Pois!... Os
bancos já não têm dinheiro para alimentarem os especuladores que investiram na
bolsa de matérias-primas e acumularam grandes quantidades de crude em super
petroleiros no alto mar, o que durante algum tempo provocou a escassez deste
bem essencial e consequentemente o aumento dos preços. Só que com o aumento da
produção e a redução do consumo. A procura diminui e os especuladores deixaram
de pagar aos bancos. Daí a crise financeira em que nos encontramos, que ao contrário
do que nos dizem, não tem nada a ver com o imobiliário nos USA. Andam-nos a
mentir!... E sabem de quem era este dinheiro que os especuladores do crude
utilizavam para enriquecerem à nossa custa com o amento dos combustíveis? Era o
nosso dinheiro, são as nossas economias, que pomos nos bancos pela qual nos
pagam uma ridicularia de juros, e até esses juros nos são depois sugados com a
sua aplicação na especulação de bens essenciais como os combustíveis. In Carlos Rocha, Porto, Portugal.
Público última hora
- Estudas?
- Consegui com muito custo a instrução
primária, mas não aprendi nada. Para prosseguir
os estudos não
há vagas. É necessário
pagar uma pequena
fortuna. Na universidade
privada nem pensar. Para pagar
é outra, uma grande
fortuna. Não
teria tempo para
roubar…para pagar os estudos.
- Então passas a vida a roubar?
- Bom… não é bem assim. Só estou a pedir o que o Mpla
me deve.
- Mas roubas pobres inocentes
que não
tem culpa nenhuma. Porque
não roubas aos ricos?
- Mô kota branco… esses não dá. Estão bem protegidos.
Onde eles estão nem um grão de areia passa. Tenho que roubar para não passar
fome. Somos bwé nessa vida, os police não nos aguentam.
- Então, roubas qualquer pessoa?!
- Não… só roubo brancos nas praias ou quando estão
distraídos nos carros. Dá-me uma grande vontade de rir quando os assalto. Ficam
tão assustados que até me dá pena. São muito medrosos. Roubamos telemóveis…
temos um jovem engenheiro que lhes conhece todos os segredos. É um bom negócio.
Roubamos tudo o que pudermos. Roubar brancos… desculpa. Pelo que tu fizeste por
mim… já não mando mais roubar brancos.
- Não mandas mais (!)
- Não!.. chefio uma quadrilha
no Sambizanga. Nasci lá… o meu pai e a minha mãe morreram na guerra.
Tenho uma irmã muito bonita que está
a viver na casa
de uma tia… depois vais conhecê-la.
- Sabes quem foi Malcolm X?
- Foi um black americano muito fixe. É o meu herói…
desejo ser como ele.
- Sabes que ele terminou assassinado à bala?
- Sei... também sei que será esse o meu destino.
Quando os police me apanharem… matam-me.
Faz-se sempre necessário analisar
a vivência de Malcolm X. Ele que nasceu
e cresceu numa sociedade extremamente
violenta, profundamente abundante de discriminação racial. Acho que ele
acreditava que, mais dia, menos dia, acabaria por
ser abatido a
tiro. Talvez preparasse o destino, o
caminho glorioso de Martin Luther King.
Talvez se trate também apenas do Profeta
e do seu Seguidor.
Afinal, Jesus Cristo pregou perante uma violência
extrema e foi morto.
Os seus seguidores
depois de muitos
séculos pregaram, e continuam a pregar a
paz, mas curiosamente o Mundo apresenta-se cada vez mais violento.
Trazia as folhas
de papel com
o texto que
havia tirado do computador, e anunciei-lhe:
- Posso ler-te um texto?
- Um texto?!.. Se for para me dares lições de moral,
esquece.
- Não, é sobre Malcolm X.
- Ya, ya, quero ouvir.
