Diz-se dos jornais semanários que é um negócio legal de
quinze milhões de dólares. Mas não se diz que o dinheiro é de origem ilegal.
- Hum! Esses gajos
estão a petrolear de mais.
- É mesmo, vamos pois então chamar os
Greguejados, para lhes
queimarem com o Fogo
deles.
-
Os Greguejados sem aquele
parecido com o Aquiles, não furam nada.
-
Esse é um grande
sacana.
-
Porquê mano?!
- Caçou a virgem Briseida, está com
ela há mais
de mil noites.
Dizem que está indeciso,
deseja que
ela permaneça virgem.
- Ah, afinal ele é
desses?!
- Mas
que herói,
que guerreiro
é esse, que
não consegue tirar
a virgindade a uma mulher?
- Os nossos penetram, arrebentam bem,
são muito
vaginais. Muito soldados
de rebentos.
As fardas
da lei arruaram, impuseram vários balázios
para o ar. O ajuntamento quitou, relaxou, debandou.
Era um bairro que vivia na calmaria
nostálgica da nova vida. De manhãzinha, as mamãs armavam-se com vassouras e cuspiam o lixo
anterior. O ramerrame zodiacal marchava matinal. Já
haviam montes de lixo
despertados, que desterravam nos descampados.
Não havia recolha,
pariu montanha. Com
ingénua sacanice as crianças
perseveravam, logravam as saias das mães. Elas
rebaixavam-se até aos chinelos,
lembravam-se da facilidade vassoural e bruxuleavam vassouradas
nos infantis costados.
A criançada resfolegava.
- Mamã, porra, tenho fome!
- Deixa-me acabar o lixo. Vou encestar rebuçados, vender alguns, depois compro-te pão.
- Mamã, se não me deres comida, espojo-me na lixeira!
- Tenta
só, vá, vais ver
a surra. Vou-te amassar
os ossos!
Alheio às diatribes o sol
admoestava o solo, crestava os rostos. Uma esquadrilha
OVI – Objecto Voador Identificado – de moscas-varejeiras verdejantes fazem reconhecimento, defendem os seus
interesses. Objectivos abundam, tantos que voam
indecisas, não sabendo onde pastar. Em exposição nos pousos
fervilhavam rebuçados, bolachas, cigarros,
pastilhas elásticas, refrigerantes, cerveja
fumegante, a estalar.
Enfim, um
rosário mercantil.
As mamãs requeriam ao direito divino uma bonança na borrasca para facilitar as vendas. Senão, ocorreria tempestade
em
casa. O basto infantário caseiro,
a desoras desentende porque não lhe dão comida.
Algumas mamãs
macilentas do espólio gerado ancoravam silenciosamente os tenros
corpos em
qualquer instituição
de caridade. O dinheiro
tão parco
não alcançava as despesas
escolares. Os livros
careiros boicotavam o olhar
das letras. Os reinóis poliram insustentável acordo
literário com
os neo-alfandegários. O tributo advindo,
primaz, alvissarava cofres
ocultos, incultos. Com
preços desvelados, desnivelados, poucos se arriscavam na aventura
da leitura. Alegando que os exportadores,
do piorio fenício, eram grandes sacanas. Que
viajavam de muito longe,
sujeitos a constantes
ataques de piratas somalis e de outras
turbas cansadas das promessas de liberdade das ditaduras do Golfo da Guiné. E que as suas mercadorias leitorais não
tinham garantias dos seguradores, de leitores.
E mais: que
não tinham culpa
nos derrogatórios notariais que o reino
Jingola se situasse nos confins roteirais. Os preços
subiam num escarpar precipício. Galavam com
náutica:
- É borda-falsa, barlavento, sempre
ao lado da brisa
acolhedora.
Os Jingola pegavam,
aceitavam piramidais comissões. Associavam-se em parceria às empresas fenícias.
As crianças
enganavam a escola. Alistavam-se nos exércitos
Órfãos. Não faltava mão-de-obra
para a soldadesca dos espoliados das terras e das casas-casebres
que aumentavam os exércitos dos antes lutadores, defensores do reino da FAMÍLIA
e agora abandonados, degredados, expatriados.
O bairro
continuava ocasional, mecânico como
uma fábrica de produção
em
série. As mocinhas
caprichavam, criavam Novo-olhar. De beleza invulgar enfrentavam a algazarra
musical. Dançavam, remexiam-se, oscilavam muito
elásticas. Muito distraídas, era assim que ludibriavam o tempo,
porque não
se lembravam da sua existência.
Não se danavam com
isso. As telenovelas
diluviavam, e sempre luziam parvos que lhes abonavam.
O pacifismo
bairrista pactuava. Clientes abasteciam
a sede com
sacos plásticos
de água de frescura
duvidosa. As sanduíches
evoluíam, movimentavam a clientela. O corre-corre transeunte
avolumava a facturação nas bolsinhas. As moscas
esquadrilhavam reforçadas. Tudo estava composto de indícios regulares. Uma repentina
pequenina chega.
Lembra Fidípedes a anunciar
que a batalha
de Maratona foi ganha.
Arfa desmedida, perdeu o jeito
do caminhar. Opressiva
esforça-se, respira muito
fundo, a voz
não sai. A mãe
vê que
ela está muito
assustada, embargada.
- É o quê porra!
Viste algum feiticeiro?
A menina
assusta-se, a respiração incha,
desincha.
- Estiveste outra vez a ver aquele filme de terror
na merda desse vizinho?
O querubim
move a cabecinha negativamente. Infelizmente a mãe
não tem tempo
para a aturar, pois tem cliente a piscar. Decide acabar com o mutismo
da filhinha com a arma
secreta das mamãs.
