sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Cavaleiro do Reino Petrolífero (14). Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné



CAPÍTULO X
A FUNCIONÁRIA REAL

Epok está sentado na cadeira do gabinete real. Uma funcionária do protocolo, muito bela, muito alta, muito magra, muito escura, com cabeleira postiça muito pintada com uma cor que ela inventou, óculos muito escuros, com as faces muito pintadas, os olhos, os lábios e as unhas dos pés também tudo sobrecarregado, muito pintado, aproxima-se e proclama independente.
- Senhor cavaleiro regente Epok, o chefe das Cozinhas Reais apresenta-se. Devo embaraça-lo ou entrá-lo?
- Desculpe-me real senhorita, move-me uma pergunta!
Ela sentiu algo de inesperado. Talvez fosse pela farta cabeleira que na ausência do rei aproveitou para caprichar. O rei era muito crítico nesse aspecto. Gostava de ver as suas funcionárias com o que tinham, com o que nasceram, e nada de imitar costumes importados de outros reinos, especialmente o Ocidental. Pôs as mãos por baixo dos seus cabelos, levantou-os e afirmou:
- Pois não, podeis mover-me com real à vontade.
- Presumo que acabais de sair da real exposição de pintura?!
- Ai é!? Seu presumido, acaso não gostais das minhas nobres pinturas?
- O reino já está muito escuro, demasiado encoberto, para quê escurecê-lo mais? Aclare-se devidamente, especialmente nas suas ideias. Na verdade evite confundir-se com as noites sem luar. Faça das noites dias claros, seja mais clara no seu comportamento.
- Estúpido imitador racista! Enquanto o rei estiver fora, vou-te fazer a vida muito negra. Ah!.. Filho da puta racista… vais ver... vou-te queixar no rei!
- Pronto! Não se pode falar nada, levam tudo para o racismo. Assim não vamos a lado nenhum. Não sou obrigado a gostar de tudo o que é escuro. Não sou o rei. Ele que vos ature, porra! Suas feiticeiras de merda! Diga no chefe cozinheiro real para aguardar. Ponha-se lá fora, que depois gritarei por si.
Apesar do ambiente climatizado Epok sentiu suores frios. Passou a mão na testa. Forçou o seu corpo para o fundo da cadeira, uma consola em madeira dourada Luís XIV. Depois considerou: porra! Esta merda do racismo, parece que não, mas existe com muita força, escondido, disfarçado, como as noites muito escuras, em que não se consegue ver quem é quem.
Participou num debate sobre racismo na NetReal, acessível a poucos, devido a razões compreensivas… preços Reais, filiais e irreais, péssimos, sem concorrência. A sua intervenção limitou-se apenas a dizer que: Os brancos não gostam dos mulatos nem dos negros. Os mulatos não gostam dos negros nem dos brancos. Os negros não gostam dos brancos nem dos mulatos. Não entendia o porquê de tanta hipocrisia. No computador Real procurou um artigo que lhe enviaram pelo e-mail Real. Achava muito interessante o modo como o autor abordava o racismo. Ainda mais era um súbdito do reino, que preferira o exílio no poderoso reino dos Grandes Estados Unidos. O texto apareceu no monitor Real, especialmente fabricado para o rei. Dizia:
«ABREU KUSSUYA abreukussuya@yahoo.com
1.                  Muitos dos argumentos que estão a ser feitos aqui não são inéditos no continente Africano e em vários outros lugares aonde existe uma disputa do poder entre raças, grupos étnicos etc. No continente Africano, em países Anglófonos, por exemplo, o processo da “Africanização” do sistema governamental e das altas escalas das empresas públicas não foi encarada positivamente por grupos que, tradicionalmente, pertenciam ao topo – os brancos e Indianos. E o descontentamento deste grupo que se sentia, de repente, destronado, manifestava-se através de argumentos que aparecem hoje neste site quando se debate o predomínio dos brancos e mulatos nas instituições Angolanas. O acrescentamento de quadros indígenas, argumentava-se, resultaria na mediocridade. Enumerava-se então os grandes defeitos do negro – a sua suposta preguiça perene; a sua incapacidade de planificar, organizar e implementar; a sua falta de pontualidade; a sua incapacidade de seguir regras e normas; a sua inabilidade de superar vícios carnais, como querer dormir com as secretarias ou dar emprego às suas amantes; o seu espírito permanente vingativo e invejoso; a sua inabilidade de captar relações abstractas de vários fenómenos relacionados ao seu trabalho; a inabilidade de pensar estrategicamente etc. A lista dos defeitos do negro é quase interminável.
