Amigo leitor, ainda não totalmente liberto dos
maléficos efeitos da malária, escrevo este trabalho com alguma dificuldade,
pois a cabeça ainda está um tanto ou quanto zonza. Os mosquitos perseguem-nos
noite e dia como moscas, e de ano para ano os enxames aumentam. E devido à má
alimentação, a possível neste tempo de crise inventada, a recuperação não é a
rápida, mas a lenta com o receio de possível recidiva. Há já consideráveis dias
que ouvi do governo que ele já tem, salvo erro, preparados 25 fumigadores para
atacar os mosquitos da malária. O porquê da demora ainda não sei, mas a saúde
deve estar sempre em primeiro lugar, e jamais no último.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/
Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o mundo é composto de mudança/ Tomando
sempre novas qualidades. (Luís de Camões, 1524-1580)
Povo que tem o cérebro bloqueado pela religião e
feitiçaria é um desastre ecológico. E sem hospitais é povo que se arrasta pelas
ruas da agonia, e isto é o prémio da primazia.
Até há bem pouco tempo vivíamos num gigantesco
castelo onde obedientes e tementes aos príncipes e princesas nele residentes,
estávamos deles completamente dependentes. A infinidade de caprichos era principescamente
satisfeita, e a corte nadava na superabundância mas nunca se sentia refeita. Do
que tinham do vasto reino, era inteiramente todo deles, ainda queriam mais,
sempre mais e alguma coisa. Queriam tudo, apoderaram-se de tudo, porque era
legado, património da secular linha de sucessão dos reis anteriores. Era um
legado, um patriarcado de uma dinastia que de vez em quando apregoava, dizia-se
que ousava falar de democracia. Até que um dia, estas e outras coisas começam
sempre assim, até que um dia as coisas acabaram, repentinamente mudaram, tudo
muda, não é?, e quem isso despreza porque se sente eterno, que não morre, que
nunca adoece, que nunca envelhece, que nunca lhe acontece nada porque as suas imensas
riquezas libertam-no, curam-no da morte, porque Deus e todas as igrejas elegem
para com o consentimento de Deus reinar nesta terra, e quem lhe aprouver
subjugar. Até que um dia… alguém de
outra dinastia aparece e toca outra melodia, noutra orquestra da democracia. Começam
a chover exonerações, mas os príncipes e princesas de sangue real e a
aristocracia sentem-se muito à-vontade, pois príncipes e princesas são, devem
ser por força das circunstâncias coisas intocáveis, coisas de lesa-majestade. Com
eles nada de anormal lhes aconteceria, pois tinham as suas vidas, tudo
garantido noite e dia. Para a nobreza não haveria mudanças, nem coisa parecida
pois se tudo o que era finanças estava em seu poder, pois numa monarquia
absoluta é assim que funciona, o erário público tem donos e dona. Era um reino
de propriedade privada onde a população estava incluída como um bem adquirido,
era parte indissolúvel da propriedade. Daí os constantes maus-tratos, um
inventário nunca contabilizado de tropelias diárias, do muito em especial do,
“não sabes com quem te metes!” ou, “você não sabe quem eu sou!” ou ainda,
“vou-te mandar matar!”
E surgiu como que vindo do futuro, o tão ansiado
momento como o anunciado Jesus Nazareno Rei dos Judeus, o Messias que há muito
se profetizava, que colectivamente se sonhava. E ele chegou investido de
exonerador implacável, desembainhou a sua espada de Dâmocles e de imediato
começou, fantasmas do etéreo tempo exonerou. Nos seus lugares principescos
continuavam os intocáveis, seguros de que nada nem ninguém ousaria, dos seus
lugares demover conseguiria. E aconteceu… a princesa do palácio do petróleo
caiu, este seu império unipessoal lhe fugiu, o seu império financeiro ruiu. E
foram tecidas coisas e loisas sobre a exemplar gestão do império petrolífero, e
que sendo pessoa exposta politicamente, isso não afetava os investimentos
estrangeiros, porque as leis internacionais aqui não se aplicam.
