sexta-feira, 30 de agosto de 2013

09 A 15 de Agosto. Diário da cidade dos leilões de escravos




09 de Agosto
Perante a lei somos todos iguais, mas perante a corrupção não. E os autores da corrupção dizem sempre que no país há justiça.
Procuram-se vassouras de muita boa qualidade para varrer de uma vez por todas o lixo desta sociedade importada.
No início uma pequena empresa desenvolve uma grande luta para conquistar clientes. Depois de o conseguir cresce, cresce muito, e o número de clientes torna-se infindável. Depois acaba numa grande corporação, uma empresa gigantesca que não dialoga com os seus clientes porque já não tem tempo, nem lhe interessa tal coisa pois atingiu o estatuto dos deuses, nem mesmo com aqueles que lhe deram origem, torna-se fria como o gelo, perde-se, despreza os seus clientes como se fossem um peão no jogo do xadrez. Esta agora imensa corporação é fiel, tal e qual uma ditadura, um governo de um país, até lhe apoia na espionagem da população. Por isso mesmo não existe nenhuma diferença entre uma grande empresa e uma ditadura, pois ambas procuram atingir os mesmos fins: a subjugação das pessoas.
A África ainda não se libertou da epidemia de Idi Amins, e enquanto isso permanecer veremos os próximos tempos – por incrível que pareça – sombrios, de esqueletos possuídos pela fome, onde a miséria é o quotidiano das populações africanas.
Nos Gambos, província da Huíla, as populações fogem da morte da fome, arrastam-se sessenta quilómetros até à localidade mais próxima. Lá espera-as outro martírio – sim, ser angolano é sinónimo de martírio nesta terra só para estrangeiros – mulheres carregam cem quilos de areia - chineses? Não duvido, pois eles estão autorizados a explorar e a agonizar angolanos – por… cinquenta kwanzas.
Quer queiramos quer não, este avolumar de chicotes faz com que a revolta seja um facto consumado. Só é de lamentar que a oposição não se mobilize e mostre a justiça às populações. Texto baseado no noticiário da Rádio Ecclesia das 12.00 horas.
10 de Agosto
A censura no “Portugueses em Angola”. Facebook
Então e um post que ainda a pouco aqui estava sobre o desaparecimento do Presidente de Angola que parece estar de férias?
Retiraram-no?
Até que já estava a ser comentado.
Não quero acreditar que haja censura neste grupo.
11 de Agosto
Esta é para o mano Sousa Jamba, para lhe fazer “pirraça”. Estou a escutar cânticos religiosos dos mwangolés na Igreja Adventista do Sétimo Dia, e ele lá em Jacksonville não tem esse privilégio.
Hoje sonhei com o PR José Eduardo dos Santos. Estávamos na cozinha, na minha casa, ele lia o Jornal de Angola, disse-lhe que as coisas assim como estão, cada vez piores, sem solução, num crescendo de arrepios, será uma tragédia sem igual, não se sabendo bem o seu final. Ele respondeu-me: «Sei muito bem disso!» Ao que eu lhe fiz notar. «Pouco falta para que também eu comece a passar fome.»
09.41 horas. Duas manas das Testemunhas de Jeová seguem na sua rotina de competição com a Católica, na campanha de porta em porta na angariação de novos eleitores – desculpem de novos crentes – aderentes para a sua causa religiosa e espiritual. Porque este mundo está perdido, e o Senhor já há muito que está entre nós, para nos observar e ditar quem vai para o Inferno e quem vai para o Paraíso.
Por aqui se vê a eficiência da nossa Polícia. Como é possível, motas de todos os calibres e feitios circularem por várias ruas de Luanda, e não lhes acontecer nada? Não dá mesmo para entender. A anarquia instalou-se definitivamente.
12 de Agosto
Reforço do que tenho alertado: nota-se claramente que há uma corrente de resistência que vai aumentando, reforçando, até acabar num levantamento geral seguido de forte tiroteio? O habitual? Mas como o Poder pensa que isto está tudo numa boa, controlado... deixa andar.
Entretanto as kinguilas estão muito agitadas. Assaltantes andam-lhes no encalço de motos-rápidas e em carros, muito bem vestidos.
Será possível que as pessoas honestas estão em vias de extinção? É que está quase impossível encontrar uma, como a célebre agulha num palheiro.
13 de Agosto
Os portugueses são bem-vindos porque ajudam Angola, mas há alguns que não são          bem-vindos. Locutor de serviço, pelas onze horas, na Rádio Ecclesia.
No bairro Margoso em Luanda a população revoltou-se contra a Polícia. Já há detenções. Rádio Ecclesia.
