para o Zimbabué!
Não há dinheiro para construir casas mas, não falta para os estádios de futebol e para mais desperdiçar milhões com treinadores. O fascista, colonialista Salazar mandou construir casas económicas. E ainda estão de pé. O estalinismo do Politburo continua a deportar populações para os campos de concentração de Jingola. São ténues governantes a montante e a jusante do sistema que inventaram e neles concentraram. Governantes da maiuia (meia-tijela) que actuam como se todos o fossemos. De matilhas de nababos e desconjuntados se instalam. E já cantam: «Brevemente tudo será nosso e nada nos escapará. A negralhada aviltada empurra-se para o mar, e nele se vão afogar.» Que os jingolanos não prestam, que são boçais. Mas os brancos de outras cores apenas se aproveitam dessa forçada condição. Serve-lhes de proveito para continuarem a secular pilhagem e escravidão. Estes governantes que nos deportam nada têm a ver com o 11 de Novembro da independência. A espoliação da ilha de Luanda prova uma vez mais que: ser banqueiro é fácil, qualquer idiota o é. Afinal, tão tosco roubar não exige intelecto. E são sempre os mesmos a prometerem, a dizerem as mesmas coisas. Governados por generalistas só vamos para um lado... nunca alcançaremos nenhum. Cada dia que passa tudo se complica. Estão tudo e todos abandalhados, tão desprezados. Isto não está nada bom, não. Pressente-se o temor que de um momento para o outro a terra Jingola tremerá. Isto está insustentável e polícia e exército serão insuficientes e ineficientes. Estamos tolamente, totalmente desgovernados, encalhados num mar tormentoso. Mas, os governantes esforçam-se na aventura do analfabetismo, qual cérebro que não funciona com tanto barulho dia e noite. Cérebros que já não o são, de tão apodrecidos. E assim tudo se acabará… nem sequer se iniciará. Esta fantástica barulheira revela que estamos perante mais um país de brincar, mais um estado-falhado. Depois não repitam à bolchevique que foi Jonas Savimbi que destruiu, que demoliu Jingola. Nós, os do Politburo, estamos na libertação da pátria, construindo o socialismo sem trabalhadores. E estes espaços demolidos são agora do povo, nós os libertamos do capitalismo, são espaços para a criação da nova pátria, como diria outro Hugo Chávez. Na segunda guerra mundial num campo de concentração nazi, momentos antes do envio para a câmara de gás, um rabi eleva as mãos ao céu e clama, convicto: «Ó Deus mostra-lhes o teu poder!» Mas nada acontece. Desanimado, entoa convincente: «Ah… Deus não existe!»

Nesta Jingola, a cada momento ultrapassado tudo se torna tão complicado. Estamos abandalhados, desprezados pelos urros dos discursos vigiados que apunhalam o nosso sono já quase moribundos. Esses sons azedos, coloniais, escravos das construções dos prédios desviados do petróleo deles e só para eles. Até as noites nos corromperam, nos espoliaram. São os vampiros das noites que sugam os mártires dos nossos deslocados, abandonados em mais um campo de concentração diário. Nesta Jingola pintada de negro sem futuro. Sempre com os dedos calejados de tanto carregar nos gatilhos das armas enferrujadas que nos apreendem, nos surpreendem, nos prendem sem culpa formada, que a esmo nos eliminam.
Está tudo tão podre, incompetente, irresponsável e tão selvaticamente, eternamente implantado nos palácios da miséria. Caramba! Corrupção agigantada, não contabilizada, que até da noite fazem nascer selvas. «A falta de transparência manter-se-á com a resistência em organizar legalmente os técnicos de contas nacionais e das empresas nacionais de auditoria poderem fazer auditoria às grandes empresas nacionais. Projecta igualmente o Governo estar impune à falta de cumprimento do regime de prestação de contas estabelecido, de acordo com a Lei do OGE.» In OGE 2005 fpdangola.blogspot.com/

É que esta nau abortou num porto tão lodaçal, que faz muito bem lembrar por analogia, a actual irmandade de Portugal. Que deram-se as mãos ao bananal do subdesenvolvimento e os dois governos pantanosos cheiram a podre de muito longe. E das ruínas dos imponentes prédios coloniais saem contínuos jactos de águas baldeadas, imundas do primeiro ao que resta dos outros andares. O chapinhar é intenso mas tudo e todos permanecem impassíveis, impossíveis no sabor da mais pura selvajaria. É mais esta palavra de ordem silenciosa. Destruir tudo o que resta é preciso. O nosso mestre, ainda no Poder Popular, assim nos doutorou e desunidos nos perderemos. Tamanha miséria moral e material para atacar. Mas não… espalhar estádios de futebóis com o dinheiro que resta do fundo a afundar-se. Apenas para manter a glória efémera dos caudilhos desta praça de armas. «O sociólogo critica, com dureza, a incompetência que campeia pelos corredores das universidades, de professores e estudantes; diz que de cada cem novos licenciados, em média apenas dez têm qualidade aceitável.» In Paulo de Carvalho, sociólogo, em entrevista ao semanário, O PAÍS.


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