30
de Dezembro
Mais um avião lotado de chineses chega
ao aeroporto de Luanda. São entre duzentos a trezentos passageiros chineses.
Não se compreende o porquê desta avalancha chinesa, desta invasão. Isto não cheira
nada bem, até porque se fala já em um milhão de chineses em Angola. Tanta gente
para quê? Para a desestabilizar, escravizar apoiados na nossa desventura
proverbial de governação? Estas coisas nunca acabam bem, refiro-me a
estrangeiros ocuparem um país. Angola continua a ser uma incógnita do futuro.
Houve-se terrível barulho. É o habitual
carro das maratonas que desencaminha a juventude para o desastre alcoólico,
para a desgraça de Luanda. Mas não, é pá!, oh! Esta não! É o carro da igreja
universal a publicitar nas ruas para irem na Cidadela. Mais parece um novo partido
político, tipo, JES-MPLA-IURD. E o carro torna a reaparecer mais duas ou três
vezes, sempre numa descomunal poluição sonora e religiosa. Creio que Luanda
também já é um gravíssimo caso de epidemia religiosa. E o Poder acoberta pois
os dízimos são demais, bilionários e sempre se pesca algo muito substancial
nestas pontes de rios de águas revoltas, pois onde há religião há comércio.
Esta religião é um grande supermercado.
01
de Janeiro
Noite de ano novo? Por favor deixem-me
dormir porque amanhã tenho que trabalhar.
E depois na Cidadela a tragédia
aconteceu, pois onde há muito dinheiro, corrupção e desta religião, não há salvação.
Foram muitos mortos, dezasseis, e muitos, muitos feridos. E o silêncio à volta
disto mantêm-se porque Deus é muito discreto, nunca pune os causadores das
mortes em seu nome. Há homens que inventam cada coisa. São os escravocratas
ainda na proa do navio negreiro Ngola.
Pensamento: A quem crê no Senhor, tudo é
dado. Menos inteligência. Autor desconhecido.
02
de Janeiro
A gatinha recém-nascida estava num
passeio de uma rua refugiada na base de uma árvore. Não entendia o que se
passava, qual era a acusação do mal que fez, porque crianças decidiram
lapidá-la. Atiravam-lhes pedras decididos a acabarem com a sua curta vida,
conforme os ensinamentos dos gloriosos libertadores revolucionários do homem
novo.
Foi salva nos derradeiros momentos, pois
a morte já se adivinhava porque a criançada (?) reforçou-se de munições e de
mais tropas.
Chegada em casa e logo baptizada Pipoca,
foi sanada de algumas escoriações, alimentada a biberão com leite, e colocada
numa casinha apropriada para gatos, uma caixa de papelão com dois bocados de tecido.
Depois de devidamente recuperada dos cuidados intensivos já queria estudar,
andar pela casa, conhecer o mundo que a cercava e miava de contentamento.
Depois foi transportada para o quintal
de uma tia, e lá naturalmente se desenvolvia.
Cerca de dois meses depois recebemos a
notícia que outro grupo de criançada (?) lapidou-a. Deixaram-na a sangrar da
boca, não resistiu à lapidação da morte.
Creio que uma sociedade onde as crianças
matam animais indefesos sem dó nem piedade por pura diversão, não acalenta
futuro, é por isso que matar seres humanos em Luanda é a coisa mais natural do
mundo.
03
de Janeiro
Angola tem um cancro, e esse cancro é a
igreja universal.
Claro, tinha que ser. A igreja (?)
universal está na Rádio Queiroz, a Rádio da Igreja Metodista de Angola, a fazer
lavagem da sua imagem. Atinge os píncaros do absurdo, então não é que a
universal agora está a fazer-se de vítima? Que os culpados são os que
faleceram, que há uma corrente contra que quer o julgamento popular, mas o
Governo não deixa porque lhes apoia, etc. E que a partir de agora os bispos da
universal vão mobilizar a Rádio Queiroz para bater o recorde de audiências.
04
de Janeiro
Afinal trançar o cabelo também faz
feitiço? A jovem quando olhou para o espelho para ver o trabalho das suas
tranças, e viu três pessoas que lhe estavam a trançar, mas era só uma, fugiu, e
denunciou a trançadora de feiticeira.
Ouve-se bwé de tiroteio, o que será? Uma
ida rápida à varanda esclareceu a dúvida. É fogo-de-artifício, de noite? A uma
hora incómoda, vinte e duas horas. Será que os nossos únicos bilionários
festejam mais umas transferências de milhões/biliões de dólares nas suas contas
petrolíferas?
