Acreditar nestes políticos é como
viver num prédio
prestes a desabar.
E são tantos, os prédios. Como generais no poder, democracia generalizada, militarizada. Com dois desejos, duas faces. Qual
deles, qual delas?! E assim
constituíram-se populações mal-educadas intencionadas, óptimas irresponsáveis, moldadas e acondicionadas. Como monges em
falanstérios e magias que insistem em moldar-nos, dominar as nossas mentes.
Não há bons governantes,
apenas homens
que executam o desejo,
a vontade do povo.
Um cientista
Jingola dissertou que a população é famosa
pelo seu
analfabetismo. Que não tinham direito a instrução. Isso, e por causa da fome, descobriu que só usavam dez por cento do cérebro.
Não sei distinguir se é a água que
arrasta o lixo, ou
é o contrário?! Lixo, água e comida. Na transfusão
diária à Nação, o boom
da cólera expandiu trinta mil infectados e morticínio
de quase mil.
A acção planejada das chuvas divulgará
subitamente a epidemia. Na terra
ávida por
cadáveres, a cólera
diminuirá quando a população
escassear.
Abriguei-me num contentor na desespera
que a chuva
desalentasse. Para obter tal permissão comprei uma cerveja.
Senti que a minha
respiração se dificultava devido ao fumo que vulcanizava no interior.
Apenas duas pequenas
janelas nos
extremos velavam o arejamento.
Desloquei-me para a mais
próxima, era, parecia o fumo do Vesúvio. Olhei para
a jovem que
fingia ser empregada.
Tentei defender-me.
- Donde vêm tanto fumo?
- Dos geradores.
- Vamos morrer
intoxicados. Presumo que há deleite nisto.
- É isso! Um é do general, o outro
é dum novo-rico da padaria. Já refilei, deram-me a importância
do desprezo. Reino governado por generais é assim.
Subi ao castelo dos deuses
sanitários, ameaçaram-me com a morte. As ameaças tornaram-se tão vulgares.
Creio que devíamos mudar o nome para reino das ameaças. Esta gente é como Napoleão, é tudo
deles, pensam que são
invencíveis.
- Descolonizadores, novos
mentores.
- Mais um campo africano da morte, mais um quilombo de caveiras.
Os olhos
começaram-me a arder, a garganta
a condescender. Fugi para
debaixo de um
toldo que servia de habitação
a duas famílias que
ficaram sem casa-casebre. Foi destruída por um príncipe
para construir uma mansão. Podia abrigar-me da chuva se fizesse despesa. Só havia cerveja. A chuva
amainou. Daqui até Tule, mais ou menos
em Viana, terei que desandar
cerca de vinte quilómetros.
Luanda, o condomínio Jinga Isabel está fissurado,
ainda há pouco tempo inaugurado. Foi construído (?) por uma empresa brasileira.
Resta saber o nome da empresa. In Tv Zimbo.
E quando os prédios e torres começarem também a
racharem? É que quando chega a época das chuvas, e a tendência é chover mais,
cada vez mais, muitos lençóis freáticos ganham corrente, revivem. Literalmente,
Luanda assenta-se sobre um rio subterrâneo.
Comprar carro é
acrescentar mais
um buraco à tormenta do nosso desviver… como navegar
sem mar.
As estradas não
são necessárias mas, pode-se confessar
que tudo é um mal
necessário. Um
horrível esforço
de martírio altruísta
foi projectado para o nosso
modus vivendi. Consistência de perder
muitas horas, encontrar
a velhice precocemente, perder
a saúde. Hábitos de regozijo incutidos sem apelo
devassam, grassam na lotaria das ruas que já não o são, nunca o saberão. Os prémios principais são
buracos e lodaçais. Ruas
escavadas devido à intensa
prospecção dos malignos sentimentos petrolíferos.
Oh! Que noites, que festivais, que
mães com séquitos de pardais, para onde caminhais?
A criança
adianta-se, nefasta apressada.
