Reino Jingola, um reino onde tudo é ilegal.
Que infortúnio
assaz interessante. O dom que os humanos conservam desde
a ancestralidade. Não o esquecem jamais. A morbidez mortal da desinformação nos seus
genes. A ordem
guardada, disfarçada, escondida, sempre à espreita
na janela das suas mentes, que dela sai a pontapés:
matar, matar, matar! Se não
resulta, salta a alternativa
da hipocrisia, que
se transforma na inutilidade da mentira. Perante esta
verdade, vem a calúnia, que dá vida ao ódio, à maldade.
Para galantear este apogeu, para se afirmar defronte dos vencedores, para
iludir a sua
mente doentia,
elimina com a morte aqueles
que lhe
deram a projecção para os pedestais
da vida. Esta é a sujeição genética, a saga
dos vencidos. Tubarões mortíferos que
aniquilam o Caminho sem casebres.
Esta senda
contínua, ninguém consegue parar. Astutos ratos no silêncio
das noites. Se mais
obscuras melhor. Sombras
profeticamente dissimuladas nascem dos seus
sonhos, das noites
em que
não dormiram. As multidões
seguem-nos estupidificadas, adoram-nos, imolam-se no altar
já inventado. Triste
horizonte da camuflagem
humana. Viver
para adorar, a fome semear.
Não é só guerra e fome que existem nos
intervalos do futebol-arte.
Uma coisa que vi e nunca
compreendi. As pessoas gastam quase todo o tempo das suas
vidas para conseguirem qualquer
coisa para comerem. Isto não faz sentido, é absurdo.
Ninguém que
se preze nasceria, para viver
assim tão
infeliz. Qual é a alternativa?!
Existem máquinas
que fazem qualquer
trabalho. Decrete-se que
os humanos devem obedecer
às coisas espirituais.
Treinarem e desenvolverem a mente.
Diariamente, pelo menos
uma vez, respirar
fundo, relaxar,
fechar os olhos
e não pensar em nada durante um minuto. Para começo, isto é extraordinário. O nosso
cérebro pensa
dia e noite,
basta parar um minuto para a mente descansar.
É contrário
à vida nascer,
crescer, e trabalhar para aumentar a riqueza
de meia dúzia
que nos
escravizam há muitos milénios. O trabalho nas fábricas,
essa escravidão moderna, deve terminar imediatamente. Acabemos com os prédios,
com as estradas
de asfalto, com
os enlatados, com os plásticos, com
o petróleo. Vamos plantar
árvores, plantas,
limpar os mares,
os rios, as florestas
e viver de acordo
com as leis
da Natureza.
Não é necessário ir a um circo para nos
rirmos com os palhaços. Basta olharmos por exemplo para a TV e ouvir um
embaixador dos países democráticos falar das relações de amizade entre os dois
povos.
É a melhor
saída para salvar o que resta, o que ainda vive. Acabar com a palavra
empresário para começar. São estes os demónios que
sobreviveram na batalha dos céus contra
Gabriel, e caíram na Terra dissimulados. Os
sofrimentos da humanidade, a fome, estão nas suas
mãos. Devemos votar contra eles.
Serviram-se do Cristianismo,
apoderaram-se do Santo Graal e dos seus segredos para nos dominarem. Estes
são os iniciados
da maldade humana,
por isso
se explica que ao longo
dos tempos fossem criadas várias sociedades secretas para evitar a extinção da
raça humana. A
luta da humanidade, as revoluções, as guerras… desenvolve este
antagonismo milenar:
sociedades secretas criadas para resistirem ao aniquilamento
dos poderes ditatoriais, à proibição do desenvolvimento das ideias. Foi assim
por exemplo contra Voltaire.
Andamos, movemo-nos como seres invisíveis. Ninguém
dá conta, sente a nossa
presença. Se fortuitamente
alguém tropeça
na nossa sombra,
volta-se, espreita, aguarda indeciso. Descobre que
foi algo… como um
nevoeiro repentino
que surgiu do nada.
