Vivemos, mas muito raramente os nossos desejos
se cumprem. E contudo continuamos nessa regressão, porque adoramos viver na
ilusão dos desejos irrealizáveis. Procuramos sempre o que não encontramos,
fingimos que existe sempre um caminho que nos conduz à salvação. Mas, a nossa
libertação está no infinito do nosso íntimo amor. Só que não temos coragem para
o declarar, porque tudo à nossa volta se degrada. Quando decidiremos
reencontrara o amor?
O lucro é inimigo da civilização, pois para
existir, sobreviver, usa a destruição do nosso planeta. Constantemente enche a
Terra de feridas, pois é dela que se extrai o húmus que se transforma em
dinheiro para enriquecimento de alguns e a miséria dos outros. Apesar de há
muito se emitirem constantes alarmes de que continuar a viver assim, na
espoliação desordenada da Terra, surgiria o final trágico. E parece que
conseguiram destruir o que ainda nos restava: uma ténue esperança.
Entretanto no reino dos répteis, o Mor dos
dinossauros apresenta o seu lamento à teia réptil:
- Mas não dá para entender… porque é que eles
nos querem acender, incendiar? Se nós somos um órgão especializado de
informação e só pensamos no nosso povo. O meu Jornal do Povo é o único que
chega a todas as latitudes, sempre em todos os tempos, em todos os lugares e em
todas as horas. Temos a nossa obra-prima, a página onde os nossos leitores se
extasiam no obituário. Somos o único diário, o melhor, o da imprensa
excepcional. Nem concorrentes temos, porque também ninguém se ateve a
desafiar-nos. Mais uma coisa lhes garanto: vamos incendiar Jingola, isso é uma
vitória certa, adquirida. Daqui, nunca sairemos da Pedra deste Jornal do Povo
Jingola.
- Tá bom, Mor! Nós também estamos em todas. Aliás o nosso
mote é preciosamente o informar com verdade. Uma rádio de Norte a Sul na nossa
Gonduana. Informamos o que nos convém, melhor, claro, que não vamos noticiar em
pormenor o que se passa no Egipto e noutras praças contestatárias,
revolucionárias. Não queremos apressar o fim da nossa ditadura exemplar. No
fundo tudo se nos passa por uma mera questão réptil.
- Pois é, nós por aqui na nossa TV, também a
única de âmbito nacional, de universo gonduano, não sabemos bem como gerir,
melhor, digerir, tragar, as imagens do colapso das outras ditaduras, incluindo
a nossa que também vai acabar… calma Mor… também entre nós não se pode emitir
opinião? Caramba! Já estavas com o telemóvel para ligares para a secreta, é pá,
deixa-te disso! Como sempre, nós somos o único país do mundo onde nada nos
acontece. Essas coisas da Síndroma Tunísia aqui nunca chegarão. Um exemplo: se nem
o desastre da economia global nos atingiu, quanto mais uma aventura de um
punhado de revoltosos que querem desestabilizar a nossa democracia.
E de repente ouve-se grande vozearia no
exterior. Ouvem-se perfeitamente gritos de uma multidão de manifestantes que
exige:
- Abaixo a ditadura, não os queremos mais no
poder!!! Os vossos dias estão contados!!!
E os répteis olham uns para os outros,
espantados, de olhos esbugalhados e gritam em uníssono:
- Acabou-se o nosso decrépito tempo, eis que
outro avassalador, anunciador, nos chega de levante. Ai! Meu Diabo! Afinal há
tempo para matar, e tempo para as ditaduras derrubar!
Os ditadores são como as bananas podres… não
têm futuro.
Ditador, é ainda também, uma profissão de alto
risco nada compensadora, porque os prejuízos finais não justificam os lucros
actuais.
Eis que a espada de Damocles surge e
suspende-se de modo extraordinariamente perigoso, no lamento de profundo
veredicto, verídico de quem já não tem mais aspirações e esperança no dia de
hoje, quanto mais no de amanhã que não existe: «Toda a gente se está a queixar.
Os chineses também andam na zunga (venda ambulante nas ruas) e nós, estamos a
ficar sem negócio. Isto está muito mal, os estrangeiros nem na nossa terra nos
deixam vender. Estão-nos a roubar tudo».
E os ditadores ainda remanescentes, com os seus
regimes mais retrógrados, ditatoriais, proíbem qualquer manifestação.
Mesmo que seja um profissional muito
competente, a profissão de ditador já não tem futuro. Mas há sempre alguns que
resistem, para finalmente verem os seus bens que pilharam das suas populações
promovidas à escravidão, irremediavelmente congelados.