Pára, volta-se, incita o andamento. A mãe carrega a idade
da ditadura do sofrimento, sem lamento. Na cabeça,
uma carga que
não alivia a sobrevivência da
inconsciência do governo petrolífero. Nas costas,
sobrecarrega o peso recente
da infelicidade nascida,
adormecida. Pela mão,
a contrariedade da criança
arrasta-se esforçada na contra-mão do retirar o pão da boca. É a mãe, das mães
dos agora colonizadores negros da negra miséria. Dos indistintos
dias, das inextinguíveis
noites orgíacas das políticas palacianas. Ó negra
miséria, decerto
no incerto caminhais. Nas ruas alagadas
de campos petrolíferos,
pastos negros,
prados negros
que não
servem para comer, nem para beber.
Muitos poetas, advogados, economistas e poucos
engenheiros. Povo analfabeto nunca será independente.
Conhecimento é liberdade. A miséria é negra,
da cor do petróleo.
O poder temporal
é momentâneo, o espiritual eterniza-se.
Atirei o meu
telemóvel para o lixo.
Evito os assaltos, quero caminhar normalmente, não
quero ficar sem
vida eternamente.
Ganhar o presente dos
assaltantes e perder o futuro.
Apesar de muitos
seguranças métricos que
guardam o que não
lhes pertence,
a intranquilidade é palustre. Muitos seguranças,
muita insegurança.
Tudo tão
inconfortante, abundante. O lixo é superabundante, os baldes das águas
imundas cozinham-no. Colossais colunas de lixeiras
esculpidas como os estábulos de Augeias.
Jingola contratou Hércules para a derradeira
décima terceira
tarefa… acabar
com o lixo.
Seria pago com
vários tosões
de oiro. Não conseguiu, desistiu,
desamarrou-se furioso porque
vinte e oito assinaturas
eram comissionadas. Não sei, não
sabemos, ninguém me
consegue explicar, entender
que regime é este que nos governa.
Acho que é um
regime com
cheirinhos de todos os governos igualitários, totalitários existentes no mundo. Universalizado, engalhado.
Passa a escolta
vulgar de invulgar
administrador. Um
sacerdote lapidar,
escoltado de fingida bondade, desapercebe-se da trama
que os doutores
do nosso destino
escorregadio lhe invectivam. A escolta do medo, insegura, medrosa,
despenca no desprotegido, potencial inimigo disfarçado, que
atrapalha, inibe a passagem do mais que
parecido cortejo funéreo. O sacerdote é espancado e abençoado
pelo poder intemporal. Imolado no cumprimento
de ordens superiores,
sancionadas por inferiores.
No estabelecimento do ritual satânico do Politburo Jingola, barbárie enfeitiçante de imitação da selva civilizada.
Os peregrinos deslocaram-se dos seus santuários.
O embondeiro secou a mabuba também.
No reino Jingola, Estaline revive, e claro, as
deportações também. O Grande Líder já criou os gulagui tropicais que
sacanamente o Politburo chama zangos. É puro, é nacional e eles gostam. Assim,
o extermínio dos negros está assegurado, para gáudio dos terroristas
imobiliários e especuladores internacionais.
É uma das suas músicas mais barulhentas preferidas, e impropera para o som desconjuntar os sentidos… elevar
a identidade cultural. Mostrar
a mitologia não
ancestral, mas
a actual, dos lençóis petrolíferos, dos campos diamantíferos,
das vastas extensões de terras incultivadas, famintas. Ela
desvenda no corpo a dança,
mas esqueceu o desvendar
do mistério da luta de libertação que se actualizou
na nacional destruição.
Ouvir música é como uma grande
trovoada, e não são necessários
o ribombar de mil
trovões e a cegueira
de mil raios
alaranjados. Condimentados pelas máquinas monstruosas dos novos construtores que furam passeios,
ruas, terraços,
que destroem e reconstroem os solos, a solo e
em conjunto
dos escapes livres
das rápidas motorizadas, autorizadas para desafiarem
Júpiter. Música tradicional importada, dançar,
se embebedar, se drogar.