MALCOLM X, revolucionário americano
(1925-65)
Aos 20 anos
já estava na prisão, condenado por assalto com arrombamento. Depois foi o tempo
da droga, do álcool, o jogo, a prostituição. Uma vida idêntica às de muitos
outros homens da sua idade, da sua condição, com o seu tom de pele. Até que um
dia...
Quando a mãe ainda o trazia na barriga,
contará mais tarde,
um bando
de homens do Ku Klux Klan a cavalo atacou durante
a noite a quinta
isolada onde vivia a família. Era o seu pai que eles
queriam. Pastor baptista, era
um fervoroso
divulgador das ideias de Marcus Garvey, cuja utopia era o retorno
dos negros da América ao Continente Africano.
Nessa noite o pai
não estava lá,
mas os cavaleiros
do Apocalipse branco
voltarão alguns anos
mais tarde
para queimarem a casa.
E, em 1931, acabarão mesmo por abater o pastor.
Malcolm Little era o sétimo filho do casal. Nascera com a
pele um tudo-nada clara, marca do rapto distante da sua avó por um branco. Depois
da morte do pai, a mãe acabara por ser internada num asilo para loucos, mas
Malcolm conseguirá sobreviver a esta conjugação de desgraças tornando-se como
que um estudante-modelo. Para a comunidade branca de Lansing (Michigan),
localidade onde crescerá numa espécie de casa de correcção, tornar-se-á mesmo o
protótipo de um "bom negro", um exemplo que a "boa
sociedade" não poderia deixar de destacar: provindo de uma família
marginalizada, criança instável, rejeitada por muitos, conseguiria ainda assim
preparar-se para encontrar um rumo para a sua vida, graças, claro, ao auxílio
dos brancos.
Malcolm Little, adolescente, torna-se assim um
"negro branco", um desses "pai Tomás" que ele próprio
repudiará mais tarde. Desfrisara os cabelos, preferia as mulheres de raça
branca, tentava imitar o americano médio sob todos os aspectos. Todavia, cedo
acabará por se aperceber de que não será nunca um branco: mesmo que o seu
comportamento agrade aos brancos, ele nunca verá o seu trabalho pago como o de
um branco e jamais terá o lugar social deste. E tal como muitos daqueles a quem
o american way of life seduziu sem lhe dar meios para nele sobreviver,
Malcolm Little começaria a contornar as dificuldades pela via da marginalidade.
Torna-se assim uma espécie de "bandido amador",
desenvolvendo actividades que o levarão à prisão nos inícios de 1946.
Permanecerá aí sete anos. E foi aí, em 1948, que se converteu ao Islão e que,
em 1952, aderiu à Nação do Islão, os Black Muslims, de Elijah Muhammad,
organização da qual se iria rapidamente tornar o principal porta-voz.
Escolheria então o pseudónimo de Malcolm X, para sublinhar o facto de o negro
para o branco não ser nada, não ser senão um X, uma pequena cruz. Em 63, porém,
romperá com os Black Muslims e começará a preparar a fundação daquela que virá
a ser algum tempo depois a Organização de Unidade Afro-Americana.
"By any means necessary" ("por
todos os meios necessários"): para lá de uma frase que se tornaria como
que o emblema de Malcolm X, as palavras sintetizam uma filosofia da acção que
será também um humanismo no sentido mais forte do termo, uma ética
revolucionária que coloca o homem no centro. Malcolm X tenta conciliar uma
leitura dialéctica da história com o Islão, a fraternidade com a violência. Ao
longo dos últimos meses da sua vida, começou também a aperceber-se da
necessidade política de uma aproximação dos negros com os brancos
anti-racistas. As suas concepções encontram-se, pois, ligadas à ideia de uma
legítima defesa à qual se encontram forçados os afro-americanos:
"Nós não somos contra ninguém pelo facto dessa
pessoa ser branca. Mas somos contra todos aqueles que praticam o racismo. [...]
