República das
torturas, das milícias e das demolições
Diário da cidade
dos leilões de escravos
13 de Outubro
É tamanha a perseguição, a intolerância
política a quem for da oposição com o emprego da violência gratuita que resvala
para o precipício do tribalismo. Pois, minhas senhoras e meus senhores, o
edifício Angola desmoronou-se de vez, nada dele mais restando. Amiúde, os
portugueses tecem considerações maravilhosas do seu, a ocidente do paraíso da
Angola da ingenuidade apalermada. Não é possível um país viver de escombros. As
águas agitam-se, agigantam-se e engolem Angola. Angola perdeu-se na selva do
tempo, do campo lavrado ideal para a rapinagem estrangeira, pois das ruínas
nasce a riqueza fácil que alimenta os aventureiros, os saqueadores. E dos
escombros na terra vagueiam rostos pasmados de fome, enquanto multidões de
chineses e portugueses pastam. De repente os famintos erguem-se e decidem
purificar a terra, e declará-la livre, e limpam-na e nela voltam a semear a sua
cultura, as suas culturas.
“Micaela Alexandra (para) Mendes Juliana
Fernandes, eu estou cá a pouco tempo pois o meu marido aceitou um desafio profissional
cá e posso dizer que a questão da segurança não é tão má como ouvimos em
Portugal. Claro que depende também da zona em que vives. Em Talatona - Luanda
Sul acabas por ter uma vida muito semelhante a que tens em Portugal, por
exemplo e esta cá uma enorme comunidade de Portugueses. Fala-se já em quase 300
mil Portugueses em Angola. Estamos em todo o lado mas confesso que de uma forma
muito mais individualista pelo que a solidão acaba por ser uma realidade
algumas vezes. Este é um repto que lanço aos meus compatriotas que cá estão.
Que tal um encontro entre os Portugueses?” In portugueses em Angola.
Desta corrupção
não beberei.
14 de Outubro
Manuel Paulo,
locutor, na Rádio Ecclesia. «Cristina, (pausa), da Inglaterra, (longa pausa)
foge-me o nome!» Ele queria referir-se à Cristina Kirchner, presidente da
Argentina.
15 de Outubro
Em saudação ao
discurso do PR no Parlamento na abertura do ano legislativo, levámos com um
corte de energia eléctrica das 06.07 às 06.24 horas. Logo depois, outro, das
06.30 até às 21.16 horas.
A nossa
principal preocupação é a garantia, a promoção da venda de geradores. Nós temos
– custe o que custar – que ultrapassar os níveis de poluição de Pequim. Isso
mesmo: obter a liderança mundial da capital da poluição. E para isso promovemos
uma campanha de cortes massivos – das massas – da energia eléctrica à população
de Luanda. A nossa palavra de ordem é: quanta mais miséria, mais
desenvolvimento. Comprem-nos geradores meus senhores! A garantia de uma vida
muito saudável, da felicidade no seu lar, é um gerador comprar, a trabalhar. Os
geradores são necessários e urgentes. Contactem já os nossos agentes.
O PR ao
“atirar-se”, ao denunciar as intimidações do Ocidente, tendo como fundo a
corrupção, muito particularmente atingiu Portugal num desafio frontal de fim da
cooperação estratégica – sanções – leva-me à conclusão que Angola voltará aos
tempos da guerra fria, a entrega de bandeja outra vez, desta vez ao comunismo
chinês? É que suspeito que por trás disto esteja a mão invisível da China. Uma
vez que a actuação chinesa em Angola já é sem dúvida alguma neocolonialista,
seguimos para outro conflito Mpla-Unita, isto é, agora: Mpla-contra o povo
angolano?
Até estou de
acordo com os pontos de vista do PR sobre o neocolonialismo ocidental, mas
entre este e o chinês prefiro o outro, porque o do chinês é para nos clonar, e
obrigarem-nos a consumirmos o lixo que produzem.
De qualquer modo
a política não é para ingénuos. A propósito, já antes referi que a ponte aérea
para evacuar os portugueses para Angola, ordenada superiormente pelo PR, era
uma arma secreta para utilização quando necessária, e o momento chegou e ele
serve-se dela, utiliza-a: criar problemas a Portugal com trezentos mil
portugueses que se encontram em Angola. No tempo colonial até à altura da
independência em 11 de Novembro de 1975, eram cerca de quinhentos mil se a
memória não me falha. Quem é ingénuo nunca pode ser político.
