quarta-feira, 4 de outubro de 2017

GLÓRIA, ALELUIA! ABDERA JÁ TEM UM PRESIDENTE ELEITO




Abdera foi uma cidade grega na costa da Trácia, perto do rio Nestos, quase frente a Tasos. O ar de Abdera tornou-se proverbial entre os gregos antigos que afirmavam que tornava as suas gentes particularmente estúpidas. (In Wikipédia)
República de Abdera, algures no Golfo da Guiné.

“Não é possível destruir uma opinião com a força, porque isso bloqueia todo o desenvolvimento livre da inteligência." (Che Guevara, "Il piano i gli uomini", Il Manifesto n° 7, deciembre del 1969 p. 37.)
Pessoalmente estou deveras embaralhado com este estado de coisas: Se os partidos políticos da oposição aceitam a eleição e governação do partido do Senhor, é porque não houve fraude eleitoral. Então está tudo legal e de acordo com a Constituição. Houve ou não fraude eleitoral? Parece que não porque está tudo acomodado, no parlamento sentado.
Glória, aleluia, bendito seja o Senhor porque Abdera conseguiu um presidente eleito democraticamente. E foi eleito por Deus porque Ele não é intolerante, porque tanto apoia as ditaduras como as democracias. Ainda temos muito que aprender com Ele. A palavra do Senhor é amor e bendito seja o seu nome.
O exército de padres foi até ao céu em carruagens celestiais conduzidas por anjos. Lá chegados pediram audiência a Deus que logo os fez entrar para o seu gabinete divino, porque Ele tem como prioridade do seu governo celestial tudo o que se passa em Abdera. Aliás, Ele já muito antes advertiu os arcanjos seus ministros que os assuntos de Abdera são prioritários. Ele até nomeou um arcanjo como ministro-presidente para os assuntos abderas. Já sentados em poltronas rodeadas de anjos para os servirem, a delegação de padres abderas abriu a sessão com o consentimento de Deus. Com as mãos em oração rogaram ao Santo dos santos, ao Rei dos reis, ao Presidente dos presidentes, que desse a vitória eleitoral por maioria absoluta ao partido do Senhor. Convém notar que esse era o único ponto da agenda de trabalhos. Deus deixou transparecer um certo aborrecimento porque isso há muito já estava decidido, isto é, como fez recordar aos prelados que desde as primeiras eleições a vitória eleitoral seria sempre do mesmo partido. E o exército de padres do Senhor partiu de Abdera com mais um documento divino que testificava mais uma vez, e sempre, a vitória nas eleições para o partido eleito do Senhor. Já em Abdera foram dadas instruções rigorosas a todas as igrejas da congregação cristã ou não, que havia boas maquias, lautas fatias monetárias a quem mais arregimentasse votos para o partido do Senhor que abria desmesuradamente os seus cordões da bolsa, o tal chamado saco azul. Mesmo que os cofres públicos secassem isso não seria problema porque se culparia a crise, e dir-se-ia que se conseguiria angariar divisas na agricultura sem investimentos em divisas. Assim que os cordões da bolsa se rebentaram, os padres chegaram nas igrejas e vá de ameaçar os fiéis, que se não votassem no partido do Senhor seriam excomungados das igrejas… escorraçados e que seriam atirados para o inferno. Também ameaçaram os crentes que se não votassem no partido do Senhor, Ele depois saberia porque mandou instalar câmaras de vigilância que filmariam quem e onde escreveria o X do voto. Chegada a hora da contagem dos votos que o Senhor previamente tinha contabilizado fácil foi achar o vencedor. Ninguém podia tecer dúvidas sobre os resultados eleitorais do Senhor, porque a ira Dele cairia como aquelas brutas chuvadas no tempo das chuvas de Abdera. E depois da proclamação do vencedor tudo voltou à normalidade, à anormalidade, como antes… e sempre.
Abdera tem muitos políticos que falam muito e não resolvem nada. E usando o lugar-comum: de promessas está o inferno cheio.
“Serás um grande líder, um dia. Pensa nos outros antes de pensares em ti.” (In, filme Drácula, a história não contada, 2014.)
Entretanto Abdera moderniza-se, agora os mortos são enterrados com os seus telemóveis para no caso de algum deles despertar, pega no telemóvel, liga e salva-se.
E lá estamos sempre com o dedo na mesma tecla, isto é: isto não mostra ponta por onde se lhe pegue. Não acredito em autodidatas, dizem-me. Não acredito em falsos letrados, digo-lhes.
É sempre assim, então o que é que se há-de fazer. Há pessoas que no princípio nos parecem leais, sinceras e honestas. Mas algum tempo depois verificamos que tais pessoas são o oposto, mostram-nos que não têm dó nem piedade. Nem sequer têm noção que estas coisas existem. Imaginemos por um pouco tais pessoas com as rédeas do poder nas suas mãos. É uma coisa terrível, não é?
É domingo, quinze horas, do cacimbo que há cerca de quase um mês se foi. Afastada do mar, uma gaivota poisa num caixote de lixo e com o seu bico agita-o. Apanha qualquer coisa, que devido à distância não dá para ver o que é. Levanta voo e poisa numa árvore, pois lá está segura dos outros animais de duas pernas. Tudo leva a crer que está nessa vida porque lhe ocuparam o seu habitat natural. Mas por aqui ninguém se preocupa com isso porque as pessoas também estão a ficar sem o seu habitat natural. Está tudo demolido, porque as inteligências vivem para patrocinar o mal.
Abdera tem um gigantesco complexo industrial que produz miséria ininterruptamente.
Em Abdera é assim, os cães ladram e a caravana passa porque os escravos têm muito medo dos cães.
Eis os doutores abderas, que em vez de dizerem: tal como está escrito, dizem, ipsis litteris. Textualmente, dizem, ipsis verbis. Pelo próprio facto, dizem, ipso facto. Por força da lei, dizem, ipso jure. Creio que são as novas regras da imposição da democracia.
Vivemos sempre no eterno problema ainda não resolvido, que é o trabalhar e o patrão não pagar.
“ O mal caça o fraco, pois teme o forte.” (provérbio colombiano.)
A selvajaria consolida-se. Nas traseiras do prédio apareceu um gato morto com as patas amarradas. Os adeptos da selvajaria apanharam o gato, amarraram-no e atiraram-no para a morte. Para a agonia da morte lenta. O terrorismo está por todo o lado.
E este povo está tão fanatizado pela religião que em qualquer conversa logo surge o nome de Deus e de Jesus, fazendo com que seja impossível qualquer debate de ideias. E cada vez mais os abderas impressionam, porque são pastores, reverendos ou padres. Por todo o lado se prega a Deus, mas a palavra Dele está adulterada, como lixo já muito vasculhado. E na multidão de pregadores há mais que um exército de impostores. Religião e alcoolismo misturaram-se como um coquetel e em consequência muitos maus ventos sopram por aqui, originando violentas tempestades religiosas. Pobres tresloucados que gritam demoniacamente a palavra incendiária em nome do Senhor, enquanto na mão arremessam a Bíblia como arma mortífera. Tal Deus não é vida, é morte.
As jovens de Abdera não gostam nada que lhes falem em público dos seus filhos, porque isso é muito prejudicial para a vida da caça ao homem. O destino da mulher é embarcar, para os seus sonhos realizar.
Porra! E conseguiram atirar com este povo para as profundezas da Idade Média.
Uma coisa é certa: com a maldade implantada, isto não vai dar em nada.
Quanto mais o tempo passa, mais aumenta a nossa desgraça.


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