República das torturas, das milícias e das
demolições
Diário da cidade dos leilões de escravos
Ano 1 A.A.A. Ano do Apocalipse dos Angolanos.
Fugi do país onde um só exerce todos os poderes:
é um país de escravos. Todos os povos do mundo que lutaram pela liberdade
exterminaram no final a seus tiranos. (Simón Bolívar (1783-1830)
Angola está mesmo acabada, primitiva, porque lhe
resta um palácio, uma bandeira, um hino e uma guarda presidencial.
Os primitivos da primitiva discoteca nas
traseiras do hotel Katyavala, junto ao largo Zé Pirão, continuam com a infernal
algazarra. Não se consegue descansar, dormir, não se consegue estar em paz. Há
meses que este inferno nos golpeia como presos inocentes numa prisão torturados.
Mais uma vez com som de partir vidros das janelas, começaram às vinte horas e
acabaram pelas dez horas da manhã. O Governo da Província de Luanda num
comunicado disse que ia acabar com isso, mas são as habituais balelas. E os
bêbados saem da discoteca e vêm mijar à vista dos moradores dos prédios. Na
selva de Luanda eles gostam de viver assim. Eles são a lei… da selva. Por aqui se
vê o que será Luanda nos próximos dias. Sempre a subir para as altas escarpas
do abismo para depois nele, felizes, se lançarem. E que assim é que está bom, é
assim que gostamos. Já não há nenhuma esperança que salve isto, excepto o
apregoado primitivismo das falsas igrejas que a esperança é a última coisa a
morrer. Mas como, se ela já há muito que se foi. Sim, a esperança é a invenção
que permite dominar os escravos numa coisa que não existe, porque basta
qualquer energúmeno religioso ou dos partidos políticos da oposição falar em
Deus, que ele é a esperança, e os pobres diabos vão para o matadouro cantando
hinos de louvor como faziam no holocausto das arenas romanas, agora angolanas.
Sim, esta cidade tem muitos matadouros. Sim, está certo, lugar dos primitivos é
nas cavernas.
E com tal primitivismo os muangolés não
conseguem fazer nada. Mas são hábeis mestres em apresentar números e apostas
imaginárias próprias de um reino da fantasia que inventaram. Angola parece
mesmo como aquelas coisas das misteriosas cidades do oiro e das ilhas
encantadas. Vende-se Angola aos chineses e pronto, os problemas dos muangolés
estão resolvidos, porque eles têm uma varinha mágica, é o paraíso muangolé.
Antes ludibriados que seriam livres da escravidão que afinal há quarenta e um
anos que estão subjugados por outra, e a seguir com a venda de Angola a
prestações aos chineses, outra severa, feroz escravidão lhes desaba como uma
forte tempestade ciclónica. Sem liderança, os partidos políticos da oposição
empurram a carroça da miséria e da fome. A desorientação é total, a desordem
também.
O receio era mesmo esse, mais uma epidemia que
já está na moda, a dos adultos violentarem crianças. E fazem-no de tal modo que
os anjos, as indefesas criancinhas vão parar nos hospitais devido ao matadouro
sexual em que esta cidade de Luanda dos leilões de escravos recebeu foros, sim,
violentar crianças é moda. Nesta cidade maldita, os satânicos ditam ordens.
Creio que a feitiçaria comanda mais este regresso às trevas. Violentar crianças
ganhou também foros de desporto nacional, e tudo o mais que se diz nos órgãos
de informação da cegueira nacional de que as crianças têm os direitos
garantidos e que vamos criar legislação para acabar com essa actividade de
liquidar o futuro de Angola, que isso tem os dias contados. Depois vem um
número de telefone que não funciona e rapidamente nesta república amnésica tudo
se esquece. As leis não são para se cumprir é para nos distrair. É a cidade das
seis leis: roubar, violentar crianças, feitiçaria, alcoolismo, festas e
corrupção.
