Como
é sempre agradável ouvir uma voz celestial cantar e o seu canto nos inebriar. A
nossa existência depende da ditadura da Natureza e dos ditadores sem ela.
Contudo, querem convencer-nos que o mundo para nós é uma brevidade, e para eles
a eternidade. E as ofensas e humilhações prosseguem a bom ritmo nesta jangada
de petróleo à deriva. Temos o direito de lutarmos pelo que nos resta: o amor.
Nós
somos o nosso Universo, mas alguns idiotas até o não direito de olharmos para o
céu desejam decretar. É por isto que as revoluções se sucedem como galáxias.
Assim sendo, o ser humano será sempre o eterno revoltado. O nosso lar, a nossa
família e tudo o mais que nos rodeia, não são propriedade de qualquer bando,
banco, ou de qualquer governo. Até já o amor nos aparece em vias de extinção.
Foi
aprovado pela massa militante do nosso glorioso partido, o orçamento quinquenal
que irá dinamizar, estamos certos, o processo revolucionário em curso da nossa
agricultura. Todos seremos poucos para tal projecto de envergadura. Mas, não
nos envergonhamos, muito pelo contrário, edificaremos outra pátria como as
gloriosas três gargantas dos nossos queridos amigos. E será chamada de, as três
grandes línguas da agricultura. Este desiderato é muito fácil de atingir porque
todos os investimentos serão para lá canalizados, e nos próximos dias a fome e
a miséria do nosso martirizado povo acabarão para sempre. Confiem no
nosso líder supremo.
Foram
recebidos com pompa e circunstância no nosso Palácio Central, altos dignitários
dos nossos incondicionais amigos: assim, dos nossos queridos amigos da Coreia
do Norte recebemos promessas de apoio alimentar para o nosso povo, muito
carente neste momento, devido à alta dos preços dos cereais no mercado
internacional. Eis que, os apoiantes da nossa revolução comprometeram-se a
enviar-nos uma esquadra de navios carregados com cereais. Viva a amizade dos
povos! Viva a amizade anti-imperialista!
Igualmente
recebemos uma delegação do Politburo Tsin, onde se passaram em revista os
tradicionais laços de amizade. E, por consenso, aprovou-se o reforço da amizade
e cooperação entre os nossos povos. Aprovou-se também uma moção muito favorável
ao envio de mais alguns milhares de tsins para reforço da nossa independência.
É que o inimigo está sempre à espreita, e convêm ter sempre um exército
internacionalista de prevenção, porque nestes tempos nunca se sabe. E há que
reforçar os poderes dos nossos partidos. Viva o apoio prestado pela República
Popular Tsin povo Jingola. Viva a amizade com todos os povos amantes da
liberdade. As ditaduras resistentes sobreviverão. E ainda temos amigos
ocidentais que nos protegem.
Preço do petróleo
dispara.
É
verdade. O preço do petróleo disparou no mercado internacional. Devido a uma
greve de navios-petroleiros, o preço atingiu o patamar dos duzentos dólares.
Finalmente, vamos conseguir tirar o nosso povo da miséria extrema em que ainda
se encontra. Bibliotecas, universidades, água, luz, emprego, fim da
delinquência, mercados municipais condignos para retirar as nossas mamãs das
ruas, onde actualmente dificilmente conseguem facturar duzentos kwanzas
diariamente. Escolas, hospitais, fim dos engarrafamentos de trânsito, fim da
invasão tsin e de falsos emboabas. Fim do êxodo das nossas populações para a
capital Jingola, com condições de retorno aos condados e viscondados.
O
nosso Politburo agradeceu a confiança que o nosso povo continua a depositar na
sua direcção de vanguarda, porque sabe desde há muito, que só assim o futuro
será certo. Só líderes esclarecidos podem ser eleitos para chefiarem e
conduzirem o nosso povo às vitórias alcançadas, que infelizmente ainda são mínimas,
mas nas próximas décadas todas as metas serão finalmente alcançadas e a
felicidade uma vitória certa. O nosso povo não necessita de partidos da
oposição para o esclarecer. Pois, só um povo com um único partido esclarecido é
vitorioso. Viva o nosso partido sabiamente dirigido pelo nosso outro guia
imortal.
Como
distribuir panfletos nesta ditadura siríaca
Carregam-se
as resmas de panfletos para os terraços dos prédios. Molham-se os primeiros
exemplares. E quando secarem, começam a voar em todas as direcções.
É
um método seguro de propaganda política neste nosso regime agora ultra
ditatorial.
É
que ninguém pode manifestar qualquer opinião contrária, aparecem logo os
defensores da ordem dos usurpadores das nossas liberdades.
Então,
jovens de partidos políticos não podem entregar panfletos à entrada da
Assembleia Nacional Jingola? Fizeram-no e de imediato foram logo presos.
Estão
a provocar o caos síriaco. Assim seja!
Conselho da Revolução. Decreto-Lei n.º
01/11
Das manifestações
É
consabido que o direito à manifestação está devidamente assegurado na nossa
Constituição. Só que até ao momento ainda não estão criadas as merecidas
condições. Isto deve-se tão-somente a que o Executivo está imensamente
empenhado em resolver os problemas do nosso glorioso, querido, e sábio povo,
apesar de que há quase quarenta anos nada se resolve. Constituindo apenas um
rol infindável de promessas que a mais das vezes nem sabemos bem donde saem.
Mas a nossa sagrada missão é manter o nosso povo na felicidade que merece. Mas
também, e infelizmente os barris de petróleo ainda não chegam para todos. Mas
lá chegaremos.
Portanto,
o Executivo ainda não teve tempo para se dedicar aos aspectos de liberdade
fundamentais. Garantindo que nos próximos meses, quiçá, mais alguns anos, as
manifestações sejam devidamente autorizadas.
Convém
assinalar que entretanto, a actividade contra as ditaduras preocupa-nos imenso.
São manifestações atrás de manifestações, derrubes de ditaduras umas atrás das
outras. Achamos por bem que o nosso já martirizado povo não necessita destes
maus exemplos. Até porque a Nova Vida está a chegar, a começar. E o nosso povo
vive já um bem-estar invejável. E por isso mesmo não desejamos absolutamente
nada que se deixe levar por manifestações que agora viraram moda por todo o mundo.
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