02
de Março
Uma zungueira confessa-se num templo
leninista: Fui às compras na cidade próxima mas não tive sucesso. As mulheres
fugiam muito preocupadas e perguntei-lhes: «Fogem porquê?» E elas
responderam-me: «Estávamos muito bem, de repente sentimos chicotadas nas
costas» «Sabem quem foi?» «É um jacaré, um espírito. Toda a gente está a fugir
com medo. Ninguém consegue escapar-lhe!»
A NET continua a funcionar como um
louco.
Atropelamento e fuga. Pelas 04.00 horas
da manhã um jovem trabalhador de uma empresa que asfalta a rua próxima da
ANGOP, está concentrado no seu trabalho. A área está vedada ao trânsito, de
repente surge um veículo que conseguiu furar a protecção, e em marcha acelerada
não vê o jovem trabalhador que é atropelado e lançado contra um carro
estacionado, onde se lhe estatela debaixo. O condutor homicida põe-se em fuga.
Os companheiros acorrem em seu socorro. Alguém grita: «Persigam-no! apanhem-no!
prendam-no!» e mais uma voz se ouve: «Ele precisa de socorro urgente, alguém
que o leve já para o hospital.» Mas ninguém corresponde ao apelo. Uma
mais-velha lamenta, lembra a vida alcoólica, o refúgio dos escravos: «Ele vinha
bêbado, cansado das catorzinhas!» E por falta de socorro, chegou tardiamente,
carregaram com o jovem já no estado de não mais regresso à vida. Como é tão
fácil morrer nesta cidade dos escravos, perante o jorrar da vida ininterrupta
do petróleo.
03
de Março
O marido apanhou a sua esposa com outro.
Depois ela fugiu para o mato, escondeu-se, e ele de noite procurou-a, viu um
tronco, pensou que era ela, deu-lhe um pontapé e partiu a perna. Depois foi no
quimbanda e transformou-se em mulher. Passados anos foi outra vez no quimbanda
para desfazer o feitiço, e voltar a ser homem mas, o quimbanda tinha falecido.
04
de Março
Mês mulher, qual mulher?! Para já temos
dois tipos de mulheres: as do petróleo e as escravas do petróleo. As do
petróleo seguem faustosas, nele concubinas, e as escravas continuam escorraçadas,
deportadas do Mayombe/Cacuaco, Tchavola, e do campo das escravas deste Tarrafal
que se chama Angola. Dia da mulher, que mulher?! Quem não tem acesso ao
petróleo, nunca será mulher.
Espoliaram-nos a energia eléctrica às
20.45. Tivemos sorte, devolveram-na às 22.24 horas.
05
de Março
Andam a asfaltar
ruas e passam-lhes com o cilindro por cima, mas os prédios tremem como num
tremor de terra, em risco de desabarem. Então não há outra solução? Ou a coisa
é mesmo intencional para destruir, para mais centralidades petrolíferas
instituir, MAIS UM CRIME IMPUNE!
06 de Março
Nesta cidade de
Luanda dos escravos, como é impressionante o descalabro de uma sociedade.
Porque se ouve o constante, a quase ininterrupta estridência das sirenes de
qualquer coisa. Até parece, creio que sim, um estado de emergência, um desfile
de modas de sirenes desafinadas, superiormente autorizadas pelo mergulho do
petróleo corrupto. Tudo o que é destruidor vale a pena consumir.
Quando os
habituais prelectores nos ensinam que: “nada a temer, uma vez que a situação
está controlada.” Significa tão-somente que está tudo devidamente
descontrolado?
07 de Março
Apagaram-nos a luz às 05.00 horas e
acenderam-na às 23.50 horas.
Angola é um estado de facto e de jure
feiticeiro. As suas populações aderem em massa aos quimbandas tradicionais,
modernos de ocasião, e é claro, aos puros charlatães. E como estão isentos da
distribuição dos lucros do petróleo, mas onde é que isto foi decretado?,
atiram-se para o feitiço, tipo salteador da arca encontrada. Todos querem ficar
ricos de um momento para o outro sem esforço. Aliás, a governação consegui-o
facilmente sem mexer um dedo. Qualquer feitiço serve. O engraçado, ou será
desgraçado da questão, é que estão a enriquecer. Só o que se passa por aí nos
bairros… é com cada cena. É feitiço de porta em porta. Quem der um sambapito a
uma criança e ela adoecer, o amigo das crianças está mal, vão-lhe atacar porque
foi ele que enfeitiçou a criança, e se escapar da fogueira está com muita
sorte. Também, o perguntar se uma criança doente está melhor, que fique de bico
calado, é a mesma cena, vai para o fogo purificador dos feiticeiros. Gerou-se
um ambiente de pavor, mortal.
