Que terríveis tempos estes onde um grupo de
pessoas é quem mais ordena, e sós pretendem resolver, sair da crise, mas isso
não é possível.
Fácil é pensar no dia de hoje, difícil é pensar
no dia de amanhã.
A barragem de Lauca e os geradores
Uma nova aposta do governo: barragem
hidroelétrica de Lauca construiu-se para não fornecer energia eléctrica (EE).
Confesso que no princípio fiquei desorientado ao tomar conhecimento de que a
falta de EE que Luanda sofria devia-se a infiltrações de água que inundaram a
casa das máquinas da barragem de Lauca, obrigando ao seu desligamento. Depois,
fiquei a saber que a barragem ficou com fissuras porque houve intensa chuva de
vinte e dois milímetros durante cerca de dezasseis horas. É muita chuva, lá isso
é. Depois de um brutal corte no fornecimento de EE que durou dezassete horas,
depois outro de duas horas, seguido de outro de sete horas, e mais um de três,
entro em pânico, melhor dito, entramos em pânico, porque também a água
desapareceu, virou moda, tornou-se hábito, como se Angola não tivesse rios e
raramente chovesse. Pensei no pior que iriamos ficar sem EE, aí por seis meses?
Um Ano? Quando chove muito a barragem de Lauca não suporta muita chuva?
Esqueceram-se de prever isso? A barragem foi construída sem atender a
previsões? Claro que é uma gigantesca e muito complexa obra. Ou é muito bem
possível que para isso acontecer a empresa brasileira Odebrecht viu-se
pressionada pelos actores do governo das apostas e da falsa propagada
eleitoral, provavelmente obrigaram a que se findasse o trabalho antes das
eleições. Num trabalho de tamanha envergadura é no que dá, quer dizer, tinha-se
que acabar de qualquer maneira. Depois foi o grande espetáculo da inauguração
com honras do PR cessante. Não se olham a meios para atingir os fins. Isto é,
sempre na vanguarda da permanente mentira. Depois desce do alto do seu pedestal
o director da barragem a tranquilizar-nos que nas próximas vinte e quatro horas
o fornecimento da EE seria normalizado. Pois, se antes uma pessoa aprendeu a
estar de pé atrás com a epidemia das falsas promessas, com o que presentemente
se passa com a EE e a água, de certeza que não vamos ficar com um pé atrás,
não, vamos ficar com os dois pés, com todo o corpo, com tudo o mais atrás. Uma
coisa é certa e disso não restam dúvidas: pouco falta para que se atinjam os
cinquenta anos de independência sem que os imensos problemas da EE estejam
resolvidos. Meio século de centralização económica, de desaire, de desastre
económico. Do teimar sempre no que está errado e tentarem convencer-nos que
assim é que se vai para o rumo certo. Quase cinquenta anos de conversa fiada do
todos a vermos a grande derrocada e os iluminados líderes sempre certos, nunca
erram, nunca erraram, e nós pobres coitados somos os eternos parvos que só
cometemos erros porque somos bestas, burros, boçais porque não acreditamos nem
perdemos tempo com o governo das apostas e apara as apostas. Aqui todos os dias
são um de Abril, todos os dias são dias das mentiras. Uma pessoa quer trabalhar,
estudar e sempre na mesma, não se consegue, como se a miséria nos governasse.
Mas é mesmo isso, a miséria governa-nos.
Mais uma desgraça, mais miséria, fome, mais
mortes. Acabo de ouvir na Rádio Ecclesia que se está a comercializar peixe
contaminado nas praias de Luanda devido aos altos níveis de contaminação pelos
esgotos a céu aberto do Porto Pesqueiro de Luanda. É um estudo feito pela
bióloga Iracema Solange Cabral, que também no mercado do peixe a céu aberto da
praia da Mabunda, quando o peixe chega às câmaras frigoríficas também está
contaminado. Comemos peixe contaminado, e como disse a ministra das pescas,
“isto está uma pouca-vergonha.” Mas é evidente que isto é em todas as praias, e
agora no tempo chuvoso vai piorar muito mais com o arrastar das lixeiras pelas
enxurradas.
