24 de Maio
O vizinho do
terceiro direito lá continua a aprimorar o seu apartamento. Bate, bate, parte,
parte, destrói, destrói. Parece que está na mudança dos mosaicos e dos azulejos,
a única coisa que sabem fazer para alugar um apartamento a estrangeiros.
25 de Maio
Uma aventura nas
profundidades.
Não percamos tempo
com isso do dia de África. Vejo-a cada vez mais mergulhada na miséria dos seus
sepulcros, e no esforço do esbanjamento dos dinheiros das populações pelos seus
governantes, a que chamam de povo, na publicidade mundial dos mercenários da
informação, que a África está muito bonita, apetecível para o turismo sexual.
Que a África é o único continente que apesar do colapso da economia mundial, a
África cresce… na miséria. É isto mesmo, África é sinónima de miséria, de
corrupção e de embarcações da morte no rumo da vida na Europa. África ainda é
incapaz de reunir os seus intelectuais numa causa única pela sua liberdade e democracia.
África ainda é um continente perdido, já não são abutres, mas agora onde cada
país do mundo escraviza os africanos na extracção de minerais valiosos e cria
movimentos de libertação, angariando generais, isto é o que há de mais em
África, qualquer um é general. África é o continente dos generais, dos chacais
à toa descontentes que obrigam crianças a trabalharam nas minas para extraírem
o coltan para os celulares das ainda poderosas multinacionais, essas que
promovem o terrorismo mundial e que depois tudo fazem para o conter sem o
conseguirem, pois quem luta a favor da miséria num planeta povoado por milhões,
muitos, muitos milhões de miseráveis tem a batalha perdida e os políticos terão
o fim que merecem: as fogueiras da nova inquisição. Não, não quero ouvir falar
do dia de África porque os seus filhos continuam incapazes de se libertarem dos
seus ditadores, porque só pensam nos seus assuntos e nas suas carreiras
pessoais. Quantos mais franceses virão para continuarem na libertação, isto é,
na imposição da escravidão dos seus recursos minerais, creio que não é
necessário abordar a nova descoberta chinesa de África oferecendo umas migalhas
a que chamam de ajuda, de financiamento, é que assim mais uma vez lá estão os
africanos subjugados. Qualquer um lhes serve para a manutenção da escravidão. E
quem está habituado a viver na miséria dela não quer sair, ela é o seu modo de
vida, e quem o tentar os contemplados pela miséria não deixam, impedem-nos.
No dia 23 de Maio
cliquei em duas ligações da Unita no Club-K e não consegui aceder. Tentei
também no Angola24horas e também não consegui. Enviei uma mensagem no Facebok a
um meu amigo e ele disse-me que demorou cinco minutos para a conseguir ler,
onde ele me alerta que há um filtro, espionagem, nas comunicações.
No dia 24 de Maio
tomo conhecimento no Facebook de um editorial do insigne jornalista William
Tonet, director do jornal Folha 8. Clico na ligação e entro no Club-k, faço a
cópia do texto mas ele está bloqueado, não consigo. Fiquei surpreendido porque
há já meia dúzia de anos que uso o navegador Mozila, é o melhor que há, tentei
gravar a página, não consegui e: «Porra!
esta merda está mesmo fodida!» Pensei
Como já não sou
nenhum amador nestas andanças, fui para o outro navegador, Opera, aguardei que
ele se actualizasse pois uso-o para casos de emergência como este, e ele diz-me
que não consegue gravar a página, então: «Porra,
esta merda está mesmo muto perigosa, os clarividentes estão na loucura final do
controla tudo e todos, isso mesmo que antecipa a queda dos históricos ditadores,
apesar de que eles nunca se apercebem, e na viagem final arrastam consigo
algumas multidões de mortos, tipo faraós.» Assim meditei.
Tentei o Internet
Explorer do Windows e consegui gravar a página. Depois cliquei no lado direito do
rato e instruí o programa para a abrir com o Word. Consegui, copiei o texto do
jornalista William Tonet e publiquei-o no meu blogue.
Manos e manas
redobrem de cuidados porque nunca estivemos tão vigiados como agora… no
estertor final.
E uma modesta dúvida
me percorre os vasos sanguíneos: Mas eu sou assim tão incómodo para o regime
que mereça tamanha vigilância electrónica?
