27 de Abril
Cerca das 14.30
horas, na Rua das Sirenes, um carro estaciona com dois portugueses. São
assaltados por dois jovens que se deslocam numa moto-rápida, que lhes garantem
a defesa de um advogado de pistola em riste: «Abram o vidro do carro senão já
eras!» Os jovens não leram os deveres dos assaltantes e dos assaltados,
levaram-lhes todo o dinheiro, não se sabe quanto, mas era um saco muito
volumoso. Os tais assaltos encomendados?
Quase há quarenta
anos que a energia eléctrica e a água se carregam, carregam?! Sim! Carregam! A
luz é carregada em recipientes de plástico de vinte litros, curiosamente todos
de cor amarela e os da água também. No caso da energia eléctrica os apagões são
frequentes, são lei, este povo só tem direito a velas de cera. A água é a mesma
coisa, carrega-se tal e qual a energia eléctrica. Pagamos dois preços, um para
sustentar os chulos e os incumbentes dos incompetentes que mais não são do que
uma das quase duas mil igrejas profanadoras que põem em sentido a ostentação da
corrupção de Angola. Outro preço é para quem carrega os recipientes amarelos,
de modos que com tanto saque como é possível uma população sobreviver? Bom,
como dizem que os objectivos do bilénio serão conseguidos, até lá temos a
destruição da pobreza garantida, isto é, a sua multiplicação.
28 de Abril
Dicionário
mwangolé. Partido Totalitário. Acto ou efeito de quem governa na totalidade,
isto é, que não dá margem de manobra, qualquer sobra política a quem queira
manifestar opinião contrária. O que está presente em todos os domínios,
incluindo as nossas mentes. Partido político que resolve todas as contendas,
são-lhe sempre desfavoráveis no veredicto popular, e por meio da violência servem-se
de todas as riquezas que o país dispõe, incluindo a mais importante, a
espoliação constante dos seus cidadãos.
29 de Abril. 07.01 horas. Um
alvoroço daqueles instalou-se no prédio. A namorada do vizinho do último andar
apanhou-o com outra, vê-se calmamente que ela já desconfiava e veio assim tão
cedo para o ensaio do grande escândalo. Mas que brutalidade, é que não se
respeitam os direitos dos vizinhos que ainda dormem, ou aqueles já acordados
que meditam a quem hoje extorquirão algum dinheiro para alimentar as amantes,
ou o tal habitual negócio dos equipamentos que custam um milhão de dólares mas
que depois a factura final apresenta dois milhões. Os equipamentos chegam,
aguardam-se meses que os técnicos nunca cheguem, e quando isso acontece as
máquinas estão num estado lastimável devido ao abandono, tal como os
desalojados dos casebres sem pátria. Só os donos do petróleo são angolanos, os
outros, os verdadeiros angolanos, são apátridas.
E a jovem, de porte
físico de meter respeito, tipo quem luta como um homem, aí dos seus quase
trinta anos, grita: «Quase há três anos que namoramos, ABRE A PORTA!!! Mas o
seu querido mwangolé nem sinal de vida. E ela insiste, bate na porta com tal
brutalidade que o prédio parece que vai desabar, aliás coisa muito natural hoje
em dia, pois não se houve outra coisa que sejam prédios a desabarem por esse
mundo fora, e neste mundo cá dentro, ela não se cansa, mulher mwangolé é o
cúmulo da paciência: «Não vou sair daqui enquanto não me abrires a porta. Você
não me conhece! FILHO DA PUTA!!! ABRE A MERDA DA PORTA!!! E do outro lado
apenas se escuta comovente silêncio, como a dar a entender que não estava, lá
ninguém morava, e a infindável despeitada invectiva na porta com redobradas,
estrondosas pancadas: «Daqui não saio até ver essa gaja. VAMOS SE ATIRAR DO
PRÉDIO ABAIXO!!! Parece que resultou, porque o nosso suplício acabou, e o
silêncio retornou. Foram quase duas horas. E não faltou o habitual comentário
de quem anda nestas andanças da vizinhança sempre atenta: «Oh! Esse, todos os
dias trás uma para dormir com ele.»
30 de Abril
No dia 17 de Abril
na LAC – Luanda Antena Comercial, Laurinda Hoygaard, disse que
em Angola toda a gente colecta impostos. Mas quem tem competência para isso é o
Ministério das Finanças.
No dia 20 de Abril, 16.29 horas. Bruto tiroteio ali, parece, na Ex/Avenida
dos Combatentes, hoje, Avenida Comandante Valódia, em Luanda.
