É, realmente, um grande aborrecimento o facto da sabedoria só poder ser
adquirida através de trabalho árduo. William Sommerset Maugham (1874-1965)
Baladas de Lady
Marli
Parece, hoje,
ontem, mas oito anos já se esgotaram
Quando as folha das
árvores caem, as árvores morrem uma vez por ano e ressuscitam o seu intenso
verde da vida, e as flores são pintadas, imortalizadas nos quadros de mortais
pintores, mas nas suas obras imortais. Nós não, como não temos folhas para
caírem e depois se renovarem, morremos, caímos e nunca mais nos levantamos, em
qualquer cova nos abandonamos.
E Ulisses na
eternidade do mar, navega sem Penélope encontrar. O som de um alaúde ouve-se ao
longe, parece o mar acalmar, e de Penélope sempre se enamorar.
Na terra deitado,
tumulado, dos humanos afastado, já não recordado, de tanto sofrimento,
torturado.
Tantos sonhos que
tive em vão, queria realizá-los mas enviavam-me para o paredão, sempre no
receio do: me fuzilarão?
Vejo uma bela
paisagem, o mar carregado de luz iluminando a praia, e nela uma voz melodiosa
nas areias guardada, quinhentos, seiscentos, setecentos anos depois. E a voz
canta, transplanta as danças e os cantares da Idade Média. É verdade sim,
qualquer um de nós é uma máquina do tempo. E de repente um cortejo musical
fez-se presente, e a beleza da Idade Média renasceu, comovente. Sim, os sons
mais maravilhosos são desse tempo, tanta beleza à espera da descoberta. O Santo
Graal é a música da Idade Média.
E mais ao longe em
terra, vejo um campo carregado, cercado de jasmins, o jasmim-dos-poetas atrai,
sem ele não existiriam poetas. Um riacho faz-se presente, não se deixa ausente,
o verde comanda a vida, e nós não somos verdes por isso perdemo-la. E onde não
há verde, há norte.
Tudo nasce e morre,
nós também, mas enquanto vivos devemos mostrar o caminho da eternidade, da
solenidade do amor. Mas há sempre os que se consideram imortais, esses são a desgraça
das nossas vidas.
Viver é uma efémera
dança, a qual desejamos que nunca mais acabe. Viver é resistir, nos laços do
amor sucumbir.
Cinco anos que o
tempo já levou
Depois da morte fica
o sonho que nos deixaste, que nós nos esforçamos por te vangloriar, nas nossas
obras poéticas e em prosa te eternizar, para que já não estando tu viva, a tua
alma se delicie com as maravilhosas obras dos teus filhos. Um filho que se
preze fará tudo para merecer a sua mãe, e dizer-lhe no seu íntimo: «Mãe, não
foi em vão que iniciei a minha vida na tua barriga, tão carregada, de amor tão
avantajada».
Os seres humanos
vivem gelados e não conseguem nenhum degelo. Vivem apenas uns ténues momentos
de amor e logo depois regressam de imediato ao que mais bem sabem fazer, a selvajaria.
Esses para quem o amor é apenas um acto carnal, um desejo sexual, não são humanos,
nasceram para odiar o amor.
Vejo um castelo, e
nele uma donzela de beleza celestial, pura como a virgindade dos tempos, que lá
reside há muitos milhares de anos, sim, ela é imortal, porque nunca foi tocada
pelo amor, aguarda-o, que um príncipe, já tantos, tantos, e tantos se
apaixonaram, fingiram que a amaram, e ela vive nas alturas das ameias acasteladas.
Claro que toda a gente jura que esse castelo está amaldiçoado. E eis que o Cavaleiro
Mwangolé sem muito esforço rompe as protecções do castelo e enlaça a sua
donzela que há muitos milénios o espera. E a princesa, sim era uma princesa, rapidamente,
finalmente compreendeu que o seu amor chegou, a libertou, e a imortalidade dela
findou, pois o amor é muito exigente, e quem o quiser amar, às suas regras tem
que se escravizar. E ao se libertar, Lady Marli - sim era ela – dos milénios da
amargura da eternidade do desamor, sentiu-se intolerantemente feliz, não
sabiam? O amor é o sentimento mais intolerante que existe - a sua tortura
terminou, pois o amor lhe chegou e viveria a quantidade de anos que o amor lhe
achasse necessário, mas depois tudo abarcaria, a morte levaria. O amor é a
coisa mais maravilhosa que existe, pois só ele nos permite atiçar a chama da sua
fogueira e sem querer-mos, sem sabermos, inexplicavelmente dizer: amo-te!
E Marli embevecida
trovou para o seu cavaleiro e para o mundo inteiro:
Sempre mais perto do teu alaúde
está o desespero do nosso amor
Eternamente será o mais difícil
Cavalgar é necessário
num grande esforço
seguir e do castelo te libertar
E seguir-te, caminhar, te amar
te esverdear
E arrebatar os jasmins que no
caminho
me enamorar
e por eles te pelejar
E na minha espada os embainhar
E esporear a minha montada
e do castelo te libertar
me assenhorear
Este mundo é um castelo sempre
fechado
Onde dois seres lutam por vê-lo
libertado
Só o amor nos concede a vitória
da
vida
Ó glória!
Nunca o amor foi, jamais será
derrotado
É isso que para sempre está
pintado
no Taj Mahal
eternizado
O meu nome ninguém sabe
nem eu
O meu nome é, nunca saberei!
Olho para o meu relógio
perdido no tempo
E os ponteiros movem-se sempre
na mesma direcção
Qual, nunca saberei
E isso que importa?
Porque nos movemos todos
Nos ponteiros dos relógios
das ditaduras
E o meu futuro é a lei da violência
Da bala, do tiro, debalde
Quando olho pela minha janela
(já não vejo o sol, espoliaram-mo)
Afinal a democracia é isso?
Sem direito a casa, a nadar apenas
no luar
Quando ele se vê, nada mais tenho
Para mitigar
Sempre com a fome a me
rodear
Atacarem-nos como terroristas?
E dizem que os outros terroristas
nos atacam?
Com tantos terroristas que nos governam?
Sim! Este mundo é do terrorismo global
É nacional
Só mesmo um governo que não sabe o que é o amor
Aposta na mendicidade das ruas
Sim! Democracia é isso!
Eleitores que votaram na estabilidade, na mudança
Perderam a uma vida melhor, a esperança
Afinal é muito, muito pior
Já sei qual é o meu nome
PEDINTE!
Olho para a parede, sim, sou mais um emparedado
Da democracia, destabilizado
Olho, olho, torno a olhar
Mas, só vejo paredes para me
aprisionar
E forças de segurança bem armadas
Para lutarem contra quem?
Contra os pedintes!
E os terroristas avançam, implacáveis
Pragas de formigas, gafanhotos, piranhas
E a aposta destes governos é acabar com o amor
Substitui-lo pelo terror
a corrupção fortalece a agonia
da democracia
e onde não há amor
há terrorismo, terror
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