- Ah, sua aprendiza de feiticeira! Vou-te desinchar
com tanta
chinelada que te
arrependerás de ter nascido!
Antes da mamã iniciar as suas artes marciais
a menina consegue soluçar:
-
Os … os… os…
-
Os quê filha
de um bêbado!?
-
Mamã… mamã… mamãzinha… os galos… estão ali.
-
O quê!? O quê!?
Ai meu Deus!
A mais
velha pressiona as mãos
na cabeça. Revoluteia duas circunferências, batuca os pés
na terra amolecida, de barro
avermelhado. Isto ajuda-a a pensar, a decidir o que fará a seguir. Parou,
baixou as mãos, inchou o peito, alertou geralmente:
-
Gauleses à vista!!!
A criançada maravilhou os olhos,
que brilhavam intensos
como holofotes.
- O
Asterix vem com eles?
A menina
reclama, tenta finalmente elucidar a mãe:
- Vocês
trocam tudo! SÃO
OS UFOLOS… OS UFOLOS, PORRA DE MÃE!!!
- Está bem
minha filha.
Fujam! Avista-se Fogo Grego ufólogo!
A calmaria
tresandou, parecia mar agitado quando
atira os barcos uns contra
os outros. Confusa maré
humana, de corpos
contra corpos,
de filhos enlaçados, que na atrapalhação custava pegar
no sustento da insustentável
fome. Rebuçados,
cigarros, bolachas,
pastilhas elásticas etc., sofreram a condenação do chão.
Patinharam para as cubatas. Às crianças
foi silenciado que se escondessem debaixo das camas,
onde as havia, porque
era normal
dormir no chão.
Eram seis Ufolos. Um,
sem dúvida
o chefe, mascarado de Zorro. Cópia
refeita, possante,
trajado de negro. A máscara
negra entreabria-lhe os olhos, impunha calor
vampiresco. As pistolas
pendiam cinturadas, imponentes. Alaram pombos e pardais,
alocaram tranquilos pombais. Montado num pau
de vassoura, um
varão que
iludiu a mamã exclama com convicção:
- Aió… Silver!
O Zorro amuou.
Apetecia-lhe rir da ousada
criança, mas
tinha, sentia-se obrigado
a manter distância,
meter medo, senão perderia o respeito,
o comando do bando.
Ordenou à criança que
freasse a montada. Do seu hábito seleccionou voz
autoritária.
- Vai para
casa, dita
às safadas que ponham tudo cá fora.
- Ok! Zorro mascarado!
As mães
olharam longe a conversa,
aprochegaram-se, lagrimaram, lastimaram.
- Não
nos roubem por
favor! O pouquinho que
temos foi ganho, crucificado! Somos
escravas dos descolonizadores, geradas para os distrair.
Os Ufolos marimbaram-se
das prédicas, dos desejos
sublimados das pobretanas sofredoras. Num ápice
foram trambolhadas televisões, ventoinhas, aparelhagens
de som, dinheiro.
Uma mamã enfrentou-se e levou monte de chapada. Furiosa
emparedou:
-
Sacanas de merda, vão roubar
os governantes do Politburo, eles têm tudo!
- Lá
chegaremos.
-
Aquando?!
-
Uma noção de tempo.
Esgueirando-se, uma
belezinha furtou o cerco dos Ufolos.
Parecia uma fada que pairava suavemente na corrida
até à esquadra
da polícia. Chegou levemente.
Depois partiu num carro
patrulha com
seis polícias
de olhar pesado, e sirene
carregada. Estacionaram, arruaram-se, descende um
oficial com
óculos de breu.
O Zorro e afiliados escapuliram-se próximos,
disfarçados de vendedores de rua. Os produtos
da contribuição fiscal
foram desalfandegados numa viatura de vendas de móveis
ao domicílio. O oficial
calendarizou, sublinhou:
- Tempo para desordem, tempo
para ordem! Minhas queridas… para casa!
- Mais pra
casa?! Não temos nada
para pentearem!
-
CUMPRAM AS ORDENS!!!
O metal tiniu nos
gatilhos leais
das armas do dever.
Cães, gataria, rataria,
serpentes… e borboletas,
acoitaram-se nas redondezas como testemunhas
do oculto. A infeliz
que a História
atraiu destapa a alma soturna.
- Ufolos
e Politburros … são todos
zebras, cepos,
troncos dos mesmos
ramos. Perderam as almas
sombrias, nada mais
lhes resta.
- Redobra a falaz,
a perspicaz postura.
A minha glacial
farda oficia o juízo
dentro e fora
dele.
- Hum! Reles Politburo, soviete.
Os Ufolos calculavam que os Politburo brindavam vivaz
temor deles. Creditaram a confusão
na sua conta,
escalaram as paredes dos barracos, desvendaram os soalheiros telhados zincados, verrumaram, espernearam as
julietas. Sabichões na selecção natural das espécies,
emplumaram as fêmeas aves-do-paraíso,
aquelas que os queimavam, teimavam no prazer da negação do namoro. Fugaram com elas, e pelas andanças
dos descaminhos repartiram estragos a mais
de seis carros.
Garantiram a tranquilidade final com muitos disparos para o ar, de meter medo.
O oficial da polícia
Politburo melindrou grande desrazão aos seus conceitos,
preceitos da desordeira
manutenção sem
bandeira. Deixaram-no fraco, sem frasco. Motivou para o lado da fraqueza:
- Prendam-nas… chamem
camião para o Zango que as carregue!
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