08 de Março
A mulata bebe gasosa, e putos acabados
de sair de mais uma partida de futebolismo gritam: «Vamos correr com os
estrangeiros!» A mulata aterroriza-se, foge.
Lá se foi outra vez, sempre outra vez, a
luz às 06.00 horas.
É para venderem mais uns geradores. As
empresas dos geradores pressionaram os órgãos de decisão da energia eléctrica,
para que provocassem mais um dos milhões de apagões, para que haja vendas de
geradores, senão está-se mal. É que essas empresas telefonaram, correio
electrónico não dá porque nunca respondem, ao senhor dos escravos,
assegurando-lhe que correm o risco de falência devido ao normal funcionamento
da energia eléctrica. E obrigam-nos a consumir a poluição cancerosa, enviando
mais crianças e idosos para as morgues. Em Angola crianças não têm direitos,
excepto o da escravidão e do morticínio.
A Rádio Ecclesia noticia que no complexo
agrário da Cela, no Kwanza-Sul, estão armazenados um milhão e quinhentos mil
ovos a apodrecerem, porque não têm escoamento para o mercado. Ninguém os quer
comprar porque é muito mais fácil importar.
Mais um pobre, miserável país africano
renasce, acrescento eu.
09 de Março
As ratazanas de
dia movem-se à vontade sem que ninguém lhes incomode. Não é difícil de imaginar
os estragos que fazem todas as noites. A intempérie de quem quer que seja faça
obras por isto e por aquilo, reforçam a destruição da trama da trampa. Ninguém
liga, é o carisma habitual. O mais importante é o petróleo, o resto é para
destruir. Nos prédios a prole roedora avança, instala-se, pois tem o luxo na
miséria devidamente festejado. Os geradores eléctricos serão as principais vítimas,
porque os seus cabos eléctricos serão inexoravelmente roídos, e o perigo de
explosões, incêndios, mortes, e destruições é latente devido aos
curtos-circuitos que por certo não faltarão.
10 de Março
O porta-voz da
barragem de Kapanda disse que a barragem já funciona a cem por cento. Acho isto
muto estranho, porque nós continuamos em pleno funcionamento de … zero por
cento.
11 de Março
E de muitos burros se fazem muitos
doutores, e quantos mais se farão, nascerão?
Com a barragem
de Kapanda a funcionar a cem por cento, os apagões mantêm-se, fissurados. E
dizem eles nas falsas propagandas: “Com Kapanda a funcionar a cem por cento, os
problemas da energia eléctrica em Luanda estão resolvidos, não há
preocupações.”
Os apagões na Luanda dos escravos.
Os escravos não sabem, não conseguem
fazer nada, seja o que for. E como raramente dizem nada, isto é uma fazenda de
escravos, os chineses carregaram com tudo para a China, que mais pode ser?
Pobres diabos, pobres incompetentes, o cúmulo da ignorância, do analfabetismo
total e completo. Qual é a utilidade do partido dos escravos? Uma inutilidade!
Tem que chamar, contratar estrangeiros para erguer qualquer obra. Os tipos
estão apostados em arrasar isto tudo, incluindo as nossas vidas, porque a única
coisa que sabem mandar fazer, é perseguir e roubar mulheres nas ruas que vendem
o que lhes resta da miséria. Batem-lhes selvaticamente e abatem-nas amiúde como
cavalos nos matadouros. E no fim cantam vitória, porque mais uma batalha foi
ganha, conforme as instruções dos entes superiores da revolução leninista sem
fim. Se a única preocupação é desviar os contentores dos dinheiros do petróleo
para as suas contas pessoais, eles querem lá saber se há energia eléctrica ou
água. Eles têm tudo à disposição, bilionários podres de ricos, que mais lhes
interessa? Verem o povo na mais extrema miséria a lutar entre si por uma côdea
de pão. E não é assim que fazem os senhores dos escravos? E como já estamos no
limite da saturação, tudo é possível acontecer. Quanta mais repressão, mais ódios
e vinganças nascerão. E quem não se compadece do sofrimento do próximo, a
população, não merece a mínima consideração, mas desprezo e hostilização. Neste
reino de quarenta nos, decididamente Angola está bem encaminhada, outro país
africano, outro Idi Amin Dada (1920-2003).
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