Ditador: tu que insistes na ditadura, resigna e
abandona o poder, deixa-o nas mãos da democracia. Entrega-o já, que ainda te
safas. Se insistires, terás o mesmo dos caídos. Telefona já ao Barack Obama,
que ele te aconselhará qual o melhor, entre os piores muros de Berlim da tua
desdita.
Por aqui, sempre ao acordar pela manhã, sinto o
peso constante do chumbo da ditadura do regime, e da ditadura dos chineses,
brasileiros e portugueses, etc., e depois sorrio, porque a liberdade não
demorará, e a ditadura e os seus apoiantes serão inevitavelmente derrotados. A
liberdade e a democracia triunfarão.
Se continuarem no jogo ditatorial, estarão a
remar contra a maré da História. E nesta contenda não existe jangada do
desespero para se agarrarem.
Lavagens, novas tecnologias.
O sistema marxista-leninista continua
impermeável, inalterável. Nada de vendas a crédito, nem o sistema de letras.
Isto que desenvolve uma economia e promove muitos empregos que estranhamente
ninguém fala. Talvez por desconhecimento, assim como alguns que se escudam no
backbone, significando nova lavagem nas comunicações. Ser ou não ser, eis a
nossa lavagem.
- Pois, como é meu, como vão essas lavagens?
- É pá não me posso queixar, pelo menos os meus
fatos são impecavelmente lavados na minha lavandaria de confiança.
- Olha, receio que a nossa linguagem se
desnorteie.
- Não te entendo…
- … vê-me só este monte de notas de cem
dólares…
- Possas, onde as lavaste?
- Ah! Ainda não sabes!
- Não?!
- Agora, temos um assoberbado sistema de
lavagens ao domicílio, perfeitamente legalizado.
- !!!
- Vou-te explicar a contento. Antes, as
lavagens monetárias, é disto que te falo, nada dos teus fatos, faziam-se às
escuras, agora fazem-se às claras.
- E?
- Então, agora, podem-se lavar dólares às
toneladas, porque já temos lei que legaliza todos os movimentos sombrios do
erário público. E como continuamos sem contabilidade organizada, agora é que é
facturar a sério, porque dantes era a brincar.
- Ainda bem. Olha, por acaso tenho alguns
familiares e amigos, aos quais corro já a informá-los. Não imaginas como
ficarão maravilhados. Já agora… e quanto de comissão?
- O habitual.
- Isso é uma boa notícia, até porque tenho um
irmão que está sobremaneira aflito com o fecho das contas da sua contabilidade.
É que tem um lucro astronómico, e não sabe como fugir ao fisco.
- Isso é fácil.
- Ai é?
- Inventa documentos… os mais usuais são
creditar na conta dos directores, administradores, uns milhões de dólares de
vencimentos.
- Essa é boa, vou já para a lavandaria.
- Vai, e boa lavagem.
E a notícia correu de lés a lés. E todos se
encantaram, porque outra lâmpada de Aladino jingolana bem lavada, dela sai o
génio da nossa lavagem nacional e internacional. Os aventureiros e especuladores
internacionais de imediato subiram os preços do petróleo. Nada mais simples:
basta-lhes conluiar que o canal do Suez vai fechar.
E assim Jingola encheu-se de lavadores. Vão nas
nossas praias e lá estão eles com as nossas mboas, ávidos também pela nossa
lavagem solar.
E uma nova profissão bancária surgiu: O lavador
de conta.
- Alô, sim, é do meu lavador de conta? Ok!
Estou bem sim! Neste momento qual é o saldo da lavagem na minha conta?
E ainda há por aí muitos eleitos pelo povo, que
depois quando fugirem, nem nos aviões conseguirão lugares. O motivo é muito
simples: lotação esgotada.
Inglórios caminhos. Neste momento, Jingola não
necessita de templos religiosos. Necessita sim, é de boas universidades e de
bons professores que libertem os Jingolas da superstição religiosa. E que
aprendam o que é a realidade através dos bons livros dos mestres da literatura
universal.
Este é o sonho de liberdade e democracia deste Regime.
Há 4 anos atrás, o nosso filho de trinta estava no Hospital Josina Machel.
Necessitava de uma urgente transfusão de sangue A negativo. Apesar dos apelos
na Rádio estava impossível. Já lhe dizíamos adeus. Até que um candongueiro do
hospital disse que bastavam 100 dólares. E o nosso filho salvou-se in extremis.
Pouco depois um médico amigo do comité de especialidade abandonou-me por
motivos políticos. Até os médicos… este Poder é o zero no palácio da ditadura
da opressão.
Simplesmente tocante! Nada amsi do que a nossa triste realidade em verso e prosa.
ResponderEliminarAdorable1
FT