terça-feira, 26 de junho de 2012

O Cavaleiro do Reino Petrolífero (23) o Etona disse que há um provérbio Bacongo, onde só uma pessoa não consegue tocar batuque, dançar e apitar.



A jingola petrofaminta, com o filho às costas serpenteia pelos carros. Vai estendendo as mãos na vã tentativa de uma esmola. O vestuário é decerto o mais pobre que existe no mundo Jingola. Talvez por isso ninguém lhe preste atenção. Cansada de estender as mãos retrocede para o passeio. Implora nos jovens tresmalhados, nenhum deles lhe olha. É como se ali pairasse um fantasma. A criança chora ao chamamento da fome. Ela não tem nada para lhe dar. Alguém atira o resto de um cigarro para o chão. Ela apanha-o e fuma-o. Sente-se contente, até faz uns ligeiros movimentos de dança. Pega numa garrafa de plástico e encosta-a a um tubo donde sai água de esgoto. Enche-a, depois bebe-a. Desloca a criança das suas costas e oferece-lhe a garrafa. A criança deixa de chorar. Alguns novos-ricos que estão bem na vida acabam de enganar, mais uma vez, a vida desta mulher (?) e a sua criança.
O premiado artista reconhecido internacionalmente, o jingola Etona, é desprezado no seu reino. As estruturas governamentais não lhe atribuem nenhum valor. Afirmou que obterá outra nacionalidade.
Os casos de tuberculose verificados ascendem a trezentos por mês. Podemos falar de uma epidemia. É necessário rastrear o contacto mantido com os infectados, antes que sejamos todos afectados.
A polícia cercou o pátio do Marquês dos Cofres Gerais e correu com os manifestantes.
Evitam-se por todos os meios o arranque de fábricas. As que existem não se abastecem de matéria-prima, para que deixem de funcionar… para que se possa importar. Os importadores têm amigos no estrangeiro, e empresas lá constituídas que lhes facilitam imenso a vida. Assim é desde a independência (?). Nos últimos anos de paz não houve nenhuma alteração. Os intermediários e beneficiários das importações são sempre os mesmos. A cidade de Jingola está cheia de armazéns de importadores. Não se produz nada. Só se pensa em importar… isto é muito demolidor. Não temos segurança alimentar. Tudo o que comemos é importado. Produtos adulterados, contaminados, fora do prazo. Comemos tudo. Ninguém dá importância. É uma boa piada, o reino Jingola pretender um assento no Conselho permanente dos Reinos Unidos. Reino Jingola, o pior reino do mundo para crianças. Maior índice de mortalidade infantil mundial.
As obras do general continuam. São pessoas muito edificadoras, estão sempre a fazer obras de dia e de noite. Hoje acrescentou umas chapas de zinco no prédio inacabado, para que não possamos ver nada. O que esconderá ele? Qual será o seu receio?
Na tentativa de sobrevivermos a este inferno, lembrei à Lwena que se adoecermos não temos dinheiro. Não sei como será. E os filhos são como se não existissem. Não se preocupam com os pais, com nada.
Eleições?! Quem deixará o poder depois de mais de trinta anos?! Quem?! Estão tão agarrados, tão colados ao dinheiro que não ganham, que nunca permitirão eleições. Quem pensar o contrário, só os incautos.
A liberdade de expressão a todos os vice-reinos continua suspensa. A Rádio Oráculo, por exemplo, não está autorizada a emitir. Isto é um grande reforço para que as eleições não se realizem. As vias de comunicação intensificam a intransitabilidade quando a estação das chuvas se aproxima. Uma coisa é certa: o reino não pode ficar muito tempo sem eleições.
O professor americano Mac Millan da Universidade de Stanford, disse que a corrupção é a única instituição que funciona no reino Jingola. Na guerra que o Marquês dos Cofres Gerais faz ao FMI, por causa disso, os economistas da nobreza Politburo, apoiam a carta que o Marquês enviou ao director do FMI.
Na informação diária sobre incêndios, os Bombeiros Reais Jingola disseram que um cidadão abasteceu combustível no gerador com um candeeiro aceso. Além dos estragos no gerador e no local, o cidadão ficou bem queimado. Lembro-me que há uns meses num barco de pesca, à noite, cheirava a gasolina. Alguém disse para acender um fósforo para ver o que se passava. O barco ficou destruído. Só um pescador se salvou. Numa residência, à noite, às escuras, cheirava a gás. Alguém se lembrou de acender um fósforo para ver donde vinha a fuga.
O general construiu um pórtico de ferro no extremo do terceiro andar. Será para acesso a helicópteros? Ou para um elevador externo?
O meu cliente mandou buscar as pastas com os documentos por causa do advogado, para confirmar os pagamentos que lhe fez. O advogado diz que ele lhe deve seis mil dólares. Vai-me pagar ainda esta semana. Disse-lhe que se não me pagar, farei uma exposição ao Marquês dos Cofres Gerais. O reino sofre um grande rombo com as fugas ao fisco. Pior que o Titanic. No fim de cada ano, se em média uma empresa inventar documentos no valor de um milhão de dólares, vezes mil, duas mil, três mil empresas, isto dá uma quantia astronómica. Daria para criar empregos. Não estou a gostar nada disto. Estamos piores que no colonialismo. Como o reino não tem contabilistas, não os quer, despreza-os, odeia-os, eles aproveitam e enriquecem-se com muita facilidade. E ainda têm coragem de conspirarem contra o Governo do reino Jingola.
A Lwena foi saber a conta da luz. Estamos aflitos porque não temos dinheiro. Estou a ver que vamos ficar desligados.
