Ao Marcos
meu neto
Os cientistas advertiam sobre os perigos que
corria o planeta Terra. Falavam das inundações diluvianas e os economistas seguiam-lhe
as peugadas sobre os investimentos em áreas consideradas muito vulneráveis, e
por isso não adequadas a investimentos na agricultura, porque as alterações
climáticas acabariam por inundar os campos e os investimentos perderem a sua
rentabilidade. Exceptuando uma minoria, é sempre assim, os governos mundiais estavam
alertados com informações sempre actualizadas mas não criaram órgãos
devidamente atempados para evitar a catástrofe das populações. Limitando-se a
criar impactos nos noticiários internacionais quando a catástrofe surge para
forçar a ajuda da caridade internacional. É mais fácil colocar nos noticiários
internacionais uma grande calamidade com corpos a flutuar nas águas, do que trabalhar
para que tal não aconteça. E a desculpa vem sempre, de que há uma crise
económica. Sim, a corrupção gera crise, gera o caos económico.
(Não me recordo qual é a fonte deste texto.)
As civilizações
nascem e tornam-se impérios, depois
morrem e talvez nasçam outros impérios . Quando
surgem grupos de indivíduos
que anunciam a salvação no suicídio e depois se espalha por
todo o lado, estamos em presença de quem queira
gerar por todos os meios o Apocalipse, o fim
da humanidade . Infelizmente
parece haver a tendência no ser humano para o suicídio global , a destruição total .
Depois os que
sobrarem edificarão uma nova Bíblia, ou
inventarão uma com um novo deus. Sempre
foi assim e sempre assim será, porque a
religião é o suprassumo da dominação, da subjugação do ser humano que
supersticioso por natureza atiram-lhe com um livro jurando-lhe que foi escrito
por um deus, e facilmente se convence, facilmente se deixa dominar.
A NAVE DIVINA
“Avô, a nave espacial ainda não chegou”!
Era o meu neto Marcos a apresentar-me o seu
relatório diário sobre a nave espacial. Tudo começou quando há duas semanas ele
me disse que estava a jogar no seu computador contra uma invasão de naves
espaciais, então tive a ideia de lhe dizer para ele ir para a varanda vigiar
que uma nave espacial viria e lhe convidaria para nela viajar, brincar. O
Marcos tinha cinco anos, e claro, de manhã à noite era só brincar. Incansável,
não parava um bocadinho, como se tivesse um poder desconhecido, excepto quando
via um filme ou jogava no seu computador, mas passado um bocado o tédio
atacava-o e lá continuava com as suas travessuras. De vez em quando o seu irmão
Daniel já quase nos dez anos de idade aparecia de férias escolares e juntos
ocupavam grande parte do tempo na brincadeira dos saltos mortais. Por isso o
Marcos costumava chamar-me e dizia-me como se acabasse de fazer uma grande
façanha: “Avô, anda, vem ver os meus saltos mortais”!
Chegada a noite pedia na avó que lhe desse o
leite e lá para as vinte e duas horas, às vezes vinte e três ou meia-noite
adormecia a ver um filme de desenhos animados do Tarzan, dos dinossauros, do
Rango, etc. Eu e a avó dele fazíamos o possível para que ele dormisse bem, e
várias vezes fazia um sono reparador de doze horas. Quando acordava,
levantava-se, abraçava a avó e ia para a mesa da cozinha onde o seu leite
descansava. Gostava de o beber no biberão, de vez em quando bebia-o na cama,
mas preferia ligar o computador e ver um filme, sentindo-se feliz na companhia
do seu leitinho.
Quando a avó saía para comprar algo para casa,
ele fazia questão de a acompanhar e depois teimosamente ajudava-a a carregar um
saco, mas não conseguindo suportar o peso arrastava-o pelo chão enquanto a avó
protestava para que ele não estragasse a comida, pois já tinha problemas em
andar devido às pernas cansadas, desgastadas, doentes pela idade que quase se
recusavam a obedecer-lhe. E a avó lamentava-se que odiava ter de subir as
escadas até ao quarto andar, porque lhe fazia dores e ela quase gemia. Chegava,
sentava-se, respirava fundo e quase como numa prece, “Ai meu Deus, as pernas
doem-me, quase que já não posso andar!”
Estávamos em Angola, situada
na zona sul do Continente africano, na zona costeira leste, entre os 12º 30'
Sul e os 18º 30' Este. Vivíamos na sua capital, Luanda, que devido a uma
grave crise de corrupção que já ia em quarenta e dois anos e que tal como o
império romano atingiu o seu auge. Assim, era ver Angola entregue à miséria e à
fome com um monumental exército de famintos que se tornava impossível de
suportar. As verbas do último Orçamento Geral do Estado contemplavam os
serviços de defesa e segurança como se o país estivesse ou se preparasse para
uma guerra. O império, propriedade de uma família desmembrava-se, o que
indicava que a repressão imperial não conseguia aguentar a pressão dos famintos
e que o seu fim era um facto lamentável, irreparável e funesto conforme a moda
africana há muitos anos em voga.
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