CAPÍTULO X
A FUNCIONÁRIA
REAL
Epok está sentado na cadeira do gabinete real.
Uma funcionária do protocolo, muito bela, muito alta, muito magra, muito escura, com cabeleira postiça muito
pintada com uma cor que
ela inventou, óculos
muito escuros,
com as faces
muito pintadas, os olhos,
os lábios e as unhas dos pés também tudo sobrecarregado, muito pintado, aproxima-se
e proclama independente.
- Senhor cavaleiro
regente Epok, o chefe
das Cozinhas Reais
apresenta-se. Devo embaraça-lo ou
entrá-lo?
- Desculpe-me real senhorita, move-me uma pergunta!
Ela sentiu algo de inesperado. Talvez
fosse pela farta
cabeleira que
na ausência do rei aproveitou para caprichar. O rei era muito crítico
nesse aspecto. Gostava de ver
as suas funcionárias com o que
tinham, com o que nasceram, e nada de imitar costumes importados de outros
reinos, especialmente
o Ocidental. Pôs as mãos
por baixo
dos seus cabelos,
levantou-os e afirmou:
- Pois não,
podeis mover-me com real
à vontade.
- Presumo que acabais de sair da real exposição de pintura?!
- Ai é!? Seu presumido,
acaso não
gostais das minhas nobres
pinturas?
- O reino já
está muito escuro,
demasiado encoberto,
para quê
escurecê-lo mais? Aclare-se devidamente, especialmente
nas suas ideias. Na verdade
evite confundir-se com as noites sem luar. Faça das noites
dias claros,
seja mais clara
no seu comportamento.
- Estúpido imitador
racista! Enquanto o rei
estiver fora, vou-te fazer
a vida muito
negra. Ah!.. Filho
da puta racista… vais ver... vou-te queixar no rei!
- Pronto! Não
se pode falar nada,
levam tudo para
o racismo. Assim
não vamos a lado
nenhum. Não
sou obrigado a gostar
de tudo o que
é escuro. Não
sou o rei. Ele
que vos
ature, porra! Suas feiticeiras de merda!
Diga no chefe cozinheiro
real para aguardar.
Ponha-se lá fora,
que depois
gritarei por si.
Apesar do ambiente climatizado
Epok sentiu suores frios.
Passou a mão na testa.
Forçou o seu corpo
para o fundo
da cadeira, uma consola
em madeira
dourada Luís XIV. Depois
considerou: porra! Esta merda do racismo,
parece que não,
mas existe com
muita força,
escondido, disfarçado, como as noites muito
escuras, em que
não se consegue ver
quem é quem.
Participou num debate sobre
racismo na NetReal, acessível
a poucos, devido
a razões compreensivas… preços Reais,
filiais e irreais, péssimos, sem concorrência. A sua
intervenção limitou-se apenas a dizer que: Os brancos
não gostam dos mulatos nem dos negros.
Os mulatos não
gostam dos negros nem
dos brancos. Os negros
não gostam dos brancos nem dos mulatos.
Não entendia o porquê
de tanta hipocrisia.
No computador Real procurou um artigo que lhe
enviaram pelo e-mail Real. Achava muito
interessante o modo como
o autor abordava o racismo.
Ainda mais
era um
súbdito do reino, que
preferira o exílio no poderoso reino
dos Grandes Estados Unidos. O texto apareceu no monitor
Real, especialmente
fabricado para o rei.
Dizia:
«ABREU KUSSUYA abreukussuya@yahoo.com
1.
Muitos dos argumentos que estão a ser feitos aqui não são inéditos no continente
Africano e em
vários outros
lugares aonde
existe uma disputa do poder
entre raças,
grupos étnicos
etc. No continente Africano,
em
países Anglófonos, por exemplo, o processo da “Africanização” do sistema
governamental e das altas
escalas das empresas
públicas não foi encarada positivamente por
grupos que,
tradicionalmente, pertenciam ao topo –
os brancos e Indianos.
E o descontentamento deste grupo que se
sentia, de repente, destronado, manifestava-se através
de argumentos que
aparecem hoje neste site
quando se debate
o predomínio dos brancos
e mulatos nas instituições
Angolanas. O acrescentamento de quadros indígenas, argumentava-se, resultaria na mediocridade.