Na Rádio Oráculo, o Etona disse que há um provérbio Bacongo, onde só uma pessoa não consegue tocar batuque, dançar e apitar. Para isso são necessárias três pessoas. Em Jingola são sempre as mesmas que tocam os mesmos instrumentos.
UNICEF informa que morrem de fome 200 crianças por mês.
É fácil ver que a cidade capital Jingola está completamente gradeada, e com as traseiras dos prédios fechadas. Se houver um incêndio num prédio, não sei como os bombeiros farão. Parece-me que ninguém se lembrou ainda disso. De qualquer modo é só facturar, colonizar. Isto é tudo para destruir.
As explosões de Londres, sem dúvida efectuadas pela Al-Qaeda, lembram uma vez mais que as suas células são, de certo modo, invencíveis. A questão é o dinheiro. As democracias ocidentais e as suas economias só funcionam nos seus países. Nos outros utilizam a democracia para explorarem os seus povos, impondo ditaduras. É uma revolta geral com a criação de mais células terroristas. Se as democracias ocidentais persistirem no neocolonialismo, os actos terroristas aumentarão até conseguirem rebentar alguma bomba atómica?! Afinal, a economia é uma ciência que serve para explorar os povos. E inventaram o telemóvel que serve… para rebentar bombas.
O Bastonário da Ordem dos Advogados informou, que dos setecentos inscritos, só vinte por cento funcionam. Os restantes estão no desemprego. Isto revela o caos sintomático em que se encontra a economia do reino. Já não existem fábricas, transformaram-nas em armazéns ou estabelecimentos comerciais. A MABOR fabricava pneus, agora importam-se, tudo se importa… até mulheres. Com poucas pessoas um armazém faz as suas vendas. Porque não existe produção, generaliza-se o desemprego. Nos vice-reinos as populações morrem à fome. Fogem para a capital de Jingola aumentando cada vez mais o desemprego. É fácil fazer uma pequena fábrica de tomate enlatado e de vinagre. Limão importado que não presta, caríssimo. Na rua compra-se bom limão nacional por baixo preço. Não se entende como é possível importar tomate, limão, vinagre, sal... importar tudo. Na realidade sem nos darmos conta já vendemos o reino.
Na floresta do Kinaxixi surgiu uma nova quadrilha de jovens delinquentes. O Floresta Squad. Sobem e escondem-se nas árvores. É assim que fazem as emboscadas às suas vítimas. Quem passa ou ali vive, sofre o terror constante deste grupo de jovens desempregados. Com armas de fogo, garrafas partidas, catanas e outros objectos, sobrevivem a roubar os bens que restam dos outros esfomeados.
Suicídio no prédio da Chechénia. Mais um jovem atirou-se do nono andar. Não sobreviveu. É a décima vítima. Receio que isto fique contagioso. Que muitos jovens decidam este caminho. Já temos tantas epidemias. Devemos acrescentar mais esta, e tomar medidas antes que seja tarde. São jovens que não chegaram a ver o feixe ténue da luz da vida.  
Um anúncio de uma marca de cerveja, faz questão que jovens meninas numa esplanada, depois em casa, numa festa, a dançarem, com os seus amores, apela para beberem cerveja. Quando acabarem estarão muito bêbedas. E com a cabeça perdida fazem amor à toa. Depois vem a SIDA. Não entendo o porquê deste apelo para alcoolizarem as jovens. Os inventores deste e doutros anúncios deviam responder em tribunal. E publicarem outro anúncio que apelasse às jovens para frequentarem bibliotecas, lerem livros. Praticarem um desporto e assistirem a um filme que retratasse a vida de um grande escritor, escritora, ou algo similar. E beberem um sumo natural. Convém lembrar que quatro cervejas numa jovem equivalem a oito num homem.
O Cliente disse que me enviaria o dinheiro, até agora não o fez. Ele não difere de todos os outros que aqui chegam. A sua missão no reino é roubarem. Rapinar sob a protecção da nobreza. E os roubos não são nada pequenos.
O general fechou o quarteirão com chapas de zinco, e construiu dois prédios até ao terceiro andar. Queria aumentar mais andares, mas há alguns meses que as obras pararam. Acho que alguém se opôs. Como o local é bem escondido, quase que ninguém sabe o que ele lá faz. Asfaltou a rua que dá acesso ao seu palácio, dizem, por cem mil dólares. Construiu uma piscina, o que faz com que a água diminua, desapareça das nossas torneiras. Tem muitos ares condicionados. No tempo do calor a luz não vai aguentar. Mas não o afecta porque tem um potente gerador. Agora está a cimentar as paredes com tijolo na parte externa do outro prédio. Retirou uma das cortinas verdes e está a pôr tábuas de madeira nas escadas. Uma vez ameaçou-nos que nós temos os dias contados. Como é que ele consegue dinheiro para isto tudo? Ele trabalha na Logística Real... é por isso.
O filho com trinta anos de idade passou novamente dois dias na bebedeira. Chegou e desculpou-se que lhe puseram qualquer coisa nas duas cervejas que bebeu. Eles e elas passam a vida nestas coisas. Não sabem fazer mais nada. Estão perdidos sem futuro. Completamente frustrados. Se trabalham dois dias, ou quando apanham algum dinheiro, vai tudo para a bebedeira. Os dias restantes ficam a aguardar que ela passe. Não sabem o que é trabalhar. Sempre com a cabeça no ar, que parece uma máquina de partir pedra. Não sei daqui a quantas gerações é que este reino se vai levantar. 
Olha-se para a rua e só se vêem mulheres com coisas nas cabeças para venderem. E carregam mais coisas nas costas, os seus filhos. Que triste destino e escravidão para estas mulheres no reino, que se diz o mais rico do mundo.

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