A brigada dos
piratas informáticos do exército chinês já se aquartelou em Luanda?
26 de Maio
Isso que eles
chamam de energia eléctrica – não sei porquê – abandonou-nos às 22.03 horas. Os
geradores têm pouca saída, um apagão resolve o problema desta facturação.
27 de Maio
A luz deles chegou
às 02.18 horas.
Dezoito horas e
doze minutos. Ouve-se o intenso troar das sirenes policiais na defesa da
democracia e da consolidação de doze anos de paz e dos desaparecidos que ousam
reivindicar os seus direitos. NINGUÉM ESTÁ AUTORIZADO A MANIFESTAR-SE, porque a
democracia ainda é um sonho, o petróleo asfixia-a.
Pedrowski Teca no Facebook: "Só nos dão valor quando os jovens se
manifestam. Até os salários sobem" disse um polícia anti-terror.
Luanda 27 de Maio de 2013. Vigília sobre dois jovens manifestantes,
Kamulingui e Kassule, há um ano desaparecidos. “Acabo de receber a notícia que
o Mandela foi torturado e atirado para as imediações da shoprite
(supermercado). As clínicas estão a rejeitá-lo, a única que parece disposta a
recebê-lo é a Providência. Os jovens estão sem fundos (fonte Adolfo) ” Facebook
28 de Maio
Os doentios podem
chamar-lhe chauvinismo Acaba de chegar ao meu conhecimento uma série de
atropelos à lei laboral (?) por portugueses. Um exemplo: mwangolés que
continuam estagiários há dois anos sempre com o mesmo vencimento. Uma
portuguesa mal chegou, passados seis meses aumentaram-lhe o vencimento. Os
portugueses têm direito a comerem e beberem o que bem lhes apetecer, os
mwangolés, nada. Os portugueses não fazem nada, fingem que trabalham. Obrigam
os mwangolés a trabalhar sem parar e dão-lhes uma sandes com um copo de água,
se a houver. O tratamento é discriminatório, selvagem, racista, do tipo:
"Vocês não gostam de trabalhar." Mais portugueses e portuguesas
chegam, mas mal preparados na área e logo saltam por cima dos mwangolés, no
complexo do colono. A coisa começa a aquecer e os portugueses arriscam-se a
levarem uma grande surra. Porque é que fazes isto, José Eduardo dos Santos,
neste MPLA irreconhecível, sangrento, que nos amarra, algema na nova brutal
selvajaria? Isto assim não vai nada bem, todos o sabemos menos o nosso grande
clarividente. Quer dizer, sempre a ferver para a panela rebentar de vez, o que
se poderia evitar, mas não. ISTO ESTÁ DEMAIS, BASTA!!! Quem são os
terroristas?!
29
de Maio
Apagaram-nos a luz
às 08.51, ela acendeu-se às 09.43 horas. E lá se foi outra vez - esta energia
eléctrica chama-se outra vez - às 11.55 e no gozo festejou-nos às 13.31 horas.
Será que houve alguma manifestação e alguém das milícias confundiu alguma torre
de alta tensão, prendeu-a, torturou-a e ela não aguentou e sucumbiu? Entretanto
a recém marca de geradores MPLA já faz sucesso no mercado. Comprem geradores
MPLA, assistência técnica nunca garantida.
A ciganada
portuguesa - até as prostitutas os evitam, se queixam, porque furtam-se ao
pagamento dos serviços prestados, aprenderam com os seguranças? - enxovalha os
mwangolés para que estes, devido aos maus tratos abandonem os empregos, e mais
piranhas portugueses e portuguesas ocupem os lugares vagos. Isto já não é um
vulcão, é uma bomba atómica. É que todos os dias oiço relatos de conversas
mantidas com os camonianos onde se exaltam os feitos da descontrolada invasão
do exército tuga – todos os dias caras novas, e o meu emprego está então
aonde?! - que outra vez em força, e em conluio com as forças nacionais mais
retrógradas pretendem que nas galés e nos seus porões se reinicie a inundação
de escravos, nas fazendas outra vez. E outra vez de chicotes em punho,
brandem-nos ameaçadores sobre as costas calejadas dos mwangolés. Vêm
incrustados de vícios e de imoralidades porque Angola está outra vez colonizada.
Imagem: Ermelinda
Freitas
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