segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

FICÇÃO CIENTÍFICA. AS CRÓNICAS DO MARCOS (01)




Ao Marcos
meu neto

Os cientistas advertiam sobre os perigos que corria o planeta Terra. Falavam das inundações diluvianas e os economistas seguiam-lhe as peugadas sobre os investimentos em áreas consideradas muito vulneráveis, e por isso não adequadas a investimentos na agricultura, porque as alterações climáticas acabariam por inundar os campos e os investimentos perderem a sua rentabilidade. Exceptuando uma minoria, é sempre assim, os governos mundiais estavam alertados com informações sempre actualizadas mas não criaram órgãos devidamente atempados para evitar a catástrofe das populações. Limitando-se a criar impactos nos noticiários internacionais quando a catástrofe surge para forçar a ajuda da caridade internacional. É mais fácil colocar nos noticiários internacionais uma grande calamidade com corpos a flutuar nas águas, do que trabalhar para que tal não aconteça. E a desculpa vem sempre, de que há uma crise económica. Sim, a corrupção gera crise, gera o caos económico.

Em uma nota mais obscura, tanto o Mistério de Sírio de Temple e o Décimo segundo Planeta de Sitchin foram adotados avidamente por cultos OVNI que buscam fornecer um fundo mítico e histórico para sua Nova Era de que alienígenas benfeitores salvarão os eleitos na Terra em uma astronave. Em 1998 o culto Heaven's Gate cometeu suicídio em massa enquanto esperavam que uma astronave logo atrás do cometa Hale-Bopp recebesse suas almas para transportá-las a um planeta Plutão oco, que Lovecraft chamou de Yuggoth, a casa dos Antigos alienígenas.
(Não me recordo qual é a fonte deste texto.)

As civilizações nascem e tornam-se impérios, depois morrem e talvez nasçam outros impérios. Quando surgem grupos de indivíduos que anunciam a salvação no suicídio e depois se espalha por todo o lado, estamos em presença de quem queira gerar por todos os meios o Apocalipse, o fim da humanidade. Infelizmente parece haver a tendência no ser humano para o suicídio global, a destruição total. Depois os que sobrarem edificarão uma nova Bíblia, ou inventarão uma com um novo deus. Sempre foi assim e sempre assim será, porque a religião é o suprassumo da dominação, da subjugação do ser humano que supersticioso por natureza atiram-lhe com um livro jurando-lhe que foi escrito por um deus, e facilmente se convence, facilmente se deixa dominar.


A NAVE DIVINA

“Avô, a nave espacial ainda não chegou”!
Era o meu neto Marcos a apresentar-me o seu relatório diário sobre a nave espacial. Tudo começou quando há duas semanas ele me disse que estava a jogar no seu computador contra uma invasão de naves espaciais, então tive a ideia de lhe dizer para ele ir para a varanda vigiar que uma nave espacial viria e lhe convidaria para nela viajar, brincar. O Marcos tinha cinco anos, e claro, de manhã à noite era só brincar. Incansável, não parava um bocadinho, como se tivesse um poder desconhecido, excepto quando via um filme ou jogava no seu computador, mas passado um bocado o tédio atacava-o e lá continuava com as suas travessuras. De vez em quando o seu irmão Daniel já quase nos dez anos de idade aparecia de férias escolares e juntos ocupavam grande parte do tempo na brincadeira dos saltos mortais. Por isso o Marcos costumava chamar-me e dizia-me como se acabasse de fazer uma grande façanha: “Avô, anda, vem ver os meus saltos mortais”!
Chegada a noite pedia na avó que lhe desse o leite e lá para as vinte e duas horas, às vezes vinte e três ou meia-noite adormecia a ver um filme de desenhos animados do Tarzan, dos dinossauros, do Rango, etc. Eu e a avó dele fazíamos o possível para que ele dormisse bem, e várias vezes fazia um sono reparador de doze horas. Quando acordava, levantava-se, abraçava a avó e ia para a mesa da cozinha onde o seu leite descansava. Gostava de o beber no biberão, de vez em quando bebia-o na cama, mas preferia ligar o computador e ver um filme, sentindo-se feliz na companhia do seu leitinho.
Quando a avó saía para comprar algo para casa, ele fazia questão de a acompanhar e depois teimosamente ajudava-a a carregar um saco, mas não conseguindo suportar o peso arrastava-o pelo chão enquanto a avó protestava para que ele não estragasse a comida, pois já tinha problemas em andar devido às pernas cansadas, desgastadas, doentes pela idade que quase se recusavam a obedecer-lhe. E a avó lamentava-se que odiava ter de subir as escadas até ao quarto andar, porque lhe fazia dores e ela quase gemia. Chegava, sentava-se, respirava fundo e quase como numa prece, “Ai meu Deus, as pernas doem-me, quase que já não posso andar!”

Estávamos em Angola, situada na zona sul do Continente africano, na zona costeira leste, entre os 12º 30' Sul e os 18º 30' Este. Vivíamos na sua capital, Luanda, que devido a uma grave crise de corrupção que já ia em quarenta e dois anos e que tal como o império romano atingiu o seu auge. Assim, era ver Angola entregue à miséria e à fome com um monumental exército de famintos que se tornava impossível de suportar. As verbas do último Orçamento Geral do Estado contemplavam os serviços de defesa e segurança como se o país estivesse ou se preparasse para uma guerra. O império, propriedade de uma família desmembrava-se, o que indicava que a repressão imperial não conseguia aguentar a pressão dos famintos e que o seu fim era um facto lamentável, irreparável e funesto conforme a moda africana há muitos anos em voga. 


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