22.22 horas. Os monstruosos três geradores arrancam, parecem um avião a
jacto, ali no prédio do ex/ministro das Finanças, José Pedro de Morais. É
incrível como eles nos dizimam, pois três geradores gigantescos instalados numa
área densamente povoada, é mesmo o cheiro da morte que paira no ar e em terra.
É isto, o mais vil que alguns seres humanos nos podem presentear. E ainda discursam
que o terrorismo está muito activo, pudera, quem executa terror, recebe
terrorismo. Há governos que governam para liquidarem as populações para daí
retirarem dividendos, o tal enriquecimento fácil. Há países onde algumas
pessoas enriquecem de um momento para o outro, o resto que se dane. Mas,
primeiro a decepção destas coisas começa com alguns tumultos, depois vão-se
avolumando, até que acabam em revolta, em revolução.
11.34 horas. Uma ambulância de cor branca e de sirene azul, circula,
espalha a sua violência sonora. O curioso é que não tem nenhuma identificação.
Que ambulância é esta? Uma ambulância fantasma?
14.51 horas. Até
uma simples escolta prisional se transforma numa imitação da escolta
presidencial, com batedores, sirenes, aparato militar e velocidades
presidenciais.
01 de Maio
Nota-se claramente
que Luanda está nos últimos momentos da sua destruição, mas ninguém se
apercebe, porque será?
02 de Maio
No dia 25 de Abril,
cerca das dez horas da manhã, na rua das Sirenes, num escritório, que dizem que
é de uma empresa de diamante, fiscais do GPL – Governo da Província de Luanda,
carregaram diversas mercadorias que seguranças guardavam de algumas empresárias
vendedoras de rua, abraçaram, espoliaram tudo como é da praxis. Houve um final
feliz: o chefe da empresa dos seguranças despediu-os, alegando que, estão aqui
para trabalhar e não para fazer negócio com as coisas das vendedoras.
Já engoli os sapos
da lagoa, mas a água é que eu não bebo. Álvaro da Boavida Neto, governador do
Bié, sobre estradas não concluídas mas com os orçamentos pagos na totalidade. A
empresa que executa diz que sim, que o trabalho está terminado. O governador
terminou afirmando que o PR está a ser enganado, e que não sabe o que se passa.
As mulheres
queixam-se de que há por aqui muitos homens infectados com sida, que não lhes
dizem nada. Elas depois quando fazem uma análise sanguínea descobrem que estão
infectadas e depois desmaiam.
O parte paredes do
general Ledi prossegue, é assim todos os dias. Erguem-nas, depois partem-nas. Como
se explica este esbanjar de dinheiro? Puro africanismo malévolo?
S.O.S. UNICEF. O gerador do banco
millennium Angola, na rua Rei Katyavala, em Luanda, parece que retomou a sua
actividade de matar crianças que brincam junto dele, respirando o seu fumo mortal,
incluindo os moradores que têm que fechar as janelas. A rede tem energia
eléctrica, mas eles desde as oito horas da manhã que o ligaram e já passa das dezassete
horas. Um banco que está ilegal, tudo e todos na ilegalidade, pois espoliou o
terreno das traseiras, coisa natural numa terra sem lei. Mas quem é que promove
o terrorismo? Os bancos são os seus mentores? Acreditam que em Angola a
violência terrorista continuará indefinidamente? Quando as chamas se erguerem,
quem as apagará?
17.19 horas. A bandalheira
atingiu tal desordem que até já jovens tresloucados circulam com as suas motos
a dispararem tiros dos seus escapes.
Ouvi na rádio
Ecclesia que em Portugal, os portugueses que vem para Angola são aconselhados a
terem mil e um cuidados com a epidemia de febre da dengue que já se instalou
definitivamente em Luanda. Em Malange não há equipamentos médicos para
analisá-la. Com tanta invasão estrangeira outra coisa não era de esperar. Este
eldorado é um eldiabo.
Os mwangolés andam
numa ideia fixa, na sua azáfama diária. Baterem nas paredes e pintá-las para
alugá-las. É o prato do dia, não se fala noutra coisa. Haverá deflação no
aluguer das casas? Isto é, os preços cairão? Os prédios regressam de novo aos
seus proprietários estrangeiros na forma do aluguer anual. Assim torna-se mais
fácil rapinar Angola e atrelar os escravos mwangolés que ficam mais dóceis,
como os cães.
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