República das torturas, das milícias e das
demolições
Diário da cidade dos leilões de escravos
Ano 1 A.A.A. ano do Apocalipse de Angola.
Mas, quanto aos tímidos, e aos descrentes, e aos
abomináveis, e aos homicidas, e aos devassos, e aos feiticeiros, e aos
idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo
e enxofre; o que é a segunda morte. (Apocalipse 21 8)
Angola está entregue à sua sorte, à morte.
Famintos não perdem tempo com políticos.
Famintos não aturam políticos. A ideologia dos famintos é o morrer à fome. Os
famintos votam no partido da fome, e ele é muito vasto. Esta pátria é obra de
famintos. Não, aqui não há famintos, só há fome. Onde as bestas dominam está
garantido um exército de famintos. Eis os quatro cavaleiros do apocalipse da
fome: religião, fome, bancos e corrupção.
No lugar do fracasso de diversificar a nossa
economia, creio que será um grande êxito se diversificarmos a nossa governação.
Essa será a aposta segura. É mais que consabido que um homem que toca todos os
instrumentos nunca o conseguirá fazer porque há sempre algum que fica para
trás, esquecido, perdido, abandonado. E o povo é o principal instrumento que há
muito não é tocado porque para ele nenhum instrumento se contempla. Povo
abandonado é povo escravizado, esfomeado, é que nem dá para eleitorado. Depois
os instrumentos sem manutenção ficam desafinados, deteriorados, e não dão para
serem tocados. E pensar só em eleições é abandonar o povo à fome, onde na hora
de votar apenas meia dúzia de eleitores vão lá estar. Assim, mais uma vez os
corruptos vencerão a “parva” oposição que quer eleição, mas creio que não quer
população. Portanto, primeiro libertar da fome a população para depois pensar
na eleição. Mortos não votam, a não ser que estejam a depender dos votos dos
estrangeiros.
No século anterior a Augusto, (Otávio, primeiro
imperador de Roma) os provincianos estavam abrumados, primeiro pelos impostos
legais, logo pelos subornos e o roubo mediante os quais os governadores
provinciais se enriqueciam pessoalmente e, por último, pelas exacções ilegais
de generais que livravam suas guerras civis numa província determinada. Tão
abrumadoras eram as exigências financeiras e tão pouco dinheiro ia ao tesouro
central que, quando terminou o período de conquistas as novas fontes do saque
se secaram, o governo romano enfrentou-se com a bancarrota. In Historia
universal de Asimov. Isaac Asimov: El Imperio Romano
Sabem porque é que as ruas
de Luanda estão com uma epidemia de sirenes? É a governação muito atarefada em
resolver o problema da fome da população.
Não é
possível viver sem contabilidade. Sem ela há corrupção. E isso fez a queda do
império romano e a queda do império angolano.
Citando de
memória Raul Danda, vice-presidente da Unita, “essas notas novas de dólares que
andam por aí nas ruas saem donde? Já me disseram que o BNA-Banco Nacional de
Angola está envolvido no circuito ilegal de divisas.”
Mensagem
no Facebook enviada a um amigo: A situação, tal como te tenho sempre dito, está
a desabar para o apocalipse. Toda a comida que aqui aparece guardo-a para o meu
neto, pois os próximos dias e seguintes, isto é, os próximos tempos serão só
fome. Todos os dias as coisas se complicam. De manhã é um preço à tarde é
outro. É impossível o dinheiro chegar para a comida. O incrível e horrível é o
preço do pão que sobe astronomicamente, o que significa que não há farinha. As
coisas vão rareando diariamente até ficar como num campo de concentração nazi.
E depois as populações fugirão para a Zâmbia, Namíbia, Congos, etc.
O apocalipse de Angola
na rota da fome: um amigo confessou-me que a avalanche da morte regressou
depois de uma breve interrupção. De facto, devido à fome, o corpo adoece e como
não há dinheiro para comprar medicamentos, morre-se facilmente. E
conforme noticiado pela Rádio Despertar, na penitenciária do Cavaco em
Benguela, morreram dez reclusos devido ao frio e à fome. A situação agudiza-se,
esperam-se mais mortos.