Luanda ficará uma zona residencial para estrangeiros?
Há uma clara intenção de correr com os mwangolés para uma reserva de caça?
"Comerciantes de Luanda para a Muxima." Rádio Ecclesia
Luanda. Bairro Margoso, demolições adiadas. Num cartaz de um manifestante:"O país não tem dono, Angola é de todos nós." Rádio Ecclesia
Luanda. Roubaram a pá carregadora. Boa noite pessoal, Quero pedir a todos os em Angola, Se sabem ou ouviram, ou viram ou possam ver uma máquina pá carregadora marca Caterpilar 966 com o vidro da frente estalado, a ser transportada num porta-máquinas durante a noite de ontem. (Portugueses em Angola). Facebook
14 de Agosto
Angola já está – pode-se dizer – totalmente dominada por estrangeiros. Não sei bem qual é a posição dos partidos políticos da oposição sobre esta grande desgraça. Importa-se de tudo, até jungueiros.
Porque será que as escolas primárias vão desaparecendo até deixarem de existir, para no lugar delas se erguerem as mais díspares construções? Não há dúvida que a especulação imobiliária é uma excelente promotora do analfabetismo.
Quando uma cidade está total ou parcialmente degradada, é sinal de que muitos estrangeiros nela vivem.
15 de Agosto
E todos os repórteres, de tudo o que é imprensa privada – a verdadeira não a outra de imitação – foram impedidos de cobrir o fecho da sessão parlamentar da nossa Casa das Leis (?). Rádio Ecclesia.
Quer dizer: como a nossa Assembleia Nacional é um objectivo estratégico, deve ser salvaguardada a sua segurança, não se permitindo o acesso a elementos perigosos para a segurança do Poder, como são os jornalistas -  eles mesmo – os tais, os famigerados elementos muito perigosos... até com a cabeça a prémio.
A discriminação racial continua. Segundo a Rádio Ecclesia: nem os albinos escapam. Um jovem albino com teste de admissão de dezasseis valores foi-lhe recusada a admissão no Tribunal de Contas.
Quando um capataz chicoteia um escravo mwangolé por puro prazer doentio – que mais poderá ser?  - e este protesta, o capataz afirma peremptório: «Escravo!!!, deixa-te de discursos incendiários!»

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

27 de Julho a 08 de Agosto de 2013 Diário da Cidade dos Leilões de Escravos




27 de Julho
O problema sem solução da nossa democracia é como um comboio que circula sempre na mesma linha, na mesma direcção, sempre com o mesmo velho maquinista que não consegue mudar de rumo.
E eu vi uma boa e bela coisa debaixo do sol dos homens. Toda a minha vida andei errado – é próprio de uma ovelha – afinal na moderna democracia é possível, muito natural ela sobreviver, viver sem democratas e sem partidos políticos, excepto o sempre com um só partido político que governa para além da eternidade, porque as pessoas se revêem nele, pensam como ele, porque sempre protegido, abençoado, eleito por Deus e por todas as igrejas existentes na face da inundação da corrupção da Terra.
Era uma vez um senhor que morava numa moradia rodeada de gradeamentos, porque antes os assaltantes aproveitavam brechas e levavam o que bem entendiam, até chegaram a entrar por uma janela gradeada. Mas quem mais sofria as consequências eram dois carros estacionados no quintal, que eram canibalizados como se piranhas por ali nadassem. E depois da moradia gradeada, mesmo assim os assaltantes entravam pelo gradeamento abrindo nas calmas o cadeado que lá se emblemava. Então, o senhor decidiu-se por reforçar o gradeamento, o cadeado do portão ficou a contento, um portento. Também lá estacionou dois brutos cães, daqueles que à noite desfazem quem deles se aproximar. E o senhor radiante esfregava as mãos e comentava como assunto já encerrado, de processo arquivado: «A partir de agora assaltantes nunca mais!» E nessa noite de céu carregado de estrelas dormiu confiante, de bom sonho e sono, tranquilizante.
Levantou-se ao som dos pardais que lhe invadiam a casa à procura de arroz, ou qualquer outra coisa para debicarem, pois pardal não é esquisito, come tudo o que aparecer. Sorridente, espreitou a manhã que anunciava cores impressionistas. E falou em voz alta como a espreguiçar-se: «Já o sol se anuncia com força, hoje teremos um dia bem saudado, bem iluminado!» E extremamente calmo interiormente e de olhar muito feliz, sorridente olhou para o tejadilho de um dos seus carros onde viu um bocado de papel com uma pedra em cima. Pegou-lhe e leu: «Ó senhor, não vale a pena te armares em esperto, nós quando quisermo6s e nos apetecer te assaltaremos quantas vezes quisermos.»