Como o pai de
Voltaire hoje diria: uns filhos em prosa, outros em verso. Os pais
serão sempre
chamados caducos e calhambeques,
porque não
alimentam as loucuras dos seus filhos. Já
não temos filhos.
Duvido que alguém
os tenha. Serventes de Brutus, para roubarem e assassinarem pais.
Para dançarem, beberem e dormirem.
Olhei para o que restava naquela casa-casebre. Duas ventoinhas que funcionavam com
sorte. Estavam entrevadas, avantajadas
de ferrugem. A televisão
trabalhava à pancada. Por
causa das falhas
da energia eléctrica o frigorífico ligava, desligava. A cama
descuidada, sempre
desabava na hora do deitar.
Dos tetos da casa
de banho, da cozinha
e do corredor, os pingos
de água comodamente destruíam o sonho de um lar. Deixaram de ser
tectos, eram grutas com quase estalactites. O casal
sexagenário trabalhou e lutou pela sua pátria. E parvamente na tal luta da libertação, e
agora pela pátria e família
abandonados, resta-lhes o consolo da
sonoridade musical, o raiar dos momentos românticos, do mais um recenseamento… para
ficar tudo na mesma e os mesmos receberem sempre as mesmas pensões.
Tanto petróleo e diamantes! Quanta
mais riqueza mais
pobreza. Onde
os cofres estão muito
cheios, há muita
escravidão. Escravos
tecnológicos das novas tecnologias. Escravos
dos modernos Cavalos
de Tróia. Oiço as viuvinhas que saltam nas árvores,
mostrando o manto do seu canto. Nunca acreditarei no Homem,
enquanto existir
um só
ser humano que passe fome.
A minha caminhada prossegue. Vejo que
a macroeconomia se desenvolveu, o que permite a muitos
jovens lavarem carros nas ruas. Destas escolas de lavagens
sociais nascerá o novo
homem, adaptado à nova
vida. Com
os panos enxugam a chaparia, mais um produto acabado
está pronto para
entrega. De cigarros
embocados trocam impressões.
- Sabes onde
está o rei?
- Sei! Está de visita privada nos
brancos.
- Deixou-nos sem
luz.
- A minha mãe quando paga a conta, reclama que ficamos muitos
dias às escuras, e que
o valor a pagar
devia diminuir, mas
é o contrário. Sobe muito.
- Quando o rei voltar seremos mais
iluminados.
O crescimento
económico é factual. Um
bando de lobinhas sirigaita o desenvolvimento da economia.
Na precoce rendição
infantil de crianças
da prostituição, ratinham a
perseguição dos lobões
Na entrada de um prédio ouve-se barulho
metálico. Um
jorro de água
vertical surge. Uma jovem
aborrecida quer saber
o que se passa.
- Mingo, porque
é que você
fez isso?!
- Parti a torneira
com uma pedra porque
não me
querem dar a chave
do cadeado… tenho carros para
lavar!
- E quem
vai limpar a inundação?
- Não
sei!
Duas motos
rápidas passam em grande
velocidade. Sem
escapes, o barulho provoca dores de cabeça.
Os alarmes dos carros
estacionados disparam. Tapo os ouvidos com os dedos. Na
janela de um
prédio o ar condicionado arde. Os basbaques à distância
acotovelam-se. Alguns afirmam com desmesurado orgulho.
- É bem feito! É bem feito! Gostam de morar nos prédios!
Os camaradas chamaram-me bicho
ResponderEliminare colocaram o meu voto no lixo
porque não votei como naqueles boletins que há,
os que eu vi
a chegarem de Madrid
impressos já
com uma cruz a favor do MPLA.
Eles disseram que os votos na oposição
são considerados nulos ou abstenção
e, por vingança ou capricho,
colocaram o meu voto no lixo.
António Kaquarta
http://miradourodoplanalto.blogspot.com