Angola está governada por generais porque
conforme os seus planos militares a população é um exército de soldados, e como
está sob lei marcial pode-se matar quem bem se entender ou apetecer.
Sem líderes não há revolução, resistência e sacrifícios,
há miséria e fome. Está na História. E a História é a história da hipocrisia
humana. E como a África negra não quer sair da idade Média, então deixem-na
ficar.
Ainda que fosse apenas a fraude eleitoral, mas
não. É uma fraude geral em que todos sem excepção participam, senão vejamos o
esclarecedor advento de um amigo, “ a fraude eleitoral é já uma tradição entre
nós para a vergonha das democracias africanas, infelizmente.” Uma ouvinte denunciou
na Rádio Despertar que nas igrejas estão a fazer registo eleitoral ou a recolher
os cartões.
É notório que na promessa de construir um milhão
de casas, partiu-se um milhão de casas. Mas que satânica promessa.
Não há lei, há sim senhor, a lei faz-se a tiro.
Declaração: para os devidos e legais efeitos se
declara que este declarante está devidamente abrangido pela lei da miséria e da
fome em vigor, nada mais tendo a exigir ou a reclamar.
Afinal a independência foi para fazer grandes
negociatas. As demolições para fins inconfessos são o exemplo mais flagrante. A
independência foi uma negociata para a venda de Angola a prestações.
“A
vida política desperta ambições desenfreadas em todos os homens prestantes, e
inutiliza-os para a literatura. O prazer da criação artística eleva o homem e
dá-lhe o primado entre todas as gerações; o prazer de mandar tem uma certa
sensualidade de canibalismo que dura pouco, mas que fascina muito as
organizações imperfeitas. E esses poetas ministros, embaixadores, presidentes
de repúblicas, e ditadores momentâneos, são como dizia August Comte,
(1798-1857) vocações frustradas, abortivas, que nasceram estéreis: corromperam
a arte e corromperam a política.” (In Vida de Almeida Garrett (1799 – 1854).
Teófilo Braga, História do Romantismo
em Portugal – I)
Quando num país enviamos mensagens por
todos os meios de informação possíveis a várias personagens dos mais variados
extractos sociais sobre os mais variados assuntos e ninguém nos responde,
significa que é tempo de fugir desse país porque a nossa existência está em
perigo. Não adianta nada pensar em futuro porque ele já não existe, porque
aqueles que assim procedem não são pessoas, são genuínas monstruosidades.
Se Angola tem recursos inesgotáveis – não é
isso que toda agente diz, especialmente estrangeiros, como arrombar uma porta
aberta – então porque é que as populações já vivem na extrema miséria, e as
portas da fome abrem-se de par em par.
Mas que interessa pagar a água e ter as
contas em dia, se os vândalos da Epal chegam e cortam-na, e quando chamados à razão
ficam a rir. Então não interessa pagar porque a água nos vão cortar. É de
pasmar quando fico a pensar que o M ultrapassou os extremos da matumbice. Para
quando o fim das tácticas estalinistas? Talvez que um dia a tal dita oposição
acorde da sua hilariante hibernação. Angola é e será por vontade própria
trincheira firme do estalinismo em África.
“Embaixador
de Angola no Quénia acusado de "viver à grande" enquanto funcionários
permanecem sem salário há cinco meses.” (In Novo Jornal, citando o jornal
queniano Daily Nation.)
Carlos Rosado de Carvalho no Expansão: “seria
bom que os vendedores de ilusões deste País caíssem na real e ganhassem
consciência que, no curto prazo, não será possível diminuir a grande
dependência do País em relação ao petróleo.”
Só no que diz respeito à Sonangol, a Rolls-Royce
terá conseguido, em escassos cinco anos, cerca de 110 milhões de dólares em
contratos que, agora, estão sob suspeita de terem sido conseguidos graças a
esquemas de corrupção. In Novo Jornal, citando The Guardian)
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