Segundo a Rádio
Despertar: “os polícias têm cones em casa, pegam em dois e devidamente fardados
vão para a rua quando não têm nada em casa para comer. Mandam parar os carros,
os taxistas já sabem, pedem-lhes os documentos e dão-lhes quinhentos kwanzas e
eles devolvem-lhes os documentos. Os polícias das actividades económicas quando
também não têm nada para comer em casa enviam um familiar com uma lista de
compras nas cantinas dos mamadus. Como eles estão ilegais fornecem-lhes os
pedidos das listas gratuitamente.
Os trabalhadores das empresas
estatais estão a ser avisados de que os seus salários serão reduzidos a metade
e os subsídios serão cortados. Dizem que querem fazer o mesmo que aconteceu
aquando da crise em Portugal. Mas não há comparação possível, porque por
exemplo em Portugal quanto mais a crise apertava mais os preços baixavam, e em
Angola os preços sobem, sobem. Comparar Angola com Portugal é o mesmo que
comparar o céu com o inferno.
Em
Luanda, o segurança recebeu um telefonema de Malanje de um filho da terceira
mulher a comunicar-lhe que “pai, a mãe morreu, nós estamos aqui sem nada,
descalços, não temos nada para comer. Andamos sempre com a mesma roupa, não
temos outra, andamos sujos, não temos mesmo nada. Pai, porque é que nos
abandonastes?” E o pai perguntou-lhe, “então e a avó?” e o filho, “pai, a avó
já está muito velha, ela não pode fazer nada.” E o pai alarmado, “meu filho, e
a família não faz nada por vocês?” “Não pai, a família não nos liga.” E o pai
garante-lhe que, “meu filho, logo que consiga algum dinheiro vou aí buscá-los
para Luanda.” E o pai termina lembrando a verdade destes tempos tão corruptos.
“Já não há família, já não há amigos, já não há nada!”
Creio que a Igreja é inimiga
da civilização, mais creio ainda que a Igreja usa e abusa do terrorismo
psicológico, senão vejamos: perante o caos económico e social da fome que já
passou a uma das maravilhas de Angola, a TPA, a televisão pública de Angola,
noticiou que, “os bispos da Secam reconhecem os esforços do governo no apoio à
população.”
"Aos
cidadãos que querem realizar manifestações contra o Presidente José Eduardo dos
Santos no sentido de criarem desordem pública no seio das populações, nós
militantes do MPLA não vamos permitir que tal acto se realize" (Higino
Carneiro)
Nos bairros de Luanda, crianças
andam no lixo à procura de comida. Um supermercado conhecido que atira para o
lixo produtos deteriorados ou expirados são também disputados por adultos. (In
Rádio Despertar)
A mais velha vai no táxi para o mercado
do asa branca. O táxi parou no mercado dos congolenses, apanhou mais
passageiros e retomou a marcha. Um jovem passageiro diz para outro, “para
assaltarmos a casa ele tem que nos dar o dinheiro e dizer onde fica a casa.” A
mais velha cheia de medo quer fugir mas não consegue, os jovens bandidos também
não lhe ligam talvez por ser velha, saíram na próxima paragem e não lhe fizeram
nenhum mal.
Ontem, 25 de Julho de 2016, ano 1 A.A.A.
ano do apocalipse de Angola, pelas vinte horas, na rua Rei Katyavala, junto ao
supermercado Pomobel, Luanda, começaram a chegar vários jovens que vasculhavam
o lixo à procura de comida. Depois começaram a circular também vários jovens
que segundo uma moradora “esses são bandidos, têm mesmo cara de bandidos!” A
vizinhança que se encontrava no local recolheu apressadamente para suas casas,
e a rua ficou como um faroeste em poder dos bandidos.
Sem comentários:
Enviar um comentário