RCE - República dos Comités de
Especialidade, algures no Golfo da Guiné.
Mas, quanto aos tímidos, e aos
descrentes, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos devassos, e aos
feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago
que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte. (Apocalipse 21)
A Rádio Despertar noticiou que no
Panguila, a Polícia despejou das suas residências dezenas de cubanos e
portugueses. O despejo foi acompanhado pelo saque dos bens. O Panguila dista
31,8 quilómetros a norte de Luanda.
Mais onze horas sem energia
eléctrica. A miséria e a grande fome festejam o acontecimento enquadrado nos
festejos natalícios do nosso grande obreiro. Quanto mais uma pessoa luta para
vencer a miséria e a fome, mais eles tudo fazem para que a nossa derrota seja
certa.
Não parece, mas o tribalismo já está
com força, e não vale a pena escondê-lo. A miséria e a grande fome fazem bruto,
selvagem tribalismo e odiento racismo. Assim teremos: o MPLA dos quimbundos, a
UNITA dos ovimbundos, etc. José Eduardo dos Santos, Presidente dos quimbundos e
Isaías Samakuva, Presidente dos ovimbundos.
Outra espécie de ebola paira sobre
Angola. Preparem-se para os dias muito difíceis que aí vêm. Mas se nós já
estamos há um ror de anos nos dias muito difíceis, que dias mais difíceis serão
esses? Na verdade serão dias impossíveis! Já sei! É a morte pela fome. É a fome
generalizada como a peste negra. Mas para eles tudo correrá como antes, os
palacianos continuarão a viver no luxo e na opulência escudados pela fortaleza
da corrupção.
A UNITA vai engolir o MPLA. O MPLA que se cuide.
Neste momento a UNITA está bem organizada e disciplinada. Com estas duas
condições e mais os intelectuais que possui, o MPLA não os tem, foram todos
corridos ou afastaram-se, a UNITA constitui, é um forte poder, mas que
facilmente irá por água abaixo porque quando não se vêem resultados as pessoas
cansam-se.
A oposição canta que em 2017 vai haver mudança
com a derrota eleitoral do PRVP. Oh! Como são muito ingénuos, para o PRVP não
haverá derrota eleitoral porque ele mais uma vez – todas as vezes – vai-lhes
dar a volta, sempre com a percentagem dos noventa e tal por cento, e se for cem
por cento que ninguém duvide de tal façanha. Isto é: até 2017 não haverá eleitores
porque estarão mortos devido à miséria e à grande marcha da fome e da prisão de
toda a oposição também acusada de tentativa de golpe de estado. Pobre coitada
da oposição tão cândida como uma criança.
Polícias e militares das forças armadas
angolanas, fardados e mascarados, transportados em viaturas sem matrículas
arrasam residências e espoliam terras.
E o Rei do Petróleo lá está na reunião do seu
conselho da revolução. Já trás com ele um decreto que não necessita da
aprovação do seu conselho superior da magistratura do seu generalato. Ele não
tem nenhuma dúvida de que a lei deve ser sempre exercida por generais, porque
só assim se garante a fortaleza dos pilares da revolução. E que uma revolução
deve permanecer no tempo e no espaço, ou por qualquer coisa parecida. Portanto,
sem generais não há continuação da revolução, há estagnação. A população deve
viver permanentemente sob o militar bastão que é o bastião da repressão. Grande
defensor da lei da bala e dos massacres, o Rei do Petróleo pensou e obrigou a
que o OGRP, Orçamento Geral do que Resta do Petróleo, cativasse todas as
receitas para a manutenção da repressão. E logo por unanimidade se aprovou o
decreto-lei por silenciosa maioria absoluta, na realidade só houve um voto, o
do Rei do Petróleo, no qual o teor principal rezava que: quem criticar o Grande
Obreiro apanhará seis meses de prisão em cela solitária na qual será submetido
às mais diversas torturas, de acordo com a inspiração vigente dos verdugos. Foi
anotado que a cooperação dos especialistas torturadores norte-coreanos seria
desnecessária, porque eles comparados com as torturas em vigor na
PRVP, deixavam muito a desejar. De facto e de jure
era facto assente que os especialistas da PRVP eram considerados os piores do
mundo em matéria de tortura, e muitas outras ditaduras surgiam na PRVP para
refrescarem os seus métodos de trabalho. E já havia uma divisa: sem tortura não
há ditadura.