Digam-me: qual é o Governo africano que ganhou as eleições sem fraude eleitoral?
Jovens! Brevemente estarei convosco na minha auscultação à juventude. A propósito: acham que é necessário, uma vez que toda a gente sabe quais são os problemas dos jovens, então para quê andar para aí a auscultá-los de Kabinda ao Kunene? Mais um subterfúgio para ganhar tempo e para complicar ainda mais as coisas?
28 de Julho
Não dá para entender, mas também por aqui o que há para entender? As zungueiras são corridas por comércio ilegal, e os chineses que exercem actividades ilegais em larga escala - até vendem coisas que são lixo, não servem para nada - de Kabinda ao Kunene, não são corridos porquê?!
29 de Julho
O boato: A kinguila finalmente apanha um dos seus devedores. Depois de caçá-lo cai-lhe em cima, e obriga-o a ir no banco para que ele levante o dinheiro para pagar o que lhe deve. Já no banco, o seu cliente prepara-se para levantar o dinheiro, mas em vão porque o empregado bancário esclarece-lhe que: «Não temos dinheiro porque o Presidente mandou levantar todo o dinheiro para fazer um negócio. Agora, temos que esperar até que os nossos clientes façam depósitos.»
30 de Julho
Luanda já está como os bancos, sem sistema. Totalmente, tolamente entregue nas hordas de assaltantes, dos tais sem direito a pátria, nem a uma sobra das fabulosas fortunas angariadas na lâmpada de Aladino.
31 de Julho
Poluição petrolífera acabou com o peixe em Cabinda, ele fugiu para outras áreas limpas, devidamente ecológicas. In Cristóvão Luemba, Rádio Ecclesia.
01 de Agosto
Neste cemitério de apagões, a energia eléctrica faleceu às 04.00 e ressuscitou às 04.29 horas.
Este ainda é o tempo dos sacrificados, dos mutilados, dos espoliados, dos novos-ricos semeados que depois serão à terra, baixados.
Será possível que em Angola não haja ninguém que resolva problemas? Só existem pessoas cuja única função é complicar?
02 de Agosto
Onze horas e cinquenta e sete minutos. Ouviu-se uma curta rajada de tiros aqui na banda. Significa que alguém já deixou a vida violentamente. 13.03 Horas. Escutam-se mais três disparos.
A marcha dos apagões prossegue como um funeral, assim fomos apagados, enterrados às 17.11 e exumados às 18.12 horas.
03 de Agosto
O nosso jornalismo é alcoólico?
Tem que se manter o rimo da dança da escuridão, e mais uma vez lá fomos espoliados da luz das 13.40 até às 14.32 e pouco depois das 15.28 às 16.51 horas. Viva a negociata dos geradores.
A EDEL esteve sem sistema para compra de recargas do seu sistema chinês pré-pago. Assim durante todo o dia até às 21.30 horas… nada. Estava lá muita gente, como sempre pois é importante manter o espírito que engrandece esta terra, a bicha.
23.28 horas. Ouviram-se seis tiros.
04 de Agosto
E finalmente conseguimos a perfeita organização de um Estado, a saber: afinal um Estado divide-se em três classes: o Poder, os estrangeiros e os assaltantes. No nosso caso temos o Poder do petróleo e de todas as riquezas de Angola. A classe dos estrangeiros que apoiam o Poder – pois claro – pois sem ele não conseguem transferir os dólares para os seus países. E a classe dos assaltantes, os mwangolés, pois quem haveria de ser? Francamente!
Todos os multi-caixas da cidade de Luanda não tem dinheiro só há papéis para as consultas de saldos Micoli Eduardo Gito. Facebook
Outra vez outro apagão: das 21.23 às 21.44 horas.
05 de Agosto
Não é acabando com os terroristas que se acaba com o terrorismo.
As desigualdades sociais intensificam-se, ditaduras ferozes disfarçadas de democracias impõem-nos o ritmo do silêncio da informação – não se lhes pode exercer a mínima crítica – povos inteiros são espoliados, silenciados, na mais atroz escravidão nunca antes denunciada, sob a direcção de potências democráticas que se sustentam no império da corrupção. Povos são submetidos à fome, pedintes dos seus próprios recursos naturais. O analfabetismo aperta o cerco da informação na vã tentativa da eliminação dos democratas honestos, a salvaguarda, o farol da democracia. Está tudo preparado para a descarga social, para o empurrar na pia os usurpadores das nossas vidas. Com tanta miséria nascente, latente, não é pois acabando com os terroristas que se acaba com o terrorismo.
