Não resisti. Colei o meu
corpo ao dela. Senti o quente da sua
vagina e o meu pénis a crescer.
Neste último momento
senti que devia dizer-lhe algo de muito profundo. As lágrimas
vieram-me aos olhos. A chorar
confessei-lhe:
- Jandira… foste a única
pessoa que mais amei na minha
vida. Nunca
amei ninguém como
tu. Nunca
na vida que
te resta
conseguirás imaginar o quanto
te amei. O meu
coração dificilmente aceitará a separação. Não
sei se conseguirei sobreviver sem
o teu amor.
Vou lançar-te uma maldição: procurarás o amor e nunca o
encontrarás. Andarás para sempre
perdida nos contentores do lixo. A procurar as sobras. À procura
do que nunca
encontrarás. Ninguém pode nem deve brincar com o amor puro e sincero. Isso, trás sempre funestas consequências.
- George, meu querido, perdoa-me. Pela última
vez, do fundo do meu coração, peço-te perdão.
Larguei-a, e depois
abri a porta. Ela
saiu. Tudo estava terminado para sempre entre nós.
Assim que
o movimento diário
surgiu bati à porta da Jandira. Fui
atendido pelo filho
mais velho
da nova esposa.
Ele não
era filho
do avô da Jandira. Ainda
estava com os olhos
de sono. Ficou surpreendido por eu lhe bater à porta tão cedo. Convidou-me a entrar.
Entretanto, disse-me que a sua mãe e o seu padrasto ainda não
tinham regressado de uma festa. Preferia
falar com o
avô da Jandira, mas
não estava disposto
a perder mais
tempo:
- Olha, não quero perder muito tempo. Venho
falar sobre a Jandira.
- Sim vizinho, está à vontade.
- A Jandira deu cabo
da minha vida,
gostava muito dela.
- Vizinho, não estou a entender. O que é que
pretendes?
- A Jandira não passa de uma prostituta vulgar.
- Vizinho, é melhor falares com o avô dela. Ele
não demora muito a chegar.
- Não, não quero falar mais. Você transmite aos seus pais a mensagem que lhe deixo. Vivi com
ela maritalmente,
e está tudo acabado
entre nós.
Repito, ela não
passa de uma vulgar
prostituta. Abusou durante
vários anos
da minha confiança.
Minutos depois,
muito abatido
sentei-me pesadamente no meu sofá.
Peguei numa folha de papel
e escrevi:
Ela decidiu
abandonar-me para sempre
deixando-me apenas o
inicio da manhã
nunca mais verei a sua
beleza
esquecida nos deleites
das nossas noites
ainda que clame nos
brilhos esquecidos
do nosso amor
jamais a lembrarei
Ainda que
tente voltar
em qualquer noite
nunca me encontrará
A sua beleza de noite e
de dia
será para sempre
esquecida
apenas lhe restará um
leve suspiro
de vez em quando
a sua beleza para
sempre será esquecida.
Jandira foi para o hospital de urgência. A sua
pressão arterial estava muito baixa. O médico disse que o coração podia parar a
qualquer momento. E que o homem que lhe fez isso não deveria repetir tal
proeza.
Sentia-me horrivelmente mal. O meu coração
parecia que queria parar. Sentia que a qualquer momento teria um ataque
cardíaco.
Uma semana
depois Jandira começa
a recuperar. Recebe alta
do hospital e vem para casa,
com recomendações
médicas de total silêncio
e repouso. O seu
estado é lastimável.
Apresenta uma magreza extrema. Disse que
iria também preparar
a sua vingança.
Inventa uma história
que conta aos
tios, na qual
afirma que eu
é que a obriguei a manter
relações sexuais
em troca
de dinheiro. Um
dos tios vem conversar
comigo:
- George, é melhor
você não dirigir a palavra a ninguém, até que as coisas
acalmem.