De um prédio caiu um meteorito, aí com
cerca de meio metro e tal de comprimento e espessura escassa. Veio do quinto
andar ou do terraço, por sorte não matou ninguém. É a segunda vez que acontece,
a última foi quase há uns seis meses. É no prédio ao lado da Igreja Adventista
do Sétimo Dia, na rua rei Katyavala, em Luanda, claro.
05
de Janeiro
Conforme anunciado
por José Severino da AIA - Associação Industrial de Angola, na Rádio Ecclesia,
afinal os chineses já foram expulsos do Congo-Brazaville, porque a pilhagem dos
recursos marinhos era demais.
Lá se foi sempre
outra vez a luz. A coisa é assim: no tempo do frio os cabos eléctricos
congelam, e no tempo do calor derretem.
A energia
eléctrica retornou às 22.04 horas.
Os fogos de
artifício continuam.
06 de Janeiro
20.48 horas, a
luz foi restabelecida. Por quanto tempo?
21.04 horas,
outra vez, outro apagão. Quase quarenta anos nisto, até já ultrapassaram o
recorde da incompetência.
22.27 a energia
eléctrica regressou. Por quanto mais tempo?
03.10 horas.
Acordo com o barulho da chuva que cai com muita intensidade, tipo dilúvio. O
caudal foi poucas vezes interrompido até por volta das sete horas da manhã.
Há vários anos
que quando chove em Luanda, o edifício sede da EDEL fica alagado, privando de
energia eléctrica vários bairros que ficam às escuras. Porque será que até
agora não se conseguiu resolver a situação? Negociata com os estragos?
06.00 horas. A
luz apagou-se de novo. Houve inundação nos postos de transformação?
Os três gigantescos
geradores do prédio do ex/ministro das Finanças, José Pedro de Morais, arrancam
e inundam-nos de intenso barulho, e de fumo mortal. Aqui nesta cidade os
escravos são para abater, para justificar a invasão de estrangeiros.
No noticiário
das 12.30 horas da Rádio Ecclesia, saiu a informação de que o apagão deveu-se a
um problema na linha de alta tensão entre Catete e a estação da Maianga. A EDEL
diz que já está no terreno a trabalhar para repor a energia eléctrica.
Se a destruição
do que resta de Luanda é um facto consumado, e já antes anunciado - previsível,
pelos estudos de engenharia publicitados - pelas chuvas intensas, porque é que
os biliões de dólares não tomam as medidas de precaução adequadas, atempadas? E
porque se escondem teimosamente todos os desastres que atacam, destroem a
cidade e a sua população?
07 de Janeiro
Luanda. SOS
UNICEF. MORTE no banco millennium Angola. A um metro DO GERADOR e no prédio
vivem crianças. Crime petrolífero, os seus pequeninos pulmões não suportam o
veneno que vinte e quatro sobre vinte e quatro horas respiram. Este banco abriu
agência na rua rei Katyavala, frente à ANGOP, espoliou o terreno, instalou
super gerador nas traseiras do prédio e deixa-o ligado mesmo com a energia
eléctrica da rede normal, o barulho e o fumo tóxico matam. A nossa fonte disse
que têm que fechar as janelas, senão morre-se.
Escutei
lamentações de residentes que pescavam no Mussulu, que desde que a família real
privatizou o Mussulu, a miséria tomou-lhes conta. É que antes da privatização
pescavam-se bons cachuchos e roncadores. Agora nada, só miséria, e que eles
fazem de Angola a partilha dos escravos.
20.17 horas,
a luz lá se foi, outra vez.
21.40 horas,
a luz voltou, a energia eléctrica ou chamem-lhe lá como quiserem.
08 Janeiro
O banco
millennium Angola mantém o seu gerador da morte em pleno funcionamento, dia e
noite.
09 de Janeiro
O banco
millennium Angola insiste na sua marca registada. Matar crianças, matar-nos, para que Angola não tenha futuro, pois o
neocolonialismo é-lhe indispensável.
Mas, se
ainda há bem pouco tempo a amante petrolífera colocou mosaicos novos no seu
apartamento recém-adquirido com os fundos petrolíferos, agora mandou parti-los
e substitui-los por outros, último modelo? Ai este dinheiro do petróleo tão desprezivelmente
abocanhado que só nos traz a certeza da escravidão da noite dos tempos.
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