Pelo actual estado das coisas - pode-se dizer que - quantos mais terroristas se eliminarem, mais o terrorismo se fortifica, pois a pilhagem dos povos é o oásis, o maná da sua proliferação. Até a Europa corre o risco de sucumbir no sufrágio universal do terrorismo.
06 de Agosto
As crianças, muitas, invadiram a cantina do “sênê” e roubaram muitas guloseimas, uma razia, e o sênê sem poder reagir, sem fazer nada.
07 de Agosto
Os chineses já estão por toda a Angola, de Kabinda ao Kunene. Como conseguiram? Pelas redes das máfias já montadas? Mas que mais grandíssimos problemas estão a chegar, a ribombar, pois estas coisas são o futuro que não se pode evitar, nos desgraçar.
08 de Agosto
As kinguilas estão muito atentas. Assaltantes andam-lhes no encalço de Moto-rápidas e em carros muito bem vestidos.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O empresário luso-angolano (15)




- Ouve que esta é porreira. É de se lhe tirar o chapéu. Quando estamos em casa, damos comida ao segurança do nosso prédio, porque não justifica alterar o trajecto da viatura de abastecimento. Quando não está ninguém, a minha vizinha trata disso. Alimenta-o muito bem… melhor que nós. Esta noite às cinco da manhã conforme testemunhado por uma vizinha do prédio em frente, gatunos que vinham de carro roubaram-lhe dois vidros laterais do jipe dela, da vizinha da comida. A outra que assistiu ao roubo não teve coragem de gritar, com medo deles. Interpelaram o segurança. Ele disse que na altura estava na casa de banho. A vizinha chorou muito, lamentando o trabalho dele. Pois que o tratava muito bem. Mas ele não estava nada na casa de banho… estava a dormir. Estes gajos são fodidos. Mas também é necessário acrescentar que as pessoas convencem-se que por terem um ou mais seguranças não são assaltadas. Por vezes seria melhor não os terem. Onde eles estão, quer queiram quer não, chamam a atenção dos bandidos. É a mesma coisa que dizer. Olá! Aqui tem coisa que interessa.
(Eu nem que tenha que ir semear couves e batatas, prefiro ir para Angola do que ficar por cá. Sempre vou para um país mais quente. Além de ir ganhar o triplo, claro!". Desejo de Ana Rodrigues, escriturária. In Diário de Notícias)
O Chileno e os cubanos continuavam a ocupar o meu precioso tempo. O Chileno, assim que chegou, ligou o seu portátil. Esteve ocupado cerca de duas horas na Internet. Depois com ar triunfal quase me grita:
- Consegui! Consegui!
- Conseguiu o quê?
- Os meus amigos da Espanha já vão enviar no próximo navio tudo o que o Vieira pediu.
- O que é que o Vieira pediu?
- Ah! Não sabes?
- Não.
- São muitos produtos de higiene e limpeza, e também vário material eléctrico. Fiz um bom negócio. Agora só aguardo que o Vieira lhes pague, e claro me dê a minha comissão.
Evidentemente que não disse nada ao Vieira da conversa que tive com o Jacinto. Mas ele surpreende-me:
- O Jacinto disse-me que não conseguiu fazer o inventário porque não apareceste.
- Acho que o Jacinto está maluco. Ou será que ele quer que eu faça o inventário? Acho que não está interessado.
- Vou falar com o ajudante dele para o fazer.
- Vieira, não entendo as intrigas do Jacinto.
- Deixa-o comigo.
Jacinto convida-me para almoçar, provavelmente para continuar a tentar corromper-me. Aceitei o convite. Na sua casa a primeira coisa que me chamou a atenção foi a garrafeira. Parecia um armazém. Entendia agora porque é que ele não queria que se fizesse o inventário. Depois de acabarmos de comer, veio o café e uma aguardente Aveleda. Jacinto insiste:
- Já lhe disse para deixar aquilo como está… vamos dividir.
Achei que o melhor que tinha a fazer era não comentar. Ele adivinhou o meu silêncio e foi mais longe:
- O Vieira não gosta de pagar a ninguém… os portugueses não pagam a ninguém. Trouxe-me para aqui por ser velho e assim ficar dependente dele. Para onde é que eu vou? Quem é que aqui vai ligar a um velho? Ele não me paga. Deve-me muito dinheiro. E o irmão dele, o Heitor, é pior que ele. Não vê como ele ri? Não vê como olha para as pessoas? Não assumem nenhum compromisso. Quase todos os meses tem processos no tribunal que os trabalhadores lhes movem.
- Obrigado pelas informações, de futuro terei mais cuidado.
