Voltou
muito convencida,
ordenou:
-
Queres que prepare alguma coisa para comermos? Estou cheia de fome, e tu?
Continuava
impassível. Sentia-me muito desconfortado. Ela
tenta arrastar-me:
-
Vou-me preparar. A nossa
cama está bonita,
está à nossa espera.
Anda, vou-te lavar.
Vou foder contigo
toda a noite.
Perdi
a calma. Senti-me completamente
descontrolado. Peguei-lhe num braço,
abri a porta e disse-lhe:
-
Rua, nunca mais aqui voltes. Nunca mais te quero ver.
-
George fica calmo. Amanhã não poderei aqui vir, vou a um óbito.
Depois
dela sair, fechei a porta e ouvia-a chorar.
Telefonava-me
a todo o momento.
Eu dizia que
não estava. De noite na minha casa,
assistia a um filme
muito interessante quando
batem à porta com
força. Abro e deparo-me com ela.
Bato-lhe com a porta
na cara. Pouco
depois o telefone
toca. Atendo, é ela.
Desligo. Volta a ligar.
Volto a desligar. O telefone
continua a tocar. A única
alternativa que
me restava era
desligar o cabo,
para passar o resto da noite em paz.
George
levanta-se, suspira, pega na toalha
e limpa o suor
da testa. Parece preocupado. São quase três horas da manhã. Vai para a porta, abre-a, sai, e diz-me:
-
Meu amigo, quase que não chove. Apenas uns ligeiros pingos. Vamos para a praia.
Levámos
duas lanternas alimentadas a pilhas. Montámos a sombrinha
e duas cadeiras leves
de alumínio. Não
prescindi do cobertor. A brisa era de vez em quando um pouco forte,
suficiente para afastar os mosquitos.
George montou uma pequena mesa. Abriu um recipiente de plástico e colocou gambas à nossa disposição. Abriu a garrafa
de conhaque, encheu o copo até meio e engoliu tudo
de uma só vez. Olhou para
a água, depois
mirou o horizonte, mas
como o céu
estava enevoado, não deixava ver nada,
acrescentou:
-
Encontrei-me ocasionalmente com um oficial das comunicações que
conhecia a Ana. Disse-me que ela esteve
na sua casa,
e que depois
deu pela falta
de vários talheres
valiosos. Senti um
grande desgosto
na minha alma.
Tive o cuidado de lhe
perguntar qual
era o seu
valor. Mas
ele recusou diplomaticamente. Senti-me muito envergonhado. Decerto
este incidente
seria comentado entre as chefias. Mas posteriormente não
notei nada que
me desagradasse. O oficial
teve o discernimento necessário
para guardar sigilo, e nunca
mais abordou o assunto.
Aliás ficámos grandes
amigos. A sua
esposa e filhos
eram encantadores. Tinham uma educação esmerada. Ele
e ela tinham o sétimo
ano do liceu
colonial. Recebiam-me muito bem na sua casa. Eram extremamente
exigentes na educação
dos seus três
filhos. Não
lhes permitiam o mínimo
deslize. Ele
gabava-se:
- Filho de oficial
superior tem que
ser muito
bem-educado. George… somos amigos. Essa mulher com quem andas é muito perigosa. Uma prima
da minha esposa
é sua vizinha,
deve estar aí
a chegar. Vai-te contar tudo. Enquanto
aguardamos vou-te servir um
uísque. Preferes com
gelo e soda?
-
Não, prefiro puro.
Agitou
a garrafa com
violência. Intrigado perguntei-lhe:
-
Porque fazes isso?
-
Aprendi com os russos. Dizem que assim a bebida fica mais saborosa.
A prima chegou. Sou apresentado sem
muitas cerimónias. Diz-me:
-
Sinto imensa pena
pelo senhor. Sou vizinha da Ana,
e como é amigo
da minha prima
acho que devo contar-lhe o que sei. Ela
estudou pouco em
Cuba. Fizeram-lhe operação
à vagina para
que não
pudesse ter filhos.
Lá, a sua
vida era
apenas prostituir-se. Comentou com as suas
amigas que já
conseguiu dominar o branco.
