Abdera foi uma cidade grega na costa da Trácia,
perto do rio Nestos, quase frente a Tasos. O ar de Abdera tornou-se proverbial
entre os gregos antigos que afirmavam que tornava as suas gentes particularmente
estúpidas. (In Wikipédia)
República de Abdera, algures no Golfo da Guiné.
“Não é possível
destruir uma opinião com a força, porque isso bloqueia todo o desenvolvimento
livre da inteligência." (Che Guevara, "Il piano i gli uomini", Il
Manifesto n° 7, deciembre del 1969 p. 37.)
Pessoalmente estou deveras embaralhado com este
estado de coisas: Se os partidos políticos da oposição aceitam a eleição e
governação do partido do Senhor, é porque não houve fraude eleitoral. Então
está tudo legal e de acordo com a Constituição. Houve ou não fraude eleitoral?
Parece que não porque está tudo acomodado, no parlamento sentado.
Glória, aleluia, bendito seja o Senhor porque
Abdera conseguiu um presidente eleito democraticamente. E foi eleito por Deus porque
Ele não é intolerante, porque tanto apoia as ditaduras como as democracias.
Ainda temos muito que aprender com Ele. A palavra do Senhor é amor e bendito
seja o seu nome.
O exército de padres foi até ao céu em
carruagens celestiais conduzidas por anjos. Lá chegados pediram audiência a
Deus que logo os fez entrar para o seu gabinete divino, porque Ele tem como
prioridade do seu governo celestial tudo o que se passa em Abdera. Aliás, Ele
já muito antes advertiu os arcanjos seus ministros que os assuntos de Abdera
são prioritários. Ele até nomeou um arcanjo como ministro-presidente para os
assuntos abderas. Já sentados em poltronas rodeadas de anjos para os servirem,
a delegação de padres abderas abriu a sessão com o consentimento de Deus. Com
as mãos em oração rogaram ao Santo dos santos, ao Rei dos reis, ao Presidente
dos presidentes, que desse a vitória eleitoral por maioria absoluta ao partido do
Senhor. Convém notar que esse era o único ponto da agenda de trabalhos. Deus
deixou transparecer um certo aborrecimento porque isso há muito já estava decidido,
isto é, como fez recordar aos prelados que desde as primeiras eleições a
vitória eleitoral seria sempre do mesmo partido. E o exército de padres do
Senhor partiu de Abdera com mais um documento divino que testificava mais uma
vez, e sempre, a vitória nas eleições para o partido eleito do Senhor. Já em
Abdera foram dadas instruções rigorosas a todas as igrejas da congregação
cristã ou não, que havia boas maquias, lautas fatias monetárias a quem mais
arregimentasse votos para o partido do Senhor que abria desmesuradamente os
seus cordões da bolsa, o tal chamado saco azul. Mesmo que os cofres públicos
secassem isso não seria problema porque se culparia a crise, e dir-se-ia que se
conseguiria angariar divisas na agricultura sem investimentos em divisas. Assim
que os cordões da bolsa se rebentaram, os padres chegaram nas igrejas e vá de ameaçar
os fiéis, que se não votassem no partido do Senhor seriam excomungados das
igrejas… escorraçados e que seriam atirados para o inferno. Também ameaçaram os
crentes que se não votassem no partido do Senhor, Ele depois saberia porque
mandou instalar câmaras de vigilância que filmariam quem e onde escreveria o X
do voto. Chegada a hora da contagem dos votos que o Senhor previamente tinha contabilizado
fácil foi achar o vencedor. Ninguém podia tecer dúvidas sobre os resultados
eleitorais do Senhor, porque a ira Dele cairia como aquelas brutas chuvadas no
tempo das chuvas de Abdera. E depois da proclamação do vencedor tudo voltou à
normalidade, à anormalidade, como antes… e sempre.
Abdera tem muitos
políticos que falam muito e não resolvem nada. E usando o lugar-comum: de
promessas está o inferno cheio.
“Serás um grande
líder, um dia. Pensa nos outros antes de pensares em ti.” (In, filme Drácula, a
história não contada, 2014.)
Entretanto Abdera
moderniza-se, agora os mortos são enterrados com os seus telemóveis para no
caso de algum deles despertar, pega no telemóvel, liga e salva-se.
E lá estamos sempre
com o dedo na mesma tecla, isto é: isto não mostra ponta por onde se lhe pegue.
Não acredito em autodidatas, dizem-me. Não acredito em falsos letrados,
digo-lhes.
É sempre assim, então
o que é que se há-de fazer. Há pessoas que no princípio nos parecem leais,
sinceras e honestas. Mas algum tempo depois verificamos que tais pessoas são o
oposto, mostram-nos que não têm dó nem piedade. Nem sequer têm noção que estas
coisas existem. Imaginemos por um pouco tais pessoas com as rédeas do poder nas
suas mãos. É uma coisa terrível, não é?
É domingo, quinze
horas, do cacimbo que há cerca de quase um mês se foi. Afastada do mar, uma
gaivota poisa num caixote de lixo e com o seu bico agita-o. Apanha qualquer
coisa, que devido à distância não dá para ver o que é. Levanta voo e poisa numa
árvore, pois lá está segura dos outros animais de duas pernas. Tudo leva a crer
que está nessa vida porque lhe ocuparam o seu habitat natural. Mas por aqui ninguém
se preocupa com isso porque as pessoas também estão a ficar sem o seu habitat
natural. Está tudo demolido, porque as inteligências vivem para patrocinar o
mal.
Abdera tem um
gigantesco complexo industrial que produz miséria ininterruptamente.
Em Abdera é assim, os
cães ladram e a caravana passa porque os escravos têm muito medo dos cães.
Eis os doutores
abderas, que em vez de dizerem: tal como está escrito, dizem, ipsis litteris. Textualmente,
dizem, ipsis verbis. Pelo próprio facto, dizem, ipso facto. Por força da lei,
dizem, ipso jure. Creio que são as novas regras da imposição da democracia.
Vivemos sempre no
eterno problema ainda não resolvido, que é o trabalhar e o patrão não pagar.
“ O mal caça o fraco,
pois teme o forte.” (provérbio colombiano.)
A selvajaria
consolida-se. Nas traseiras do prédio apareceu um gato morto com as patas amarradas.
Os adeptos da selvajaria apanharam o gato, amarraram-no e atiraram-no para a
morte. Para a agonia da morte lenta. O terrorismo está por todo o lado.
E este povo está tão
fanatizado pela religião que em qualquer conversa logo surge o nome de Deus e
de Jesus, fazendo com que seja impossível qualquer debate de ideias. E cada vez
mais os abderas impressionam, porque são pastores, reverendos ou padres. Por
todo o lado se prega a Deus, mas a palavra Dele está adulterada, como lixo já
muito vasculhado. E na multidão de pregadores há mais que um exército de
impostores. Religião e alcoolismo misturaram-se como um coquetel e em
consequência muitos maus ventos sopram por aqui, originando violentas
tempestades religiosas. Pobres tresloucados que gritam demoniacamente a palavra
incendiária em nome do Senhor, enquanto na mão arremessam a Bíblia como arma
mortífera. Tal Deus não é vida, é morte.
As jovens de Abdera
não gostam nada que lhes falem em público dos seus filhos, porque isso é muito
prejudicial para a vida da caça ao homem. O destino da mulher é embarcar, para
os seus sonhos realizar.
Porra! E conseguiram
atirar com este povo para as profundezas da Idade Média.
Uma coisa é certa:
com a maldade implantada, isto não vai dar em nada.
Quanto mais o tempo passa, mais aumenta a nossa
desgraça.
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