2. Estes argumentos serem mesmo considerados como fazendo parte do arsenal do PRECONCEITO INTERNACIONAL. Nos Estados Unidos, o mesmo foi dito sobre os Afro-Americanos. Na Inglaterra, o mesmo foi regularmente dito sobre os Irlandeses, que só tomaram a sua independência em 1920. Os Europeus do Norte diziam as mesmas baboseiras à volta dos Italianos, Espanhóis e – claro – Portugueses. Os Japoneses, diziam a mesma coisa sobre os Chineses e Coreanos quando reinaram sobre esses povos. Os Russos – esqueçamos da propaganda comunista – diziam as mesmas coisas sobre indivíduos vindos dos estados Asiáticos da União Soviética, como o Kazaquistão. Os Indianos, para justificar o sistema de casta, aonde os Dalits (os ditos intocáveis) permanecem sempre em baixo, como os Nganguelas e Chokues em Angola, também invocam os mesmos argumentos sobre as deficiências desta classe supostamente baixa e que não é dada a mobilidade social.
3. O que é triste, neste nosso debate de Angolanos, é que os nossos irmãos mulatos ainda restam na fase da Catinga. Os pretos, para eles, cheiram a catinga, são corruptos e incompetentes; ergo, não podem assumir ou mesmo reclamar lugares de chefia no seu próprio país. Há várias razões que explicam esta arrogância tão barata do mulato Angolano. Em primeiro lugar, o preto Angolano dá muito valor ao mulato e à sua pele. Em outros países Africanos, o mulato é filho do branco, concebido em muitos casos em circunstâncias enojantes, e acabou. Nestas sociedades, só ascende o mulato que pode provar ser competente etc. Em Angola, isto já não é o caso – não há, no mundo, um indivíduo tão enfatuado consigo próprio, com uma noção do seu próprio valor tão irreflectida como o mulato de Angola! Para constatar isso, basta só uma visita a uma das capelas dos nossos compatriotas claros – como a discoteca Palos na Petrofaminta. Isto tudo advêm de uma certa veneração que o negro Angolano tem para com o mulato. Não é invulgar, em Angola, encontrar um negro licenciado, culto, sofisticadíssimo, capaz de falar varias línguas etc., que, depois de uma tarrachinha, começa logo a gaguejar perante uma mulata semianalfabeta.»
«4. Um outro factor que explica a arrogância desmedida do mulato Angolano é o tão louvado lado Português. Até recentemente, o índice da evolução humana em Portugal, relativamente ao resto do mundo, era notavelmente baixo. Os Portugueses que foram forçados para emigrarem para as colónias – criminosos, atrasados mentais, filhos ilegítimos etc. – era a escumalha, sem dúvida, de Portugal. Será que, há por exemplo, uma única família de mulatos Angolanos que pode dizer ser oriunda da aristocracia Portuguesa? Quais são os mulatos Angolanos descendentes dos Braganças ou dos Bourbons?
5. Os únicos mulatos em Angola com antepassados que tem uma certa história com algum peso são os Cohens de Benguela que foram criados por um judeu peripatético que eventualmente veio a ser Cônsul Britânico em Angola. Depois, também, há os Daskalos, primos dos Laras, também de Benguela, moldados, com muito carinho e fervor, por um aventureiro Grego. Francamente, se há mulatos em Angola com verdadeiro sangue azul eu não os conheço. Como é, então, que gente com raízes sem valor pode ser comparada aos Aristocratas do Bailundo, descendentes da família real Bakongo que partilham o mesmo sangue com o rei Mandume e outros Angolanos valentes. (Não cito aqui a rainha Ginga porque ela é que começou com a prática tão vergonhosa de negras quererem casar com brancos. Nos últimos anos da sua vida, a grande rainha acabou por ser uma concubina de um Português comum em Lisboa).
6. Esses nossos mulatos, que agora andam por aí cheios de tantos ares e tão orgulhosos dos seus genes lusos, esquecem-se, por muitas vezes, que eles vêem do extracto mais baixo da Europa. Um outro ponto que deve ser salientado: os Portugueses não são caucasianos puros – muitos tem sangue Árabe e, por mais desconcertante que isto seja para muitos mulatos de Angola, também sangue negro Africano. Houve até um tempo em que o atraso Português era atribuído à suposta hibridação dos seus genes. O mongrelismo, não pode esquecer, também resulta em deficiências mentais e em ilusões de grandeza.
7. Sou Angolano – um indígena com raízes inalteradas, algo que me dá muito orgulho. Ascendi neste mundo através do meu próprio esforço. Já fiz todo o tipo de trabalho na vida incluindo, nos anos 80, sobreviver como empregado de uma discoteca em Lisboa onde os mulatos de Angola me trataram como se eu fosse lixo. Sim, limpar as pias dos brancos! Trabalhei na Alemanha, onde, não obstante a má reputação Teutónica não tenho queixas nenhumas – mesmo na Bavaria. Consegui instalar-me nos Estados Unidos onde pretendo continuar com os meus estudos e escrever sobre os grandes mitos de Angola.
8. Não pertenço a nenhum clã das redes de influência tradicionais Angolanas. Pertenço, porém, a um partido que adoro com todo o meu coração. Este partido chama-se – ANGOLA!» In Abreu Kussuya abreukussuya@yahoo.com