Outro dos tios aborda-me de maneira
diferente:
- Se volta
a aproximar-se da nossa casa, vamos bater-lhe tanto
que nenhum
dos seus ossos
se aproveitará, e depois vamos buscar a polícia, carregamos consigo
para um avião, e vai definitivamente
para o seu
país com ordens
de não mais
voltar. Não
tem vergonha de andar
a abusar da minha
sobrinha? Vamos apresentar
queixa na polícia.
Nem dava para acrescentar fosse o que fosse.
Era evidente que não tinha qualquer hipótese de defesa. Todos deixaram de me
falar. Mas isso para mim era óptimo. Pelo menos deixavam de me incomodar.
O dia
chegou. Viam-se duas palmeiras caídas. O
barco estava na areia.
Interroguei o George:
- Nunca mais a viste ou falaste com ela?
- Ela tinha medo de falar comigo porque
os tios ameaçaram-na que se tal
acontecesse, a colocariam à força na minha casa para sempre. Poucos meses depois
encontrei-me com ela
ocasionalmente e cumprimentámo-nos normalmente. Vive actualmente quase
em extrema
pobreza. A família
devido ao que
aconteceu votou-a ao desprezo. Ninguém
lhe dá atenção.
Circula por aí
vivendo do que é possível.
Actualmente sinto muito receio
perante qualquer
intimidade com
mulheres. Aquelas que
mais amei na minha
vida foram precisamente
as que mais
me traíram. A questão
é que elas
aparecem e desaparecem, como se viessem
do nada. Acredito que
ela e a sua
família queriam apenas
ficar com a minha casa.
Acho que
George tinha acabado
a sua narrativa.
Levantou ligeiramente a cabeça numa determinada
direcção, obrigando-me a olhar para
lá. Comentou com
ironia:
- Vem aí os três mosqueteiros.
- George, falta
um.
- O quarto é o barco.
Os três sócios estavam a retirar o barco da areia.
Avaliaram se havia estragos. Conseguiram
facilmente colocar o barco
na água, devido
a estar maré-cheia. Experimentaram o motor
e este arrancou à primeira
tentativa. Aproximam-se e saúdam-nos, Roque faz uma vénia, depois
afirma:
- Foi uma grande tempestade… conseguimos
sobreviver.
Virgílio acrescenta:
- Parecia que o céu nos caía em cima.
João com
ar sério
exclama:
- Eh pá! Vamos comer qualquer coisa e depois zarpamos. Nada
mais há aqui
a fazer.
Virgílio responde com
sarcasmo:
- Aqui não dá para fazer
ralis.
Ao que
João responde na mesma moeda:
- Também não existe nada para roubar aos
sócios.
Roque intervém pondo ponto final na questão:
- Não vale a pena chorar sobre leite derramado.
Acabámos com a empresa. Já não somos sócios. A partir de agora quem tiver unhas
é que toca guitarra.
Depois deles se afastarem olhei para
George, como que
a pedir-lhe auxílio. Ele percebeu e falou:
- Normalmente
estes países
têm o futuro permanentemente
adiado. Quando estive num país da América Latina,
para assinar um contrato de comunicações, tornou-se difícil
porque os oficiais
militares estavam sempre
bêbados. E continuavam a beber
com as garrafas
em cima
da mesa. É como
naquele país que
para resolver qualquer assunto
dizem sempre: amanhã,
amanhã! Ora, isto
torna-se muito difícil.
Com o dinheiro
que ganho,
e com a ajuda
da minha família,
reconstruí uma herdade considerável.
Produzo carnes, hortícolas, frutas… vários produtos, comida
para as pessoas.
Acho que isto
é fundamental para
a sobrevivência do ser
humano. Na minha
modesta opinião, se todos
assim procedessem, a fome no mundo
deixaria de existir.
FIM
Luanda, Maio
de 2005
Imagem: blogdosquadrinhos2.blog.uol.com.b
Sinceramente, gostei dessa estoria, ou sera que é mesmo uma "historia"?, esta sensacional, e reflecte muito a mentalidade da juventude angolana principalmente, que devido a pobreza e a fome todos acabam por se tornar antropófagos destinados a consumar os outros mentalmente para poderem sobreviver nessa selva urbana. Luís Aço
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