Enumerava-se então os grandes defeitos
do negro – a sua
suposta preguiça
perene; a sua
incapacidade de planificar,
organizar e implementar;
a sua falta
de pontualidade; a sua incapacidade de seguir regras e normas;
a sua inabilidade
de superar vícios
carnais, como
querer dormir com as secretarias
ou dar emprego às suas
amantes; o seu
espírito permanente
vingativo e invejoso;
a sua inabilidade
de captar relações
abstractas de vários fenómenos
relacionados ao seu trabalho;
a inabilidade de pensar
estrategicamente etc. A lista dos defeitos do negro
é quase interminável.
2. Estes argumentos
serem mesmo considerados como fazendo parte
do arsenal do PRECONCEITO
INTERNACIONAL. Nos
Estados Unidos, o mesmo
foi dito sobre
os Afro-Americanos. Na Inglaterra, o mesmo
foi regularmente dito
sobre os Irlandeses, que só tomaram
a sua independência
em 1920. Os Europeus
do Norte diziam as mesmas baboseiras
à volta dos Italianos, Espanhóis e – claro – Portugueses. Os Japoneses, diziam a mesma coisa sobre os Chineses e Coreanos quando
reinaram sobre esses
povos. Os Russos – esqueçamos da propaganda comunista
– diziam as mesmas coisas sobre indivíduos
vindos dos estados Asiáticos
da União Soviética,
como o Kazaquistão. Os Indianos, para justificar o sistema
de casta, aonde
os Dalits (os ditos intocáveis)
permanecem sempre em
baixo, como
os Nganguelas e Chokues em Angola, também
invocam os mesmos argumentos
sobre as deficiências
desta classe supostamente
baixa e que
não é dada
a mobilidade social.
3. O que é triste,
neste nosso debate
de Angolanos, é que os nossos irmãos mulatos ainda
restam na fase da Catinga.
Os pretos, para
eles, cheiram a catinga,
são corruptos
e incompetentes; ergo, não podem assumir ou mesmo reclamar lugares de chefia no seu próprio país. Há
várias razões que
explicam esta arrogância tão
barata do mulato
Angolano. Em primeiro
lugar, o preto
Angolano dá muito valor
ao mulato e à sua
pele. Em
outros países
Africanos, o mulato
é filho do branco,
concebido em muitos
casos em
circunstâncias enojantes, e acabou.
Nestas sociedades, só
ascende o mulato que
pode provar ser competente etc. Em
Angola, isto
já não
é o caso – não
há, no mundo, um
indivíduo tão
enfatuado consigo próprio,
com uma noção
do seu próprio
valor tão
irreflectida como o mulato
de Angola! Para
constatar isso,
basta só
uma visita a uma das capelas dos nossos
compatriotas claros
– como a discoteca
Palos na Petrofaminta. Isto tudo advêm de uma certa
veneração que o negro
Angolano tem para com
o mulato. Não
é invulgar, em
Angola, encontrar
um negro
licenciado, culto,
sofisticadíssimo, capaz de falar varias línguas
etc., que, depois
de uma tarrachinha, começa logo a gaguejar perante uma mulata
semianalfabeta.»
«4. Um outro
factor que explica a arrogância
desmedida do mulato
Angolano é o tão louvado lado Português. Até recentemente,
o índice da evolução
humana em
Portugal, relativamente ao resto do mundo,
era notavelmente baixo.
Os Portugueses que foram forçados para emigrarem para as colónias – criminosos,
atrasados mentais, filhos
ilegítimos etc. – era
a escumalha, sem dúvida,
de Portugal. Será que, há por exemplo,
uma única família
de mulatos Angolanos que pode dizer ser oriunda da aristocracia Portuguesa? Quais
são os mulatos
Angolanos descendentes dos Braganças ou dos Bourbons?