Epok acreditou que era uma boa análise desapaixonada sobre um assunto proibido. Ninguém gosta de o abordar. Será por isso que o reino está a ser destruído? Epok não tinha dúvidas sobre isso. O racismo camuflado destrói tudo. Inclusive as piranhas. Ah! Que se fodam os racistas! Antes que esta merda dê o berro, vou ganhar as minhas comissões na sobrefacturação, enviá-las para o estrangeiro, e depois que se matem uns aos outros. Epok despertou:
- Senhorita das pinturas… envie o chefe das cozinhas!
- …..
O homem entrou. Epok fingiu que não estava ninguém. Não se pode dar importância a esta gente. Ao mínimo sorriso tornam-se abusadores. Notou a sua imensa barriga, aliás como todos, incluindo elas que pareciam grávidas. As cozinhas reais eram uma bênção do rei. Todas e todos imensamente gordos. Aleluia meu rei. Epok afirmou de modo brutal:
- Diz lá… tenho mais que fazer que aturar-te!
- Chefe… os géneros acabaram-se!
Epok sentiu-se na cadeira de um avião de combate, que depois de perder o controlo ejecta-se.
- O QUÊ???

1 comentário:

  1. Os direitos das crianças

    “a protecção de menores é fundamental”
    @ Jornal de Angola

    A criança angolana tem mais direitos,
    muitíssimos mais,
    se for filha desses gajos cheios de defeitos,
    os dos santos e os generais,
    com as carteiras bem recheadas de saúde
    por abifarem, com grande impunidade,
    o dinheiro que deveria ir para a juventude.
    Esta é uma grande verdade
    e, por isso, o pasquim oficial
    diz que “a protecção de menores é fundamental”,
    louvando a esperteza e a coragem
    dos grandes cabecilhas da gatungem,
    com inteligência e honestidade
    dentro dos padrões de menoridade.

    António Kaquarta
    http://miradourodoplanalto.blogspot.com

    ResponderEliminar