Na mesma sessão do seu conselho privado e
restrito – apenas a alguns generais de extrema confiança residentes permanentes
no palácio – o Rei do Petróleo decretou aprovar os acordos gerais de cooperação
da corrupção com todos os países do mundo.
Também foi aprovada a resolução em forma de
decreto presidencial da Grande Marcha da Fome.
Foi lembrado aos presentes que o GEOS, Gabinete
Especial das Ordens Superiores, coordenaria todas as actividades necessárias ou
desnecessárias sobre as actividades da população e muito em especial da oposição.
Nomeadamente, a sua ostensiva vigilância. O Rei do Petróleo tinha a certeza
absoluta que os da oposição conspiravam permanentemente para o derrubar, mas na
prática eram uns paspalhos que não faziam mal a uma mosca, e que apenas reagiam
como crianças quando se lhes muda a fralda. Portanto, dela nada há a temer,
bastam umas ameaças e os democratas (?) da oposição acabam com a democracia
fugindo como os cães com o rabo escondido nas pernas. Durante o seu mesozóico
poder, o Rei do Petróleo provou sem necessidade de fórmula matemática que a oposição
na PRVP não servia para nada, não tinha nenhuma utilidade, nem sequer para moço
de convés. Como sempre a reunião do conselho da revolução terminou com uma desnecessária
grande ovação.
E o GEOS entrou em acção demolidora. Demolidora
porque demoliu as residências dos líderes da oposição, dos defensores dos
direitos humanos, das associações e de tudo o que fosse oposição, declarada ou
não. Isto como início, porque pouco depois logo seriam caçados nas ruas como
cães vadios abandonados pelos seus donos, carregados para o canil municipal e
lá abatidos.
A melhor, ou a pior das missões de rotina foi
quando o comando supremo do GEOS decidiu que as crianças de rua seriam presas
sob suspeita de ligações ao grupo dos quinze mais um e mais duas. E de repente
nas ruas deixaram de se ver crianças. Quando alguém falava das crianças de rua
agora sem rua, os militantes do PRVP infiltrados nos aglomerados populacionais diziam
que as crianças foram transportadas para centros de acolhimento infantis, para
a formação da criança nova. Era um vasto edifício com escolas, universidade,
piscina, cantina escolar, biblioteca com acesso à Internet, parques infantis,
campo de jogos, bwe de professores, etc. O gigantesco edifício tinha
reservatórios de água e brutos geradores para que nele tudo funcionasse normalmente.
Passadas poucas semanas as ruas voltaram a
encher-se de crianças. Quando interrogadas sob o seu desventurado regresso, uma
delas elucidou que os dinheiros destinados às despesas do grande edifício foram
desviados pelo CECO, Comité de Especialidade da Corrupção.
No cumprimento do decreto do Rei do Petróleo,
agora também chamado Grande Obreiro, a marcha da Grande Fome avançava para o
seu destino final, a morte. As tropas do GEOS transportavam em camiões os
cadáveres dos esfomeados que espalhados pelas ruas se juntavam a cães e gatos
abandonados porque os seus donos não tinham comida, e a solução era enviar os
seus animais de estimação para a Grande Marcha da Fome. E assim os corpos
inertes da população subjugada, melhor, sitiada durante quarenta anos acabavam
na libertação final de mais uma grande revolução estalinista. Só alguns da nomenclatura
restavam vivos, como sempre. A Marcha da Grande Fome terminou, porque já não
restava população. Os estrangeiros regalavam-se com o facto, e desabafavam: «Finalmente,
livres dessa macacada! Agora já podemos retornar ao saque dos bons tempos!
ANGOLA É NOSSA!»
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