Chegámos ao largo.
Quase grito:
- Estive mais
de uma hora à tua espera.
Depois perdi um
tempo precioso
com as tuas colegas.
Como se não
bastasse, ainda demoraste mais tempo nas suas casas.
- Desculpa, não sabia que ficavas chateado. Olha,
amanhã vais conhecer a minha casa. As vacas das minhas vizinhas já sabem. Uma
delas já nos viu e falou com as outras. Elas podem fazer tudo o que quiserem.
Mas porque arranjei um branco vão cochichar que sou prostituta. Elas são assim.
São muito invejosas, e quando uma de nós tem um marido branco pensam que já
somos ricas., que não nos vai faltar nada.
Quase não conseguia raciocinar. Fiz um
esforço. Pela
primeira vez
compreendi que manter
relacionamento com uma negra era assaz complicado. Gilda
antes de se despedir,
faz-me um pedido:
- Dá-me algum dinheiro para comprar alguma coisa para
levar para casa. As crianças estão cheias de fome.
Dei-lhe o suficiente.
Chegava e sobrava, ela ficou muito alegre:
- Meu querido, vou comprar frango assado e batatas
fritas. Hoje vai ser festa lá em casa. Gostas de mamada? Adoro, e tu? Amanhã
espera-me aqui ok?
Notei que brevemente este
relacionamento seria um fiasco. Estava interessado em
ver o seu desfecho. Limitei-me a dizer:
- Sim, aqui onde o vento faz a curva.
- Onde o vento faz o quê?
Não entendeu, não
estava minimamente interessada. Afastou-se com
algumas risadas.
A rua era estreita. Tinha cerca de
quatrocentos metros de extensão. Dois carros que se
cruzassem tinham que o fazer
com muito
cuidado. Era ladeada por vivendas
construídas pelos colonos.
Algumas tinham muros. Quando chovia a rua
ficava quase ou mesmo intransitável devido à lama que se acumulava. Ao fundo
havia uma cratera,devido às águas dos esgotos
que aí
se juntavam. O panorama era
desolador. A casa
da Gilda ficava no fim da rua. Até lá
chegarmos fomos recebidos com vários olhares cheios de curiosidade.
Gilda recomendava:
- Não ligues,
deixa-as olhar.
Entrámos, o recheio
da casa era
pobre. Gilda
desculpa-se:
- Não tenho quase nada em casa, ele levou-me tudo.
As crianças
estavam na vizinha do lado. Gilda
confidencia-me que ela
é boa pessoa. Chegam e noto
que os seus
olhos são
demasiado largos
para a sua idade. Diz-lhes para
tirarem a roupa e tomarem banho para se irem deitar. São duas
meninas e um menino.
Os seus corpos
nus são
iguais às imagens
que circulam pelo
mundo. Quase
não tem carnes,
apenas ossos.
Sinto-me horrorizado com a fome que estas crianças têm passado.
Todos os dias
vão para a escola. O seu rendimento escolar
será em vão.
Durante os momentos
que com
elas convivi, revelaram-se encantadoras.
Tinham dois, três
e quatro anos.
Gilda enviou-as para
a cama. Preparou uma refeição
de ocasião acompanhada por duas garrafas
de vinho tinto do mais
barato. Os mosquitos
não nos
largavam. Eram muitos e fiquei com receio de apanhar paludismo.
Terminámos de comer, Gilda mostra-se ansiosa:
- Vamos fazer uma grande mamada.
De manhã
dirigi-me para o quarto
de banho. Fiquei surpreendido ao ver que a sanita estava
entupida. A trampa escorria. Havia um quintal amplo. Proveniente do esgoto
a água estagnada acumulava-se. O aspecto era confrangedor. Gilda
fica a olhar. Perante
o meu ar
interrogador afirma:
- Isto necessita de uma reparação. Não tenho dinheiro.
A sua amiga tinha uma
casa na praia.
Fomos lá passar
o fim-de-semana. As crianças estavam muito contentes.
Devido à alimentação
já estavam a ficar
gordinhas. A casa tinha
dois pequenos
quartos. Estávamos a fazer
amor e vejo na porta
aberta a sua amiga
encostada, completamente nua a olhar para nós.
Ela passava a maior parte
do tempo a ler
no quarto. Pela
janela avistava-se o mar. A amiga da
Gilda continuava a provocar-me.
