terça-feira, 18 de setembro de 2012

Os Jasmins da Lwena (FIM) Se o petróleo está sempre primeiro, a fome está sempre no último lugar.




Eras como o pranto dos jasmins, que ainda conservo no mesmo canto da alcova do nosso recanto. Quando enlevados, abraçados, encalhados na ventania que anunciava os primeiros pingos da agitação atmosférica próxima. Depois bem regados, enregelados. Como era possível, dois desaparecerem e ficarem um só corpo? Ainda não consigo entender, para onde ia o que acontecia ao outro ser.
O meu sonho, os outros sonhos, terminaram. Só os pesadelos começaram, recomeçaram. Não há porvir enquanto este governo e os seus aliados internacionais persistirem em nos reduzirem a pó. A seguir, o que resta do divino vai, ruirá. Perco muito tempo à procura das nossas palavras perdidas quando revivo o passado no ferro de engomar. Cada peça de roupa retrata os momentos dos dias. Depois de tudo terminar, alimentamos o lamentar. Onde tudo começa e acaba só a morte o sabe.
Onde estás, para onde fores lembra-te de mim, há sempre um jasmim. Remodela os nossos passatempos com novos pensamentos. Encontraste os jardins eternos dos jasmins. Planta-os, rega-os. Finalmente tens tempo para encontrar o amor vencido. O paraíso da morte está sempre desperto no meu desespero de viver ao pé de ti, tão perto. Tarda, mas sei que vai chegar, me vai libertar. E só a morte nos liberta. Aqui continuamos no nascer e crescer desesperados… acorrentados, desejamos galgar as montanhas da feroz ditadura. Quando um simples monte se torna um obstáculo intransponível, deixamo-nos vencer, obedecer a qualquer voz de comando. E obedientes de medo nunca venceremos, nunca triunfaremos. Tantas e tantas fardas por todo o lado. Luanda é um gigantesco quartel militar.
O amor perdido é como a fome. Quando conseguimos comida saciamo-lo. E acreditamos que ele está próximo, que voltou. A comida voa sem retorno, as asas do amor também. Quando da fome me libertar, prometo amar o amor. Até lá adquiri a certeza, tenho o direito de me revoltar porque não me deixam alimentar, nem manifestar. Quase meia centúria mal conduzida para o trânsito proibido dos tubarões onde não se pode amar. Nem o trigo nos deixam semear. Os campos estão lavrados, armas neles vão plantar. O problema da fome já está resolvido, vão-nos eliminar e não terão mais despesas para nos suportar. Têm muito tempo para dispararem, para nos matarem. Nem um segundo para amarem. Grande parte do tempo da nossa vida é gasto em eleições, e sofremos com estas desilusões. Porque ainda não se legalizou o partido político do amor. Se critico a Igreja sou excomungada, herética hierarquizada. Se blasfemo o Islão, espera-me a Jihad, a intifada, a cimitarra. Se ouso opor-me ao comunismo, enviam-me para um gulag. Se luto contra o capitalismo, prendem-me porque persigo o marxismo. Se exijo a parte do rendimento do petróleo que me pertence, prendem-me ou assassinam-me por incitação à violência. Se faço uma manifestação contra a corrupção, premeiam-me com seis meses de prisão. Se denuncio as democracias ocidentais que repartem os biliões de dólares com os seus amigos petrolíferos, eliminam-me, acusam-me de nacionalista. Se exijo emprego e pão, dão-me o sarcasmo da fome. Se não sou militante do partido do governo, espancam-me.
Se há muita fome e miséria surgem muitas frentes de libertação nos enclaves. Se há um só Deus, porque existem guerras religiosas?! Se há tiroteio depois das eleições, é porque o partido que governa é o melhor, insubstituível, imperdível.
Se o petróleo está sempre primeiro, a fome está sempre no último lugar. Se me emprego na prostituição, o único emprego que há e onde a concorrência é tão elevada, desleal, que obriga a preços muito baixos... prendem-me porque sou debochada, sem carácter.
