Porque é que fazer
amor em público é considerado imoral, passível de prisão? Mas os animais
fazem-no, e achamos muito natural. Quer dizer que os muros da vergonha do amor
ainda não se demoliram.
Nevoeiros dos
pianos mudos
E as cegonhas
moviam-se sem mar
e em terra tudo
enterrado
vegetado
Não, apenas findava
alguém
que procurava o
tempo perdido
do palavreado
As noites adormecem
desumanizadas
com tantas almas
espoliadas
acordadas,
desalmadas
Tanto amor fingido
numa dádiva a uma criança
até as flores são
bastas
se desbastam
de hipocrisia?
É suficiente o
sorrir de apenas uma mulher
que o Mundo se
contenta
se move
E como nela o
sorriso se acabou
o mundo se
descontentou, avessou
E muitas de nós
se desvaneceram nas
amarguras da vida
se distenderam
Um terno sorriso
chega ao coração mais rápido
do que um corpo
fluido, poluído
O estridente,
(deixou de suavizar-se) pardal nas nossas góticas janelas
no murchar da morte
das obras alquebradas, condecoradas
que nos sucumbem na
poluição desta convencional civilização
o nosso futuro já
foi de betão
agora é de
escravidão
E aflitos
caminhamos, não!
no amor tropeçamos
Sonho sempre com
altas montanhas
a pairar no meu
voar
desperto esforçado,
aterrorizado
um caçador
humano/desumanizado
mira-me, atira-me a
matar
Cansamo-nos de
procurar nos caminhos exteriores
porque os nossos
interiores
continuam
desconhecidos
ainda ninguém lhes
cantou um salmo
de suspiros, de
amores
Dantes a chama do
amor não se apagava, porque o amor a alimentava. Hoje somos incapazes de
garantir o combustível que mantenha o que resta dessa chama. O amor apaga-se,
não se paga.
Houve um tempo em
que o amor impunha o poder, o seu esplendor. Hoje em dia, o amor adulterou-se
tanto, que de tão corrompido que está, se fala abertamente, os dois, o
corruptor e o corrompido do amor.
Dantes as portas do
amor abriam-se espampanantes, libertavam-se dos gonzos. Agora fecham-se
hermeticamente porque já não existe nada nem ninguém para amar.
Não deixem o amor
entregue à sua sorte.
Dizem que existe
algures a cidade perdida do amor. Todos os apaixonados são atraídos
misteriosamente por ela. E tu? Não desejas desvendar o mistério
dessa cidade?
A corrupção está
tão enraizada que periga de tal modo o império do amor, que pode desabar.
A fonte do amor da
água divina, afrodisíaca, é o bálsamo que inspira os enamorados. Não deixes
esta fonte secar, senão os enamorados vão acabar.
Havia um reino onde
o rei e a rainha se amavam sempre intensamente, nunca esmoreciam. Muitos anos
se passaram, até que num dia, inesperadamente a rainha morreu. E logo o reino
entrou em ruínas. Vês a falta que o amor faz? É impossível
viver sem ele.
Não deixem o amor
entregue à sua sorte. São necessárias reformas profundas no sistema democrático
do amor. Temos que criar a democracia do amor, antes que assistamos à sua grande
catástrofe final.
As catástrofes humanas,
matanças em holocausto, acompanham também as catástrofes naturais e ambientais.
Apesar
de tudo, os caminhos do amor continuam seguros.
Quando contemplamos
uma flor, deixamo-nos prender pelo seu ar cândido, atraente. É assim que
funciona o amor.
Meu eterno amor de folhas verdes, tão precocemente amadurecido, e logo
extinguido, no vento distorcido.
As folhas verdes atapetam o teu caminho, levantam-se à tua passagem como
para te saudar.
Folhas verdes são desejos de amor rejuvenescido, cândido, perdido.
Folhas verdes são correntes sem águas das nossas mágoas.
Não entendo o porquê de um só dia dos namorados num ano, quando todos os
dias se deseja amor.
Ainda me sentei nas pedras que pensavam estiradas, mesmo no tempo em que o
sol findava, já não irradiava. E a Lua iniciou, pouco brilhou, o que chamam de
luar, que incidia, amava nas noites do fluorescente luar do plâncton do mar. O
Sol arrefecia, já não sentia, despedia o mar, e a Lua arrastava o tremular, o
soluçar do amor do mar humano para ti.
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