Diário da cidade dos leilões de escravos
28
de Agosto
Maldito seja o
homem que escraviza outro homem.
Novos tempos velhas desgraças.
Os pastores das igrejas – são tantos e
tantas que não se conseguem contar – andam para aí a espalhar que se preparem
que o fim está próximo, a qualquer momento acontecerá, e que ninguém sabe como
será. E que nem Jesus sabe, só o pai dele, Deus. Por isso preparem-se que o fim
está próximo!
Entretanto a democracia consolida-se. Na
Rádio Ecclesia, os taxistas de longo curso queixam-se que a Polícia montou uma
operação e exigem-lhes vinte mil kwanzas no Alto-Hama, próximo da província do
Huambo. E mais, que no trajecto do Huambo até Luanda são vinte e três controlos
da Polícia, e em cada um exigem-lhes dois mil kwanzas. Pessoalmente fico a
pensar que afinal ainda estamos em guerra… muita guerra.
“Já agora,
Felismino Refustedo, sou Angolano e pretendo fazer pareceria, sociedade ou
representação para me dedicar a algum negócio, mas terá de ser um Sócio
Português (ou outro) sério e honesto. (Não gostei da sua piada) .Aldrabões há
em toda a parte.. Conheço um caso de um Português que tinha um estabelecimento
aqui em Angola, que desapareceu, sem pagar a empregados, a fornecedores e impostos
ao estado. Sumiu de um dia para o outro premeditadamente e não era por estar
falido, já que se gabava de ganhar muito dinheiro nesse restaurante bem
localizado.” Rui Gomes da Silva. Portugueses em Angola. Facebook
29
de Agosto
O chinês todos os miseráveis dias faz
fogueira na placa da obra para cozinhar qualquer coisa para comer. Além da
poluição cancerígena superiormente autorizada, que os retalhos das madeiras em
combustão fazem, está a destruir a placa que depois desabará. É na obra do
general Ledi, traseiras da Pomobel, Zé Pirão, Luanda. Os bichos tomaram posse
de Angola.
Bom-dia, saqueadores de Angola!
Os especuladores imobiliários, a ralé
que invadiu Angola com o concurso dos lordes do petróleo, são os promotores dos
tumultos e das revoltas, depois lamentam-se, refugiam-se intitulando os
mwangolés de selvagens, quando na realidade os selvagens são eles. Não se dão
conta do zunm zunm que circula como uma bomba que certamente explodirá.
30
de Agosto
Só se ouve o barulho por todo o lado do
martelar, furar e serrar. Significa que esta cidade está muito desenvolvida,
amortalhada.
E assim, os partidos políticos são meros
animadores de uma festa mórbida.
Não, não é, eles fazem o que querem, mas
eles destroem o que querem. Angola é para destruir, sumir.
Exceptuando os militantes do petróleo, a
política do emprego em Angola para o mwangolé é: se queres, queres, se não
queres podes-te ir embora. Comentário de um mwangolé que mais uma vez foi
ludibriado pelo seu patrão angolano e cipaios portugueses. Está com o salário
em atraso porque o chefe foi para Portugal e “esqueceu-se” de pagar.
31
de Agosto
“metade
do mal que é causado neste mundo é devido a pessoas que querem se sentir
importantes. Elas não querem fazer mal – mas o mal não interessa a elas, porque
elas estão absorvidas na luta eterna para ter uma boa opinião de si mesmas.” T.S. Eliot (1843 – 1919)
A Igreja é uma
ditadura, e como tal sente-se como peixe na água nos regimes ditatoriais.
Mais um período de sofrimento, apagados,
sem luz, das 06.43 às 07.23.
01
de Setembro
O que a oposição deve fazer - e nós - é
lutar pelos seus direitos com todos os meios possíveis e imaginários, isso
mesmo - imaginários – mas aqui é que reside o busílis da questão - é que os
nossos wis não têm imaginação. Mais: imaginação é poder, não sabiam?