“Lenine (1870-1924) considerava que centralizar
a economia russa sob o controle estatal era fundamental, com - em suas palavras
- "todos os cidadãos" se tornando "funcionários contratados do
Estado". A interpretação de Lenine do socialismo era centralizada,
planejada e estatista, com a produção e a distribuição estritamente
controladas”.
Regressando à água
Antes vou passar um pouco pelos geradores: está
desvendado o porquê do gerador do banco Millennium-Atlântico na rua Rei
Katyavala em Luanda, que lançava fumo até formar nevoeiro que até parecia uma
nuvem atómica, um banco da morte. Não é que lhe fizeram um abastecimento de
combustível de duzentos litros de água misturada com gasóleo! Tiveram que
limpar, despejar, drenar o depósito de combustível e fazer uma bruta manutenção
no gerador. Parece inacreditável, aliás como tudo por aqui, isto também passa
por uma república do inacreditável, do surreal. O certo é que as coisas se
agravam e nada de se lhes fazer frente como compete na tragédia económica que
não é difícil de avaliar, aliás um tanto ou quanto fácil. E com a
desvalorização do kwanza que se avizinha, e o do aí decorrente, o que será da
gente? Nada, porque ninguém se preocupa connosco, ninguém quer saber de nós, é
o fingir que existimos.
A água está sempre a faltar, já lá vão mais
quatro dias, será do imbróglio da barragem de Lauca? Um amigo garantiu-me que a
tragédia do abastecimento de água foi causada pela importação de bombas
inadequadas ao serviço de abastecimento, isto é, a sua potência não aguenta,
não dá para alimentar a rede adequadamente, que fica tipo EE com restrições.
Mais uma grande bagunçada sem solução não se sabe para quando. A impressão que
se tem é que não há a noção de responsabilidade, cada um que se vire, que se
safe como puder. Então, como é que isto vai acabar? Mal! Muito mal!
Além da crise económica, da água e do disparate
da barragem de Lauca, muitos estrangeiros continuam a debandar e assim vai
continuar, porque a situação está mal, muito mal, e tende para cada vez piorar.
Até há pouco tempo parecia que por aqui ia
chover pouco. Depois das minhas anotações que já fazem seis anos sobre o tempo,
este ano a pressão atmosférica está, e continua, elevada. A chuva começa a
desabar com força, fará muitos estragos porque pelo menos os causados pelas
chuvas dos últimos três anos estão parados, porque não há dinheiro, isto agora
serve de desculpa para tudo. Então com as obras paralisadas mais desgraça, mais
miséria se abaterá pelos bairros degradantes, e com as inundações que será da
vida dessa pobre gente, de todos nós.
"Para a maior parte do Mundo a
globalização, como tem sido conduzida, assemelha-se a um pacto com o demônio.
Algumas pessoas nos países ficam mais ricas, as estatísticas do PIB - pelo
valor que possam ter - aparentam melhoras, mas o modo de vida e os valores
básicos da sociedade ficam ameaçados. Isto não é como deveria ser."
(Joseph E. Stiglitz)
Será possível que o poder popular ainda esteja
em vigor? Pergunto isto porque uma vizinha comprou um apartamento no último
andar aqui no prédio, quinto andar, remodelou-o, fez-lhe o que quis e lhe
apeteceu e para terminar com chave de ouro, gradeou o corredor de tal modo que
deixou apenas cerca de meio metro de espaço na porta da vizinha. Esta,
disse-lhe que aquilo era usurpação de propriedade, e que nem dava para fazer
entrar um plasma, e a do poder popular retorquiu que, “não tenho nenhuma
satisfação a dar-lhe.” Tal e qual como no tempo do poder popular. A vizinha
lesada foi-se queixar na fiscalização, vieram dois fiscais, deixaram-lhe uma
convocatória que ela depois apanhou e logo de seguida rasgou em pedacinhos e
atirou para o chão. E lá continua com o corredor só para ela, e não faz um
gesto para retirar o gradeamento, que decerto terá de ser arrancado à força.
Viva o poder popular! A luta continua! A vitória é certa! Será que estamos a
voltar a esses célebres tempos? Parece que sim. Aiué de nós.
Sempre na insistência do retroceder no tempo,
até não se saber em que ano do passado pararemos. Decerto no tempo da desgraça
ficaremos e de lá não saberemos quando sairemos.
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