terça-feira, 8 de novembro de 2016

OS PRIMITIVOS



República das torturas, das milícias e das demolições
Diário da cidade dos leilões de escravos

Ano 1 A.A.A. Ano do Apocalipse dos Angolanos.

Fugi do país onde um só exerce todos os poderes: é um país de escravos. Todos os povos do mundo que lutaram pela liberdade exterminaram no final a seus tiranos. (Simón Bolívar (1783-1830)
Angola está mesmo acabada, primitiva, porque lhe resta um palácio, uma bandeira, um hino e uma guarda presidencial.
Os primitivos da primitiva discoteca nas traseiras do hotel Katyavala, junto ao largo Zé Pirão, continuam com a infernal algazarra. Não se consegue descansar, dormir, não se consegue estar em paz. Há meses que este inferno nos golpeia como presos inocentes numa prisão torturados. Mais uma vez com som de partir vidros das janelas, começaram às vinte horas e acabaram pelas dez horas da manhã. O Governo da Província de Luanda num comunicado disse que ia acabar com isso, mas são as habituais balelas. E os bêbados saem da discoteca e vêm mijar à vista dos moradores dos prédios. Na selva de Luanda eles gostam de viver assim. Eles são a lei… da selva. Por aqui se vê o que será Luanda nos próximos dias. Sempre a subir para as altas escarpas do abismo para depois nele, felizes, se lançarem. E que assim é que está bom, é assim que gostamos. Já não há nenhuma esperança que salve isto, excepto o apregoado primitivismo das falsas igrejas que a esperança é a última coisa a morrer. Mas como, se ela já há muito que se foi. Sim, a esperança é a invenção que permite dominar os escravos numa coisa que não existe, porque basta qualquer energúmeno religioso ou dos partidos políticos da oposição falar em Deus, que ele é a esperança, e os pobres diabos vão para o matadouro cantando hinos de louvor como faziam no holocausto das arenas romanas, agora angolanas. Sim, esta cidade tem muitos matadouros. Sim, está certo, lugar dos primitivos é nas cavernas.
E com tal primitivismo os muangolés não conseguem fazer nada. Mas são hábeis mestres em apresentar números e apostas imaginárias próprias de um reino da fantasia que inventaram. Angola parece mesmo como aquelas coisas das misteriosas cidades do oiro e das ilhas encantadas. Vende-se Angola aos chineses e pronto, os problemas dos muangolés estão resolvidos, porque eles têm uma varinha mágica, é o paraíso muangolé. Antes ludibriados que seriam livres da escravidão que afinal há quarenta e um anos que estão subjugados por outra, e a seguir com a venda de Angola a prestações aos chineses, outra severa, feroz escravidão lhes desaba como uma forte tempestade ciclónica. Sem liderança, os partidos políticos da oposição empurram a carroça da miséria e da fome. A desorientação é total, a desordem também.
O receio era mesmo esse, mais uma epidemia que já está na moda, a dos adultos violentarem crianças. E fazem-no de tal modo que os anjos, as indefesas criancinhas vão parar nos hospitais devido ao matadouro sexual em que esta cidade de Luanda dos leilões de escravos recebeu foros, sim, violentar crianças é moda. Nesta cidade maldita, os satânicos ditam ordens. Creio que a feitiçaria comanda mais este regresso às trevas. Violentar crianças ganhou também foros de desporto nacional, e tudo o mais que se diz nos órgãos de informação da cegueira nacional de que as crianças têm os direitos garantidos e que vamos criar legislação para acabar com essa actividade de liquidar o futuro de Angola, que isso tem os dias contados. Depois vem um número de telefone que não funciona e rapidamente nesta república amnésica tudo se esquece. As leis não são para se cumprir é para nos distrair. É a cidade das seis leis: roubar, violentar crianças, feitiçaria, alcoolismo, festas e corrupção.
Angola está governada por generais porque conforme os seus planos militares a população é um exército de soldados, e como está sob lei marcial pode-se matar quem bem se entender ou apetecer.
Sem líderes não há revolução, resistência e sacrifícios, há miséria e fome. Está na História. E a História é a história da hipocrisia humana. E como a África negra não quer sair da idade Média, então deixem-na ficar. 
Ainda que fosse apenas a fraude eleitoral, mas não. É uma fraude geral em que todos sem excepção participam, senão vejamos o esclarecedor advento de um amigo, “ a fraude eleitoral é já uma tradição entre nós para a vergonha das democracias africanas, infelizmente.” Uma ouvinte denunciou na Rádio Despertar que nas igrejas estão a fazer registo eleitoral ou a recolher os cartões.
É notório que na promessa de construir um milhão de casas, partiu-se um milhão de casas. Mas que satânica promessa.
Não há lei, há sim senhor, a lei faz-se a tiro.
Declaração: para os devidos e legais efeitos se declara que este declarante está devidamente abrangido pela lei da miséria e da fome em vigor, nada mais tendo a exigir ou a reclamar.
Afinal a independência foi para fazer grandes negociatas. As demolições para fins inconfessos são o exemplo mais flagrante. A independência foi uma negociata para a venda de Angola a prestações.
Quando num país enviamos mensagens por todos os meios de informação possíveis a várias personagens dos mais variados extractos sociais sobre os mais variados assuntos e ninguém nos responde, significa que é tempo de fugir desse país porque a nossa existência está em perigo. Não adianta nada pensar em futuro porque ele já não existe, porque aqueles que assim procedem não são pessoas, são genuínas monstruosidades.
Se Angola tem recursos inesgotáveis – não é isso que toda agente diz, especialmente estrangeiros, como arrombar uma porta aberta – então porque é que as populações já vivem na extrema miséria, e as portas da fome abrem-se de par em par.
Mas que interessa pagar a água e ter as contas em dia, se os vândalos da Epal chegam e cortam-na, e quando chamados à razão ficam a rir. Então não interessa pagar porque a água nos vão cortar. É de pasmar quando fico a pensar que o M ultrapassou os extremos da matumbice. Para quando o fim das tácticas estalinistas? Talvez que um dia a tal dita oposição acorde da sua hilariante hibernação. Angola é e será por vontade própria trincheira firme do estalinismo em África.
“Embaixador de Angola no Quénia acusado de "viver à grande" enquanto funcionários permanecem sem salário há cinco meses.” (In Novo Jornal, citando o jornal queniano Daily Nation.)
Carlos Rosado de Carvalho no Expansão: “seria bom que os vendedores de ilusões deste País caíssem na real e ganhassem consciência que, no curto prazo, não será possível diminuir a grande dependência do País em relação ao petróleo.”
Só no que diz respeito à Sonangol, a Rolls-Royce terá conseguido, em escassos cinco anos, cerca de 110 milhões de dólares em contratos que, agora, estão sob suspeita de terem sido conseguidos graças a esquemas de corrupção. In Novo Jornal, citando The Guardian)


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