Sabendo que estava só continuava a
mostrar-me a sua nudez.
Falei com a Gilda
sobre o comportamento
dela:
- Ela não tem marido. Assim, quer dizer que está
aflita para foder.
À espera no aeroporto, Gilda
continua a chegar tarde.
Agora já
são três
amigas para transportar. Devido a isto
chego sempre a casa
tarde. Não
adianta nada chamar-lhe a atenção. É como
se nada acontecesse. Gilda diz que
as meninas estão com paludismo. Pede-me dinheiro
para comprar os medicamentos. Comprei um
par de sapatos
por um
preço razoável
para a sua
irmã. Fui a sua casa
e fiz-lhe a entrega. Ficou radiante:
- São muito bonitos. Tens que comprar também para as
minhas quatro filhas. Não penses que andas a foder a minha irmã de borla.
Fingi que não ouvi. O telefone toca. Ela atende:
- George é para ti, a Gilda
quer falar contigo.
- Filho, estou
no hospital com
as meninas. Vem-nos buscar.
Apanhei a Gilda.
Disse-me para passar em casa de duas
amigas. Depois das conversas
inúteis que tiveram e o muito tempo
perdido, ainda tinha
que fazer
umas compras. Preferiu ficar
no largo onde
o vento faz a curva:
- Ficamos aqui. Algumas vizinhas já estão a falar
muito. Não podem ver uma negra com um branco. Putas de merda. Amanhã apanha-me
às seis da manhã. Um dos meus irmãos disse-me que tem uma caixa de peixe para
mim.
Depois de deixar o peixe na sua casa, levámos as crianças
à escola. Gilda
retira um
espelho do seu
saco de mão.
Olha para ele
e passa a mão
pelo cabelo.
Lamenta-se:
- Querido, o meu cabelo não está em condições.
Deixa-me no cabeleireiro.
- Não vais trabalhar?
- Oh, as minhas amigas não
me vão
marcar falta.
Ninguém vai notar
a minha ausência.
- Eu tenho
inúmeros compromissos profissionais a que
não posso faltar.
- George tu és chefe. Um chefe deve chegar ao serviço sempre depois das nove,
ou quase
às dez horas.
Depois do aeroporto
o roteiro habitual.
Gilda lembrou-se que outra das suas irmãs ia passar a noite em sua casa, mas ela não apareceu. Tinham um
óbito de um
sobrinho e não podiam faltar
ao velório. A rua
estava interrompida por um camião que
avariou. Não havia lugar
para passar. Tive que atravessar pela cratera de
água putrefacta. Se o fizesse mais vezes depressa ficaria sem
carro. Perguntei-lhe:
- Gilda a
tua família é muito numerosa?
- Somos muitos. Tenho muitos irmãos e irmãs. Conforme
a tradição, o meu pai fez muitos filhos com muitas mulheres.
- Acho que isso contribui para a miséria do povo
africano.
- Eles pensam que se fizerem muitos filhos, algum
há-de chegar a ministro.
- Agora já entendo. É por isso que todos querem ser
chefes.
Deixei-as no óbito. No outro dia ela não iria
trabalhar. Ou melhor, fingir que ia trabalhar.
Recebo um telefonema dela a dizer para a ir buscar
no óbito. Quando
chego o carro é invadido. Toda a gente quer boleia. Enquanto
decidem quem vai e quem
fica aguardo impaciente.
Discutem interminavelmente devido ao álcool consumido. O tempo
passa. Indeciso
penso dar à ignição e pôr-me a andar. Gilda entra com
a sua comitiva.
São todas mulheres.
Cinco sentam-se no banco
de trás. Ao meu
lado a Gilda
está com uma sentada nos seus joelhos. Lembro:
- Levamos pessoas a mais, a polícia vai-nos incomodar.
- Manda lixar essas merdas. Não
tenhas medo. Nós
falamos com eles.
- Sim, mas eu é que sofro as consequências.
Gilda falava muito
alto. As suas
acompanhantes também.
Estavam com os copos.
Eram todas jovens, pelos
vinte e cinco anos.
Estavam a comer milho e cana-de-açúcar.
Um saco
de plástico com
farinha de bombó
rasga-se. Descarreguei a carga nos destinos. Exausto chego a casa
da Gilda. Ela vai ao quarto,
regressa e pisca-me um
olho:
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