quinta-feira, 29 de maio de 2014

A igreja do exército das barras de ferro






Excepto as barras de ferro do petróleo
Em Angola ninguém se pode manifestar

Meus santos esta ideia é muito louvável
É assim que se desenvolve a democracia
A morte das barras de ferro é imperdoável
Na igreja das barras de ferro noite e dia

As barras de ferro Angola vão a navegar
Superlotadas de passageiros da hipocrisia
Observem-nas, que já se estão a naufragar
E nenhuma se salvará com tal maresia

Acreditem, os padres serão julgados
Pela justiça do povo condenados
Carecem de prisão esses malvados
E pelas barras de ferro engomados

E esta pátria religiosa se engrandece
Nos púlpitos com os padres políticos
A corrupção deles jamais se esquece
Hipócritas porque nada têm de católicos

Não sou da religião afro-pessimista
Também não sou afro-optimista
Sem dúvida alguma sou afro-realista
Sou das barras de ferro afro-petrolista

E não é a economia da África que cresce
É a produção do petróleo que aumenta
Para combater a pobreza que nunca desce
E assim a cáfila de jacarés se sustenta

Ilegalmente o chinês é importado
Para serrar barras de ferro só ele é capaz
Ceguetas! Isto está muito endiabrado
Assim nunca dará para viver em paz

Em Angola os tugas são marxistas
Em Angola os tugas são leninistas
Em Angola os tugas são comunistas
Em Angola os tugas são comodistas

As barras de ferro são dos democratas
Nesta democracia do petróleo à africana
Neste império fundado por cleptocratas
Na eterna governação do pai banana

Com barras de ferro é só estropiar
E qualquer opositor é para se matar
E com o santo clero a lhes apoiar
É o paraíso do petróleo a tombar

O partido do petróleo das barras de ferro
Prepara-se para os ataúdes do seu enterro
No teu governo com barras de ferro matarás
Mas atenta bem porque delas não passarás

Imagem: autor desconhecido




quarta-feira, 28 de maio de 2014

Seis anos na eternidade da vida já caminhados






A
José Quitério


Estou na janela do quarto, apesar de ser dia, cerca de quinze horas, a rua está muito escura, o céu escureceu-a Aproxima-se forte tempestade. A chuva cai com força, a rua fica alagada. Os fortes pingos parecem bombas de prata, batem no solo e se desfazem na procura da terra para a fecundarem.
A trovoada está próxima, pois já são nítidas as faíscas seguidas dos trovões.
Meia hora depois a chuva faz uma pausa, parece que já dá para sair, mas não, o vento sopra a anunciar que mais chuva vai chegar. Não sei se hoje conseguirei viajar para o café do Frederico. Não sei se estarei na companhia dos meus amigos a ver a série Bonanza.
A escuridão permanece, nos prédios acendem-se as lâmpadas que assim continuarão porque dentro em pouco o oficial da noite substituirá o oficial de dia.
A chuva não desiste da sua missão de fustigar, alagar a terra. As árvores agitam-se contentes pelo banho, o verde intensifica-se grato pela manifestação do festival da natureza.
Vejo crianças que saem dos carros a correrem para brincarem na água, mas mesmo impedidas pelos seus pais resistem-lhes, empregando todas as artimanhas da artilharia infantil. Mas uma ou outra consegue iludir a vigilância materna e salta, rebola-se na água imaginando que é um pato. Quando em crianças sentimos uma atracção irresistível pela água que nos faz imaginar que viemos do mar.
Parece-me que neste sábado o café do Frederico será um lugar óptimo para respirar, pois que devido à chuva pouca gente o irá frequentar. Diferente dos outros sábados da Bonanza em que se pode dizer que todos os fumadores dos Olivais-Sul ali vão encher as chaminés de nicotina como numa fábrica.

E ao caminhares na eternidade lembra-te sempre de mim. Tu estás lá no outro lado, eu estou neste, apesar da tua presença imaterial consigo sentir-te como se a morte fosse apenas a dimensão oposta da vida.
Junto ao candeeiro de luz na rua vejo algumas plantas que assomam rejuvenescidas pelo elixir da água, como o cadinho dos alquimistas.
A família está de regresso, as vozes são inconfundíveis. Já não consigo pensar. As crianças batem na porta, chamam por mim. Abro, elas entram e abraçam-me contentes.