Pensa que
foi talvez alguma ramagem
de árvore incomodada pelos transeuntes
anónimos que deseja relembrar
os tempos há muito
passados, esquecidos, quando as folhas
verdes que
caíam, se veneravam, amadas, deusas geradas pela
Terra-Mãe. A multidão de pessoas a caminharem habitualmente
sem destino é
muito impessoal.
Os filhos cruzam-se com
os pais, não
se reconhecem. Melhor, fazem gestos de jardim
zoológico. Porque
entre seres
humanos nas ruas
e animais em
cativeiro não
há nenhuma diferença. Melhor, apenas
uma: a prisão das espécies
em cativeiro
é pequena, as grades
da prisão da espécie
humana são
imensas.
Alardeamos com
prazer que
acabámos com a escravatura.
Quando na nossa
mórbida ingenuidade proverbial
não queremos aceitar
a verdade suprema:
Somos escravos eternos
das necessidades fisiológicas e
biológicas do nosso corpo.
A nossa mente
é pobre, humilde
servidora, perante a mais elementar necessidade da fisiologia
humana. Esta é a mais
atroz servidão
humana.
Atraído pelas teclas
patéticas de um piano,
som imortal,
o homem da rua
não consegue distinguir
de onde vêm, mas
mesmo assim
pára hipnotizado. Sublimes marteladas nas teclas
despertam a sua consciência.
Sente na alma uma luz
inexplicável. O seu
cérebro tenta
transmitir as sensações
agradáveis da melodia
que paira. Consegue arrastar,
parar no seu caminho mais um escravo eterno. Teimamos, não
aceitamos, que o perfume
musical nos escraviza. Tal como o amor. Só que por mais que
tentemos, não conseguimos explicar a doçura musical dos sons que
compõem, que nos
levam ao mais elementar
caminho da existência
humana: O amor do início dos tempos da nossa
mocidade.
O nosso
pensamento é imaterial,
surge do espaço vazio.
Entretanto consegue materializar
objectos, utensílios, o que inventamos e utilizamos. Na dúvida
se Deus existe, creio que o nosso pensamento é uma resposta.
Se criamos matéria a partir
do nosso pensar,
eis a explicação
para a existência
do divino. Deus
não é matéria,
a nossa mente
também não.
Portanto o nosso
pensamento não é Deus. Sim, sem nos darmos conta cumprimos o mais
elementar da nossa
existência: a nossa
alma etérea
cumpre a função do Criador Bigue-Bangue,
participa da grandeza e pequenez do Universo.
A nossa inspiração
é o cumprimento de ordens
Superiores dimanadas da central de controlo, situada algures
no Universo. Esses lagos
profundos onde
repousa a consciência, a essência da vida
humana. Uns são
de águas transparentes,
outros de águas
pantanosas. Alguns, poucos,
são de águas
calmas. Outros,
a maioria, são
de águas agitadas, violentas. Os violentos pedem aos ventos
que façam tempestades,
e aniquilem os espíritos das águas da calma sabedoria. O conhecimento
agita o violento.
Como o frio
glacial que
nos obriga a procurar
um refúgio
acolhedor. Os lagos
humanos da violência
e da intolerância perturbam-nos o sossego. Até nas noites a justeza
do sono é-nos negada, interrompida, porque um lago secreto
transbordou. A onda da nova guilhotina
galga para o nosso leito, e
corta a cabeça, mais
uma, de qualquer recente
consciência. Como
um navio
atracado no cais da amargura esperada, e
depois assolado, levantado e
transportado no ar pelas trombas
furiosas, repentinas de um furacão elefantino. E
neste manicómio mundial com milhões de desempregados, os bandidos, espertalhões
especuladores dizem que a economia mundial está a estabilizar. Prova disto é a
subida dos preços do petróleo. E ninguém os prende porque já não existe lei.
