República
das torturas, das milícias e das demolições
Diário da
cidade dos leilões de escravos
Ano 2 A.A.A.
Após o Apocalipse dos Angolanos.
De um cidadão devidamente identificado:
“Como em Agosto o Mpla vai perder as eleições, vai sair do poder, depois vai
governar o inferno, que é o devido lugar que lhe compete. Vá, votem mais na
miséria e na fome.”
Parecia que não, as falsas
promessas, mas a energia elétrica voltou, regressou mais uma vez do e para o
caos.
Está tudo falido. Receio que na
altura das eleições angola esteja de rastos.
“O Mpla diz que tem milhões de
militantes, a Unita tem biliões.” Deputado, Catchiungo, da Unita.
Para a retaguarda é o caminho.
Receberam mandato para governar o inferno, e por engano vieram parar, apagar Angola.
Deus enganou-se porque considerou Angola como o inferno, o que na realidade é,
e ficou assim. E ainda dizem que a falta de energia elétrica se deve ao calor.
Qual calor qual quê! É mas é aos cérebros deles que há muito tempo estão
congelados. Votem! Votem no partido da energia elétrica.
A culpa não é da oposição, é dos
opositores que fazem discursos cheios de flores.
Quando a oposição é fraca, os
tubarões fazem festim.
Da Unita: se votarem na Unita o
vosso sofrimento acabará, e a felicidade virá. O vencimento mínimo nacional
será o equivalente em kwanzas de quinhentos dólares.
“Porquê aqueles de nós que mais
querem viver, morrem. E os que merecem morrer, continuam vivendo?” (Do filme, The
Expendables 2, 2012, título em português, Os Mercenários 2)
Ano de 1520 em Tyrol, Áustria, época
de Martinho Lutero. Seus 95 seguidores circulavam entre o povo de toda a província.
Infelizmente, poucos sabiam ler na época. A educação era um privilégio da
elite. Após a invenção da imprensa, a sede de conhecimento começou a abarcar
uma porção maior da população. E a Igreja católica reprimiu rapidamente este
movimento. A tarefa dos carrascos era executar as decisões da justiça. Eles
eram chamados “Intocáveis”, e deviam viver além dos muros da cidade. Na época,
como agora, uma aliança fundamentalista entre políticos e religiosos abriu
espaço para uma época de trevas. (In filme The Headsman, O Carrasco, 2005)
Depois de uma breve troca de
impressões com um vizinho, o qual só o conhecia de bom-dia, boa-tarde,
boa-noite, e depois de nos despedirmos, outro vizinho que ouviu a conversa
segreda-me: “Cuidado que esse é do Mpla!”
Ah! Ah! Ah! Creio que se houvesse um
concurso de anedotas, esta seria a melhor do ano: Manuel Fernandes, da Casa-Ce,
disse que pensa fazer manifestações contra a partidarização da Tpa, da Rna e do
Jornal de Angola. Grande piada, já ganhou o concurso. Ah! Ah! Ah!
Não se faz manifestação contra a
corrupção, a miséria, a fome, agredir selvaticamente mulheres indefesas com
filhos nas costas, onde muitas vezes não escapam da morte, e ninguém, ou quase,
se importando com isso. Desemprego, partir casas para abocanhar terras com
violência e mortes, espoliar terrenos que é uma constante diária como se outra
colonização estivesse em curso.
Fica bonito falar na rádio, dizer
sempre o mesmo frasear até ficar impossível, até chegar ao ponto de lhes fugir
porque na oposição dos farsantes estes ficam insuportáveis. Sim, porque são políticos
de feiras de vaidades, daqueles que ostentam, que se apresentam como puros
intransigentes, acérrimos defensores do povo abandonado, e também da justiça,
da liberdade, da democracia. Mas que depois na ribalta mostram o que são,
hipócritas. Fazem com que se perca a confiança obrigando ao distanciamento
porque não servem para confiar. Da minha parte não apoio mais hitleres. Angola
sai de um abismo e vai-se afogar noutro que não se sabe quando dele sairá. Creio
que não é a oposição que é farsante, os opositores é que o são. E o número dos
descontentes com a oposição de fingir aumenta porque os opositores já não dão
para escutar, pois se sabe que são falsos, defensores do povo não são, apenas
se preocupam com interesses pessoais, pois ser político é uma coisa bonita, uma
vaidade pessoal. Ainda não estão preparados para serem políticos, talvez na
próxima reencarnação o consigam, mas isso é duvidoso. Basta de tanta falsidade!