Hoje a chuva disse que não, e aceito a sua decisão.  
Vou para a cozinha e depois para a sala de jantar, e chamo: «Mãe! Mãe! Mãeeee!» Oh! Lembro-me que já lá não estás, partiste na máquina do tempo para um lugar distante onde finalmente descansarás e viverás em paz. Jamais te esquecerei!


“O Censo é bíblico!”





O Censo vai facilitar a boa governação
Foi eleito por Deus, o Censo é bíblico
É essencial para facilitar a boa corrupção
É do e para o partido único, é fatídico

Chegou o Censo para nos salvar
E com eles a corrupção vai melhorar
E como nada melhora tudo vai piorar
Do Censo do petróleo nada há a esperar

Com a invasão de portugueses e chineses
Já todos temos a absoluta certeza
Que a luz e a água passeiam -se às vezes
Nos duvidosos produtos de origem chinesa

Antes, dizem, estávamos muito melhores
Ninguém apaga o fogo da Angola a arder
Agora estamos pior do que os piores
E no zoológico os estrangeiros a ver

Os angolanos são todos burros, é bom
Dizem os estrangeiros a nos apoiar
Os angolanos e angolanas têm esse dom
É por isso que estão aqui para nos ajudar

Só se escuta a propaganda do patriarcado
E por isso mesmo tamanha é a desilusão
Que tristeza, Angola já não é o eldorado
É sim o pesadelo da portuguesa emigração

Este Governo é uma tempestade permanente
Que assola Angola que se extinguiu, já não é
Perdida com a sua população decadente
Colonizada, desempregada, à mercê do jacaré

Conseguiu retornar o comodista português
Veio com o seu exército, está aqui outra vez
Nas ruínas vem acabar o que não desfez
As massas são o ponto de partida da malvadez

O que funciona: desalojamentos forçados
Na terra prometida, das oportunidades
É o paraíso da invasão dos esbranquiçados
Desemprego e corrupção, eis a morbidade

República da tragédia do há muito anunciado
Muitos fogos agitam a panela de pressão
Teimam que Angola tem o futuro assegurado
Eis chegada a chispa do fim da opressão

“ O Censo é bíblico” disse, a administradora
 municipal do Xinguar, província do Bié.

terça-feira, 27 de maio de 2014

O CENSO SEM SENSO





E se inaugura o censo da população
O censo da propaganda comunista
É mais uma conquista da corrupção
É outra vitória da revolução prevista

É o resolver dos problemas do partido
Porque que mais resta da população?
Isto está irremediavelmente fodido
Restam-nos os comunicados da oposição

E a primeira cruzada da libertação
Será dos infiéis contra a Igreja nacional
Não vamos adorar o deus da corrupção
E a pedofilia da Igreja local e internacional

Ai de quem sair e em herói se aventurar
E depois na sua casa seguro se refugiar
Os assaltantes esperam-no para o assaltar
E sem contemplações disparam a matar

E nestas coisas de censos a Igreja não tem
Nas suas arbitrariedades não pode ter poder
Não queremos mais a Inquisição do Além
Mas em Angola usufrui do intenso ascender

É por isso que esta pátria é bem-amada
Porque está para além da corrupção
E ninguém quer saber de mais nada
As nossas vidas não valem um tostão

São bons actores no teatro da corrupção
Elinga Teatro, o que é isto? Nunca saberão!
Excepto o petróleo, cultura para eles é desilusão
Vivem da institucional cultura da prostituição

Ordenam o arrasar das lavras para construção
Facturar no petróleo, nada mais lhes interessa
Sim senhor! Isto é que é agricultura, não?!
Cantam milhões de dólares da próxima remessa

O Estado? É desalojar
O Estado? É desempregar!
E as igrejas a apoiar
E o katolotolo a matar
O Estado? A nos desmembrar

As peregrinações são a cruz do desenvolvimento
Como a peregrinação à nossa Senhora da Muxima
A religião é a cruz do nosso subdesenvolvimento
A desgraça das nossas vidas do aterrador sofisma