Nós não somos pela violência. Somos pela paz. Todavia, as pessoas que
combatemos empregam a violência. E não se pede ser pacífico diante dessa
gente". Um
dos "meios necessários" que ele tem em mente é de facto a violência: "Se
for preciso organizar um exército da nação negra, nós organizaremos um exército
da nação negra. Actuaremos pelo voto ou à bala. Será a liberdade ou a
morte".
No último discurso, pronunciado cinco dias antes do seu
assassinato no Audubon Center de New York, Malcolm X afirmaria: "Eu
acredito na fraternidade humana. Porém, [...] tenho de ser realista e
compreender que aqui, nos Estados Unidos, encontramo-nos numa sociedade que não
pratica a fraternidade. Que não pratica aquilo que prega". No mesmo
discurso, atacaria também outras organizações afro-americanas. Para ele, Martin
Luther King ter-se-ia tornado uma figura aceitável para muitos brancos
precisamente porque se opunha aos sectores negros mais radicais. Fustigaria a
ineficácia do movimento pelos direitos cívicos chefiado pelo reverendo King:
assim, no Alabama, e apesar da lei adoptada em Julho de 64, os negros
continuavam sem poder votar. Seria que o governo federal não tinha força para
impor a lei que aprovara? Malcolm X afirmará então: "esta lei não é
senão um truque miserável, dado que eles continuam a rir-se de nós ano após
ano". Mais do que mendigar algumas leis, pensa então em criar um poder
negro. A necessidade, para vencer, de opor um poder negro ao poder branco.
Quando, em 1966,
Huey Newton e Bobby Seale fundarem os
Black Panthers, reivindicarão assim, como património teórico,
e ao mesmo tempo
que os escritos
de Frantz Fanon, os discursos de Malcolm
X. Os Black Panthers seriam aliás um movimento
"nacionalista revolucionário"
– tal como
se auto definia – fundado
na mesma linha
da autodefesa armada
pela qual
pugnara Malcolm X.
O seu assassinato, e depois
o de Martin Luther King e de numerosos militantes dos Black Panthers, empurrariam o movimento afro-americano para
uma espécie de espiral
de despolitização. A comunidade negra ver-se-ia assim
diante de uma tentativa,
não tanto
de a eliminar – os negros
são muito
úteis porque ocupam um
grande número
de empregos sub remunerados... –, mas simplesmente
de a controlar, aterrorizando-a e sugerindo-lhe
outras vias de "contestação" que
não a política.
A introdução
massiva da droga entre
a juventude negra,
a exaltação fanática
do Islão como valor
pseudo africano – o grupo
radical The Last Poets declararia mesmo, em 1993,
que "o Islão é a religião da África desde
há milénios" (SIC) – ou as perspectivas simplicistas e racistas
de certos membros
da comunidade são
as marcas de uma determinada
regressão. Um
filme como
o de Spike Lee (Malcolm X, 1992), apesar
de uma visão algo
maniqueísta dos factos que apresenta, ilustra porém
a actualidade deste grande revolucionário negro.
Mais significativamente
ainda, novos
militantes tentam retomar
uma perspectiva política
e revolucionária da libertação
dos afro-americanos, como é o caso de Mumia Abu Jamal. É sem
dúvida por
isso – não
existe outro motivo
claro – que
este é mantido, desde
há largos anos,
nos corredores
da morte de uma prisão
dos Estados Unidos. Porque permanece a
força subversiva destas palavras: "By any means necessary". In http://hiphop-al.blogspot.com
- Gostei, gostei! Deixa-me
levar para eu estudar e mostrar aos meus kambas.
Malcolm X despediu-se.
Adensou-se na profundidade nocturna até a noite o possuir. Antes de desaparecer
completamente, passou junto a algumas mulheres que
vendiam cigarros e cerveja.
Ouvi uma delas suplicar:
- Malcolm X, meu filho, não me
roube!
Juntou-se a três jovens que o
aguardavam. Acho que eram os seus guarda-costas.
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