Apesar do corpo
cansado, usado, velho
pelos anos
do tempo, a mente
está rejuvenescida. O ditador usa o corpo são na mente insana. Como plantas daninhas que
vituperam os jardins suspensos desta
Babilónia. Por mais
que tentemos não
conseguimos evitar a perseguição de Robespierre. O
reinado do Terror
persiste, insiste, não nos abandona. Que tempos estes! Não, a História ensina-nos que
sempre foi assim.
O ser humano
é o símbolo, o culto
do Terror.
Quando acabar, a
Natureza rejubilará, cantará um hino de louvor. As árvores
não ficarão estáticas,
mover-se-ão de um para
o outro lado como
sempre fizeram. A chuva
cairá e as águas seguirão o seu curso normal. Não
haverá diques que
as perturbem. Aos rios livres de poluição voltarão
as fadas, e os espíritos
das águas renascerão. A Natureza reencontrará a liberdade,
voltará à normalidade. Já foi dado ao ser humano o tempo mais que suficiente para respeitar os seus semelhantes. Não,
não me
refiro aos homens, porque
entre estes
não há leis
que funcionem, falo
duma simples ave
que baixa
o seu voo, encontra-se com um bípede e é abatida
sem explicação.
O que está em
causa é o seguinte:
a Natureza não
pode compartilhar a sua
sã existência com seres
vis que se deleitam em
exterminar tudo
o que se move.
Encontrei a manhã
a meio no embarcadouro do Kapossoca. O céu obrigou o dia
a escurecer. A água
desertou do firmamento e o horizonte enevoou-se. Chuva
intensa, centimétrica, parecia milhões de meteoritos
que abriam crateras
transparentes na superfície
neptuniana. Conseguirei chegar a Tule, para lá de
Viana? Muitos perigos me esperam, mas
terei êxito nesta epopeia. Quando lá chegar admirarei as Colunas
de Hércules de Viana. Não sei quem foi o propositado
que chamou tal
nome a duas imensas montanhas
de lixo.
Para além delas… é
o desconhecido… alguns
mercadores Fenícios
que de vez
em quando
aqui chegam, dizem que
para lá das Colunas de Hércules de Viana existem dezassete reinos
governados por pretores.
A informação que
dão é muito escassa, não se sabe o que lá se passa. Em criança
ouvia falar muito sobre esses
reinos desconhecidos,
esquecidos, abandonados. Que ninguém se preocupava com
eles. Comecei a sonhar
que seriam o continente
perdido da Atlântida, de dezassete Atlântidas.
Tantos carros para poucas estradas
esburacadas, permanentemente
engarrafadas. Nunca conseguirei entender porque é que os
Jingola não apreciam bicicletas. Combinam com
os séculos, com
as cargas na cabeça
sem rodas,
sempre à roda. O âmago
do meu espírito
tenta libertar-se da desordem circundante. O lixo
encolerizante une-se às árvores derrubadas pela
força inumana.
Os canteiros de flores
perderam-se na imposição de outros de obras concretos,
dos novos construtores dilectos. Outros
edificadores e muitos comedores de cães, gatos e de tudo o que se mexe.
Cosmovisão genética rudimentar,
truncada. Passam os desgovernados anos, não
mandatados continuam os tiranos. Digam-lhes que quem aniquilar
uma árvore será condenado a plantá-las até
ao fim da sua
vida. Ah!.. Muitos bancos, muitos financeiros, muitos corruptos, muitos
especuladores, muitos aventureiros. É
mediocridade, quando não se abordam questões
com profundidade.
Quanto mais os políticos
falam, mais são
estudados e menos escutados. Muitas palavras muitos
devaneios. Os cérebros dos ouvintes saltam para outra plateia. Abandonam os políticos
de corpo vertical
e alma horizontal.
A figura da África Negra
é uma aventura propícia para
aventureiros. Sempre concordantes com a pobreza de espírito
dos governantes. E o interlúdio da pobreza e da fome prosseguem em todos os
momentos, nos cartazes com fotos gigantes que
iludem os eleitores votantes. Neles, abusam
as palavras democráticas: onde há pão e livros, há democracia.
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