Depois caiu a intocabilidade da princesa da
comunicação social, detinha canal de televisão para uso pessoal, que segundo a
imprensa, facturava 30 milhões de dólares do Orçamento Geral do Estado. Que
estava a sofrer perseguição pública.
O príncipe detentor do principesco saco do fundo
soberano, jurou que se fosse exonerado não abandonaria o lugar. Alguns
aristocratas exonerados prometeram que não entregariam as pastas aos seus
sucessores, alegando segredo de Estado.
Será possível que esta gente não sabe que quando
um novo presidente é eleito, ele nomeia pessoas da sua confiança para ocuparem
os seus lugares em toda a governação? Ocorre-me que Donald Trump, o recém-eleito
presidente dos EUA, exonerou toda a gente dos lugares chave e nomeou outros da
sua confiança para o seu governo. É isto perseguição pública? Quer dizer,
enquanto na África ainda existir o teimar de governar sob a forma de um
soberano transformar o seu país num reino para o governar, a África para trás vai
voltar, e no sem futuro teimar.
“Contudo, a melhor maneira de obter felicidade é
proporcionar felicidade a outras pessoas. Tentem deixar este mundo um pouco
melhor do que o encontraram e, quando chegar a vez de morrerem, possam morrer
felizes com o sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas
fizeram o melhor que puderam.” (Baden-Powell, 1857-1941)
Para terminar não resisto a transcrever a
lucidez do jovem jornalista, Sedrick de Carvalho, do Folha 8, texto publicado
no Facebook em 16/09/17. Muito elucidativo, educativo e revelador dos sulcos
que a oposição deixa nos caminhos perdidos da sem vergonha política.
“SEM VERGONHA… Enquanto em Benguela os seus
militantes eram massacrados, sede destruída e alguns desaparecidos, em Luanda
os chefes do partido garantiam pomposamente que vão mesmo tomar posse num
parlamento onde nada fizeram ao longo dos 15 anos que andam por lá. Nada!
Liberdades fundamentais e direitos constitucionais mais básicos não conseguem
fazer/respeitar. Tudo palhaçada parlamentar.
Assim vão conseguir fazer isso em 5 anos?
Continuam sem maioria. Continuam sem transmitir o que se passa no bar-lamento.
Nem conseguem fazer conferências de imprensa semanais ou mensais para informar
o que estão a tratar lá. Nós, jornalistas, passamos mal para conseguir saber o
que estão a discutir lá e eles, deputados na oposição, nem nos informam.
Projectos de leis em discussão nem conseguem enviar às redacções. Os mesmos
comportamentos. Carros com os vidros levantados, portas trancadas e as caras também.
Em 2015, pouco antes de ser preso, entrevistei várias vendedoras nos mercados e
nenhuma conhecia o nome duma deputada. Falaram em Mamã Coragem, mas não sabiam
o nome - Anália de Victória Pereira - nem que é falecida, a mãe da ilustre
Alexandra Simeão (desculpa relembrá-la nesse triste post), falaram também o
nome da tia Ermelinda, mas que não é deputada.
Senhores deputados, vocês sabem que não são
deputados porque o processo eleitoral é uma simulação e ainda assim vão tomar
posse em nome duma pseudo estabilidade que só estabiliza as vossas vidas
financeiras e de mais ninguém. Ninguém! Tenho sido vítima de ofensas até por
parte de militantes seniores desses partidos, mas repenso os meus
posicionamentos e cada vez mais percebo que não estou errado neste aspecto. Os
partidos na oposição não são de oposição. Pelo contrário, são mesmo parte da
ditadura. Se não têm vergonha em sustentar a ditadura, então pelo menos tenham
respeito pelos vossos militantes que ainda vos acreditam e até são massacrados.
E só mais uma coisa: Sei que vão ignorar os nossos posicionamentos tal como faz
o MPLA. Como disse Domingos Da Cruz no «Ferramentas para destruir a ditadura»,
se os partidos na oposição tivessem o poder militar que o MPLA tem
provavelmente prenderiam ou matariam mesmo quem lhes contesta. Bom silêncio,
Ya!”
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