Se as iluminadas, ortodoxas, peculiares… igrejas teimam, queimam-nos com o sol das teocracias… são estas, as subserviências das democracias. Se não tenho luz e água, um qualquer arauto tranquiliza-me: «A revolução ainda não terminou». Se sai um colonizador entra outro. Se não tenho direitos, perdi a existência, a minha defunta independência, não sou ser humano! Perdi-me! Onde está a minha liberdade?! No próximo movimento de libertação!
Fui às compras na cidade próxima, não tive sucesso. As mulheres fugiam muito preocupadas, perguntei-lhes: fogem porquê?! «Estávamos muito bem, de repente sentimos chicotadas nas costas». Sabem quem foi? «É um jacaré, um espírito. Toda a gente está a fugir com medo Ninguém consegue escapar-lhe».
E findamo-nos sem essência, sem o germinar das lápides atiradas ao abandono do tempo. Depois reencontradas nas cavernas escuras e escusas, sem a iluminação da alta voltagem inofensiva do sublime amor. Esta história humana presente é o calvário, o purgatório, o martírio do amor sem a proporção divina das zebras desequilibradas entre o amar e sem viver. Condenámo-nos à nascença a amar, mas recusam-nos, teimam em nos odiar. Não é ser, é ter alguém no Governo em quem confiar. Não existe nada de divino em que acreditar. Temos que apreender a dizer não, a este faz-tudo de amor clonado em vão. Evitemos que estes vendedores revendam o ardor da paixão. Não podemos resumir esta contenda nos gestos augurais das suas vestais até já continentais. As plantas ondulam porque amam o vento. Se ele lhes faltasse o ódio reinaugurar-se-ia de verde amarelecido. As asas do estímulo vivencial são o código genético desconhecido que nos faz voar, perfumar, o aroma para amar. E quem isto ousar proibir, também será proibido. Os sensores do amor quando activados desordenam-se. No futuro serão bloqueados porque perigarão os instrumentos sensíveis das naves interplanetárias. E será imaginado, recriado um longínquo planeta amoroso para amantes eternos. É que os circuitos do amor desafiam as leis e a velocidade física. Não há, nunca existirá máquina que calibre a sua invisível intensidade. Porém, ele, o amor, esforça-se e tem mais que força, perenidade para viajar pelo infinito do Universo. Deixai que os sedentos bebam da sua água pura, para que a impureza humana na poluição das águas não cause pandemias, e aconteça a sua extinção. Apenas um minuto de imensidão amorosa vale milhões de anos planetários. Para quê lutar se estamos sempre presos nos tentáculos das suas areias movediças, acariciantes, desse eterno sentimento. Tudo se extingue e parece em vão, o amor não! O amor tem muitas pernas mas quatro estão sempre presentes: duas femininas e duas masculinas. O útero da deusa mãe aguarda o seu convidado e os pés dos amantes movem a escala Richter.
Promete pois que amarás o amor e que nunca te cansarás da sua tentação. A diferença que existe entre o rico e o pobre é que o pobre é rico de amor. E o rico vive na pobreza espiritual à procura do amor. A plenitude virá quando soarem as badaladas cardíacas, rítmicas do relógio bioquímico do nosso coração. Não haverá tormenta que nos domine, que nos separe, porque estamos acorrentados, desmaiados nesse sem sentido, perdidos nos outros sentidos. Que se santifiquem os mártires do amor, e que nos próximos tempos um salmo planetário seja cantado na cosmologia. E dos suicidas infelizes apenas porque amaram… serão edificadas estátuas de beijos com luz estelar aos viajantes espaciais com a inscrição:
AOS INFELIZES DO AMOR TERRENO QUE APENAS AMARAM
Imagem: Aléxia Gamito






































Sem comentários:

Enviar um comentário