5. Os únicos mulatos
em Angola
com antepassados
que tem uma certa
história com
algum peso
são os Cohens de Benguela que foram criados
por um
judeu peripatético
que eventualmente
veio a ser Cônsul Britânico em
Angola. Depois,
também, há os Daskalos, primos dos Laras, também
de Benguela, moldados, com muito carinho e
fervor, por
um aventureiro
Grego. Francamente,
se há mulatos em
Angola com
verdadeiro sangue
azul eu não os conheço. Como
é, então, que
gente com
raízes sem valor
pode ser comparada aos Aristocratas
do Bailundo, descendentes da família real
Bakongo que partilham o mesmo sangue com o rei
Mandume e outros Angolanos valentes. (Não
cito aqui a rainha
Ginga porque
ela é que
começou com a prática
tão vergonhosa
de negras quererem casar com
brancos. Nos
últimos anos
da sua vida,
a grande rainha
acabou por ser
uma concubina de um
Português comum
em Lisboa).
6. Esses nossos
mulatos, que
agora andam por
aí cheios
de tantos ares
e tão orgulhosos
dos seus genes
lusos, esquecem-se, por muitas vezes, que eles vêem do extracto mais
baixo da Europa. Um
outro ponto que deve ser salientado: os
Portugueses não são
caucasianos puros
– muitos tem sangue
Árabe e, por mais desconcertante
que isto
seja para muitos
mulatos de Angola,
também sangue
negro Africano.
Houve até um
tempo em
que o atraso
Português era
atribuído à suposta hibridação dos seus genes. O
mongrelismo, não pode esquecer, também resulta em
deficiências mentais
e em ilusões
de grandeza.
7. Sou Angolano – um indígena com
raízes inalteradas, algo que me dá muito orgulho.
Ascendi neste mundo através
do meu próprio
esforço. Já
fiz todo o tipo
de trabalho na vida
incluindo, nos anos
80, sobreviver como
empregado de uma discoteca
em Lisboa onde
os mulatos de Angola
me trataram como
se eu fosse lixo.
Sim, limpar
as pias dos brancos!
Trabalhei na Alemanha, onde, não obstante a
má reputação Teutónica não tenho queixas
nenhumas – mesmo na Bavaria. Consegui
instalar-me nos Estados
Unidos onde pretendo continuar
com os meus
estudos e escrever
sobre os grandes
mitos de Angola.
8. Não pertenço a nenhum clã das redes de influência
tradicionais Angolanas. Pertenço, porém,
a um partido
que adoro com
todo o meu
coração. Este
partido chama-se – ANGOLA!» In Abreu
Kussuya abreukussuya@yahoo.com
Epok acreditou que era uma boa análise
desapaixonada sobre um
assunto proibido.
Ninguém gosta
de o abordar. Será por
isso que
o reino está a ser
destruído? Epok não tinha
dúvidas sobre
isso. O racismo
camuflado destrói tudo. Inclusive
as piranhas. Ah! Que
se fodam os racistas! Antes que esta
merda dê o berro,
vou ganhar as minhas
comissões na sobrefacturação, enviá-las para o estrangeiro, e
depois que
se matem uns aos outros. Epok despertou:
- Senhorita das pinturas… envie o
chefe das cozinhas!
- …..
O homem entrou. Epok fingiu que não estava ninguém. Não se
pode dar importância
a esta gente. Ao mínimo sorriso
tornam-se abusadores. Notou a sua imensa barriga, aliás como todos, incluindo elas
que pareciam grávidas. As cozinhas reais
eram uma bênção do rei.
Todas e todos imensamente
gordos. Aleluia
meu rei.
Epok afirmou de modo brutal:
- Diz lá… tenho mais que fazer que aturar-te!
- Chefe… os géneros acabaram-se!
Epok sentiu-se na cadeira de um avião de combate, que depois de perder o controlo
ejecta-se.
- O QUÊ???
Os direitos das crianças
ResponderEliminar“a protecção de menores é fundamental”
@ Jornal de Angola
A criança angolana tem mais direitos,
muitíssimos mais,
se for filha desses gajos cheios de defeitos,
os dos santos e os generais,
com as carteiras bem recheadas de saúde
por abifarem, com grande impunidade,
o dinheiro que deveria ir para a juventude.
Esta é uma grande verdade
e, por isso, o pasquim oficial
diz que “a protecção de menores é fundamental”,
louvando a esperteza e a coragem
dos grandes cabecilhas da gatungem,
com inteligência e honestidade
dentro dos padrões de menoridade.
António Kaquarta
http://miradourodoplanalto.blogspot.com