Basta de bifaciais, de irresponsáveis! Basta de tanta vigarice, de confundir
democracia com diabolismo. Ó forças do mal apartai-vos, não esmaguem Angola,
não a entreguem aos abutres. Bem lá no fundo comem todos na mesma panela da ignomínia.
Dizer que o governo é corrupto, que é incompetente, que é criminoso, etc., e
disso não passar, se manifestar, estão-nos a enganar, a fazer o tempo passar, a
miséria e a fome a nos matar e nem um dedo levantar para nos safar. Vão mas é
passear, jacarés pastar! O partido da miséria e da fome ganha sempre as
eleições.
Entretanto, como enxames de moscas,
os assaltos sucedem-se a ritmo vertiginoso, como moscas que não nos deixam um
segundo em paz. Desta desestabilização social, deste conflito, desta guerra, os
políticos de meia-tigela pouco ou nada falam.
Há a sensação de que a Casa está
como se não tivesse direção, parece uma voz dissonante. A voz não se faz ouvir,
parece amputada.
Quem é que disse que não há povos
atrasados e considerados inferiores? Então, quem passa fome as cabeças não
funcionam. Quem vive na Idade da Pedra cataloga-se como então? Quem se educou
no analfabetismo é o quê então? O alcoolismo, o fanatismo e a feitiçaria são o
guião desta população que é formada, pode-se dizer, por duas classes, uma
alcoólica e outra seguidora do fanatismo. E quem vive sob a tutela do fanatismo
religioso está desgraçado porque apesar de ter olhos não vê, apesar de ter
ouvidos não ouve.
Se Angola tivesse contabilidade
organizada, decerto não estaria como está. Bom, de certo modo os corruptos são
como os vampiros, chupam-nos tudo, e quanto mais desorganização melhor.
Pode-se dizer que a partir das
vinte, vinte e uma, vinte e duas horas, Luanda é uma cidade fantasma.
No mês de Fevereiro de 2017, aqui na
buala, ficámos dezassete horas sem energia elétrica.
Trânsito entre Luanda e Caxito e
vice-versa ficou interrompido devido à visita que o vice-presidente, Manuel
Vicente, fez ao Caxito. Denúncia de um enfermeiro: podem vir fazer uma
reportagem no Hospital Américo Boa Vida, não há material para curativos e não
há medicamentos. (Rádio Ecclesia, Revista da Manhã, 03/03/17)
A última moda em Luanda: “ se não
reclamares não te vamos atender.”
Aqueles chineses que fazem os
trabalhos descartáveis e que depois lhes chamam aldrabões, não são eles os
culpados, não são eles os aldrabões, mas sim quem os contrata. Estes sim são os
grandes aldrabões. Mas, por exemplo, sabendo eu que um canalizador é charlatão,
vou contratá-lo? Claro que não!
Depois da destruição das famílias,
olha-se para a má recordação das fotografias e delas a sorrirem ternamente
abraçados, apaixonados. Isto é que é diabólica hipocrisia.
Novas tecnologias dos assaltantes
mostram homens-aranhas filmados algures em Luanda a escalarem um prédio para o
assaltarem.
“O colono não saiu de Angola. O
colono ainda continua em Angola. O colono de Angola agora chama-se Mpla.” “Um
país sem cultura é um país sem alma.” (Sdiangane Mbimbi, na Rádio Despertar,
Angola e o Mundo em Sete Dias. 05/03/17)
E a quem interessar se informa que
aqui todos os tipos de crimes são permitidos.
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