Não existe nenhum poder instituído que
nos ofereça a liberdade, a nossa vida é a luta constante por ela.
Os que foram formatados nas nossas
universidades do petróleo nunca terão imaginação, e por isso mesmo tombarão
algures no chão.
02
de Setembro
Quando um português em Portugal pergunta
a outro em Angola, como é, proximamente embarcarei para Luanda, como é a vida
aí? O português em Angola muito satisfeito informa-o que, podes vir, aqui
vive-se bem. É por isso que nós vivemos muito, muito mal.
Na tal empresa, aos portugueses – como
sempre – já lhes pagaram e aos mwangolés não. Isto está eivado de racismo. É
isto a tal nova vida prometida. Quer dizer que todos os caminhos da nova vida
nos conduzem à escravidão.
Corrupção também é uma estirpe do ebola.
E os corruptos andam à vontade, disseminam a epidemia em Angola, Portugal,
etc., e não ficam de quarentena e nem sequer são desinfestados.
Quem quiser ficar desinformado que
sintonize a Rádio Ecclesia, o califado da Igreja de Angola. Pois é! Estações de
rádio também já eram. Viva a Coreia do Norte da informação de Angola. O demónio
tomou conta da Rádio Ecclesia.
03
de Setembro
Temos que sempre importar porque a isso
há que obrigar. Porque com a agricultura ninguém se importa. Pensar dá muito
trabalho, estoira as cabeças. “Ai! Não sei o que tenho, a cabeça está-me a
doer.” Parece um filme de desenhos animados. Cá em casa costumo comentar porque
é que me impingem limão sem sumo e cebola muito velha de Portugal que já não
sabe a cebola. Sem agricultura não há país, há a desordem plantada.
A mana Filomena – a miniempresária do
minimercado de rua – esteve algumas semanas doente, até agora não se conseguiu
apurar qual a doença, ebola não foi certamente, e ela faz-nos imensa falta por
causa do kilapi. Claro que perguntamos constantemente, mas o que é que se passa
com a Filomena? E alguém se encontrou com ela, e que ela disse que está bem,
que está a pagar uma promessa na igreja da maiuia dela, está lá de serviço
voluntário.
Formosa Kalandula no Facebook: “Mulher
de atitude é aquela se levanta todos dias pra trabalhar e não depende de homem nenhum.”
A Lwena disse-me
que um português – dos tais que se apresentam como grandes amigos do povo
angolano – levou a sua mwangolé para Portugal. Lá, logo tratou da troca do amor
da negra pelo amor de uma branca, que planta e cava batatas para o sustentar e
mais à sua mulher branca. Entretanto, também segundo a Lwena, uma jovem
mwangolé, quase nos trina anos, abandonou Angola e o bom emprego que tinha –
trabalhava num banco – e foi com o seu marido chileno para o Chile, porque não
lhe renovaram o contrato de trabalho.
Na tal empresa,
faz dois anos que o mwangolé solicita o pagamento dos subsídios de férias, e os
tugas gestores respondem que sim, que vão pagar, isto é: o não pagamento destes
serviços serve para os tugas transferirem para Portugal as suas mensalidades.
Sem dúvida que este Estado só protege malfeitores e incentiva a revolta contra
os brancos, como se ouve por aí nas ruas. Os escravos têm o direito soberano de
se revoltarem. Quem trabalha e o salário não vê, é escravo. PQP! Mas, há mais e
pelos vistos generaliza-se. É que chegou-me ao conhecimento que uma empresa de
consultaria tuga também pratica a mesma coisa, não paga! Vai ser um final feliz
daqueles. Ai vai, vai!
Que merda é
esta? Em quarenta anos de Luanda nunca assisti a uma cena destas. Acabo de
saber que um limão NA RUA custa duzentos kwanzas porque não há limão! Com
tantos projectos de agricultura… inclino-me que isto só pode acontecer devido
aos milhares dos planos do desenvolvimento da nossa agricultura… do petróleo.
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