As mercadorias chegaram e armazenaram-se na Cidadela. Como não havia espaço que chegasse, uma parte ficou nas instalações da segurança. Vieira está muito feliz:
- Já viste a massa que isto nos vai dar? Agora vou foder o Jacinto.
- O que é que lhe vais fazer?!
- Mas o que é que tu queres?! Vai vender essa merda e por cada coisa que vender
Ganha uma comissão. Se não vender não ganha nada.
- Não te esqueças que ele é idoso. Depende totalmente de ti. Se o abandonares o que será dele?
- A gaja que ele arranjou que trate dele. Não faz mais que a sua obrigação.
- Mas ela anda com outro… não foi isso que disseste?
- O problema é dele. Ele que se safe como bem entender… já que tem a mania que é esperto.
- Elder não estou de acordo, acho que isso é desumano.
- Porra! Mas o que é que tu queres? Mandei um motorista ao Sumbe receber 10.000 dólares… não apareceu mais. Fugiu com o dinheiro e com o carro. Combino para fazer um serviço às dez da manhã sem falta. Não aparecem, a desculpa é sempre a mesma, que lhes dói as costas. Não se pode assumir nenhum compromisso. Dizem que vão voltar no outro dia à mesma hora. Tornam a não aparecer. Estão com dores de cabeça. Claro! Dores de cabeça da bebedeira... mas são todos assim… mas o que é que tu queres?
- Vieira, será porque não os tratas bem?
- Trato-os bem demais. A secretária agora aparece-me pelas dez da manhã e quer sair às quinze horas, diz que é por causa do trânsito. Quer dizer, tenho que fazer o serviço dela. Ouve!.. este país está fodido. Não tem hipótese nenhuma. Sabes o que é que eu vou fazer?
- Não.
- As instalações da segurança vão ser transformadas em armazéns e residências. Vou construir um pequeno restaurante para consumo interno. Uma oficina de reparações de automóveis… e vou vender medicamentos. Algumas suites com as condições necessárias para vivermos. Também terás a tua, também passarei a viver aqui. Vou também construir um minimercado.
- Vieira, tanta coisa?
- Vais ver! Algumas pequenas áreas serão para escritórios, para alugar. E claro, um escritório para desenvolvermos a nossa actividade de economia e contabilidade. Vou ficar só com dez pessoas, todos brancos. Mais dois empregados para a limpeza, e para fazerem alguns recados. Ficaremos como peixe na água. É impossível trabalhar com esta gente. Só servem para fazerem recados, e mesmo assim ainda arranjam problemas. Ah! Vou-te arranjar uma secretária para te auxiliar, para que não te sintas só.
Na realidade sempre pretendemos ser o que não somos. E sem nos darmos conta, é como se andássemos constantemente vestidos com uma máscara. - Pensei
É-me apresentada a Secretária. Vieira disse-me que ela tem vinte e três anos. É alta, magra, esbelta, atraente. Tem bons conhecimentos de inglês. Sabe bater textos convenientemente no computador, mas na folha de cálculo Excel é uma desgraça. No segundo dia de actividade noto que o chefe da padaria está constantemente a subir para telefonar. Quando me ausento e regresso noto que os dois passam o tempo a conversar. Uma semana depois ela surpreende-me:
- Amanhã não venho trabalhar. Pretendo estudar economia, vou tratar da matrícula.
- Ok, você é que sabe o que é melhor para si.
Curiosamente no mesmo dia o chefe da padaria falta ao trabalho por motivo de doença. No outro dia a Secretária aproxima-se de mim. Mostra-me um sorriso encantador. Vai até á janela e olha para baixo. Regressa e espanta-me:
- Olhe, se necessitar de mim estou na padaria.
Uma hora depois regressa e pede para falar comigo:
- Sabe, consegui a matrícula na faculdade. A partir da próxima semana só posso trabalhar um período do dia.
- Acho que é melhor falar com o doutor Vieira.
- Está bem, assim farei.
Deixei de a ver nos dias seguintes.
(Onde se nota muito trabalho dos governantes é nas ruas (?), com os batedores policiais a abrirem-lhes caminho no trânsito que eles engarrafaram, sitiaram.)
Vieira liga-me pelo telemóvel.
- Olha! Vou vender a boate. Estou farto daquela merda. Está-me a dar muitos problemas.
Vieira está incomunicável há cerca de uma semana. Ninguém sabe onde está. Heitor dirige as operações. Quando se lhe pergunta pelo irmão diz sempre que não sabe onde está. Os cubanos deixaram de aparecer. O Chileno aparece a horas incertas. Sonda-me:
- Não sabe nada do Vieira?
- Não, não sei… ninguém sabe.