Quando o senhor
esteve de férias engatou um italiano idoso,
conseguiu ficar na sua
casa como
esposa. À noite
anda com
o carro dele no processo.
Enche o carro de homens,
e factura. Depois torna
a enchê-lo, e factura. O parvo do
italiano pensa que
ela lhe
é fiel. Não
suspeita de nada.
Anda com
qualquer homem.
Quando ela
lhe disse que
foi a um óbito,
na realidade foi dormir com o italiano. Não
tem nenhuma maturidade. Muitos homens
gostam dessas que vieram de Cuba. Elas são máquinas de
sexo, muito
experientes. Fazem tudo.
São verdadeiras estações
de serviço sexuais.
O que pretendia era
explorar os dois ao mesmo tempo. Não tem nenhum escrúpulo. Essas mulheres nem
se preocupam com a transmissão
da Sida.
Retirei
a Ana do meu
pensamento. Nos
meses seguintes, de vez
em quando
recebia um telefonema
dela:
-
George, o meu marido está na Itália há três meses. Tenho fome. Estou a passar
mal. Deixa-me ir a tua casa por favor. Vem-me apanhar, o meu carro está
avariado.
Não
lhe prestava qualquer
atenção. Mudou de táctica quando me
telefonava:
-
George, aqui fala do Ministério da Defesa, do Gabinete do Ministro.
Era
duma vulgaridade impressionante.
O último telefonema
que atendi era
quase do mesmo
teor:
-
George, nunca mais te vi. Porque não me telefonas? Olha, agora sou a chefe da
informática do Ministério do Interior. Sou a chefe do comando. Está tudo sob as
minhas ordens.
Aqui
ocorreu-me o seguinte pensamento: Devemos estar sempre preparados para qualquer
desilusão.
CAPÍTULO V
NINFÉIA
Num domingo de manhã pelas nove horas, a campainha da porta tocava insistentemente. Suspeitei que fossem as Testemunhas de Jeová, porque costumavam aparecer a essa hora. Antes de abrir pensei no que lhes diria. Simplesmente que estava muito ocupado, e que ficaria para a próxima semana. Era sempre o mesmo diálogo. Abri e vejo um jovem vizinho que me diz:
- Vizinho, vizinho,
bateram no teu carro.
Pensei
que o domingo
estava estragado. Perguntei:
-
É algum bêbado?
- Não, é uma senhora.
-
Vamos já descer.
O meu carro não estava muito
mal. Apenas
ligeiramente amachucado no guarda-lamas traseiro esquerdo. A senhora disse:
-
Desculpe, assumo a responsabilidade.
- Está
bem.
-
Fiz mal os cálculos
para estacionar e toquei sem querer.
Ela
pergunta-me:
- Como se chama?
-
George.
-
O meu nome
é Ninféia.
Ela
andava aí pelos
trinta anos. Rechonchuda,
peituda e nadeguda. Trocámos as nossas moradas e números
de telefone. Ela
disse para eu
levar o carro
a uma oficina, e depois dizer-lhe quanto seria a despesa para depois pagar.
Ninféia
ligou-me e convidou-me para jantar.
Disse-lhe para não
se preocupar. Ela
insistiu tanto que
acabei por aceitar
o convite. Quando
entrei na sua casa,
um pormenor
despertou-me a atenção. As paredes do corredor
e da sala de jantar
estavam revestidas de espelhos. Isto permitia que
quem estivesse em
qualquer local,
seria observado. O jantar
estava na mesa, carne
grelhada com
batatas fritas. Para
beber havia cerveja.
Não me
surpreendeu a exibição das suas mamas
volumosas. Um ligeiro
tecido fino
branco, amarrado evitava que o peito caísse no prato.
Ela diz qualquer
coisa ao acaso:
-
Se não fosse o trânsito
horrível não
teria batido no seu
carro.
- Não se preocupe com
isso. Quem
anda à chuva
molha-se.
Ela
olhou-me com malícia.
Baixou-se intencionalmente e os mamilos ficaram visíveis.
Perguntou-me de modo provocador:
-
George, estás a gostar do ambiente?
- Sim. Não sei se
o coqueiro suporta os cocos.
-
Ai George depende… da ventania.
Sem comentários:
Enviar um comentário