As “sondagens” indicam que na próxima
remodelação governamental, para os ministérios serão nomeados ministros
portugueses, pois a isso o neocolonialismo obriga e a paz legaliza.
República da literatura do petróleo.
República dos salteadores do petróleo de Angola. República dos assaltos de Luanda.
República do assalto do registo eleitoral. Ó pobres almas que caminhais para as
sepulturas.
Sempre na vanguarda do trabalho, os
chineses pelas seis e trinta, sete horas, todas as manhãs, atiram com barrotes
de madeira para o chão, mudando-os de lugar, fingem trabalhar.E outras coisas
genuínas dos subdesenvolvidos, como deixar cair chapas de madeira e de zinco
com o maior barulho possível. Depois, como os angolanos ainda não sabem serrar
– ninguém lhes ensinou – os chineses com serras eléctricas mutilam madeira a
esmo. É o propósito intencional, maldoso do não deixar ninguém dormir. É isto o
desenvolvimento de Luanda projectado por salteadores, saqueadores chineses.
E às escravas do petróleo só lhes restam
as ruas para venderem algo para comerem - restava-lhes – porque os estrangeiros
queixaram-se nos senhores do petróleo que a negralhada a vender nas ruas,
obscurece-as, escurece-as.
E para que a nossa vida melhore, vai
melhorar, a corrupção é certa, basta nomear alguns chineses para ministros de
alguns ministérios, e então Angola ficará numa boa. A nossa vida vai melhorar!
Não é possível mais sobreviver no campo
de concentração de Luanda!
Qual a utilidade dos sacerdotes? Para
que os nossos corpos alimentem as fogueiras que eles ateiam.
Os lordes do petróleo gostam muito de
brincar às revoltas e revoluções.
De uma crente de uma igreja do Senhor:
«Brinquem com as coisas, porque quando o Senhor chegar vão-se arrepender.»
Por mais que se tente evitar a escalada
da desgraça angolana, Angola não é igual nem melhor que os outros países
africanos mergulhados na debandada dos seus povos como errantes, como farrapos
humanos. Angola é pior porque o neocolonialismo também é pior.
Quanta mais trampa fizerem nela se atolarão
e nela perecerão.
Há homens que fundam a democracia,
outros afundam-na.
Não será nada mau se em Angola existirem
dois ou três democratas.
O investimento chinês é bom para África,
mas para Angola é péssimo para a sua população.
O problema de Angola é que não há
ninguém que consiga acabar com a miséria e a corrupção. Pelo contrário, só há
quem as exacerbe.
Que Deus nos livre da poluição religiosa,
tão nefanda epidemia ardilosa. Os hipócritas estão no poder e a oposição também
o quer ter.
Cada cidade da Inglaterra tem uma
história bonita. Cada cidade de Angola tem uma história de miséria.
Na república do ter energia eléctrica e
água é sorte.
Fiquei muito triste ao tomar conhecimento
que uma amiga de quarenta anos de idade está a passar mal, a fome montou-lhe
guarda. Surpreendido pela notícia, pois ela vivia desafogadamente sem motivos
que justificassem a instalação da desgraça no seu lar. Quantos mais casos existem?
Muitos! Muitíssimos! Não há empregos! Luanda está invadida por portugueses que
nos rapinam os empregos sob o disfarce da mão-de-obra especializada, o que é notoriamente
mentira do sou português e angolano. Como é possível os portugueses serem angolanos?!
Aqui da praça política nada há a esperar de uma oposição esquecida. É só falar,
falar, enquanto do outro lado os prelados dizem que devemos orar, orar. Manos e
manas! A violenta maré que se aproxima traz-nos luto.
Libertem-me da poluição religiosa!
Mais um casal português desembarcou no
prédio. Sempre a mesma questão se coloca: como é que saídos da miséria profunda
conseguem os cinco mil dólares mensais de renda?
Se os portugueses fogem do sonho
irrealizável de Portugal, porque o procurar no pesadelo de Angola? Fugir de um
inferno para outro nunca é solução, é expiação.
Os missionários vêm com a missão de
evangelizar os mwangolés, mas estes refugiam-se na feitiçaria. Os portugueses
vêm com a missão de civilizar os mwangolés, passar-lhes conhecimentos do homem
branco, dos ardis colonialistas que levam à escravidão.
Já perdi o interesse em ouvir a Rádio
Ecclesia. Parece a Rádio Renascença do tempo de Salazar e da nossa senhora de
Fátima. Aliás, Angola está como Portugal antes do 25 de Abril, muito mais
feroz.
Faço tudo o que quiserem, mas por favor
não me mandem para a embaixada de Portugal em Luanda, porque lá vê-se bem que
Deus não existe. ´
Por vezes parece-me ser melhor extinguir
os partidos da oposição existentes em Angola e criar novas formações políticas.
O melhor momento da nossa vida, é o
saber esperar a chegada do momento ideal para desferir o golpe sem misericórdia
no nosso inimigo.
E o nosso petróleo deles é a grande
fonte de inspiração, o viveiro da literatura do petróleo, dos poetas,
escritores, uma refinaria de intelectos.
A única riqueza nacional de Angola, a
sua primeira maravilha é o petróleo.
Continuo a ouvir parvoíces nas rádios de
consumismo primitivo. São tantas bocas de aluguer que ao desinformarem como
regra, como se fosse possível lavar todos os cérebros. Como é bom despedaçar
Angola.
Agora, qualquer um é advogado.
Agora até as mães mwangolés são como as
obras dos orientais, são mães descartáveis.
Mas o mwangolé serve para quê afinal,
pois que quando contactado para um compromisso, um serviço, diz que: «Daqui a
cinco minutos estou aí.» Mas não aparece, tudo não passa de uma grande merda
irresponsável. E assim o estrangeiro avança, apodera-se de Angola e depois os
mwangolés lamentam-se que Angola está em poder de estrangeiros, e que eles os
escravizam. Pois com toda a certeza, é isso mesmo que acontece, deixem de ser
burros!
No paraíso das epidemias, Luanda tem
mais uma catástrofe na saúde. Estarmos sob uma invasão – é melhor chamar-lhe de
república das invasões – de mosquitos de todas as espécies, de dia e de noite
os mosquitos ceifam-nos.
O ideal é ter uma imprensa que nunca
denuncie os terríveis actos da péssima governação, sim, uma imprensa ao serviço
do desgoverno, sim, isso é o ideal.
Nem tudo está mal. Por exemplo, a
miséria funciona a cem por cento, isso é muito bom, porque esclarece a meta
conseguida pelo governo, promessa cumprida. Aplausos para este governo que
trabalha muito bem, e do qual esperamos que continue mais quarenta anos no
poder.
O jornalismo que se sujeita às leis do
jornalismo do petróleo, não é, não pode ser jornalismo, é um jornalismo comodista.
O petróleo ilumina-lhe a corrupção neuronal, e isso não é jornalismo, é
criadagem, é serviçal.
A mana Antónia lá foi outra vez com as
duas jovens filhas com células falciformes para o hospital. Mais uma vez o
dinheiro que conseguiu amealhar desapareceu.
Todos os caminhos de África desaguam em
Lampeduza. Já não se chama continente africano, é continente Lampeduziano.
(Amigo
leitor, a partir da próxima edição do Folha 8 – o nosso Charlie Hebdo – sairá o
primeiro episódio da série O Rei do Petróleo, não perca.)
Sem comentários:
Enviar um comentário