Um arquitecto
disse-me sob anonimato que as vivendas que os chineses constroem, vivendas de
luxo, todas têm problemas de construção, vigarice. Quando acabam a obra, o
comprador instala-se e logo tem problemas. Tem que partir uma parte da vivenda,
para não a partir toda, pois isso fica muito caro. Tudo o que é chinês não
oferece nenhuma garantia, é como atirar dinheiro para o lixo. Os chineses fazem
o que querem e o que lhes apetece, como se fossem os donos de Angola, é que na
realidade são-no devido à total impunidade das suas acções. Porque é que o PR
não denunciou a cooperação com a China? Porque só o faz em relação ao Ocidente,
e de modo particular aos pobres portugueses que estão metidos entre dois fogos,
o emprego em Angola e o desemprego em Portugal?
Os portugueses
em Angola – cerca de trezentos mil – devem fazer uma manifestação de apoio ao
PR, José Eduardo dos Santos, pelas suas recentes declarações sobre o fim da
cooperação estratégica entre Angola e Portugal?
Entretanto, já
há duas semanas que prossegue a inundação na rua da Liga Africana. É tubo de
água rebentado. Creio que mais uns dias, ou nem tanto, a rua comece a abater.
Em Luanda não temos nenhuma empresa de fornecimento de água?
16 de Outubro
Mas, porque é
que o Minoritário nunca fez um tratado de cooperação estratégica com o povo
angolano?
Em saudação a
mais um dia de miséria, fomos contemplados pelo nosso Poder da felicidade com
mais um corte no abastecimento – tenho a certeza que esta palavra não existe no
dicionário da governação, a não ser a do abastecimento pessoal dos cofres do
Estado - da energia eléctrica, alguém sabe o que isto é?, das 13.04 às 17.14
horas.
17 de Outubro
Mais um corte de
energia eléctrica das 09.19 às 11.46 horas.
A roupa mais
bonita para vestir uma mulher são os braços do homem que ama. Para as que não
tiveram essa felicidade, eu estou aqui. Yves Saint Laurent, (1936-2008).
Quanta mais
civilização mais destruição.
18 de Outubro
Hoje, mais um
ataque na energia eléctrica. Os sabotadores da nossa economia não petrolífera
tudo fazem para que não saiamos da miséria. Assim, os nossos imperialistas
internos desligaram-nos a luz das 13.31 às 14.49 horas.
Paradoxo: quando
a economia está de rastos, de tanga, os governos costumam atirar para o
desemprego milhares e milhares de trabalhadores, e como se esperam
posteriormente protestos violentos, esses governos investem nas forças policiais
e militares em força, recrutando mais polícias e modernizando os equipamentos
para uma repressão eficaz. É ou não um esbanjamento de dinheiro que deveria ser
aplicado na criação de postos de trabalho? Um paradoxo.
19 de Outubro
O prédio – ou o
que parece ser, nesta cidade nunca se sabe – já está preparado com o segundo
andar para nele aterrar o betão, se for chinês, e de certeza que o é, era uma
vez um prédio. É de manhã, já anunciada de calor. Três chineses e cinco
mwangolés observam os detalhes da construção de uma escada do primeiro para o
segundo andar. Perante tão numeroso grupo de pessoas para tão mínima
empreitada, uma mais velha comenta: «Como está difícil arranjar emprego, todos
fazem o mesmo trabalho.» À tarde, bem acesa de calor, a prevenir que as chuvas
estão aí em força, treze mwangolés, três trabalham, os outros, uns estão
sentados e outros encostados. Um mwangolé perspicaz – que os há, pois com
certeza – pede explicações a um mais velho residente na área que de pronto
esclarece: «Dos dez, uns sentados e outros encostados, esses são chefes.»
Comprei uma
caixa, dessas com dez espirais do fumo chinês, marca (?) S.T, para afugentar
mosquitos que devido ao calor agora nos invadem em força – tudo e todos invadem
Angola – ao soltá-las só se aproveitaram duas, as outras oito desfizeram-se em
pedaços. Mas, porquê obrigar-nos ao consumo do lixo, da miséria chinesa
exportada para Angola? Porque não se denuncia esta miserável cooperação chinesa
dos tempos da Idade Média? È isto que é bom para Angola? Arruinar Angola e os
angolanos é o mais importante?
20 de Outubro
O Ocidente
ensinou-nos a corrupção, dizem por aí. Então, e o Ocidente também não ensinou
na criação dos tribunais da luta anti-corrupão?
O Governo
português está refém de Angola? Os governantes portugueses e o povo português
em geral são empregados do Governo angolano?
Imagem: autor
desconhecido
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